— Como assim? — franzi o cenho, apoiando-me na parede.
— Tem uma floresta que foi lacrada há muitos anos, bem na época que o vírus estava infectando um monte de inocentes — Camilla começou a explicar. — Pelo que sabemos, essa floresta sofreu uma radiação.
— Parece que o vírus não atingiu apenas humanos — Void debochou, rindo sem humor.
— Fizeram algumas pesquisas nas plantas. Algumas são tóxicas, capazes de matar qualquer um que simplesmente tocar na folha. Outras afloram seus poderes. Outras adormecerem eles...
— Eles usam essas plantas para fazer o veneno que os Chaser injetam — o garoto desconhecido acrescentou, parecendo impaciente. — Você já foi injetada por ele.
Assenti, lembrando-me da sensação horrível que era.
— Desde então, essa floresta é fechada, completamente protegida por uma espécie de redoma — Shawn disse, apoiando sua cabeça no encosto do sofá. — E eles analisam cada planta, fazendo experiências e transformações.
— O governo acha que os rebeldes invadiram a floresta e pegaram algum veneno — os olhos de Camilla foram até Shawn, como se estivesse falando exclusivamente com ele. — Mas, é difícil saber — encolheu os ombros. — Eles podem ter modificado. Não fazemos ideia do tipo de tecnologia que eles podem ter em seus esconderijos.
Suspirei pesado, escorregando minhas costas pela parede, sentando-me no chão. Nash sabia. Ele era da facção que cuidava da tecnologia dos rebeldes. Ele saberia o que fazer naquele momento.
— Tudo bem, Camilla, mas você não explicou sobre essa flor e como ela pode nos ajudar — o garoto disse de forma ríspida e impaciente. Notei que não era apenas eu que estava enlouquecendo com o que estava acontecendo.
— Gilinsky, acalme-se — Shawn murmurou, utilizando o seu tom de conforto.
— Não dá para eu me acalmar, está bem? — ele explodiu, aumentando o seu tom. — Astrid está internada, na mesma situação que ele! — apontou para Nash. — Enquanto estamos discutindo sobre isso ela... Eles estão morrendo! — seus olhos se avermelharam. — Então, por favor, vamos direto ao assunto.
Camilla suspirou, e eu abaixei meu olhar, evitando encarar Gilinsky. Um flash de memórias veio à tona em minha mente. Eu conhecia Astrid. Não tínhamos conversado mas já tinha visto-a com o garoto. Eles sempre andavam juntos e pareciam estar sempre tão... felizes. Ele vivia sorrindo ao seu lado e só então percebi porque não o tinha reconhecido. A falta de brilho em seus olhos, como se houvesse um buraco em seu peito. Como se ele a cada minuto que passasse, o garoto morria com Astrid.
— Tem uma flor na floresta — ela murmurou, evitando encarar-nos. — Encontrei nos registros que Marcos tem em sua biblioteca particular — notei que todos a olhavam, atentos. — Ela é bem rara e pode amenizar qualquer veneno, não importa o quão poderoso seja. Através dessa flor, poderíamos retardar o veneno e então um Darksoul conseguia terminar o serviço.
— E o que estamos esperando? — Gilinsky perguntou, dando alguns passos em direção a porta. — Vamos pegar essa flor.
— Não é tão fácil, Jack — Camilla levantou o olhar, encarando-o com descrença. — Eles nunca irão nos deixar buscar a flor. Ela é rara e eles não irão arriscar a vida de ninguém para ir naquela floresta busca-la.
— Temos que fazer alguma coisa — dessa vez, fora a minha vez de se pronunciar. — Não podemos ficar sentados e esperar o milagre acontecer — levantei-me.
— Milagres não acontecem — Dylan completou-me.
— Exatamente por isso — falei, parando ao lado de Gilinsky. Olhamo-nos. Não precisávamos trocar nenhuma palavra. Um simples olhar fora o suficiente para termos um ao outro como cumplice.
— Vamos entrar nessa floresta — Gilinsky sorriu.
— Vocês estão loucos? — Camilla aumentou seu tom de voz, encarando-nos com os olhos arregalados. — Aquela floresta é extremamente tóxica! Como vocês irão entrar? E se vocês não conseguirem sair?
— Alguém tem que tentar — falei, virando-me para a porta.
Dei alguns passos em direção a madeira quando alguém segurou meu braço, virando-me em sua direção. Os olhos castanhos de Shawn fitaram-me, uma mistura de preocupação e receio.
— Você não pode ir — ele murmurou, apenas para nós dois ouvirmos. Enquanto isso, era possível ouvir Camilla conversando com Gilinsky, provavelmente tentando convencê-lo a não fazer isso. Assim como Mendes estava tentando fazer comigo.
— Eu preciso — murmurei de volta. — Eu não posso ficar aqui, sabendo que há uma chance de salva-lo.
— Você tem alguma ideia de como é essa floresta? — perguntou-me, arqueando sua sobrancelha. — Grace, aquilo está acabado! Por que você acha que está fechado em uma redoma? Só o ar daquele lugar pode te matar!
— Eu preciso pelo menos tentar — sorri fraco. — Se Nash estivesse no meu lugar, eu tenho certeza que ele faria isso por mim.
— Ele seria mais sensato.
— Shawn — coloquei minhas mãos em seu rosto, obrigando-o a me fitar. — Vai dar tudo certo.
— Eu não quero que você morra — sussurrou.
— Eu não vou — sorri, tentando conforta-lo. — Nós dois sabemos que eu desvio muito bem da morte.
Shawn riu fraco, balançando a cabeça. Lentamente, o garoto umedeceu seus lábios e inclinou-se em minha direção, beijando-me de maneira calma.
— Eu vou com você — disse assim que separamo-nos.
— Sério? — franzi o cenho. — Pensei que você fosse o responsável daqui.
— Na maioria das vezes — deu de ombros.
Era impressionante como Shawn sempre conseguia manter-se no equilíbrio das coisas. Em qualquer situação, independentemente do que estivesse acontecendo, o garoto sempre mantinha a calma, o profissionalismo. Gilinsky estava irritado, eu estava enlouquecendo, Camilla estava tensa e até mesmo Dylan parecia um pouco mais expressivo naquele momento. Contudo, os olhos cor de mel do garoto sempre parecia-me um refúgio. O lugar ideal para estar, para se esconder do mundo.
Quando olhava para ele, quase conseguia-me esquecer de todas as preocupações que rondavam minha cabeça.
Abri minha boca, disposta a comentar algo, quando a porta foi aberta bruscamente, assustando-me e me fazendo dar alguns passos para frente, afastando-me da madeira. Um garoto de cabelos loiros e olhos azuis entrou em passos rápidos. Ele parecia assustado, olhando ao redor com desespero, como se procurasse algo. Ou alguém.
Quando a porta rangeu, todos os olhos foram em sua direção. Todos pareciam conhecer ele. Entretanto, Gilinsky deu dois passos para frente, como se esperasse que o loiro dissesse algo.
— Jack — ele murmurou, respirando fundo. — Ela acordou.
— Astrid acordou? — o moreno franziu o cenho, aproximando-se do amigo. — Os efeitos dos remédios já passaram?
— Não, Gilinsky — o loiro balançou a cabeça, comprimindo seus lábios por alguns segundos, como se preparasse para uma má notícia. — Ela acordou.
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