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História The doctors saved you, but you're still dead - Capítulo único - if we touch hands, will I lose you?


Escrita por: beeyorklund

Notas do Autor


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Capítulo 1 - Capítulo único - if we touch hands, will I lose you?


   De volta para casa, deitei-me na cama e tentei descansar. Meus olhos não se pregaram por um minuto sequer, somente fitaram a luz laranja emitida pelo abajur. Meu estômago doía. Só se podia ouvir o barulho das folhas das árvores chacoalhando lá fora. Diversas coisas se passavam pela minha mente, todas empilhadas uma na outra, um empilhamento de incógnitas, nenhuma me levando a lugar algum, minha cabeça tão pesada que dava vontade de batê-la contra a parede.

  Deus, eu daria qualquer coisa para que você estivesse ali, do meu lado. Aceitaria até um daqueles momentos em que você pensava que eu tinha adormecido e começava a chorar roucamente. E eu, idiota, não dizia ou fazia nada, apenas te ouvia, porque achava que você precisava desse momento.

   Depois de me cansar de me remexer na cama, levantei. Para minha surpresa, meus órgãos não haviam me abandonado. Liguei a luz. Num impulso, revirei todo o quarto. Para ser mais específico, todas as suas coisas. Eu precisava de você, ainda que a única maneira de te ter naquele momento fosse me rodear de tudo aquilo que você pretendia deixar.

  O chão logo estava cheio de tudo seu que consegui encontrar por ali. O ambiente agora possuía o seu cheiro, suscitando em meu ser uma inesperada e breve anestesia.

    Por último, havia a gaveta com sua papelada, toda desorganizada. Assim como nós, afinal. Retirei-a do guarda-roupa e despejei seu conteúdo no chão.  A primeira coisa na qual meus olhos prestaram atenção foi seu bloquinho de notas com folhas amarelas que você dizia amar, pois dava um aspecto velho nelas. Na primeira folha amarela estava o que havíamos escrito — e deixado inacabado — há algumas semanas:

1. Ser positivo.

2. Reconhecer o próprio valor.

3. Sempre arrumar tempo para se dedicar ao que gosta.

   Nas outras folhas preenchidas só havia rabiscos e anotações aleatórias.

Joguei o bloco para o outro lado do quarto. Dei um longo suspiro e olhei para a sua papelada, agora no chão. Havia vários papeizinhos amassados, e aparentemente todos eram de seu bloquinho.

   Desamassei o primeiro e o li. E então o segundo. E então o terceiro. Tremi enquanto desamassava e lia o resto com uma agilidade covarde, por mais que fossem todos mais do mesmo. Todos não passando de um começo de tentativa. ‘’Desculpa’’, ‘’Se você está lendo isso, quero que saiba’’, ‘’Sinto muito’’, ‘’Se você encontrou isso, significa’’... Não havia ao menos uma introdução em qualquer um deles. E eu te conheço e sei o quanto deve ter te frustrado. Posso te visualizar em minha mente arrancando o papel do bloco e jogando-o no chão, dando um suspiro e fechando seus olhos, com raiva de tudo o que é e tudo o que não é.

  Dentre eles, havia apenas um realmente acabado:

‘’Eu sinto muito por ser tão fraco. De verdade.

Desculpa por tudo.

Obrigado por ter trazido luz até para os meus dias mais sombrios. Eu te amo.

Tudo vai ficar bem.’’

Permaneci estático, até que o silêncio se tornou o pior dos barulhos e as lágrimas se permitiram a vir, deixando minha respiração totalmente desregulada e os gritos presos em minha garganta ainda mais dolorosos.  

Poucas palavras, pedido de desculpas, autodepreciação, falsa ilusão que eu realmente fui a coisa certa para você. Sorri em meio a meus soluços, o tremor de meu corpo e minhas fungadas de nariz. Só poderia ser você.

 E como eu ridiculamente continuo tentando reconstruir um passado melancólico, me permiti a imaginar como teria sido se as coisas houvessem sido diferentes para você, ainda que fosse só uma delas. Ah, eu daria minha vida em troca do constante brilho em seu olhar, há tanto perdido.  Não é engraçado como mesmo sendo passado, parecemos sempre estarmos presos ao mesmo maldito momento? A única diferença é que é cada vez mais difícil de se mover. Eu poderia citar certos rostos desaparecendo, mas todos sempre se vão, afinal. Nenhum abandono causa surpresa — nem o seu.

 Sei que houve o tempo em que eu era muito estúpido para enxergar além de mim, para ser quem você precisava — quem sabe nunca serei —, então me perguntava como você poderia dizer que não tinha nada se tinha a mim, como você poderia se sentir sozinho se eu estava ali. Sei que reforcei o pensamento errado de que você era errado e que causei mais cicatrizes, em vez de evitá-las. Desculpa, desculpa. Desculpa não ter tentado. Por ter sido como os outros. Tão ignorante. Ando mudando e isso com certeza é melhor que ser a inutilidade total de antes, mas me vejo perseguido pela realidade do meu fracasso. Você sorri, mas estou de vendo sangrar. E eu, tão pequeno, tão egocêntrico,  tão fraco, tão igual. Eu nunca conseguiria te salvar. Nunca saí do "antes", acredito. 

  Porém, o problema não é você, nem eu. E há o mundo para culpar, há os outros... mas, vendo você desvanecido nessa maldita cama de hospital, percebo que não faz diferença, pois encontrar o culpado ou odiar as circunstâncias não vai te trazer de volta, não vai fazer esse aperto em meu peito sumir, não vai fazer com que você realmente volte a respirar. Assim como os médicos terem te salvado da morte não significa que eles lhe trouxeram de volta à vida.  

Eu não me importo com quem é o fraco, quem é o suficiente ou quem é o culpado. Me importo com o fato de saber que se eu te tocar você vai quebrar, que quando eu me virar você vai virar pó, que mesmo que eu te segure apertado você vai escorregar pelas minhas mãos e virar fumaça. Me importo com o fato que tudo o que você quer é se livrar desse corpo que eles resgataram, acreditando que por milagre, mesmo sendo a pior das hipóteses na sua concepção. ‘’Você nasceu de novo'’, eles sussurraram. Entretanto, não matou a dor.

  Eu sei o quão egoísta é te pedir para ficar. E por mais que você diga que é somente o que sobrou do garoto que costumava ser, eu sei que você não foi completamente embora, sei que você ainda é quem eu amo.

  Eu amo tudo que você é. Amo a sua letra torta, seus rabiscos e suas frases curtas, por mais que você acredite que deva amassar as folhas amarelas de outono existentes dentro de você (aquelas que deixam sua alma com aspecto velho) e jogá-las numa avenida qualquer.  E eu só queria que você voltasse para casa, mesmo que agora você é menos si mesmo do que nunca, mesmo que haja tantas partes suas que eu não posso salvar, mesmo que você não queira voltar, mesmo que você visse todos os papeis desamassados pelo chão, mesmo com suas poucas palavras, pedidos de desculpas, autodepreciação e ilusão que eu realmente fui a coisa certa para você.

   Eu só queria dizer que você não precisa dizer nada, nem pedir desculpas. Só queria dizer o quanto você é especial e que você foi a coisa certa para mim.  Só queria que você estivesse ao meu lado, na cama, para te envolver em meus braços enquanto você chora roucamente em meu ombro e eu digo que tudo vai ficar bem, porque precisamos desse momento.


Notas Finais




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