POV Daryl
Não vou negar que o sono que consegui essa noite foi bem vindo, assim como as garrafas de água que a desgraçada deixou comigo. Acordo parcialmente revigorado, mas ainda sinto meu corpo todo latejar.
Xingo baixo e me sento lentamente. Não sei que horas são, não sei o que me aguarda hoje, muito menos se Brooklyn Hayes vai estar de bom humor como no dia anterior. Não saber é uma grande merda.
Ouço passos a distância e me preparo para quem quer que seja. Pesados demais para serem dela, que mais parece uma felina. A porta é aberta com um estrondo e então Dwight e um gordo entram. Não me movo, não acho que valha o esforço.
Noto que o desgraçado não está com meu colete, e juro a mim mesmo que vou acabar com o outro lado da cara dele se ele tiver arruinado-o. Ele se abaixa, com um olhar superior de merda, e me estende o pão. Ignoro-o.
-Passou um dia com a madame e está achando que a vida vai ficar boa?- Pergunta irritado, se virando e jogando o pão fora da cela.- Vai passar fome para aprender, seu estupido.
Continuo calado, queixo erguido em sinal de desafio. Eu poderia soca-lo, diretamente no rosto, mas ainda não acho que seja o momento. Fiz algo sem pensar uma vez e as consequências... As consequências ainda são mais do que posso lidar.
Ele bufa irritado e então me chuta, atingindo-me no peito. Caio para trás, atordoado, mas ainda assim uso minhas pernas para chuta-lo na perna, fazendo-o soltar um urro de dor. O cara gordo se move, me imobilizando e erguendo.
Dwight me acerta um soco, e depois outro.
-Você é mais estupido do que eu imaginava- resmunga parando e me olhando com descaso- Você vai quebrar, Dixon, e eu vou estar aqui para assistir.
Me contorço contra o cara que me segura, dando uma cabeçada nele, completamente fora de mim. Quero soca-lo até que ele não se lembre mais nem seu nome.
Um barulho de metal contra metal faz com que todos nos viremos para a porta.
-Little pigs, little pigs, será que vocês não aprendem nunca?- diz Brooke, colocando uma espécie de bastão contra o ombro.
Me lembra o marido dela, mas em uma versão gostosa e feminina. Quero odia-la.
-Brooke- murmura o cara que me segura, e sua voz transborda uma mistura de respeito e medo.
-Solta o filho puta- diz sem olhar para ele, os olhos fixos em mim. –E fora.
Ninguém discute. O cara me solta instantaneamente e tenho que firmar na pareda para não cair. Vergonhoso.
Ela para Dwight apontando o bastão para frente quando ele está passando. Os olhos castanhos faíscam.
-O prisioneiro é meu e se eu souber que algo assim aconteceu novamente o próximo prisioneiro dessa merda vai ser você, e um ferro na cara vai parecer brincadeira de criança.- diz sem alterar o tom de voz, mas muito friamente.
Ele concorda com a cabeça, e volta a caminhar em direção a porta.
-E D.?- chama inclinando um pouco a cabeça e olhando na direção da saída.
-Sim?
-O pão que está ai no chão, acho melhor você come-lo, já que gosta tanto deles.
-O que?- pergunta piscando atordoado.
-Tenho certeza de que você me ouviu.-ela nem se dá ao trabalho de se virar.
Assisto de onde eu estou ele se abaixar e pegar o pão. Encara-o por um momento, e então dá uma mordida, fazendo cara de nojo em seguida.
-Eu não sou o Negan- diz finalmente se virando para ele- Mas sei ser má quando quero. Não brinque comigo, Dwight, você não vai gostar. Jogue essa merda no lixo.
-Sim Brooke, desculpe- diz como o bom cachorrinho que é e então some no corredor.
Ela foca os olhos em mim, me encarando intensamente, e começo a ficar desconfortável. É como se de alguma maneira ela conseguisse passar por todas as minhas barreiras e ver o que está dentro de mim. Que pensamento de maricas, aquela musica constante começou a me enlouquecer, sem duvidas.
-Olá Dixon- diz suavemente, e meu nome sai como se fosse um xingamento e um pecado ao mesmo tempo. Aceno com a cabeça.- Consegue andar?
-Pareço aleijado?- resmungo e ela rola os olhos.
-Parece rabugento- revida dando de ombros. Faz um movimento e guarda o bastão em um suporte oculto nas costas.
Deixo meu olhar descer sobre ela e analiso suas armas, além é claro de todo o resto. Está com a mesma adaga em uma coxa e uma arma na outra. Volto o olhar para seu rosto e encontro uma sobrancelha arqueada e uma expressão convencida. Maldita.
-Nesse caso vamos lá- diz e simplesmente me dá as costas.
Fico parado um instante a mais que o esperado ao digerir o choque de descobri que o colete de couro largo que ela usa é o meu. Isso me faz sentir uma coisa estranha, uma mistura de vontade de arrancar isso do corpo dela e a de admitir que ela ficou sexy pra caralho usando uma coisa minha.
Saio de meu atordoamento depois de encarar suas costas por mais alguns segundos, tanto que posso notar a ponta do bastão, que na verdade são dois, saindo pelo fim do colete, próximo ao fim das costas e sigo atrás dela, e apresso o passo porque odeio essa coisa de seguir.
Quando estou ao seu lado ela me olha pelo canto de olho e sorri de lado. Passa por diversos homens, e todos eles tratam ela de maneira variada. Alguns respeitam, alguns temem, alguns parecem gostar. Não entendo muito bem.
O loiro que a acompanhou até o carro no dia anterior parece surgir do chão ao se lado e a trata com a mesma intimidade do dia anterior.
-Não sei não Kieran, acho que esse carro ainda está estragado- responde ela olhando para ele aparentemente preocupada- Prepara o preto.
-Ok- responde dando de ombros e se inclinando para dar um beijo na bochecha dela. Negan aparece no final do corredor e espero uma pancadaria pela ousadia do cara.
-Kieran- cumprimenta com um aceno de cabeça, se virando para a loira e a puxando para um beijo- Brooke.
-Little Sister, eu vou indo resolver as coisas- diz o cara acenando e só então me dou conta de que é parente dela. Irmão.
Ela acena sorrindo levemente e então volta a atenção ao Negan. Os dois discutem sobre alguma coisa e ela rola os olhos. Ele resmunga, puxa- a pela cintura e os dois trocam mais um beijo. Desvio o olhar, incomodado, meu sangue correndo mais rápido enquanto sinto uma espécie de raiva.
Os dois finalmente se afastam. Negan me nota, e dá um sorriso sacana.
-Ela é uma perdição, não é mesmo?- murmura com um dos braços ainda em na cintura dela- A mais bonita desse mundo. E já tem dono.
Não digo nada. Ultimamente ando falando menos que o normal.
-Você pode arrumar uma mulher para você também- diz se desvencilhando dela e me encarando de perto- É só dizer as palavras certas.
-Não estou interessado-respondo dando de ombros.
-Você é gay?- pergunta dando uma risada logo em seguida-Porque só sendo gay ou tendo um problema lá em baixo para negar mulher.
-Te vejo mais tarde, Baby- diz me deixando de lado e saindo em seguida, assobiando. Por onde passa pessoas se ajoelham. Babacas.
A diaba volta a se mover e faço o mesmo. Depois de mais um ou dois corredores ela entra em uma sala que descubro ser a enfermaria. Todos ali a cumprimentam sorrindo, e parecem quase amigos.
Uma mulher está sentada na maca, e descubro que é Sherry. Rolo os olhos. A mulher deve ter algum problema de saúde, já que estava aqui da ultima vez que estive aqui.
-Está bem, Daryl?- pergunta com uma voz meiga e preocupada se levantando da maca.
Arqueio uma sobrancelha em resposta. O medico indica o lugar para que eu me sente e começa a examinar, iniciando por meu rosto.
-Vocês se conhecem?- pergunta Brooke, saindo de trás de uma prateleira. Sherry olha para ela atordoada.
-Sim.- responde torcendo as mãos nervosa.
-E onde se conheceram?- pergunta com os olhos fixos em mim.
-Bem, nós nos conhecemos...- começa Sherry mas a loira levanta a mão em sinal de pare.
-Estou perguntando para ele. Você tem mais alguma coisa a fazer aqui, Sherry?- pergunta friamente e a morena nega com a cabeça, entre raivosa e medrosa. - Nesse caso vá procurar algo para fazer.
-Claro, Brooke.- responde de má vontade e some porta afora depois de me dar uma ultima encarada.
-Então...?- pergunta se virando para mim.
-E então que não é dá sua conta- resmungo e o medico aperta mais forte meu rosto.
-Olha o jeito que fala, camarada- resmunga irritado.
-Relaxa Toby- diz dando de ombros e puxando uma cadeira e se sentando de frente para mim.- Larga de ser chato Dixon, e desembucha.
Me surpreendo com o tom leve que ela usa com o médico, mas ele parece acostumado. Penso seriamente em não responder, mas suponho que a próxima vez que ela perguntar não vai ser de um jeito amigável.
-Nos conhecemos na floresta, quando ela, a outra garota e Dwight fugiram- conto focado em seu rosto e fico satisfeito ao ver que deixei ela surpresa.- Ajudei eles e em troca fui roubado e deixado na floresta.
-E pensar que salvou a vida de Dwight- resmunga balançando a cabeça- Que perca de tempo e energia.
-Nem me fale- resmungo e ela sorri.
-A besta é sua então?
-Sim.
-Sinto vontade de bater com ela na cabeça dele, que não faz ideia de como usar aquilo- confidencia com descaso.- Quem sabe um dia ela não volte para suas mãos.
Olho para ela surpreso. Acho que é bipolar. É má e fria em um momento, em outro é quase gentil, e agora fala sem peso algum nas costas, apenas deixa claro que não gostem nem um pouco de Dwight.
-Tire o moletom, senhor Dixon-pede o medico e olho para ele com cara de tacho por um momento, mas então eu reajo e faço o que me pediu.
Sinto o olhar dela descer por meu abdômen e corpo no geral. Me sinto quente, mas a dor do médico me remendando me trás de volta a realidade.
Depois de algum tempo estou quase inteiro de novo. Tudo o que preciso é de um tempo para me curar. Saímos da enfermaria e caminhamos juntos em direção a algum outro lugar.
Odeio admitir, mas ela é encantadora. Conversa comigo sobre algumas coisas aleatórias e não me trata como um prisioneiro. De fato, quase me esqueço que sou um. Que maricas.
Me xingo mentalmente por meus pensamentos positivos em relação a ela, assim como também o faço pelos pensamentos pervertidos.
Quando noto, já estamos em uma espécie de cozinha. Um cara a cumprimenta com um sorriso divertido e trás um sanduiche, de verdade, para ela.
A diaba abre a boca para morder, para no meio do ato e franze a testa, se virando para mim em seguida e estendendo o sanduiche.
-Fica para você- diz entregando o pão em minhas mãos e depois se vira para o balcão- Francis, me trás mais um.
Alguns minutos depois estamos os dois sentados em uma mesa, acompanhados pelo cozinheiro, o tal Francis. O cara está claramente incomodado com minha presença, quase que com medo.
-Andei pensando, e você está vivendo aqui de graça e tal- diz se virando para mim bruscamente- Acho que você pode trabalhar para ajudar a manter isso aqui.
-Não sou um Negan- rosno e ela faz um gesto de descaso.
-Não tem que ser um Negan para trabalhar, Dixon. Acho que pode fazer algumas coisas no meio mecânico e braçal. Amanhã vou ter pensado em algo.
Ela claramente não pensa que isso pode me dar disposição e que movimentar o corpo pode ser ótimo para a fuga e eu não que vou esclarecer isso para ela.
Depois disso voltamos para minha cela. O caminho é silencioso e tranquilo. Memorizo alguns corredores, mas ainda assim precisava andar um pouco mais pelo lugar.
-Alguém vai te trazer mais algumas refeições. Está com alguma dor insuportável?- diz assim que entro no lugar. Olho para ela com descrença.
Ela me encara um momento e parece pensativa. Logo depois dá alguns passos e se aproxima de mim. Está tão próxima que sinto seu cheiro estonteante e seguro um impulso de sair de perto.
-Acho que precisa cortar um pouco esse cabelo, Dixon. Ele só fica na sua cara- comenta como quem fala do tempo e então sua mão se ergue em direção ao mesmo.
Reajo rápido e agarro sua mão no ar e quando dou por mim agarrei sua cintura com o outro braço e nos girei prensando-a na parede.
-Não sou seu bonequinho para você vestir dar banho, alimentar e mudar quando bem entender- digo irado em sua cara, tão próximo que sinto a respiração arfante dela bater em meu rosto- Não sou um de seus brinquedinhos como esses merdas.
-Não é como eles mesmo- diz me encarando fixamente, o queixo erguido. Seguro aquela mão dela ainda, contra a parede e todo o seu corpo tem contato com o meu.
-Você não brinca comigo.- rosno contra seu rosto.
Ela gira em um movimento calculado, se livrando de minha mão que segura a sua contra a parede e então eu estou contra a parede, sua adaga contra minha garganta.
-Oh, Dixon, eu brinco sim- diz séria, me encarando firmemente, tão próxima quanto eu estava antes.
Sinto a raiva subir pelo meu corpo, enquanto o sangue flui mais rápido por minhas veias. Quem a desgraçada pensa que é? Sinto vontade de empurra-la para longe ou de testar o quanto ela é capaz com aquela adaga.
-E brinco por razões que você nem imagina- completa quando já nem espero que diga mais alguma coisa. Seus olhos castanhos me encaram de igual para igual, cheios de força e de algo mais.
Começo a encarar seu rosto e seus lábios, incomodado com a proximidade. Ela se afasta lentamente, e guarda a adaga no suporte. Sai da cela, se vira e me encara como da ultima vez.
-Te vejo amanhã, Dixon.- diz dando uma piscadinha e fechando a cela com um estrondo.
Xingo alto, usando todos os nomes feios que consegui com a vida de merda que levei. Ouço Merle dizer no fundo de minha cabeça que sou o cara mais maricas que pode existir, e que tudo o que eu tinha que ter feito era ter pego uma das inúmeras armas dela e apontado para aquela linda cabecinha.
Ninguém arriscaria a vida dela e eu sairia tranquilamente daqui, mas não, ao invés disso apenas a encarei.
Ouço repetidas vezes a voz de Merle murmurar Darlyna em minha cabeça, enquanto penso em como sobreviver a essa merda. Só preciso fazer isso: ir sobrevivendo.
Sobreviver a Brooke Hayes, principalmente.
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