História The Good Girl - Twenty-Fourth

Três Anos e Meio Antes

Casa de Henry Samuels

Marblecoast

8 p.m.

Sexta-Feira

»Scarlett«

 

Sexta-feira era oficialmente o Dia do Filme para mim e Henry.

Toda sexta nós nos encontrávamos na sua casa para ver um filme que cada um escolhia por semana.

Era sempre divertido e um bom passatempo, mas, hoje, eu estava incrivelmente desatenta e desconcentrada.

Nem mesmo o nome ou sobre o que se tratava o filme, que Henry escolhera, eu sabia.

Péssima amiga.

Porém um turbilhão de coisas rondavam minha cabeça. De dez, nove e meia envolviam Christopher.

Henry sempre me perguntava sobre isso e me oferecia apoio, mas eu sentia que não devia encher sua mente disso, já que ele havia me avisado desde o começo de todas as desculpas esfarrapadas que Christopher poderia me dar.

No fundo, bem lá no fundo, eu sabia que Henry não faria nada parecido com me julgar ou lançar um "Eu te avisei" bem na minha cara. Ele me ouviria, me ofereceria seu ombro junto com sua compreensão e diria que apesar de apoiar todas as minhas escolhas, ele queria que eu ficasse esperta para o que realmente era o melhor para mim.

E deixaria claro que, para ele, Christopher nunca seria o melhor para mim.

Nos últimos tempos eu me sentia tentada a concordar com ele.

Há aproximadamente seis meses, eu e Chris estávamos num relacionamento instável.

Nossos meses juntos se resumiam em: um mês nos víamos e apreciávamos a companhia um do outro diariamente e no outro praticamente falávamos apenas o necessário.

Não que eu estivesse o culpando pelo afastamento, muito pelo contrário. Na verdade, a responsável pelo afastamento era eu.

Nos meses em que estávamos grudados, Christopher, apesar de não definir o que era realmente nossa relação, me pressionava cada vez mais para que eu desse um passo maior em tudo isso. Só que eu não me sentia preparada, muito menos segura para avançar àquele nível de intimidade com ele.

Então cada vez que ele me pressionava como se o motivo por estar comigo fosse apenas carnal, eu o punia me afastando. Inventava trabalhos, projetos, provas e estudos, qualquer coisa para diminuir nossos encontros.

Geralmente, eu me refugiava na casa de Henry.

—Hey, você está longe hoje.- ele acariciou o meu cabelo e eu me aninhei em seu peito.

—Está tudo bem. Acho que é só a ansiedade para as provas.

—Você quer dizer, as provas que vão acontecer daqui a um mês e meio?- Henry olhou para mim erguendo uma sobrancelha. Suspirei profundamente. —Você sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe, Kae?

Eu assenti  e ele beijou minha testa carinhosamente.

Henry ergueu meu queixo para que eu olhasse em seus olhos e então nós nos encaramos por alguns instantes.

Ele me fazia sentir bem e era uma das pessoas em quem eu mais confiava no mundo. Minha conexão com ele era muito mais intensa do que aparentava, mas minha irmã parecia sentir algo por ele e eu, apesar de tudo, sentia algo por Christopher.

—Por que está se escondendo do meu primo?- arregalei os olhos e ele continuou —Ele me perturba o dia inteiro querendo notícias sobre você e sobre quando vai acabar sua temporada de estudos.

—Eu não sei... Eu acho que só preciso do meu espaço para analisar um pouco, à distância, o que nós temos.- desviei o olhar e acrescentei baixinho.—Se é que temos alguma coisa.

Meu amigo respirou fundo e se encostou no sofá com uma expressão descontente:

—Pelo visto ele ainda não assumiu o relacionamento de vocês.- ele me observou negar com a cabeça. — É bom que você esteja dando um gelo no babaca, então.

Henry se levantou e só então eu percebi que os créditos do filme rolava na tela.

—Acho melhor eu ir para casa, antes que fique tarde demais.- foi a minha vez de me mover.  

—Eu te levo até lá.- ele desligou a televisão enquanto eu peguei a minha bolsa.

Fazia um frio congelante lá fora e Henry me puxava contra o seu corpo num abraço de lado. A casa dele não era tão longe da mansão e nos permitia ir andando.

—Por que você sempre é tão quente?- eu disse apertando suas mãos com as minhas.

— Preferia ouvir isso em outro contexto.- a voz de Henry soou agradavelmente na minha orelha e eu ri.

— Idiota.

Ouvimos risadas quando chegamos em frente a Mansão Faye.

Congelei ao ver o carro de Christopher estacionado ali. Senti meu coração acelerar e então se partir ao vê-lo com Barbara mal se equilibrando nos próprios pés.

Se fosse uma cena de um filme não teria sido tão bem sincronizada como quando paramos um frente ao outro. Eu nos braços de Henry e Barbie nos braços de Christopher.

—Boa noite, casal. -Barbara disse com a voz embolada e Christopher ergueu uma sobrancelha. Sua expressão era impassível e eu poderia jurar que, se ele já não estava, tinha acabado de ficar completamente sóbrio. — Tiveram uma boa noite, eu suponho.

Nem eu nem Henry, que apertou os braços em minha cintura, dissemos nada.

— Eu suponho que sim.- a voz  de Christopher soou como uma rocha afiada.  

Barbara se inclinou mais para ele e beijou o seu pescoço me fazendo engolir a seco.

—E-eu acho que já vou subindo. - abracei Henry pela última vez naquela noite e ele falou, de modo que só eu ouvisse, para que eu ligasse se quisesse conversar.

Mesmo nós dois sabendo que eu não ligaria. Não hoje.

—Boa noite. - eu disse sem encarar Barbie e Christopher novamente.  

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Mansão dos Faye

1 p.m.

Sábado 

 — O sr. Samuels deseja vê-la.- Gin, uma das moças que cuidava da mansão, disse ao passar na porta do meu quarto.

— Pode mandá-lo vir aqui. - respondi pegando as roupas dobradas que ela me entregava.

Toda a família Faye junto com a minha mãe e Persie estavam fora a passeio. Como eu ainda tinha que cobrir um turno na lanchonete, resolvi ficar em casa.

Em alguns minutos ouvi passos pesados se aproximarem, entrar no quarto e fechar a porta.

—Você leu minha mente, eu estava preste a ligar para você e...

Meu sorriso desapareceu ao notar que era Christopher na minha frente e não Henry como eu havia imaginado.

—Estava esperando outra pessoa, Scarlett?  

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