História The Dirty Spoon - Shrimp

Eu nunca me senti tão relaxada em toda minha vida. Duas semanas depois do baile e finalmente estávamos no recesso de Natal. Muita coisa aconteceu nessas semanas, não imaginei que seriam tão intensas!

As provas não foram tão difíceis, francamente, tive até uma sensação de que fui bem em quase todas, mas claro que isso só foi possível depois de estudar muito! Foram as duas semanas que a maioria das minhas interações sociais envolveram estudar. Mas não foi o mesmo para todo mundo.

Depois daquela segunda, Rosé realmente virou amiga de Namjoon. Vi eles várias vezes estudando juntos ou um ensinando uma matéria para o outro. Também notei que não era uma amizade qualquer, acho que Namjoon agora sabe mais do que nunca o efeito que ele tem em Rosé e eu o vi a provocando de leve várias vezes e depois sorrindo confiantemente ao vê-la ficar toda vermelha.

Lisa e Jungkook também voltaram para a relação de costume, Jay Park não mexeu com mais ninguém e, por que Namjoon se aproximou de nós, Jackson e Seokjin (para a tristeza de Jisoo) também estão conversando cada vez mais com todos nós. Jisoo pensa que o irmão dela está “roubando seus amigos”, mas Jin (apelido que Jisoo deu para o irmão) é uma das pessoas mais cuidadosas e amigáveis que já conheci. Não consigo imaginar ele fazer mal á ninguém.

Agora, Jimin... a gente ainda não tinha se falado. Claro que eu meio que aceitei as desculpas dele, ele com certeza notou pelo meu rosto quando eu vi aquele urso na sala. Tanto que durante essas duas semanas tudo que nós dois “conversamos” foi só por olhares. Ele olhava para mim do outro lado do corredor e eu ficava sem graça e ele sorria ou eu ficava olhando para Jimin e quando ele notava eu ficava sem jeito e ele sorria, mas não trocamos nenhuma palavra. Parte de mim acreditava que não nos falamos por que essas semanas foram de provas, mas outra parte também acreditava que nada nunca seria dito.

Querendo ou não eu não tinha muito tempo para pensar em Jimin, já que na sexta passada Eun chegou em casa. Todo o tempo livre que eu tinha passei conversando com ele, e descobri que temos muitos interesses em comum. Conversamos bastante sobre a França, jardins e arquitetura. Ele inclusive comprou um vestido para que eu usasse na festa de natal que ele daria hoje, uma sexta.

-Eu mal posso esperar para me jogar na cama e dormir por horas! –Hoseok suspirou abrindo a porta.

-Acho que você vai ter que esperar. –ouvi uma voz desconhecida do alto da escada.

Quando olhei para cima, vi uma mulher muito bonita e bem vestida. Mas não foi isso que eu notei primeiro: Ela era extremamente parecida com Hoseok. O menino deu um grito e correu para o topo das escadas correndo. Observei os dois se abraçarem enquanto Hoseok dava gritinhos.

Quando eles se separaram, a irmã de Hoseok olhou diretamente para mim, sorrindo. Me bateu um medo gigante dela não gostar de mim. Eu já sabia que ela não gostava tanto assim de Bora, então não iria ser algo tão impossível ela não gostar de mim também.

-Então você é a Mye. –ela sorriu e depois desceu para o primeiro andar. –Prazer, eu sou Meji, irmã mais velha de Hoseok e pelo visto sua irmã mais velha também! –ela sorriu e me abraçou em seguida. Eu me surpreendi tanto com o abraço que demorei para abraça-la de volta.

Em seguida, ela convidou eu e Hoseok para irmos para a sala de jantar comer alguma coisa com ela. O garoto estava claramente feliz que eu e sua irmã mais velha tínhamos tido um bom começo, e, honestamente, eu também estava. Me senti até mais leve por que pensei várias vezes se Meji seria rude comigo ou algo do tipo e tinha muito medo que ela fosse.

Quando chegamos na sala, a mesa estava toda posta com xícaras, bules e vários doces e salgados. Tudo parecia tão gostoso que até eu, que tinha acabado de comer, senti uma fome repentina. Em uma das pontas da mesa estava Bora, sorrindo e se servindo chá.

-Ué... –Hoseok começou a dizer meio nervoso. –Vocês duas no mesmo cômodo? Sem estarem gritando? Eu estou sonhando?

Bora e Meji se entreolharam e sorriram.

-Na verdade eu vim aqui mais cedo e pedi desculpas para Bora. Eu não devia ter dito as coisas que eu disse... –Meji admitiu se sentando. Hoseok deu o maior sorriso que eu já vi na vida.

-Eu fico feliz que vocês se acertaram. –ele admitiu enquanto nós dois nos sentávamos também. –Agora eu vou comer por que já estou vendo minha torta favorita...

Não deu muito tempo para Eun também chegar do trabalho e ficarmos os cinco conversando e comendo. Pela primeira vez eu tive a sensação de realmente estar com a minha família inteira junta e a sensação era ótima, incrível... tão melhor do que eu esperava...

Mas não pudemos ficar lá por muito tempo, tínhamos que nos arrumar para a festa. Todos os funcionários da casa estavam trabalhando para deixar o jardim impecável, além de estarem cozinhando, preparando as mesas para os convidado e o Buffet. Eu tive a sorte de Meji se oferecer para me ajudar a me arrumar.

Ela preparou o meu cabelo e fez a minha maquiagem. Logo depois fez praticamente a mesma coisa em si e ficou narrando seus movimentos para que eu tentasse entender e praticar depois. Ela estava de coque e usava um vestido preto longo porém justo de manga comprida com alguns toques de prateado. Eu estava usando um vestido mais curto de parte de cima branca que formava um dégradé com a cor de lavanda das pontas. Por causa do frio, era óbvio que meu vestido era de manda comprida e  que eu estava usando uma meia calça grossa da cor da minha pele.

-Só falta nossos sapatos... –Meji disse andando até o outro lado do quarto. –Aish...

-O que foi? –perguntei preocupada enquanto colocava um brinco na minha orelha.

-O seu sapato é prateado e o meu é branco... combinaria muito mais se a gente trocasse. –ela reparou e olhei para trás, contatando que ela estava falando a verdade.

-Não é? E o seu não tem esse furinho na frente que o meu tem... ele vai ficar tão estanho de usar com a meia... –comentei sorrindo. –Mas não devemos calçar o mesmo número...

-Quanto você calça? –ela perguntou procurando o número no sapato prateado.

-34. –eu disse rindo de leve. –Minúsculo eu sei.

-Não brinca! –ela riu chocada. –Eu também calça 34!

Nós duas sorrimos com a mesma expressão. Ao mesmo tempo que aquilo era uma grande coincidência, ela ficava ainda maior quando levado em consideração que calçávamos uma numeração tão pequena.

-Toma, pega o branco. –ela me disse estendendo o par e no seu dedo notei um anel.

-Obrigada, Unnie. -Não só um anel qualquer, um anel brilhante no dedo anular da mão direita. Eu sabia que aquilo era um anel de noivado. –Anel bonito. –eu disse colocando o sapato e me fazendo de boba.

Ela olhou para o anel com um sorriso espontâneo no rosto.

-É... Mye, se eu te contasse um segredo você guardaria até o final da noite? –ela sussurrou.

-Claro! –garanti sentindo a curiosidade se multiplicar a cada segundo.

-Eu estou noiva... e meu noivo vai contar para o meu pai hoje... –ela sorriu (o mesmo sorriso gigante que Hoseok fez mais cedo) e eu não consegui não sorrir também.

-Meu Deus, para... –antes que eu pudesse a parabenizar, ouvi Hoseok bater na porta, avisando que alguns convidados já tinham chegado, então tínhamos que descer para o jardim.

Assim fizemos, Eun me apresentou para todos os convidados que já haviam chegado e todos eles foram extremamente doces comigo, porém, só conhecia dois desses. A primeira foi a mãe de Jungkook, que ficou tentando vender o filho dela para mim.

-Mas não é que dês do dia que eu te vi você não ficou ainda mais maravilhosa, Mye? Esse vestido ficou ótimo em você, não acha, Jungkookie? –ela perguntou para o filho, que deu uma olhada nervosa para a mãe.

-Pois fui eu que escolhi o vestido. –Eun informou, salvando Jangkook.- Fiquei cheio de medo de não caber, mas acho que acertei pelo visto.

O comportamento da mãe de Jungkook me lembrava muito o que Tae havia feito com ele no dia que estávamos conversando depois do “acidente da educação física”. A reação de Jungkook foi a mesma nos dois casos: ficar extremamente vermelho. Jungkook era muito fofo, eu entendia como Lisa não conseguia vê-lo como mais que um amigo.

O segundo que eu conhecia foi o pai de Jimin. Quando Eun me apresentou fiquei extremamente tensa. Quando a conversa estava fluindo e eu comecei a me relaxar sobre a situação toda, a Jimin e sua mãe chegaram na conversa. Eu senti que todo o peso do mundo estava nas minhas costas e que eu com certeza ia dizer algo errado se abrisse a boca. Jimin, por outro lado, tentava não sorrir muito enquanto se divertia me vendo nervosa.

-Sr. Jung essa é a sua filha? –a mãe do rapaz perguntou boquiaberta. –Que menina maravilhosa! Ter uma filha bonita assim é quase acertar na loteria!

Eu senti o meu rosto inteiro ficar extremamente vermelho. Eu esperava que a mãe de Jimin falasse qualquer coisa, menos aquilo. Jimin tentou segurar o sorriso mais ainda. Eu não consegui me segurar, tive que sorrir de frente de tantos elogios.

-Ah, e esse sorriso... ainda mais bonito! –ela disse sorrindo também, um sorriso idêntico ao de Jimin.

-Parece um pouco o sorriso do seu filho. –Eun comentou, tentando se inserir na conversa.

-Que isso... o sorriso dela é bonito mas não é tão bonito assim! –a mãe de Jimin brincou, pegando no braço do filho. –É claro ele tem o meu sorriso... de quem você puxou o sorriso, da sua mãe ou do seu pai?

Eu fiquei calada. Meu sorriso não parecia o da minha mãe nem um pouco, mas... eu nunca havia conhecido o meu pai...

-Do meu pai, eu acho... –eu disse meio incerta. Pude ver que Jimin levantou a sobrancelha, notando que estava algo errado.

O pai de Jimin mudou o assunto com a desculpa de querer “deixar os adolescentes curtirem a festa” e quando eles começaram a falar sobre compras e negócios, eu e Jimin nos afastamos do resto.

Andei para o meu próprio lado, em direção contrária da festa para sentar em um banco perto de algumas hortênsias. Jimin foi atrás de mim, não me surpreendi com isso.

-Acho que minha mãe gosta bastante de você. –ele disse sorrindo enquanto eu me sentava.

-Ela deve ter dito isso para agradar, apenas. –eu sorri. Eu estava com tanta saudade de falar com ele... por mais que nós nunca trocamos muitas palavras eu sentia falta mesmo assim.

-Não, eu conheço a minha mãe e ela não falaria aquelas coisas se realmente pesasse isso. –ele refutou se sentando do meu lado. Olhei para as pessoas no meio da festa e ninguém estava olhando para nós. –E eu concordo com ela.

-Concorda que seu sorriso é o mais bonito? –eu perguntei e ele riu com isso.

-É claro! Não tenta dizer que não é, as pessoas amam meu sorriso! –ele disse apontando para o próprio rosto.

-É um sorriso charmosinho sim... –eu disse tentando não parecer facilmente influenciável, mas sim, o sorriso de Jimin era maravilhoso.

-Sua casa é gigante! Teve bastante espaço para guardar o meu urso que te dei? –ele provocou. Devia estar esperando para falar aquilo dês do começo da festa.

-Ele está no meu quarto, mas eu quase que não tive como trazê-lo para casa! Ele demorou muito para caber no carro! –reclamei e ele sorriu enquanto apreciava minhas expressões mudarem.

-E você colocou ele na sua cama? –ele perguntou mudando o tom um pouco. Eu não gostava de onde essa conversa estava indo.

-Não... ele não coube. –eu disse com os olhos semicerrados, bem desconfiada do que viria depois daquilo.

-Nossa... ainda bem que eu não sou tão grande assim.

Jimin caiu na gargalhada com a própria piada e eu não consegui deixar de ficar com o rosto vermelho e quente. Cobri meu rosto com as mãos, tentando fazer com que ele não notasse o quão afobada eu estava.

Depois de um tempo, a situação se tornou mais engraçada do que vergonhosa, então tirei minhas mãos do rosto e disse, tentando segurar o meu sorriso:

-Você me beijou uma vez, Jimin e depois ainda conseguiu me fazer chorar, vai com calma!

-Não seja por isso! –ele disse baixinho e puxando meu rosto para me beijar de novo.

Por mais que a sensação fosse tão boa quanto antes, durou apenas alguns segundos. Eu tive que nos separar! Não estávamos escondidos, já imaginou se Hoseok nos visse? Ou os pais dele? Ou os meus pais??

-Você é louco? –perguntei olhando em volta assim que consegui nos separar. Jimin apenas sorriu e eu suspirei aliviada que ninguém havia visto aquilo.

Antes que ele pudesse me responder, Jimin foi interrompido pelo meu estômago roncando. Eu não havia comido nada ainda, estava morrendo de fome.

Ele se levantou e estendeu a mão, me convidando para me acompanhar até a mesa do Buffet. Aceitei a ajuda de sua mão para me levantar, mas a larguei logo em seguida. Fomos até a mesa de salgados ainda conversando e lá, nos encontramos com Hoseok e Jungkook.

-Mye, desculpa pela minha mãe... ela fala umas coisas meio inapropriadas ás vezes. –Jungkook pediu, trazendo a atenção de Hoseok para mim.

-Ela te envergonhou na frente da Mye? –Jimin perguntou e eu me surpreendi em vê-lo realmente conversar com algum amigo meu e de Hoseok. –A minha também! Acho que você atrai esse tipo de coisa.

Ele acusou, fazendo Jungkook e Hoseok rirem. Antes que eu pudesse me defender, ouvi o som de alguém batendo com um talher no copo, trazendo a atenção de todos á ele. Essa pessoa era o pai de Jimin.

-Eu gostaria de ter a atenção de todos!

Jimin foi mais perto das mesas para ouvir melhor e Jungkook fez o mesmo, os dois estavam claramente curiosos.

-Experimenta esse daqui. –Hoseok disse me dando um salgado que eu não sabia exatamente o que era.

Enquanto ouvia o discurso do pai do Jimin, que dizia algo sobre destino, dei uma mordida confiante no salgado. Quando reconheci o gosto arregalei os olhos, amedrontada para Hoseok. Cuspi o restante da minha boca em um guardanapo imediatamente.

-Não gostou? –ele perguntou confuso.

-Não... Oppa, eu sou alérgica a camarão! –eu sussurrei.

Hoseok sussurrou um palavrão e eu tentei conter minha tosse para não interromper o discurso. Ele pegou minha mão e me guiou rapidamente para dentro da casa, sem fazer muito barulho, mas, depois que entramos dentro de casa e fechamos na porta sem ninguém nos ver, tirei meus sapatos e sai correndo com eles nas mãos em direção ao meu quarto.

-Mye! –Hoseok gritou correndo atrás de mim. –Precisamos ir para o hospital! –ele disse assim que entramos no meu quarto.

Abri a janela da sacada que dava para o jardim, para ainda conseguir respirar um ar menos abafado. E claro, para ter uma desculpa para Hoseok não gritar.

-Não preciso! –eu disse tossindo o mais baixo que eu podia. –Se eu conseguir vomitar o camarão, nada vai dar errado.

-Isso não faz sentido! –ele sussurrou alto enquanto eu me abaixava de frente da privada.

-Eu já fiz isso uma vez!

Era verdade, eu tinha conseguido não desmaiar da vez que vomitei o camarão, quando tinha 8 anos. Olhei para a privada na minha frente e ouvi Hoseok andar até a sacada do meu quarto.

“E é meus amigos... o destino é imprevisível.” eu conseguia ouvir o pai de Jimin dizer.

“Ele fez com que eu me apaixonasse e conseguisse pedir em casamento a mulher que sempre amei.” Não conseguia mais tossir baixinho, sentia toda minha garganta duplicar de tamanho, o ar ficava cada vez mais rarefeito.

“E essa mulher...” corri para fora do banheiro. Hoseok se virou para mim  com medo nos olhos. Tentei chamar pelo seu nome, mas me faltou ainda mais ar.

“Se chama Jung Meji”

Escuridão.