História The Galaxy - Corado.

— I don’t like you.
You pinch my cheeks,
My heart turns red.
Grumpy — Bolbbalgan4

— Você o quê? — Namjoon pergunta, em choque.

É intervalo do treino de basquete de quinta-feira à tarde, e nós sete estamos sentados no chão do ginásio. Namjoon pode ser um líder bem carrasco às vezes, é, mas ao menos ele nos deixa beber um pouco de água e trocar uma ideia entre uma partida e outra. Se ele não deixasse... Bom, não é como se a gente fosse respeitar isso, de qualquer modo. A gente consegue ser bem rebelde quando quer.

— Tenho que levar a novata pra casa todo dia — respondo. É a segunda vez que eu repito a mesma coisa, tentando fazer com que o idiota do meu capitão entenda. Todos os demais já se encontram boquiabertos. — Hoje foi a segunda vez.

— Cara, você é muito sortudo — o queixo de Taehyung havia caído uns dois centímetros. — Aquela garota é muito linda. Queria tanto estar no teu lugar — assume um semblante sonhador.

Ah, Taehyung, você realmente não sabe o que está falando. É bem provável que a extraterrestre tenha feito lavagem cerebral em sua cabeça desmiolada. Porém, não falarei uma palavra sequer sobre isso, com o único e impreterível intuito de não assustar você. Olhe só! Eu sou um super amigo. Infelizmente, não são todos que percebem os sacrifícios que eu faço pelos outros. Acho que... Meus esforços têm de ser mais reconhecidos.

— Linda? — ergo as sobrancelhas. — Você só pode estar brincando. — rio soprado. — A menina é a peste na forma de gente. — levanto-me e pego a bola que está mais próxima dos meus pés. — Nada nela faz sentido, e ela... É muito irritante.

Corro até a tabela e jogo a bola na cesta, acertando-a em cheio.

— Eu achei ela bem gata — Jimin dá de ombros. — A personalidade é o de menos, Jungkookie-ssi. Lembra do nosso lema? Beijar primeiro, papear depois — ele abre um sorriso de canto. — Tem que aproveitar as oportunidades.

— Esse é o seu lema, Jimin, não o meu — retruco. Eles permanecem sentados, fitando-me de baixo. Digo, eles, exceto Suga. Ele parece muito entretido com seu próprio cadarço. — Por que ainda estão discutindo essa droga? Eu já falei que eu não quero ter nada a ver com a lunática — esbravejo.

— O Jungkookie tá nervosinho — a voz de Hoseok soa repleta de descaso. Jin, achando graça, mal se esforça pra conter os risos histéricos. — Deixa de birra, parceiro. Todo mundo aqui já entendeu que você quer ficar com ela — diz, achando-se o verdadeiro dono da razão.

— Vai se ferrar — entoo. — E você, Jin, cala essa boca.

— O quê? — o moreno, aturdido por ter sido nomeado, indaga. — Eu nem fiz nada! — protesta. — Vamos, Jeonzinho, não briga comigo... — choraminga, e então faz algo que... Bom, eu acho que era pra ser um aegyo. Pra mim, no entanto, não parece ter dado muito certo.

Sem que eu me dê conta, o bastardo de nome Kim Seokjin — detentor dos direitos de todos os aegyos falhos — se aproxima, deixando claríssimas suas intenções no exato instante em que estende os braços. Diante da iminência de um abraço mais que dispensável, portanto, faço aquilo que julgo como mais sensato.

Esquivo-me imediatamente.

— Para de fazer manha, cara, você tem dezoito anos — a careta em meu rosto demonstra todo meu desgosto por aquela atitude afetuosa e nem um pouco necessária. — Vai abraçar o Yoongi, vai — aponto pro único que ainda não tinha se manifestado.

— Se você vier pro meu lado, Seokjin, eu juro que te mato. — Suga fala. Oh, um doce, como sempre. Eu não poderia esperar outra reação vinda do branquelo arisco. — É melhor você ficar bem onde está. — ele sequer olha pra onde estamos enquanto profere suas ríspidas palavras.

Panaca.

— Yoongi-ah, eu sugiro que demonstre um pouco mais de respeito — Jin adquire uma postura surpreendentemente máscula de repente. — Ou então, eu conto pra todo mundo que te vi no vestiário usando cueca de ursinho semana passada. — ele faz uma breve pausa ao passo em que todos, incluindo Suga, o encaram. — Opa.

Houve um curto momento de silêncio antes que Yoongi explodisse de vez.

— Seu... Infeliz — a face antes branca do garoto agora se transformara em vermelha. — Quem foi que te deu autorização pra me ver trocando de roupa? — ele começa a andar na direção do mais alto. — Me fala, Seokjin!

— Ah, vê se me erra, papel sulfite! — Jin retruca, aos risos, e não demora muito pra que uma perseguição se inicie pela extensão do ginásio. Só que eu tinha absoluta certeza de que, até o final de toda a correria, Yoongi estaria muito cansado pra tentar qualquer coisa. É, é sempre assim. A gente nunca presencia uma ação de verdade quando se trata desses idiotas.

— Já que vocês parecem bem descansados... — Namjoon se espreguiça. — Acho que podemos voltar ao...

— Espera, cara. — Hoseok segura seu pulso, interrompendo-o. — Parece que Jungkook tem... Visita. — sorri.

Ah, não.

Por favor, que não seja quem eu penso que é.

Por favor.

— Jeonggukie! — ouço meu nome ser chamado, e, no instante em que noto aquele timbre característico, percebo que nunca fiquei tão zangado por estar tão certo.

É ela.

O que é que ela está fazendo aqui?!

— Jeonggukie! — a criatura repete. Sinto minhas pálpebras tremerem. — Jeonggukie, venha cá. Preciso falar com você.

— É, vai lá, Jeonggukie — Taehyung provoca. — Sua namorada quer falar com você.

Taehyungie, a impressão que você me passa, falando assim, é a de que você... Quer muito morrer. No entanto, crente de que esse não é o seu desejo, deixarei pra resolvermos isso numa outra ocasião.

Oh, eu sou tão altruísta.

— Jeongg...

— Arghhh, já vou, menina — emito um grunhido de raiva e caminho até ela. A estranha se situa parada na porta do ginásio. — O que é que você tá fazendo aqui? — questiono-a, no instante em que chego próximo o suficiente.

Ela está, como sempre, vestida de uma maneira extremamente chamativa. Usa uma blusa de alças azul, saia cor-de-rosa, bota de saltos cinza — a qual vai até a altura de seu joelho — e... Uma coisa bizarra nos braços. Parece muito com meias listradas coloridas, com a diferença de que... Estão no lugar errado. Felizmente, há uma abertura para suas mãos. Eu estaria ligando pro sanatório se... Se fosse realmente fosse um par de meias.

— Eu já disse que eu precisava falar com você — cruza os braços, aparentando aborrecimento. — Ei, aqui é onde você treina? — sua expressão chateada é prontamente substituída por encantamento quando a garota percorre o olhar pelo lugar onde estamos.

Reviro meus olhos.

— É. Educação Física é aqui também — minha resposta sai num rosnado. — Diz logo o que você quer — peço cordialmente. Ou, talvez... É, vocês já sabem. Nem tanto.

— Eu posso vir te assistir um dia? — a aberração ignora totalmente meu pedido. — Por favor? — junta suas mãos.

— Não. — digo, de forma quase automática. — Não dá pra assistir. É uma pena — simulo compadecimento.

— Mas... Mas... — gagueja. — Mas tem arquibancadas! Eu posso ficar sentada em um banco delas — ela argumenta.

— É, mas... As arquibancadas não são de sentar — dou a primeira desculpa que vem à minha mente, mesmo que esta pareça incrivelmente idiota. Bem, considerando o nível intelectual de minha interlocutora, pode ser que... É, pode ser que soe convincente. — Agora... Fala por que você veio.

— Ahn... Okay — a esquisita acaba acatando minha explicação fajuta, o que faz com que eu respire aliviado. — Jeonggukie, é que... Eu tenho um convite a fazer! — ela dá uns pulinhos e eu, lutando pra disfarçar minhas náuseas, me distancio por instinto. — O Júlio César gostou muito de você, então... Ele te convidou pra um jantar na minha casa, amanhã à noite! — exclama. — O que você acha? Você vai, não vai?

— O quê? — franzo as sobrancelhas. — É claro que não! Eu não vou em jantar nenhum — trato de deixar minha decisão bem explícita. — E você teve que vir até aqui pra me dizer isso? — questiono, revoltado. — Não podia esperar até amanhã?

— Não, Jeonggukie, eu fiquei muito ansiosa! Aí, sua mãe me trouxe aqui — Que absurdo! Traído pela própria mãe! — Mas, Jeonggukie, não pense que você tem alguma escolha. Isso é uma intimação, certo? Toda a JJ Family tem que estar presente! É uma exigência do Júlio César!

— Você ainda tá com essa ideia de JJ Family? — minha expressão facial é a de absoluto desgosto. — Não, eu não vou jantar na sua casa, sem chance nenh...

Repentinamente, vejo-me interrompido pelo dedo indicador da garota em meus lábios. Arregalo os olhos, tão surpreso quanto aterrorizado. Quem... Quem deixou essa alienígena me tocar? Sai daqui!

— Shhhh, Jeonggukie — fala, baixinho. — Eu já falei com a Sojin ahjumma, certo? Não há mais escapatória! — Quê? Não, não, alguém me diz que isso não está acontecendo comigo! — Tchau, esposo — a menina se despede, e, sem mais nem menos, dá um beijo na minha bochecha.

É.

Ela deu um beijo.

Na minha bochecha.

— Ahhhhh, Jeon! — usando seu típico tom sugestivo, Hoseok não hesita em zombar da minha cara. Quer dizer, depois que a maluca sai dali, óbvio. Seria muito problemático se ela ouvisse meus amigos estúpidos. — Ganhou um beijo da namoradinha... Tão fofo!

Eu até me posicionaria contra aquela baixaria — eu juro que faria, acreditem em mim! —, mas o que acontece é que... Taehyung me ataca com algo que eu simplesmente não tenho como contrariar.

— Ele ficou corado — declara. — Que raro, hein, Jungkook?

— Vamos voltar pro treino. — resmungo, tentando inutilmente esconder meu rosto. — Idiotas.

Eu estou odiando cada vez mais essa garota.