Ouvir todas aquelas palavras de Justin causou-me uma dor enigmática. Agora percebo o quão infantil fui por não notar que um relacionamento entre nós aconteceu tão rápido, totalmente suspeito. Se eu tivesse parado para observar tudo que estava acontecendo entre a gente, as coisas estariam diferentes? Quando ouvi e olhei sua reação ao falar sobre não me amar, eu pude notar nitidamente que ele disse com toda a certeza do mundo, e agora tudo o que sinto é ódio por ter sido uma inútil que não prestou atenção em cada detalhe.
O que mais me entristece é saber que a errada nesse relacionamento fui eu. Talvez eu tenha idealizado demais nosso relacionamento, ser perfeccionista e apenas aceitar um sim como resposta era o ideal, mas eu não pensei na hipótese de tudo isso ser prejudicial, tão prejudicial ao ponto de nos separar definitivamente. Esqueci-me completamente de que Justin antes de termos um relacionamento, era um ser desprezível que sempre me julgava com sete pedras na mão. Tudo isso é culpa minha, somente minha.
Viro-me pra frente olhando novamente para o nada e minha cabeça lateja por tantos pensamentos em minha mente. Ódio, a palavra em si é a que mais predomina. Ouço a voz de Scott me chamar, porém não consigo olhar em seus olhos. Os meus já estão marejados, lágrimas prontas para rolarem em meu rosto e caírem sobre meu colo. Balanço a cabeça lentamente e olho nos olhos do rapaz ao meu lado. Existe compaixão em suas íris. Compaixão que ele não deveria ter de mim. Estou me sentindo tão inútil e idiota.
― Se você não estiver se sentindo bem, nós podemos ir embora. – ele pronuncia calmamente, e eu respiro fundo tentando tirar tudo isso da minha mente.
― Está tudo bem. – minto.
Scott sorri de lado para mim e volta a olhar para frente, e eu faço o mesmo, um pouco meio incerta sobre continuar nesse ambiente. Os minutos passam lentamente e mesmo que eu esteja centrada no que o diretor – que acabou de adentrar o cômodo – diz, o incomodo cresce de segundo em segundo. Olho para os lados repetidas vezes e suspiro aliviada por não ter sinal do loiro por aqui. Então de repente me levanto.
― Eu preciso ir embora. – digo rapidamente andando até a porta de saída sem olhar para trás. Quando passo pela porta sinto uma mão tocar minha cintura e me viro espantada.
― Calma, sou eu. – Stacie eleva as mãos em rendição, enquanto eu não demonstro reação alguma. Andamos até o meu carro e o adentramos, logo em seguida dou a partida e eu vejo a agência ficar distante, trazendo um grande alivio para mim.
No caminho vou pensando em tantas coisas que mal vejo quando uma criança aparece na frente do carro. Piso no freio o mais rápido possível e por pouco não bato meu rosto no volante, por ter sido tão repentino.
Saio do carro velozmente e suspiro aliviada ao ver a menina nos braços da mãe, felizmente sem qualquer arranhão.
― Me desculpa por isso. – peço a mãe que esta segurando firmemente a filha nos braços. Ela olha-me com repreensão e sai do meu campo de visão.
Escuto buzinas atrás do meu carro e noto que provavelmente eu parei o transito. Retorno ao meu carro e volto a dirigir para casa, agora prestando atenção por onde passo. O celular toca dentro da minha bolsa, porém deixo que ele toque, não estou em boas condições para ouvir qualquer um falar. Stacie me olha com piedade e eu respiro fundo para não surtar. Estaciono o carro no estacionamento do prédio, pego minha bolsa e saio do automóvel com minha amiga em meu encalço, ligando o alarme em seguida. Ao adentrar meu apartamento, vasculho minha bolsa a fim de pegar meu celular e saber quem estava procurando por mim. É Scott. Ligo de volta e no terceiro toque ele me atende.
― Está tudo bem? Stacie está com você? – ele grita desesperado e eu reviro os olhos, jogando-me sobre o estofado da sala ― Diga-me que você não se meteu em um acidente. – sorrio pela sua hipótese.
―Eu estou bem e Stacie está comigo, nós estamos no meu apartamento. – indago impaciente.
― Ah, que alivio.
―Só isso? – indago com uma pitada de esperança.
― Só isso, eu acho. Algum problema?
―Tenho esperanças que tudo aquilo que ele me disse é mentira. – digo incerta sobre contar isso a ele, não preciso que mais alguém encha minha cabeça de teorias.
― Esqueça isso Blanche, Justin é um idiota que só queria brincar com você. – ele pronuncia provavelmente irritado por eu estar insistindo nesse assunto no qual já deveria ter morrido pra mim.
― Vai ser difícil, tudo que eu senti por ele era verdadeiro e não é tão simples fingir que nada aconteceu. – respiro fundo tentando encontrar mais palavras para dizer o quanto isso é aterrorizante pra mim ― Só estou magoada.
― Eu imagino quanto B, mas você terá que ser forte pra continuar na agência vendo ele todos os dias. – o rapaz no outro lado da linha diz calmo, tentando em convencer disso.
― Claro. Vou desligar, acho que Stacie vai ficar um pouco comigo. – olho para a garota deitada em meu sofá mexendo no celular.
― Ok, qualquer coisa me liguem. Até mais. – desligo o celular e sento no sofá, colocando as pernas da minha amiga acima das minhas pernas.
Encosto minha cabeça no estofado e respiro fundo novamente, pela milésima vez só hoje. Não consigo imaginar outra vez Justin falando todas aquelas coisas pra mim. Pensei que o sentimento que ele tinha por mim era verdadeiro, mas a quem estou querendo enganar dizendo que ele me amava ou algum dia me amaria? Eu só sou a DUFF que nunca vai ser notada por um garoto, ainda mais pelo garoto que eu sou apaixonada há anos. Ele destruiu tudo o que vivemos, e eu pensava que tudo que passamos fazia algum sentido pra ele.
No outro dia.
10h55min
Acordo sentindo dores no meu corpo todo e nem sei bem o porquê, após eu e Stacie chegarmos da agência, comemos alguma coisa e ficamos jogando conversa fora, sem tocar no assunto Justin, o que foi um grande alivio pra mim. Não estou em ótimas condições para conversar sobre algo que irá me destruir todos os dias, a cada vez mais, na verdade acho que nunca vou estar preparada para relatar sobre esse assunto que quero manter intocável. Lembro-me de minha amiga ter saído cedo do meu apartamento para ir a agência, enquanto eu fiquei aqui deitada pensando sobre absolutamente nada, tudo que fiz foi olhar para o teto e ficar horas assim. Sei o quanto o diretor irá encher minha cabeça, mas a ultima coisa que eu tive hoje é força para encarar essa situação de frente, mas isso não se estenderá, pois estou prestes a mudar tudo isso e não ser mais a idiota que Justin Bieber deu um pé na bunda.
Hoje o dia parece estar todo ao meu favor. À noite a agência dará uma festa pré-comemorativa do novo desfile de duas semanas, e com toda certeza todos estarão lá, se embebedando até não agüentar mais, e quando digo todos, isso também me inclui. Estou ciente do quanto as pessoas irão zuar com a minha cara, mas não posso me esconder sempre que haver um problema.
Levanto-me da cama e caminho em direção ao meu guarda-roupa pegando uma lingerie e um conjunto qualquer para ficar em casa. Levo todas as coisas no banheiro e tomo um banho relaxante, para tirar de mim todas as tensões causadas na semana. Após terminar meu banho e ter me trocado adequadamente, ando até o grande espelho que há no guarda-roupa e me vejo no mesmo. Estou com olheiras horríveis embaixo dos olhos e se eu quiser escondê-las hoje, com toda certeza terei que abusar da maquiagem como se ela fosse minha única amiga que poderá me ajudar.
Desço para o andar de baixo e entro na cozinha tendo em mente procurar algo para comer. Pego tudo que vejo pela frente e vou para sala ver algumas séries. E assim fico o dia inteiro, até chegar a hora que tenho que me arrumar para a festa.
Hora da festa.
21h25min
Passo a última camada de mascara de cílios e me olha pela milésima vez no espelho e pela primeira vez no dia me acho apresentável. Stacie já me mandou mensagem perguntando se eu já estou pronta para nos encontrarmos na porta da agência e eu respondi que ainda estava me arrumando, mas quase no fim. Pego meu celular e coloco no bolso de frente da calça de cós alto que estou usando. Respiro fundo antes de trancar meu apartamento e adentrar meu carro no estacionamento. Ao estacionar o carro quase perto da entrada da agência desço do mesmo e ao ligar o alarme ando vagarosamente até Stacie que está encostada na parede mexendo no celular. Aproximo-me dela e ao chegar bem perto grito o mais alto possível para que ela se assuste, e bom, digamos que consegui com sucesso, já que Stacie quando está no celular é mais distraída que tudo.
― Filha da mãe! – ela grita irritada pela minha brincadeira ― Você me paga! – a loira bate no meu braço e eu rio pela sua irritação. Pego em seu braço e adentramos a agência, logo pegando o elevador para o andar no qual acontecerá a festa.
Chegando ao andar no qual queríamos, posso já ver no começo muitas garotas sacudindo seus traseiros de um lado para o outro como as dançarinas em um vídeo clipe do DJ Khaled. Stacie pronuncia que irá cumprimentar algumas pessoas e eu apenas me afasto de todos e sento-me numa banqueta de um bar improvisado. Sinto o olhar das pessoas pesar sobre mim e tento de todos os jeitos desfazer minha frustração. Encolho-me na cadeira e peço que as horas passem correndo, para que possamos sair logo desse bar. Todas às vezes é a mesma coisa. As duas – quando ainda existia amizade entre mim e Hope – dançam, flertam, beijam quem elas quiserem e a amiga super protetora aqui que evita beber bebidas alcoólicas apenas fica analisando os garotos depravados desse lugar, observando se algum deles irá se aproveitar das pobres garotas totalmente bêbadas e foras de si. As pessoas poderiam me apelidar de babá, já que tudo que faço é ser a cuidadora das amigas, completamente sem juízo.
Viro-me completamente para olhar o bartender quando vejo Justin me fitando e sorrio quando seu olhar cruza com o meu. Beberico mais um pouco da minha Coca-Cola recém pedida e olho para o relógio pela milésima vez desde que entrei no recinto. Já consegui perder Stacie de vista e tudo que quero é sair daqui ou ser chamada por alguém para ir dançar, porque sozinha eu não vou. Analiso o rapaz que acabou de sentar ao meu lado quase se submergindo na sua bebida alcoólica de coloração estranha.
Quanto mais o tempo passa, mas vejo que os garotos ninfomaníacos e babacas dessa agência não têm cérebro e sim somente pênis. Já não consigo mais contar nos dedos quantos já se esfregaram em uma das garotas desse local, e o incrível é que elas gostam. Ah, mas quem não quer ser esfregada e quase abusada pelos modelos com corpo quase completamente definido? Claramente, apenas eu.
Uma pessoa se senta ao meu lado e eu quase reviro os olhos por perceber que tal ser humano irá acabar com minha paz que deveria ser inalterável. Sinto o cheiro forte de perfume masculino e por um instante paro apenas para me lembrar que usa esse perfume especifico. Oh não.
Justin joga-se no banco ao meu lado e observo sua respiração ofegante. Não posso surtar agora, agora não.
― Porque ainda está sentada aqui, B? – ele diz, totalmente sem fôlego pela agitação ― Vamos dançar, gatinha. – sinto vontade de vomitar quando ele pronuncia o gatinha de modo claramente pervertido.
― O que você está fazendo aqui? – indago irritada pela sua presença, eu esperava que ele fosse me ignorar a noite inteira.
― Eu vim fazer uma pergunta, apenas. – o encaro e tenho esperança que ele retome o assunto inacabado de ontem, mas logo volto a me lembrar do idiota que ele é, arqueio as sobrancelhas.
― Stacie ainda está com o Scott? – franzo meu cenho pensando no quão idiota essa pergunta é, ele sabe muito bem que os dois estão juntos.
― Como se você não soubesse. – digo sarcástica revirando os olhos e fitando minha coca-cola.
Não quero me sentir a estraga prazeres e pedi-la para ir embora, ainda mais antes das dez e meia. Ela não tem culpa se eu sou uma garota anti-social que é reservada demais para dançar no meio de todos os modelos da agência na qual faço parte. A música parecia mais alta a cada minuto que se passa, e minha cabeça dói fracamente.
― Poderia conversar com ela, não é? – o olho totalmente indignada e respiro fundo para não deixar que lágrimas rolem pelo meu rosto.
― Saia daqui antes que eu jogue minha coca na sua camiseta impecavelmente branca. – digo nervosa e ele sorri como se estivesse se lixando para o que eu vou fazer.
― Ah DUFF.
Semicerro meus olhos e seguro o corpo com o conteúdo marrom em minha mão com tanta força, que sinto meus dedos doerem. Em um movimento rápido me coloco de pé e jogo o conteúdo do meu copo na direção do Justin. A coca-cola voa por ele todo, pintando a sua pólo branca de aparência cara. Gotas do líquido marrom escuro rolam em suas bochechas e encobrem seu cabelo castanho. Seu rosto brilha com furor, e sua mandíbula range ferozmente.
― Para quê isso garota? É louca? – ele cuspi, limpando o rosto com o dorso de sua mão.
― Tem certeza que quer saber o porquê eu fiz isso? Certeza absoluta seu idiota prepotente? – eu grito, com os punhos fechados ao meu lado.
― De maneira honesta, DUFF, não tenho a mínima idéia. – ira faísca nas minhas bochechas.
― Vai te catar Justin! – grito feroz em direção a porta na qual entrei.
As pessoas riem de mim e outras de Justin, e mesmo com a altura do som, consigo ouvir alguém falar alto e em bom som. ― Foi dispensado pela DUFF, Justin? – e logo após a pessoa ri com toda vontade do mundo.
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