História The good, the bad and the dirty. - EXTRA The touch of evil.

 

“It's getting dark, the light in my future…

Because of childish love, I lost my way of dream.”

 

Um corpo preguiçoso se arrastou pela cama.

Jungkook suspirou barulhentamente, o corpo se espreguiçando todo, quase como se realmente tivesse espaço para isso naquela cama pequena. Era uma cama de solteiro um pouco maior que o normal, mas ainda bem menor que uma cama de casal.

Acabou sentando-se para poder se esticar melhor.

Ao olhar para o lado, deu de cara com um Yoongi totalmente encolhido contra a parede do trailer, com praticamente toda a coberta para si.

Apesar de dormirem juntos e nenhum dos dois reclamar, sabia que o mais velho não gostava muito de contato físico enquanto dormia – e apenas nesse momento. Sempre que acordava mais cedo, ele estava o mais encolhido possível no canto do colchão.

Seu riso se abafou na curva do pescoço dele.

“Hey, dorminhoco... Acorda!” Jungkook sussurrou contra a pele pálida, arrastando seus lábios até a audição do menor. “Vai se atrasar.”

 

Yoongi apenas se mexeu um pouco, mas nenhum sinal de resposta.

 

“Ya!” O moreno tentou chamar um pouco mais alto, começando a fazer pequenas cócegas pelo corpo desnudo alheio.

Dessa vez um pouco mais eficiente, já que ele prontamente se virou para si e o abraçou, aninhando-se contra seu peitoral. “Eu te avisei que não vou trabalhar hoje, Jungkook.”

 

O mais novo parou por alguns instantes, só então recordando-se de que realmente fora avisado disso na noite passada.

 

“I sharpened my knife of poisonous ambition,

but to the unbearable greeds, the knife has gotten dull.”

 

“Putz... Verdade.” Ele riu.

“Sério que você me acordou para nada?” Yoongi deixou uma mordida forte contra o mamilo do moreno, que gritou de forma divertida no mesmo instante, envolvendo o corpo pálido de Yoongi nos braços com toda sua força também.

“Na verdade eu acordei você porque queria escutar sua voz maravilhosa...”

 

“Vá se foder!” Yoongi disse um pouco mais alto, porém com a voz ainda bastante arrastada e sonolenta.

 

“Prefiro fazer isso com você...” O moreno não perdeu a oportunidade de uma de suas brincadeiras maliciosas, descendo a mão pelo corpo de seu namorado de forma bastante suave, apenas até chegar a suas nádegas, apertando a direita com gosto.

Yoongi o empurrou junto de um riso. “Vai se trocar logo!”

 

Jungkook acabou acatando a ordem. Afinal, realmente tinha que se arrumar para o trabalho.

 

 O moreno tomou uma ducha rápida e vestiu o macacão de sempre. Trabalhava em uma fábrica de móveis há alguns quarteirões dali. Logo em frente da assistência técnica a computadores, onde Yoongi trabalhava – e através de tal proximidade acabaram se conhecendo, há alguns meses, e hoje moravam juntos no trailer do loiro.

 

Pegou apenas um pacote de bolachas dentro da pequena dispensa e voltou à cama, agarrando mais uma vez o rapaz que agora estava espalhado nela, ocupando-a inteira.

“Até mais tarde, hm?” Beijou delicadamente sua testa.

“Bom serviço!” Yoongi apenas murmurou, se afundando mais no travesseiro – que tinha o cheiro de seu Jungkook, esperava que ele não notasse o quão agarrado no mesmo estava.

 

 

 

Naquele dia Yoongi realmente não tinha que trabalhar, a empresa estaria fechada para algumas reformas na parte elétrica e iriam melhorar a internet por lá ou qualquer coisa do tipo, não quis saber muito o motivo, qualquer dia que pudesse ficar em casa dormindo, ficaria. Adorava seu trabalho – o legal, onde trabalhava em uma assistência a computadores, e o não tão bem visto assim, quando invadia alguns computadores e contas bancárias pela noite.

O loiro não ficava com o dinheiro que desviava para si – apenas uma mínima parte –, geralmente mandava algo para seus pais e, principalmente, sua irmã, que havia conseguido uma bolsa de estudos no Japão, porém sem permissão de trabalho, apenas estudo e como os pais não tinham condições de mantê-la por lá, Yoongi o fazia. É claro que seus pais imaginavam que ela tinha um trabalho e conseguia se virar sozinha.

Muitos poderiam ver o que fazia como algo ruim, mas não era como se tirasse de qualquer pessoa para viver no luxo e ostentação – até porque morava em um trailer bem mal acabado.

Selecionava bem as contas que entrava, sempre de pessoas que nem sequer notavam a pequena quantia que era desviada, tamanha era a fortuna que tinham e usava o dinheiro para manter o estudo de alguém e evitar que os pais passassem alguma necessidade. Valia a pena o risco.

 

“I know it all…

This love is another name for evil.

Don't hold my hand,

even though I shout it, I betrayed my conscience.”

 

Não saiu da cama por pelo menos umas cinco horas após acordar. Tirava cochilos, mexia no celular, conversava com a irmã e com Jungkook nas horas que ele conseguia usar o celular escondido.

Yoongi levantou apenas para procurar alguma coisa na dispensa e ver que não tinha – literalmente – nada. Xingou internamente seu namorado por ter pego o último pacote de bolachas, pois tinha certeza de que ainda restava um e acabou saindo para comprar algumas coisas.

O dia do loiro se resumiu em ramyun instantâneo o cigarros. Assistiu alguns episódios de suas séries. Aquilo era o verdadeiro paraíso.

 

Eram 18:05 quando recebeu uma mensagem de Hoseok pedindo para que se encontrassem. Ele era o mais próximo que Yoongi tinha de um amigo e embora não tivesse o mínimo de ânimo para sair, vestiu qualquer roupa preta por sua frente e com mais um cigarro entre os lábios, deixou seu trailer.

_________

18:20     Kookie: “Hey, eu vou ficar um pouco com uns amigos, vou chegar mais tarde, ok?”

18:21     Yoongi: “Beleza, eu ‘tô indo encontrar o Hope, não sei que horas volto também.”

18:21     Yoongi: “Ah, passei no mercado, tem comida em casa.”

18:25     Kookie: “Amém! Esqueci de avisar que peguei o último pacote de bolachas. KK Love ya.”

18:26     Yoongi: “Me2.”

_________ 

 

“As days go by, feeling acute reality…

I shed crimson blood cut by the reality.”

 

Yoongi guardou o celular de volta no bolso com um sorriso discreto nos lábios.

Encontraria Hoseok em uma casa de karaokê um pouco longe, então teria que ir até a estação de metrô, que ficava há dez quadras do lugar onde deixava seu trailer, um motel caindo aos pedaços.

A mão esquerda dentro do bolso da jaqueta larga e a direita sustentando seu vício, levando repetidamente o cigarro até os lábios.

 

Jogou a bituca no chão e pisou em cima para apagar.

Ao elevar o rosto novamente, avistou de longe algumas jaquetas conhecidas.

“Wild & Free”.

 

Yoongi conhecia bem algumas das pessoas que andavam pela cidade com aquelas jaquetas. Quase fez parte deles. Eram um grupo de amigos que tinham como prioridade na vida incomodar os outros. Pelo menos foi essa a conclusão que o loiro tirou no final de tudo.

Começou a andar com eles por conta de um amigo seu do passado, mas conseguiu pular fora antes que se envolvesse nos roubos e depredações que começaram a fazer.

Eram como se fossem uma gangue de gente que não prestava. Várias vezes via noticias na internet de membros que foram presos ou brigas deles com uma outra “gangue” do outro lado da cidade.

 

Ainda estava longe, mas seus pequenos olhos conseguiram avistar alguém conhecido. Não só pelo rosto, mas também pelo uniforme.

Jungkook estava sentado na mesa com mais três caras que vestiam a jaqueta.

 

“I didn't think that the greed would become a horn calling upon hell.”

 

Um arrepio correu por sua espinha e sinceramente não esperava nunca ver aquela cena. Não que fosse controlador, era bem longe disso, mas se tinha alguém com quem queria impedir o mais novo de andar, era com aqueles caras.

 

Acabou atravessando a rua, não queria ser notado por ele.

 

Porém, não foi por Jungkook mesmo que foi notado.

 

“Ya! Yoongi?”

 

Escutou seu nome sendo chamado por uma voz arrastada. Apesar de não escutá-la há algo próximo de um ano, ainda a reconhecia.

Fez de conta não ouvir.

A voz ficou mais forte.

Dessa vez o tom não foi mais tão amistoso.

 

“Yoongi!”

 

O loiro acabou finalmente parando sua caminhada, virando-se na direção do tal bar de onde a voz vinha.

Um rapaz de cabelos extremamente negros estava com os braços abertos, uma mão segurando o cigarro e a outra a caneca de cerveja. “Até parece que queria fugir da gente!”

 

Ele brincou e Yoongi se forçou a responder. “Eu estou com pressa, valeu!”

Logo começava a andar novamente, mas escutou o som da cadeira se arrastando no chão. O homem atravessava a rua, correndo um pouco até se colocar na frente do loiro.

“Pressa? Vamos beber com a gente.”

Yoongi tentou recusar, mas o outro já o havia envolvido o pescoço, o puxando junto de si para o bar. Conseguiu reconhecer dois dos rapazes da tal gangue e Jungkook, que parecia perplexo com a cena, encarando apenas sua cerveja, sem ousar elevar o olhar.

 

Puxaram uma cadeira para ele se acomodar.

 

“Closing my eyes to a distorted reality each night,

crying orgel of tragedy.

But to be freed from this sin

I cannot give up forgetting it…

Because those lips were too sweet.”

 

“Eu disse que estou com pressa, tenho mais o que fazer, beleza?” Não era do tipo que se curvava às vontades dos outros, nem mesmo se fossem outros maiores que si e provavelmente armados.

Deu de costas novamente.

“Ei, esse não é aquele viadinho que saiu do grupo há uns meses?” Uma voz divertida e totalmente maldosa escapou dos lábios de um dos outros rapazes.

Todos na mesa riram. Yoongi virou-se a eles novamente.

“Viadinho?” O mesmo homem que abordou o loiro pareceu surpreso com aquilo, tomando um gole de sua cerveja antes de se colocar em pé novamente. “Foi por isso então que resolveu se afastar? Entendi, não é homem o suficiente, huh?”

Yoongi pendeu o olhar para Jungkook por alguns segundos, ele apenas bebia de sua cerveja, parecia ignorar o que acontecia ao seu redor.

“Porque você não vai tomar no cu?!” Retrucou aquele que agora estava parado diante de si.

“Quem toma no cu por aqui não sou eu...”

O loiro deu as costas novamente, sentindo uma mão pesada puxá-lo.

“Escuta aqui! Não te ensinaram que é feio dar as costas quando alguém está falando com você, sua bicha?”

 

“Nossa... Tão focando demais nisso. Que foi?! Tão com vontade?” O tom de deboche chamou a atenção dos outros rapazes na mesa, que levantaram. Menos Jungkook.

 

“My future was abandoned to the love for you

When I woke up, traps are everywhere,

untouchably cold gazes.”

 

O primeiro soco foi o que mais doeu, certeiro em seu maxilar. É claro que revidou, conseguiu sentir o osso do nariz tão bem desenhado daquele cara quebrando em seu punho. A briga não se estendeu muito, os outros rapazes não se envolveram. Eles tinham um tipo de protocolo de que se alguém entra em uma briga sozinho, deve sair dela sozinho também.

Ficaram bons minutos trocando pancadas, chutes, socos.

Até o tal homem desistir, afastando-se.

 

Ambos tinham apanhado igual. Estavam com sangue nas camisas e rostos totalmente inchados iguais.

 

Com um dos olhos abertos, Yoongi viu o dedo que era apontado para si.

“Se eu ver você de novo na minha frente, vai ser a última vez que você vai andar por aí.”

A ameaça não doeu tanto quanto a frase que escutou de um dos outros caras logo em seguida.

“Viado bom é viado morto!”

 

O loiro cuspiu o sangue que tinha dentro da boca, limpando-a na manga de seu casaco. Ninguém se envolveu, as pessoas daquele bairro já estavam acostumada com brigas acontecendo quase todos os dias.

Porém, o olhar de Yoongi focava apenas uma pessoa.

Aquela que continuou sentada na mesa, não ousando encarar a cena uma vez sequer.

E que continuou ali pelo resto da noite.

 

 

Não foi encontrar Hoseok. Ligou para ele e disse que teve um problema, o moreno logo perguntou se tinha entrado em uma briga e Yoongi respondeu apenas que estava bem mas que naquela noite não daria para sair.

Ao chegar naquilo que chamava de casa, enfiou-se logo debaixo do chuveiro.

 

Suas mãos doíam pelos socos que tinha dado.

Seu rosto inchado doía pelos ferimentos.

 

Mas seu coração era o que ardia mais.

 

“I cry for miracles, in this reality.”

 

Ficou um bom tempo ali, apenas deixando a água escorrer por seu corpo. Apenas deixando o desprezo dentro de si crescer mais e mais.

 

20:16.

Yoongi estava sentado de frente para o espelho do pequeno corredor, tinha uma caixa de medicamentos e curativos logo ao seu lado e ia terminando de limpar e fazer curativo nos ferimentos.

Não sabia se o inchaço nos olhos era dos socos ou das lágrimas que escorriam.

 

Guardava tudo novamente dentro da caixa e seu coração acelerou no momento em que ouviu a porta se abrindo.

 

Jungkook estava cabisbaixo, parecia hesitar em entrar.

Seu coração quase despedaçou quando avistou Yoongi parado em frente ao espelho, rosto totalmente ferido.

 

“Being insanely happy,

I was a fool addicted to your sweetness.”

 

Nem mesmo pensou duas vezes antes de se apressar a ele e segurar seus braços, como se quisesse olhá-lo melhor e ter certeza de que ele estava bem, apesar de tudo.

Porém Yoongi o empurrou no mesmo instante, deixando um soco certeiro no maxilar do moreno. Infelizmente não tão potente, uma vez que sua mão estava doendo demais para isso.

“Yoongi... Calma, deixa eu falar com você.”

O moreno tentou iniciar algum diálogo, o que quer que fosse, tentando se aproximar novamente.

“Falar?! Você quer falar agora? E quando seus amigos estavam lá me ameaçando? Por que não quis falar nada lá?!”

“Você não entende... Se eu falasse alguma coisa eles não iam-“

“Não iam te aceitar?! É isso? Você quer fazer parte daquele grupo de bosta? Quer sair por aí batendo nas pessoas apenas por elas serem gays? É bom você começar a se acertar então... Ah, pera... É claro que eles não sabem que você é gay, né? E nem que você é a porra do meu namorado...”

Jungkook escutava tudo em silêncio. Não sabia o que falar.

Até porque não tinha o que falar. Conseguia ver a verdade escorrendo pelos lábios alheios.

 

“Eu devia ter falado alguma coisa lá... Mas não, fui idiota, fiquei quieto, apanhando enquanto você estava sentado na porra da mesa, tomando uma porra de cerveja, sem fazer merda nenhuma!”

 

“Yes, a fool...”

 

Yoongi andava pelo pequeno trailer, sentia suas mãos tremendo, na verdade, sentia-se completamente transtornado. Mal conseguia se dar conta que estava chorando novamente.

 

“Eu poderia dizer que você não combina com esses caras, que você não faz parte deles mas a partir de hoje eu acho que eu é quem não te conheço, Jungkook...”

 

“Eu sei que você nunca vai me perdoar por isso, mas por favor, me escuta.”

“Fala! Ok, eu vou te escutar, pode falar, qual é a desculpa?”

 

O silêncio se alastrou pelo local. Um silêncio que apertava cada vez mais o pescoço de Jungkook. Um silêncio que triturava cada vez mais o coração de Yoongi.

 

O moreno se desarmou totalmente.

“Eu não queria que eles fizessem alguma coisa comigo também...”

 

Yoongi riu. Riu de uma forma tão alta e estridente que fez arrepios subirem pelo corpo do mais novo.

“Você é patético. Eu espero que se dê bem lá entre eles, ok? Pode recolher suas coisas.”

O mais baixo já acendia um cigarro em seus lábios, se encaminhando para sair do trailer.

 

“Que?! Você não vai me mandar embora daqui!” Jungkook seguiu-o para fora, quase tropeçando na pequena escada de madeira.

 

“Você espera o que? Continuar morando aqui comigo?” As falanges machucadas e avermelhadas sustentavam o cigarro perto dos lábios cortados do loiro antes de uma longa tragada. Nunca quis tanto que a frase “fumar mata” se tornasse tão real.

 

“I didn't want to let go the touch of evil.”

 

Jungkook suspirou. Sabia que não tinha perdão para o que fizera. Queria chorar a cada soco que ouvia, queria se levantar a cada chute mas simplesmente não teve coragem. Diferente de Yoongi, que aguentou e revidou tudo, foi mais cômodo para si apenas ficar sentado, fingindo que não era consigo, que não era seu namorado apanhando ali. Fingindo que não poderia ser si mesmo no lugar dele.

Não sabia se caso pudesse voltar no tempo, faria algo diferente.

 

Juntou todas as suas roupas dentro de uma mochila velha e os pertences em outra. Não tinha muitas coisas, então dez ou quinze minutos e já saía do trailer novamente.

Yoongi estava em seu quarto cigarro seguido.

 

Estavam um de frente para o outro.

Ninguém sabia o que dizer. Ambos totalmente perdidos dentro de si.

 

“Too bad…

But it's too sweet…

It's too evil.”

 

“Espero que consiga me perdoar um dia.” As palavras escaparam baixas dos lábios grossos do mais novo.

 

“Espero que consiga se perdoar um dia.” Yoongi assistiu a fumaça da última tragada escapar por seus lábios, assim como sentia todo seu eu escapar de si junto dela. Não teve coragem de encarar Jungkook mais uma vez. Apenas entrou em seu trailer e fechou a porta.

 

“Yeah, it’s evil.”