Meu pai andava de um lado para o outro furioso. Como Deshen poderia ser tão burra se atrasando para o treino? Ela sabe o quanto pontualidade é importante para nosso pai e, mesmo assim, insiste em se atrasar.
Estou prestes a desistir e sugerir para começar a treinar sozinho, quando Deshen escancara as pesadas portas do dojo:
- Anamika Deshen Rajaram! - Meu pai berra.
- Perdão! Fui visitar o templo e perdi completamente a noção do tempo.
Meu pai suspira, concordando. Não acredito que ela vai escapar ilesa com 10 minutos (10 MINUTOS) de atraso com uma desculpinha dessas.
- Mas, pai... - Reclamo.
- Anik! Você quer receber uma punição? - Ele responde, me olhando com o canto do olho fazendo me calar imediatamente. - Foi o que pensei. Podemos, finalmente, treinar agora?
Eu estava esgotado. Como "recompensa" pelo atraso de Deshen, tivemos que correr por mais uma hora após o treino. Portanto, quando voltamos, tudo o que eu queria era a combinação para a felicidade eterna: banho, comida e cama.
Desço as escadas após o banho e vou para a cozinha pegar a chave da biblioteca no gancho que fica perto da porta. Mamãe sempre mantinha a biblioteca fechada, mas nunca nos privou de entrar lá. Acho que ela ainda sente muitas saudades do tio do meu pai.
Quando alcanço a cozinha vejo que a chave não está lá, franzo o cenho sozinho: ninguém vai a biblioteca a não ser eu.
Caminho até as portas de madeira da imensa biblioteca Kadam (como meus pais costumam chamar) e as vejo abertas, a luz que iluminava o cômodo passava para o pequeno hall.
- Ana? O que você está fazendo aqui?! - Exclamo ao ver minha irmã caçula esparramada a escrivaninha de madeira com várias pilhas de livros abertos. Entenda: Deshen nunca lê.
- Trabalho para a escola. - Ela responde Dem tirar os olhos do enorme livro que estava lendo.
- Nas férias? - Indago, levantando uma sobrancelha. - Para com isso, Ana. Você não mente para mim, lembra?
Ela sorri, provavelmente lembrando da promessa de dedinho que fizemos quando éramos crianças e levanta a cabeça, mostrando seus olhos lacrimejados:
- Isso é choro ou só sua rinite mesmo? - Pergunto fazendo piada. Ela revira os olhos em resposta. Vou para trás da escrivaninha, puxando uma cadeira para sentar ao lado da minha irmã. - Vai, o que você está pesquisando? Não, primeiro me conta por quê.
Ela encosta sua cabeça no meu ombro e murmura:
- Anik, alguma vez você acreditou na história da mamãe e do papai?
- Qual delas? A louca do tigre ou a que eles se conheceram no circo?
- A do tigre, né?! - Ela dá uma risadinha.
- Na verdade, não. Mas não conte isso para a mamãe. - Eu sorrio.
- Porque é impossível, não é? Mas, e se for possível, Anik? E se realmente existiu um Lokesh e um colar que te faz viver para sempre? Quer dizer, por que meu nome é Anamika? Nossos nomes são homenagens a amigos queridos dos nossos pais, quem é Anamika, Anik?
- Para de delirar, Ana. - Eu rio nervoso. - Já tomou seu remédio hoje?
- Para, Nick! - Ela respondeu, séria. Levanta a cabeça e me olha.
- Já faz um tempo que não me chama assim...
- Só te chamo assim quando está sendo um babaca. Eu estou falando sério. Tio Nissan falou comigo hoje no templo de Damon.
- Eu sabia que você estava dormindo... - Ela bate no meu braço com certa força.
- Não foi um sonho. Ele realmente falou comigo.
- Tio Kishan morreu há mais de vinte anos.
- Ótimo, Anik! Não acredite em mim!
Num rompante, Deshen levanta fechando o livro e o carrega para fora da biblioteca, me deixando sozinho com meus questionamentos.
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