Lauren on
Todos os ossos e músculos de meu corpo gritavam de dor. Dormir numa maca apertada, com um colchão d'água miserável - que mais parecia não existir - e uma latina preguiçosa e espaçosa ao lado não era uma coisa muito comum para mim, então, as dores eram de se entender. Apesar de estar quase morrendo de dor, não queria levantar e acordar Camila; ela parecia tão serena e relaxada.
Senti-a mexer mais uma vez, empurrando-me ainda mais para o cantinho. Levantei devagar, tentando tirá-la com cuidado e delicadeza de cima de mim. Puxei seu lençol para cima, cobrindo-a; abaixei meu rosto até o seu, beijando sua testa vagarosamente. Camila fez uma careta, resmungou e abraçou seu travesseiro, achando que eu ainda deveria estar ali. Olhei-a mais uma vez, antes de sair do quarto.
Caminhava confiante pelo corredor, sorrindo para tudo o que aparecesse em minha frente, até mesmo seres inanimados. Alguns médicos, enfermeiros e pacientes - ou acompanhantes dos mesmos - me cumprimentavam, pedindo algumas fotos ou autógrafos. E, mesmo sabendo que aquelas fotos estariam segundos depois em todas as redes sociais possíveis da pessoa e noticiários de fofocas, eu as tirava. Meu humor estava bom demais para negar algo a alguém.
Fui até a sala de espera, encontrando meus amigos e familiares por ali, dormindo como podiam em poltronas e cadeiras de plástico. Pensei em gritar, para acordar todos num susto, mas haviam outras pessoas por ali também e não seria legal fazer isso com eles. Shawn era o único que não estava por ali, o que me fez questionar onde diabos o moleque tinha se metido.
- Está tudo bem? - a voz sonolenta e grave de Dinah fez-se presente, desviando minha atenção para ela.
- Oh, sim. Na verdade, não poderia ficar melhor. - suspirei, realmente feliz, vendo minha irmã sorrir de volta. - Eu tenho um filho. - passei a mão pelo cabelo trançado, com uma expressão bem boba no rosto.
- Sim. E um filho é lindo, inclusive. A cara da Camila. - DJ debochou, levantando com cuidado para não acordar Mani, que dormia encostada em seu ombro.
- Você é bem engraçada. - sorri falsamente para ela, que assentiu concordando. - Hm, então, onde o louco está? - procurei-o ao redor novamente, fazendo-a rir.
- No berçário. Ele parecia encantado com todas aquelas crianças choronas e remelentas. - a loira bufou, fingindo tremer na base.
- Quero ver quando a Mani aparecer grávida. - alertei, zombando dela.
- Cruzes. Aquelas mini-pessoas me dão agonia. Sempre me lembrarei do Chucky ao vê-las. - Dinah disse, enquanto fazia uma careta.
- Tomara que a negona gostosa ali engravide de gêmeos. - apontei com a cabeça para moça, que ainda dormia sossegada.
- Se você a chamar assim novamente, arranco sua língua fora. - gargalhei baixo com aquela ameaça, para não acordar ninguém. - Vamos ver como o Shawn está. Ele não pode ficar muito tempo sozinho. - assenti, concordando com seu comentário, e a segui.
Caminhávamos em silencio pelos enormes corredores, apreciando uma a companhia da outra. Dinah ria baixinho, tentando disfarçar as risadas. Virei-me para ela, indagando silenciosamente o motivo das risadas.
- Você e Shawn deixaram aquelas pessoas sem entenderem nada. - a loira negou com a cabeça, rindo. - Aquilo foi demais!
- Aquilo fez-me perder o cinturão. - bufei, lembrando-me das palavras de Dana.
- Isso não será um problema. Você o toma de volta numa luta só. - DJ segurou meu ombro, confortando-me. - Isso não foi... Oh, Deus! Olha aquilo. - minha irmã gargalhou alto, apontando para um canto.
Desviei minha atenção para lá, encontrando Shawn Mendes, um dos melhores lutadores de toda a corporação, dormindo feito um bebê no chão. Exatamente como um bebê manhoso e chorão. Sua expressão era calma e infantil; seu polegar estava preso entre os lábios, enquanto sua língua o chupava com se estivesse com uma chupeta ali; seu corpo grande estava todo enrolado numa posição fetal, ridícula.
Dinah se preparava para o chutar, mas eu a impedi. Puxei meu celular do bolso e fotografei aquela cena. Mendes pagaria algumas notas por aquela imagem. Dei o aval para DJ fazer o que tanto queria, assistindo Shawn pular assustado e desorientado do chão. Ele olhou para mim e depois para Dinah, confuso.
- Você me deve cinquenta dólares. - o lembrei de nossa aposta, deixando-o ainda mais confuso.
- Pode me emprestar a camisa? - o moreno apontou para o moletom que Dinah vestia, abraçando-se em seguida. - Está realmente frio aqui.
- Tudo bem, crianção. - DJ revirou os olhos, retirando a peça do corpo.
- Hm... isso é bom. - ele gemeu satisfeito, cheirando o braço do moletom. - Normani estava dormindo em você, não estava? - Mendes riu, cheirando o pano de novo. - Oh, sim. Ela estava.
- Como você conhece o cheiro dela? - minha irmã indagou com duvida e curiosidade, cruzando os braços.
- Ora! O cheiro que está na gola é diferente do que está no braço. - Shawn se defendeu, rindo.
- Ufa! Achei que seria obrigada a segurar Dinah. - passei a mão na testa, aliviada.
- Eu gosto de meninos. - o moreno disse como quem não quer nada, dando de ombros.
Dinah parecia chocada, alternando o olhar entre Shawn e eu. E eu estava da mesma forma. Não conseguia parar meu olhar nele, porque iria gargalhar; e não olhava por muito tempo para Dinah pelo mesmo motivo. Dei de ombros, como se já soubesse daquilo.
- É brincadeira, gente. - ele parecia ofendido.
- Se você fosse gay, eu pegaria você. - a loira brincou, piscando o olho.
- Ai, que nojo. - Shawn afinou a voz, mexendo a mão. - Mas, mudando de assunto, seu filho é lindo, Lauren. Parece muito com a Camila. - zombou, assim como Dinah há alguns minutos.
- Nossa. Hoje vocês estão super engraçadinhos. Combinaram de falar a mesma coisa? - apontei para os dois, sorrindo sem vontade.
- Por que não me chamaram? - uma Veronica sonolenta gritou, sendo repreendida por uma enfermeira. - Que "shii", o quê? - ela riu, zombando da senhora.
- Veronica, aposto vinte pratas como você não acerta qual o filho da Laur. - Dinah desafiou, puxando-a para longe da senhora que continuava a reclamar com ela. - Desculpa por ela, senhora.
- Essa é fácil. - a magrela se aproximou do vidro, apontando para um moleque no cantinho. - Aquele ali, ó, um dos Cullen. Ele é lindo, fácil de identificar. É a Camila numa versão masculina. - tornou a debochar, rindo.
- Ah! Vão morrer. - empurrei a morena pelos ombros, indo olhar meu filho pela vidraça. - Como vocês podem dizer isso? Ethan é indiscutivelmente parecido comigo! - bufei, olhando melhor para aquele único pontinho azul no mar cor de rosa.
- Ei! Ele deveria se chamar Arthur! - Dinah protestou, cruzando os braços indignada.
- Ih, DJ... - Vero começou em tom de alerta, estalando a língua. - Ela preferiu a Emily... - a morena continuou, plantando a discórdia.
- É. Ela sempre prefere qualquer opinião à minha. - a loira soltou, fingindo estar - ou realmente estando - magoada.
- Ah! Qual é, Jane? Isso não é verdade. - tentei me defender, mas a outra levantou a mão me cortando. - E você, fica quieta. - apontei para a morena, que deu de ombros.
- Cala essa tua boca antes que eu roce tua cara nesse vidro. - Dinah ameaçou, rindo. - Aceito que esse se chame Ethan, desde que o próximo seja Arthur.
- Meu filho tem algumas horas de vida e você já está pensando no próximo? - indaguei, fazendo-a assentir. - O seu está por vir. Chame-o de Arthur.
- Não começa com tuas pragas, por favor. Elas sempre peg...
- Camila pode receber visitas? - Shawn interrompeu a reclamação de Dinah, atraindo nossos olhares. - Gostaria de saber como ela está. - suspirou, provavelmente pensando em Camila.
- Ela está bem, obrigada. - respondi, desconfiada. - Quanto a visita, eu não sei. Talvez eu fale com Tristan depois. - devo ter soado ríspida, já que seus olhos se arregalaram e seus lábios formaram um sorriso divertido.
- Calma aí, Rocky. Só queria saber se ela está bem. - o moreno levantou as mãos em sinal de redenção.
- Irei vê-la. Quem sabe eu respondo sua pergunta daqui a alguns minutos. - dei de ombros, ouvindo Veronica segurar o riso atrás de mim.
Mendes parecia chocado, surpreso e confuso com minha resposta. Talvez ele estivesse se perguntando o porquê da crise de ciúmes; bem, eu também estava. Dei de ombros, sabendo que Shawn não teria chance alguma contra mim. Ou com Camila.
- Crise de ciúme. Que feio... - Vero murmurou, rindo.
- Fala sério! Você chorou quando soube que a Lucy estava de rolo com o cantorzinho lá. - Dinah me defendeu, empurrando-a pelo ombro.
- Eu não estava com ciúmes. Estava triste mesmo. - a morena suspirou, negando com a cabeça. - Continuo triste, inclusive.
- Vocês pareciam estar juntas mais uma vez na recepção. - comentei, lembrando-me de como as duas pombinhas dormiam agarradinhas. - Enfim. Depois conversamos sobre seu coração, Marie. - puxei o francês enquanto falava seu nome do meio, fazendo-a bufar irritada.
- Michelle, Michelle... - ela alertou, cerrando os olhos.
- Beijos, Jane. Fica na paz, Marie. - mandei beijinhos no ar, enquanto me afastava deles. - E cuidado com o louco.
Fiz meu caminho de volta para o quarto de Camila, encontrando-a da mesma forma que antes. O cabelo desgrenhado continuava sobre seu rosto, tampando-o parcialmente; a boca continuava entreaberta, fazendo ruídos parecido com roncos baixinho ou ronrons; a expressão cansada e serena também continuava por ali, deixando-a ainda mais linda. Senti meu coração acelerar ao olhá-la, daquela forma tão inocente.
A cada novo olhar que eu dava em direção a Camila, meu coração se apaixonava mais um pouco por ela. Não importava a situação, ou sua expressão, meu estômago sempre reviraria ao encarar aquele lindo rosto; meu coração sempre erraria uma batida quando ela sorrisse como uma criança travessa, com a língua entre os dentes; meu cérebro sempre daria um nó quando sua voz entrasse por meus ouvidos e arrepiasse todos os pelos de meu corpo; minha alma sempre se alegraria ao saber que o motivo do seu tão amado sorriso sou eu; minha vida sempre teria sentido enquanto aqueles lindos e grandes olhos castanhos brilhassem para mim.
- Para de me olhar assim. - sua voz despertou-me, fazendo-me focar a atenção nela.
- Assim como? - sorri, vendo-a esconder o rosto no travesseiro que havia ali.
- Deste jeito! - ela levantou um pouco a cabeça, jogando-a de volta para baixo. - Pare!
- Se você me disser o jeito, tentarei não fazê-lo mais. - aproximei-me dela, ouvindo-a bufar.
- Deste jeito, como uma bobona apaixonada. - Camz disse manhosa, virando-se para me enxergar. - Você nem ao menos me ama! - um biquinho enorme e adorável se formou em seus lábios.
- Por que diz isso? - sentei-me ao seu lado na maca, puxando-a com cuidado para meu colo.
- Você nunca disse que amava. - ela continuou com manha, ajeitando-se sobre minhas pernas.
- Ah, sim. Entendi. - disse simplesmente, sentindo um beliscão em minha barriga. - Ouch!
- Você deveria dizer: "Sim, Camz, eu amo você. Mais do que a mim mesma." - a latina escondeu a cabeça na curva do meu pescoço, soltando sua respiração quente por ali.
- É, eu deveria. Mas não vou. - dei de ombros, sentindo outro beliscão. - Camila! - a repreendi, ganhando uma risada gostosa como resposta.
- Isso não é nada perto do que você fez comigo. - ela comentou, beijando meu pescoço. - Você me fodeu!
- Sim, fodi. Mas faz alguns meses que eu não faço isso. Deveríamos aproveitar um pouco, o que acha? - sugeri, fazendo-a levantar a cabeça me encarar como se eu fosse um bicho estranho.
- Eu acabei de parir, doente mental! - ela começou, e eu continuei com a mesma expressão de "vamos transar?". - Não posso fazer nada durante uns dois meses.
- Podemos tentar... - roubei um selinho dela, sorrindo.
- Estou toda fodida aqui, Lauren! Literalmente. E você vem pensar em sexo agora? - ela bufou, tentando sair do meu colo.
- Fodida como? Aposto que não é nada de mais. - dei de ombros, segurando-a no lugar.
- Como? Okay, vamos enumerar. - Camila levantou a mão, com o dedo indicador em pé. - Primeiro, estou exaustíssima. Segundo, estou sangrando o que não sangrei durante estes nove meses. Terceiro, acabou de passar uma criança por minha vagina. Quarto, você tem noção do que é uma criança passando por um buraquinho? Sabe o tamanho que isso deve estar? - ela apontou para baixo, referindo-se a intimidade dela.
- Podemos tentar outro canto. - sugeri novamente, tentando estressá-la.
- Fodi minha boceta toda e você quer me fazer tomar no cu. Obrigada, Lauren. - Camila debochou, batendo palmas.
- Você é impagável. - gargalhei, abraçando-a.
- E você doente mental. - seus dedos acariciaram minha bochecha, enquanto ela sorria ternamente. - Como eu posso te amar? Você é tão idiota.
- Como? Okay, vamos enumerar. - imitei sua voz e seu gesto, recebendo um tapa como resposta. - Primeiro, dou-te amor. Segundo, dei-te um filho. Terceiro, tenho pau grande.
- Quarto, você é idiota. - Cabello riu, selando nossos lábios. - Vamos dormir antes que você suponha outra coisa. - disse, enquanto descia de meu colo.
- Ainda acho que podemos tentar. - juntei nossos corpos, ouvindo-a rir.
- Cala a boca. - Camz murmurou, enlaçando seus dedos com os meus, puxando meu braço para sua barriga. - Amo você.
[...]
Depois da noite agitada que tive - não de um jeito proveitoso, obviamente -, minhas pálpebras estavam pesadas e tendiam a se fecharem a qualquer momento. Ethan resolveu acordar quatro vezes durante a madrugada, disposto a mexer com nosso sono. Nancy, a enfermeira gostosona, parecia cada vez mais sem graça quando invadia o quarto com o pequeno chorando em seu colo.
Agora, alguma hora da manhã - provavelmente por volta das oito, nove horas -, meus amigos e familiares finalmente poderia paparicar e apalpar meu filho o quanto quisessem. Piper e Alex - que haviam me jogado para o outro lado do quarto - estavam quase babando sobre o neto, que dormia calmamente nos braços da loira.
Mesmo sendo totalmente contra as regras, todos estava dentro do quarto. Justin e Troy conversavam com DJ, Emily e Vero sobre alguma coisa chata, enquanto as mulheres - e Harry - rasgavam elogios a Ethan e Camila. Nancy tentou convencê-los a entrarem em quartetos, mas ninguém deu ouvidos a mulher e resolveram invadir o recinto todos de uma vez só.
- Tem certeza que esse menino é filho da Lauren, Camila? - Vero perguntou, fazendo todos a olharem chocados. - Ele é lindo demais para ser algo deste troço. - simulou um vomito, apontando para mim.
- Odeio concordar com essa pessoa, mas, sim, ela tem razão. - DJ bufou, assentindo.
- Ele parece um joelho. Como pode ser lindo? - Emily murmurou, levando um tapa de Alison.
- Você, menina, tem razão. - Justin concordou, olhando para Ethan. - Ele parece um ratinho!
- Calem a boca. Meu afilhado é lindo, sim! - Harry se meteu, fazendo uma careta engraçada ao se aproximar de Camila.
- Eu vou ser a madrinha! - Lucia, Allyson e Normani gritaram ao mesmo tempo, dando início a uma discussão hilária. Uma dava porquês para ocupar tal "cargo", enquanto as outras duas reclamavam e discordavam.
- Eu devo ser a madrinha. Sou a mais velha, então, sou a mais responsável. - Ally se gabou, jogando o cabelo para trás.
- Responsável? Você esqueceu sua cadela na sorveteria! - Normani dedurou, bufando. - Eu deveria ser!
- E por que você? - Lucy se pronunciou, cruzando os braços. - Eu sou a...
- Bom dia, pessoal. - alguém com a voz incerta atrapalhou fala de Lucy, atraindo nossa atenção.
- O que vocês fazem aqui? - Camila, rispída, indagou.
De repente, o clima frio do ar condicionado havia desaparecido completamente, dando lugar a um clima tenso, com aura quente e seca. Todos que estavam no cômodo pareciam perceber o desconforto de Camila, pois alternavam o olhar entre mim, ela, a senhora loura e o senhor de meia idade que acabaram de chegar no quarto. Anne e Harry pareciam revoltados, segurando-se para não expulsar os dois dali. Fiz meu caminho de volta para o lado de Camila, silenciosamente.
Segurei a mão de Camila que estava sobre o encosto da maca, a fim de confortá-la, recebendo seu olhar apreensivo e magoado como resposta. Olhei novamente para Alejandro e Sinuhe, que parecia arrependidos, envergonhados e emocionados. O mais velho não sabia onde parar os olhos, enquanto a loura sorria ao ver Ethan no colo da latina mais nova.
- Você quer conversar com eles a sós, Camz? - falei, quebrando o silêncio desconfortante que pairou-se por ali.
- Eu não tenho nada conversar com estes dois, Lauren. - ela pareceu engolir a seco, olhando com desdem para os dois encostados na porta.
- Gatinha, você tem que conv... - tentei convencê-la, mas logo fui cortada pela mesma.
- Não, Lauren, eu não tenho! - Camila brandou com raiva, respirando fundo. - Eles perderam o direito de conversar comigo há cinco anos. - a latina praticamente cuspiu as palavras, causando mais desanimo nos pais.
- Hm... meninas, esperaremos lá fora, certo? - Alex limpou a garganta, chamando as outras pessoas que estavam ali. A morena veio até nós e entregou Ethan para Camila.
- Tudo bem, mãe. Daqui a alguns minutos irei encontrá-los. - concordei com sua decisão de nos deixar sozinhos.
- Não há motivos para nos deixar, Alex. Esses dois quem sairão. - neguei com a resposta de Camila, bufando.
- Pode levar o Ethan? Ótimo. - peguei o moleque do colo de Camila com cuidado, mesmo contra a vontade da mesma, entregando-o a Alex, que sorriu compreensiva. - Obrigada.
- Não! Deixe-o, por favor. - Sinu quase suplicou, com os olhos brilhando, talvez com lágrimas. - Gostaria conhecê-lo. - a loira, então, olhou para a filha, esperando por sua resposta. Camila negou, mandando que Alex se retirasse.
Voltei para o lado de Camila, que ajeitou-se na maca. Ela tentava mascarar seus sentimentos, forçando uma expressão totalmente sem emoção e os braços cruzados. Porém, seus olhos mostravam exatamente como ela estava se sentindo no momento: frágil, machucada.
- Kaki... - Sinuhe começou, tentando se aproximar.
- Camila. Meu nome é Camila. E fique onde você está, consigo ouvir perfeitamente daqui. - a latina mais nova levantou a mão, parando a mulher.
- Camila, gostaríamos de nos desculpar. - Sinu continuou, com a voz embargada.
- A resposta é não. Podem se retirar. - e, mais uma vez, a latina foi rude.
- Camz, deixe-a falar. - sussurrei para ela, que negou com a cabeça.
- Ela não deveria nem estar aqui, Lauren. Não quero conversar com ela.
- Tudo bem. Mas, pelo menos, ouça o que eles têm para dizer. - pedi, enlaçando nossos dedos. - Só ouça. - pedi novamente, sabendo que ela iria negar.
- Tudo bem.
- Obrigada. - levei sua mão até meus lábios, plantando um beijo singelo e agradecido ali.
- Obrigado, Lauren. Você está sendo muito gentil. - o senhor se pronunciou pela primeira vez, sorrindo amigavelmente.
- Não fiz isso por vocês. Fiz por ela. - o sorriso que estava no rosto de Alejandro morreu e ele pareceu engolir em seco. - Vocês já perderam dois minutos.
- Camila, meu amor, eu sinto muito por tudo o que aconteceu. - Sinu deu início ao discurso, limpando os cantos dos olhos.
- Pelo o que você fez comigo ou consigo mesma?
- Por tudo. Mas, principalmente, pelo o que fiz contigo. Abandonar você no momento em que você mais precisava de algum apoio foi a pior e mais devastadora escolha que fiz em toda a minha vida. E foi uma total hipocrisia de minha parte. Eu tinha dezessete anos quando engravidei, um ano a mais que você. Minha mãe fez exatamente a mesma coisa que eu: expulsou seu bem mais precioso de casa, jogou-o na sargenta sem escolha ou expectativa de qualquer coisa. Porém, minha ação foi bem pior que a dela; as consequências que resultaram disso foram nefastas, doentias. E eu sinto muito por isso. - a loira parou por alguns segundos, respirando fundo. - Nada que eu fale ou faça irá mudar o passado, ou o que aconteceu com você. Mas podemos deixar o passado para trás e tentar novamente, mais uma vez, e desta vez você terá uma mãe de verdade, alguém em quem você possa confiar e se apoiar quando ninguém mais estiver ao seu lado. Perdoe-nos, Kaki.
- Seus dez minutos acabaram. - Camila respondeu, simplesmente.
Sinuhe assentiu, deixando que as lágrimas rolassem soltas por seu rosto. Alejandro parecia cansado e derrotado ao lado da esposa. O mais velho acenou brevemente para mim, segurando a mão da loura e a arrastou para fora do quarto, falando algo em seu ouvido.
No mesmo instante que a porta da frente bateu, fechando-se, um soluço choroso invadiu meus ouvidos. Desviei minha atenção para a latina ao meu lado, sentindo meu coração se despedaçar. Camila chorava desesperadamente. Um choro sentido, doído, de alguém que estava segurando aquilo há anos e finalmente pode colocá-lo para fora.
Sentei-me de qualquer jeito ao seu lado, sentindo-a agarrar minha camisa com força. Afaguei seu cabelo longo e beijei o topo de sua cabeça, permitindo que ela molhasse toda minha camisa com suas lágrimas. Abracei seu corpo sem saber o que falar ou como agir, mas sabendo que, naquele momento, aquilo seria minha melhor escolha.
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