Decidi não deixar os acontecimentos da noite anterior, roubarem o resto de paz e bom senso que existe dentro de mim.
Eu tenho um reino prestes a sucumbir e que o fará, se eu continuar sendo a mesma Alice de antes. Eu tenho reis a minha espera, e possivelmente, muito sangue sendo derramado nos campos de batalha, se minha indecisão continuar.
Meu nome é Alice Kingsley e EU SOU a rainha de Wonderland.
*
As portas da sala principal se abrem assim que os guardas me veêm. Sei que não devia ficar nervosa, porém, é inevitável não se sentir intimidada perante a todo esse respeito e lealdade que agora tem a sua nova rainha.
Não sou mais a mesma de antes, e isso mudou esta noite. É o que repito incontáveis vezes na minha mente.
Mal me sento em meu trono, e a balburdia de antes recomeça.
Mctwisp diz que eles estavam discutindo a respeito do meu plano, e então, começaram as farpas entre todos.
Eu aceno para que ele pare seu relato.
- Os senhores... – Inicio – Os Senhores podem parar de discutir sobre coisas que não beneficiaram nenhum lado?
Eles me olham, escodem o sorriso em uma falsa dissimulação.
Pigarreio brevemente para que minha voz se torne alta e clara, e a lembrança de Mirana surge em minha mente. Quantas vezes, ela não deve ter tido que acabar com essas briguinhas orgulhosas desses soberanos?
Mirana está morta. Uma parte escura de mim retruca. Por mais que me doa admitir, essa é a verdade, e pelo que sei, desse novo mundo de reis e rainhas, poderia ser qualquer um nessa sala.
- Alias, parece que se esqueceram que tem uma guerra lá fora, com criaturas morrendo e sangue sendo derramado, enquanto discutem orgulhosos. – Todos tem minha atenção. – Querem falar sobre meu plano, pois bem, falaremos sobre ele, na minha presença. – Eu olho nos olhos perplexos de cada um. – Não custa lembrar que estão nas minhas terras e no meu palácio.
Até mesmo McTwisp parece não acreditar no que vê. Bem, ele terá muito tempo para ficar perplexo depois das minhas ordens.
- Alice está certa. – Hector concorda. – Temos coisas mais importantes para nos preocupar. Deste modo, como dizia antes da soberana chegar, eu já tenho alguns nomes para propor.
- Tem minha atenção, rei de Lonefrey. – Digo breve, mas incisivamente.
Ele começa a citar nomes de mulheres as quais não conheço, contudo, tudo que consigo pensar é que eu seria mais uma na sua lista de conquistas se Tarrant não tivesse aparecido. Tarrant é passado. Talvez seja mesmo.
- Acredito que as “moças” que Donavan citou, não sejam adequadas. – Wilfred diz.
- E quem seriam mais adequadas? Alguma das barangas do seu reino?- Hector rebate.
Eu levanto minha mão antes que uma nova discussão recomece.
- Talvez Wilfred tenha razão. Suas sugestões podem não ser adequadas, ao que me parece, são moças comuns, não é? – Ele assente. – Precisamos de alguém forte, alguém que tenha, definitivamente poder.
- Poder de sedução? – Hector parece presunçoso.
- Feitiçaria. – Digo rapidamente.
Todos olham em minha reação como se estivesse ficado maluca.
- Nunca confiamos em bruxas, majestade. – Ele diz com cuidado.
- Por que não? – Não posso recuar agora.
- Quem garantiria que elas não nos trairão? Todos sabem que são traçoeiras.
Mctwisp parece desconfortável. Mirana não era uma fada. Seu olhar deixa isso claro.
- Pode até ser, mas, eles não jogam limpo. E esse plano, é prova de que ninguém aqui está disposto a ser 100 % inocente.
Eles assentem.
- Além do que, todos podem trair todos. – Inclusive matar a rainha. – Tenho certeza que os senhores conhecem as pessoas certas. Amadureçam essa ideia, porém, não demorem demais, nosso tempo pode estar acabando.
*
Mctwisp está calado desde que sai da sala do trono. Sua inquietação está terrivelmente deixada de lado hoje.
- A senhorita se saiu bem hoje. – Disse depois de muitos minutos em silencio.
Não me preocupei em agradecer.
- Descobriu algo sobre Mirana?
Ele parece novamente desconfortável.
- Mirana era uma bruxa, Alice. E tem algo que precisa saber.
- O que?
Ele pula na minha frente até uma parede, e então ela se abre revelando uma passagem.
Eu mostro segurança ao caminhar no corredor estreito.
- Aqui estão os últimos 10 anos em decretos de Wonderland.
Ele coloca seus óculos enquanto procura um papiro em especial. Fico com medo de tocar em algo importante, por isso, fico na escada.
- Por que papiros? Eles não são facilmente apagados pelo tempo?
- Não estes. Essa é uma sala especial, ninguém além de mim ou Mirana poderia vir aqui. Você só entrou por que está comigo. Mas, aconselho que não toque em nada.
Eu assinto mesmo sabendo que ele não está me olhando.
- Achei. – Ele vem na minha direção com um papiro em mãos.
- O que é isso?
- O decreto de Mirana. O que proíbe bruxas.
Eu pego o papiro em minhas mãos, e com todo cuidado abro.
Não é como se eu esperasse que raios ou algum tipo de fumaça saísse do papel. Mas, é como li num livro uma vez, as palavras são as armas mais poderosas.
Meus dedos tocaram a grafia delicada de Mirana, tão parecida com as cartas que ela deixou pra mim antes de morrer. No entanto, havia segurança em suas palavras. Havia destreza ao proclamar que todas as bruxas estavam exiladas, e que quem desrespeitasse tal decreto queimaria nas sete chamas, assim como, quem acobertasse seria jogado ao pesadelo. O que quer que ele fosse.
- Por que ela decretou isso, se era uma bruxa afinal? Por que Iracebeth concordou? – Vi a assinatura da rainha vermelha logo abaixo como se dissesse que até mesmo em sua parte do reino isto estava decidido.
- Tem coisas que não lhe contaram sobre Mirana, Alice. Tem coisas que até a própria Iracebeth faz questão de esquecer. E por mais que eu quisesse adiar, você tem que saber que Mirana, nem sempre foi tão justa assim.
- Por que está me dizendo isso, Mctwisp? – Minha voz soava amedrontada.
- Por que Mirana, nem sempre tomou decisões justas. E por que a Rainha não morreria por causa de um simples envenenamento.
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