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História The Heart of the Ocean - Newtmas - This is It


Escrita por: LadyNewt

Notas do Autor


L o v e r s,

Chegamos ao final de THOTO.
Espero que tenham curtido essa short fic. :)
Ela foi feita de coração e alma.

B o a L e i t u r a!
LadyNewt

Capítulo 13 - This is It


Fanfic / Fanfiction The Heart of the Ocean - Newtmas - This is It

ATLÂNTICO NORTE

15 de Abril de 1912

03h30min

 

TOMMY

 

Frio.

É isso que sinto batendo meu queixo, roubando o pouco calor que sobra do corpo de Newt.

Fome.

Ela já foi minha companheira por vários dias, hoje se faz presente, mas a ignoro como já ignorei outras vezes.

Medo.

Esse sentimento é novo.

Estou completamente apavorado. Não com o que vai acontecer daqui pra frente, nem por tudo que passamos horas atrás com o naufrágio do TITANIC. Meu medo vem justamente da pessoa ao meu lado. Newt.

Meu pequeno foi forte, cumpriu com o prometido, aguentou firme os derradeiros momentos finais e ainda me ajudou a escapar da morte. Sei que ele amadureceu, sei que nosso sentimento é verdadeiro, sei também que assim como eu ele deseja aproveitar ao meu lado essa dádiva da vida que nos foi concedida. Porém tenho medo, simples assim. Daqui consigo avistar a luz fraca de um barco de resgate se aproximando e meu medo só aumenta a medida que a embarcação se aproxima do local do naufrágio.

Estou apavorado só cogitar a ideia de Janson ter sobrevivido e assim que pisarmos os pés naquele navio novo, o maldito tente arrancar Newtie de mim. Eu tenho uma noção real do quanto isso é possível e sou simplesmente incapaz de viver em um mundo sem ele ao meu lado.

- Hey pessoal, olhem, o resgate! – alguém diz animado enquanto Newt está fazendo um cafuné em meus cabelos.

Varro meus olhos pela embarcação onde estamos. Conto apenas cinco cabeças, tirando a do oficial Lowe, a boa alma que voltou para nos resgatar. Isso mesmo, só cinco cabeças. Newt, um rapaz novo chamado Edgard, uma garota ruiva de nome Rose, Sr. Devenport e eu. Haviam mais de 1000 pessoas ao mar e somente um bote retornou para buscar sobreviventes.

Segundo Lowe, a maioria dos botes foi contra o retorno, com medo que os sobreviventes na água tentassem invadir as embarcações e todos afundassem, o que não seria mentira. Lowe então obrigou seus passageiros a se espalharem pelos outros botes e decidiu voltar sozinho em busca de algumas vidas. Eu tive muita sorte, mas mais de 1000 vidas não.

- Acha que vai demorar? – ouço o Sr. Devenport questionar ao oficial.

- Provavelmente. – devolve preocupado, nos analisando – Você foram guerreiros hoje, não vamos desistir assim tão fácil, certo? Sei que estão cansados, com frio e fome, mas unidos conseguiremos sair dessa. – motiva com toda sua fé.

Fazemos o que ele sugere, nos unindo ainda mais tentando nos aquecer. Alguns minutos se passam, Devenport confere a cada segundo seu relógio de bolso banhado a ouro, nos informando as horas. Somente por volta das quatro da manhã que a grande embarcação finalmente consegue se aproximar dos botes, iniciando o resgate.

Leio CARPATHIA estampado no casco. Esse é o nome da nossa salvação.

- Como será o resgate? – Edgard questiona.

- Muito provavelmente será por etapas, mulheres e crianças devem ir primeiro. – Lowe responde.

- Digo, como vamos subir até lá? Parece bastante alto daqui. – o garoto desliza seus olhos fracos e assustados pelo casco do navio, que deve ter algo em torno de 40 a 50 metros.

- Acredito que seremos içados por cordas, não há outro meio de entrar.

Ainda deitado com minha cabeça no colo de Newt, noto o loirinho calado há tempos, encolhido com seu coberto até na cabeça.

- Está tudo bem? – questiono para ele, minha voz sai fraca e trêmula, mas mesmo assim capto a atenção dele.

- Não muito. – seu sorriso fraco molda os lábios já tomando uma tonalidade mais rosada.

- O que está acontecendo, meu pequeno? – puxo assunto enquanto as primeiras pessoas começam a ser resgatadas.

Aproveito e ajeito meu corpo ao seu lado, finalmente saindo da inércia em que me encontrava. Noto Newtie relutante, pensativo e cada vez mais ele encolhe seu corpo abaixo do cobertor.

- Medo, Tommy. – responde mordendo os lábios.

Ele tem medo, como eu.

- Medo? – devolvo tocando seu rosto frio.

- De perder você.

O abraço no mesmo instante, tranquilizando-o.

- Você nunca vai me perder, meu amor.

- Mas e se meu pai... – chia e eu o interrompo.

- Nós nem sabemos se ele está vivo, certo? Não vamos nos preocupar com isso agora.

Decido não forçar a barra com ele, agora sei que Newt está com tanto medo quanto eu. Aguardo paciente nosso resgate e conforme Lowe disse, mulheres e crianças foram retiradas primeiro por meio de cordas e sacos. Alguns homens ainda tinham força para escalar algumas escadas de corda lançadas até nós.

Um a um os botes foram esvaziando, isso leva horas, até chegar a nossa vez. Newt se recusou a sair do meu lado, nos restando apenas a escalada juntos. Estou fraco, mas entendo meu pequeno. Uso toda força recuperada ao descansar no bote e passo a subir com ele até o convés do CARPATHIA.  Newtie é o primeiro a chegar e assim que passa para o outro lado do casco, logo estica sua mão para me puxar.

Sinto falta de ar e deixo meu queixo cair quando piso meus pés em algo firme, porém ainda em alto mar. Vejo diversas pessoas assustadas, algumas chorando, outras gritando, muitas mulheres desesperadas e algumas crianças sem seus pais. O Sr. Devenport nos arrasta para um canto, tentando manter nosso grupo unido.

Tudo parece tão triste e surreal, que choro, não consigo esconder isso de Newt. O loirinho aperta minha mão, sorri fraco, e acaba me guiando até um canto, juntamente com os outros.

Novos cobertores são distribuídos, assim como água e um pouco de comida. Devoro um pedaço de pão seco, Newt é mais comedido, mas nem eu e nem o Sr. Devenport conseguimos ter boas maneiras após tudo que passamos.

Já é por volta as nove horas da manhã, um sol fraco quase cega meus olhos após acordar de um cochilo. Sou tomado por um leve desespero ao notar que Newt não está do meu lado.

- Ele foi no banheiro, Thomas, fique tranquilo. – Rose me acalma assim que nota meu estado eufórico.

Não consigo relaxar. Não enquanto Newt não voltar a se sentar do meu lado. Sabe-se lá Deus se Janson não está eufórico atrás do garoto a essa altura do campeonato. Alguns tripulantes do CARPATHIA entregam roupas secas, mais cobertores e um pouco de comida para os sobreviventes. Obviamente o pessoal da primeira classe do TITANIC está todo amontoado próximo às entradas do navio, pleiteando a entrada deles em algum local mais quente.

- Hey, olha o que peguei pra você!

Suspiro aliviado ao notar que a doce voz pertence ao meu pequeno Newtie segurando uma garrafa de água e um pedaço de pão. Obviamente salto sobre ele, abraçando-o.

- Você nunca mais faça isso, ouviu? Nunca mais saia do meu lado. – digo ofegante, tocando seu rosto corado.

- Meu Deus, Tommy, eu só fui no banheiro e além do mais você estava dormindo tão gostoso! – argumenta ele com a carinha mais linda do universo.

- Não me interessa! Dá próxima vez eu vou junto. – devolvo totalmente protetor, sentando-me com ele no chão.

- Ok, daddy Tommy! – debocha em um tom provocativo e sexy.

Newt me entrega o pedaço de pão, no entanto divido ele em pequenas porções, dividindo entre Rose, Edgard, Devenport, Newtie e eu.

- Onde está Lowe? – pergunto mordiscando o pãozinho.

- Foi até os oficiais ter alguma posição de quando vamos atracar em Nova Iorque. – Newt responde, mantendo-se sempre de costas para o corredor onde passam diversas pessoas a cada minuto.

- Ainda com medo? – questiono baixinho somente para ele.

- Um pouco... – molha excessivamente seus lábios, me encarando.

Segundos depois nosso grupo é abordado por um oficial do CARPATHIA portanto uma prancheta e um lápis em mãos.

- Com licença, preciso do nome completo de cada passageiro para lançar na lista de sobreviventes do TITANIC. – pede.

- Stephen Devenport. – o senhor é o primeiro a falar.

- Rose Calvert. – diz a garota que está conosco, fazendo o oficial anotar mais um nome em sua lista.

- Edgard Davies Irving. – mais um fornece a informação.

O homem caminha até onde estou sentando com Newt, agora me encarando.

- Quem é o senhor?

- Thomas O’Brien. – respondo sem ter certeza de que deveria fazer isso, mas as palavras saíram da minha boca antes que minha mente pudesse processar qualquer informação.

- E você, jovem rapaz? – questiona para Newt.

- Hm? – o loirinho geme, agora sim prestando atenção ao homem.

- Seu nome, por favor.

- Newton. – volve ele, me encarando.

- Newton de que? – insiste o oficial.

- Newton O’Brien, senhor.

Noto seu peito subir e descer com rapidez e sua pupilas dilatar com a mentira.

- Muito obrigado, senhores. Com licença. – termina de anotar as informações e se afasta até o próximo grupo de pessoas.

- Por que fez isso, Newtie? – indago tocando as mãos imóveis do loirinho sobre seus joelhos.

- O que foi que eu disse para você na carruagem, Tommy?

- Hm, além de gemer? – me divirto com a pergunta, mas meu pequeno não esboça sorriso algum.

- Eu disse que quando chegássemos na América, eu desembarcaria com você. E eu falei sério.

Ele segura meu queixo e gira o mesmo quarenta e cinco graus a leste. Meus olhos captam a imagem da Estátua da Liberdade a frente, anunciando que nossa viagem finalmente estava caminhando para os minutos finais e com o melhor de tudo, nós dois vivos. Tudo que faço e encará-lo, enquanto o loirinho está distraído demais admirando a estátua a sua frente. O navio passa devagar por ela, no entanto em momento algum tiro meus olhos do garoto corajoso a minha frente.

- Você sabe que eu não tenho nada para lhe oferecer, certo? – pergunto, deixando claro que daqui para frente as coisas serão difíceis, especialmente para ele que sempre gozou de luxo e pompa desde que nasceu em berço de ouro.

- Você está errado, Tommy. – ele finalmente desprende seus olhos da estátua e passa a me fitar com intensidade. – Você tem tudo que preciso.

Sem se importar com as pessoas a nossa volta, Newt inclina seu rosto até o meu e sela nossos lábios com um beijo tranquilo.

- Você sabe que é loucura fazer isso em público... – sibilo sem soltar da sua doce boca.

- Loucura seria não beijá-lo. – devolve, intensificando nosso toque.

É isso que mais admiro em Newt, essa capacidade de sugar a vida com gana, querendo sempre mais. Ele não se importa com as consequências, desde que esteja fazendo o que considera certo e saber que eu sou o correto para ele, me faz querer ser o melhor homem do mundo na vida desse garoto.

Paro de beijá-lo somente para recuperar o folego perdido e sinto meu corpo todo arrepiar ao notar Janson Sangster a alguns passos de nós, perambulando entre a ralé. O homem tem um olhar em chamas, conferindo cada rosto que aparece na sua frente.

- Newt, hm... – gemo incomodado – Temos problemas. – aponto até onde seu pai se encontra.

No mesmo instante o pequeno se encolhe todo e protege a cabeça e o rosto  com o cobertor, o Sr. Devenport nota algo estranho acontecendo, hora mira Newton, hora mira Janson. O homem me surpreende ao piscar para mim.

- Se eu fosse você, jovem Thomas, sairia de perto dele. Eu cuido do garoto.

- Você promete? – questiono imaturo e receoso.

- Claro que sim. Confie em mim. Não deixarei ninguém encostar nele.

Logo que recebo sua resposta dou um salto e me afasto de Newt para evitar que Janson nos flagre ali. Com o canto do olho noto Devenport abraçar Newt e deitar a cabeça do loirinho em seu colo, evitando que qualquer pessoa reconheça quem está deitado com ele. Me afasto rapidamente, seguindo para outra sessão do navio, mas minha fuga termina quando tenho meu pulso aprisionado por uma mão grossa. Lentamente corro meus olhos pelo corpo que me segura, eu sei quem é, não é preciso que minha vista faça o reconhecimento completo.

- Pode me soltar, por favor? – peço educado.

- De maneira alguma! – o brutamontes responde, me arrastando com ele. – SR. JANSON! SR. JANSON! OLHA QUEM ACHEI AQUI! – grita chamando a atenção do pai de Newt.

Evito deixar que meus olhos aflitos fitem Newt ao longe, de olho na cena. Janson chega voando sobre mim, enquanto seu capanga Hale segura com força meu tronco, imobilizando-me.

- ONDE ELE ESTÁ? ONDE ESTÁ MEU FILHO? – o homem grita colando suas mãos no meu pescoço.

Sou tomado por uma frieza sobrenatural, sei que tenho em minhas mãos o poder de decidir o destino da pessoa que amo. Se eu responder a verdade tenho a certeza de que nunca mais verei Newt na vida. Ele será infeliz caso não consiga fazer sobressair suas vontades perante o pai, no entanto terá luxo e conforto, algo que eu dificilmente conseguirei dar para ele. Se eu mentir, não sei o que esse homem é capaz de fazer, me matar talvez? Tecnicamente se formos analisar, eu “roubei” o filho dele e sei que Janson Sangster seria capaz de qualquer coisa mesmo para se vingar.

No fim das contas, eu opto pela escolha de Newt.

- Eu sinto muito, Sr. Sangster... – engulo a seco, iniciando um drama corriqueiro.

- COMO ASSIM SENTE MUITO, SEU CRETINO? ONDE ESTÁ MEU FILHO? EU QUERO MEU FILHO! – ele me chacoalha cada vez com mais e mais força.

- Eu fiz o possível, mas Newt...

Minha frase é interrompida quando o punho fechado de Janson se choca contra meu maxilar, tudo dentro de mim trinca e estremece, o home nem me dá tempo de respirar, enfia uma sequencia de socos contra minha face e meu estômago e eu apenas rezo para Newt ignorar isso e deixar seu pai me surrar. Antes eu em pedaços, do que eu morto sem meu garoto.

- Você matou meu filho! – ele rosna a centímetros da minha face, puxando meus cabelos.

- Não. – sussurro quando Hale solta meu tronco e eu despenco no chão. Limpo o sangue que escorre dos lábios, encarando-o – Toda prepotência, todo dinheiro, toda essa alienação, toda autoridade, toda falta de tato...

- O que quer dizer com isso, seu babaca?

- Eu não o matei. Foi você quem o matou. – respondo rindo, cuspindo uma bola de sangue no chão.

- É agora que eu acabo com você!

 

 

CARPATHIA,

Atlantico Norte, Nova Iorque.

15 de Abril de 1912

15h47min

 

NEWT

 

Meu pai não está fazendo isso, ele definitivamente não está espancando Thomas na frente de todo mundo. Meus olhos custam a acreditar na cena do moreno sendo alvejado no chão por chutes e socos, tanto de papai quanto de Hale. Isso me machuca, ele não merece ser punido pelas minhas escolhas.

- Nem pense em se levantar! – o senhor Devenport segura meu pulso assim que faço menção em interferir no ataque.

- Ele precisa de ajuda... – murmuro apavorado. – Por que as pessoas não fazem nada? Por que ninguém o tira dali? – questiono chocado com o fato da briga ter meros espectadores, todos eles sem a menor pretensão em tirar o moreno dali.

- Se você for até lá, o que pode acontecer? Pense, Newt. – o homem mais velho segura meu rosto, desviando minha face da surra. – Seu pai vai parar de bater nele, isso é óbvio. Mas e depois? Você não está raciocinando. Seu pai vai pegá-lo de volta e nunca mais verá o jovem O’Brien. É isso que deseja, Newt?

Nego com a cabeça, sentindo meus olhos já cheios de lágrimas. Encolho ainda mais meu corpo, trazendo os joelhos até o peito, produzindo um frenético movimento para frente e para trás.

- Por favor, me diga que ele parou de machuca-lo! – digo com os olhos serrados e o ouvido tampado, evitando captar qualquer som que saia das porradas que meu pai desfere e Thomas leva por opção.

Stephen não me responde, ele espia a cena, vez ou outra produzindo uma careta para o que quer que esteja acontecendo com Thomas. É nessa hora que volto a sentir desesperadamente falta da minha mãe, ela provavelmente saberia o que fazer e com certeza teria tido coragem o suficiente para enfrentar meu pai e acabar com a atrocidade que ele está cometendo.

Eu não me aguento. Levanto e corro.

Não para onde Tommy está, mas para o lado oposto, fugindo de tudo mais uma vez. Preciso me afastar da cena, pois mesmo tapando minhas orelhas ainda sim conseguia ouvir os gemidos do moreno e o estalar de cada punho fechado contra sua carne. Acabo encontrando uma pequena porta, que me leva até algumas escadas. Acabo descendo elas com pressa, tenho certeza de que aqui ninguém irá me encontrar, preciso apenas de um tempo para pensar e ficar sozinho, fingindo e principalmente me controlando para não voltar lá pra cima e acabar com a festinha do meu pai.

- Hey garoto, aqui. – ouço alguém me chamar ao chegar em um porão escuro e apertado. Encontro um rapaz da minha idade, também escondido ali. – Aqui, pode vir. – me chama mais uma vez.

Caminho desconfiado até ele, com receio do que possa acontecer. O garoto é moreno, suas roupas estão totalmente sujas, assim como seu rosto.

- Oi, sou Winston, você tem alguma coisa para comer? – questiona.

- Sinto muito, Winston, eu não tenho.

- Uma pena, eu estou com fome. O que faz aqui?

- Estou me escondendo. – murmuro sentando do seu lado. – E você?

- Fazendo o mesmo.

- E por que se esconde? – pergunto curioso.

- E por que você se esconde? – ele devolve a mesma pergunta.

- É complicado. Estou fugindo do meu pai, não quero voltar para casa com ele e viver infeliz para o resto da vida. – digo.

- Eu compreendo. Estou aqui por que fugi de casa e consegui me esconder nessa navio. Não sei para onde estou indo, não tenho um tostão no bolso, já não como há dias... Acho que não foi uma ideia muito inteligente. – ele me fita da cabeça aos pés – Se eu fosse você, voltaria correndo para casa. Você não tem cara de quem vai aguentar nem dois dias nessa vida. – volve ele ao rolar os olhos.

- E por que acha isso? – questiono incomodado.

- Olhe para você! Aposto que estava naquele navio que naufragou, você quase morreu e mesmo assim continua soberano, mesmo com esse cobertor velho enrolado no seu corpo. Suas mãos são perfeitas, não possuí calo algum, já sua pele é alva, o que significa que nunca precisou trabalhar ou ficar no sol com uma enxada. Sua postura corporal diz que foi educado por algum francês e o jeito como fala, é extremamente culto.

- Minha mãe era francesa. – revelo. – Mas ela faleceu alguns meses atrás.

- Tem certeza que quer perder todo luxo que tem? – indaga - Sabe-se lá o motivo que o fez abrir mão disso tudo, mas olhe pra mim, olhe o estado em que estou. Fugi de casa pois meu padrasto era um monstro, mas ao menos tinha minha mãe para me apoiar.

- Um amor. – sussurro tão baixo que Winston franze a testa com agressividade. – Estou largando tudo por causa de um amor.

O garoto ri alto e bem debochado.

- Deixa eu lhe dizer uma coisa, loiro, amor não enche barriga e muito menos paga as contas no final do mês. Não seja estúpido de largar tudo que tem e tudo que muito provavelmente vai herdar por causa de um romance. E se não der certo, já pensou nisso? Vai fazer o que? Mendigar amor pelas ruas de onde quer que esteja?

Winston por uma fração de segundos quase, eu disse quase, me fez questionar suas palavras e realmente parar para pensar no que estou cometendo, mas nenhum dinheiro no mundo compra minha liberdade, muito menos o sentimento que existe entre Thomas e eu e, entre a fome e o amor, eu escolho o amor.

Deixo Winston falando sozinho, seu arrependimento não me atinge e nem me deixa mais fraco, muito pelo contrário, fico mais forte, decidido, corajoso para enfrentar o que quer que esteja me esperando lá em cima. Subo novamente as escadas, preciso saber como Thomas está, como terminou aquela história com meu pai e Hale, porém sempre distraído, choco meu corpo contra duas damas.

- Perdão. –peço para elas, enrijecendo meu corpo na hora.

- Newt!

Engulo a seco quando a mais baixa me abraça, beijando minhas bochechas.

- Você está vivo! Vivo! Veja só, Marry, Newt está vivo! Janson vai surtar quando souber disso!

Deixo meu queixo cair, assim como deixo Sonya McNamara me abraçar e não controlo mais meus olhos, que permitem que Mary me encare com compaixão e sabedoria.

- Vem, precisamos contar para seu pai!!! – visivelmente McNamara é a mais feliz e empolgada com meu descuido.

A ruiva solta meu corpo, segura meu pulso e tenta me puxar até onde muito provavelmente Janson está. E eu? Eu simplesmente estanco meu corpo no lugar, como se meus pés estivessem presos com super cola ou alguém tivesse grudado ele com cimento no piso de madeira do CARPATHIA.

- Newt? – Sonya me olha confusa quando meu corpo não move um milímetro sequer na direção que ela deseja.

- Desculpe-me, Sonya, eu não posso voltar. – dou mais satisfação para Mary do que para a minha noiva.

- Como assim não pode voltar? – a feição da ruiva caí por terra.

- O que Newt quer dizer, Sonya, é que ele não vai mais voltar para casa e muito menos obedecer as loucuras do pai dele. – minha querida e amada Mary Campbell entrega a melhor resposta para Sonya.

- Mary, eu sinto muito. – deixo a garota de lado e abraço a melhor amiga de minha mãe.

Seu colo é quente e tem cheirinho de casa, carinho e preocupação, no entanto Mary seria incapaz de me impedir de qualquer atitude, ela sabe o quanto tenho sofrido desde que mamãe e Aris morreram.

- O’Brien está bem? – questiona ela ainda comigo em seus braços.

- Eu não sei, papai encontrou com ele agora a pouco e junto com Hale deram um surra nele. – murmuro com o rosto enterrado em seus cabelos negros. – Por isso me afastei de Tommy.

- Newt, meu querido, eu sinto muito. – Campbel tenta me consolar.

- Eu também sinto muito. – Sonya me faz desenterrar o rosto de Mary e encará-la. – Sinto muito que tenha que passar por tudo isso, Newt, de verdade. Eu sei que desde o princípio você nunca aceitou a ideia de se casar comigo, não por me odiar ou não gostar de mim, apenas porque vai contra todas as coisas que você acredita, como o amor. – ela diz sorrindo de maneira casta, retirando sua aliança e entregando-a a mim. – Quero que fique com isso, vai precisar muito mais do que eu daqui pra frente.

Minha respiração falha com o gesto dela, esse anel de noivado deve valer alguns bons mil dólares aqui na América. McNamara não para por ai. A ruiva retira seus brincos de rubi e me entrega, pedindo que faça bom proveito disso e que consiga reconstruir minha vida de maneira digna, mas que acima de tudo me deixe feliz.

- Eu não posso aceitar... – digo encarando-a.

- Claro que pode, Newt! – ri do meu gesto talvez idiota, mas honesto – Se eu não posso ter seu coração, ao menos me dê isso, aceite essas joias como um presente para você e O’Brien.

- O’B... O’Bri-en? – gaguejo como um patinho.

- Eu podia fingir que nada sei, mas ouvi uma conversa do seu pai com o senhor Hale. Eu deveria imaginar... – Sonya aproxima-se de mim, tocando meu rosto – Embora eu não entenda esse sentimento e não aprove isso, eu respeito. Essa é a diferença entre seu pai e eu, Newt. Espero mesmo que encontre a felicidade que procura.

McNamara fica na ponta dos pés e beija minha bochecha, despedindo-se. Ao me soltar Mary faz o mesmo, porém volta a me abraçar com muita força.

- Não falaremos sobre nada disso com seu pai, fique tranquilo. Espero que encontre tempo de me escrever sempre, mandando notícias. – pede chorando baixinho.

- Eu escreverei. – prometo para a Sra. Campbell.

As duas saem de perto de mim antes que meu pai apareça. Encaro as joias de Sonya em minhas mãos, descrente que ela realmente fez aquilo por mim, mas acima de tudo, por Thomas. Decido guardá-las no bolso do casaco, logo que minhas mãos entram na abertura, sinto algo gélido dentro dele. Solto os pertences de Sonya no bolso e no lugar deles capturo o que quer que esteja dentro do casaco que pertencia ao meu pai.

Mordo meus lábios com força para não gritar quando noto o colar “O Coração do Oceano” comigo, aqui, em minhas mãos. Meu coração acelera, vibro internamente com isso pois se tenho tudo isto comigo agora, eu e Tommy podemos recomeçar nossas vidas de maneira mais tranquila na América, até definirmos o que fazer com nossas vidas.

Com muito cuidado para não ser reconhecido, retorno até onde Stephen está, observo Thomas com ele, tem o rosto todo machucado e há resquícios de sangue por todo canto. Penso se não é melhor me manter afastado ao menos por um período, meu pai pode estar de olho nele, mas não controlo meus pés, muito menos meu corpo voando para cima dele, desesperado por um abraço.

- Oh meu Deus, olhe só para você! – chio chateado ao tocar seu rosto com alguns cortes e hematomas.

- Eu estou bem, pequeno, não se preocupe.

- Me perdoe por isso. – peço abraçando-o com força, chorando em seguida.

- Hey, acalme-se, você não teve culpa.

- Claro que tive, tudo isso aconteceu por minha causa. – resmungo inconformado.

- Ao menos teremos paz daqui pra frente, seu pai comprou a versão de que você faleceu. – Tommy tenta me acalmar, dizendo que tudo vai ficar bem. O moreno segura a ponta do meu queixo no mesmo momento em que o navio atraca em Nova Iorque. Seus olhos de avelã, apesar de fracos e cansados, buscam respostas ao me fitar profundamente – Você tem certeza disso? Quer dizer, a partir do momento que pisar os pés para fora dessa navio sabe que tudo vai mudar, certo?

- Eu não poderia estar mais seguro, Tommy. – respondo sorrindo para ele, desviando meus olhos para baixo – Hey, olhe só!

Afasto um pouco nossos corpos, abro um pedacinho do bolso do casaco e mostro para ele o conteúdo que carrego comigo. Os olhos de Thomas cintilam, sem entender como todas essas joias foram parar comigo.

- Assaltou algum cofre? – ele ri sem acreditar.

- Não, não assaltei. Isso daqui é a nossa passagem. – sibilo fitando o moreno dono do meu coração.

Aos poucos os passageiros vão saindo do CARPATHIA, finalmente desembarcando em Nova Iorque. Thomas e eu permanecemos um pouco mais a bordo, esperando que todos desçam com segurança, rezando para meu pai desaparecer o mais rápido possível. Quando todos descem, chega a nossa vez de pisar em solo Americano.

- Newtie, você disse que essas joias eram nossa passagem... – volve pensativo – Passagem para que? – questiona com uma cara confusa, digna de um beijo roubado.

E eu o faço. Roubo um beijinho do moreno antes de descer.

- Passagem para nossa nova vida, Tommy. Eu e você, juntos, para sempre.

- Você sabe que nunca mais verá as pessoas que ama, certo? Nem Marry, nem Rachel, muito menos sua noiva e sua família. – tenta certificar-se de que eu realmente quero uma vida inteira ao seu lado.

- Tommy... – o chamo trançando nossos dedos ao pé da rampa de acesso até o deck de desembarque – A vida me ensinou a dizer adeus à todos aqueles que amo, sem tirá-los do meu coração. Primeiro foi Galileu meu irmão, depois Aris, depois minha mãe e agora a Sra. Campbell. No fundo não é o adeus que me assusta, é a saudade. Minha vida pode não ser perfeita, mas qualquer coisa feita ao seu lado é.

O moreno aperta minha mão e sorri ao arfar fundo. Ele espera que eu dê o primeiro passo para baixo, somente após isso que Tommy caminha comigo. Não atrás, nem na frente, mas lado a lado, como nossa vida deve ser daqui para frente.

Assim que nossos pés tocam o solo desconhecido, um turbilhão de sentimentos invadem meu corpo, principalmente meu peito. É como se todos os planetas saíssem de órbita, como se a terra virasse de ponta cabeça e o sol aquecesse a ponta dos nossos pés. Thomas me fita sorrindo, ele sempre sorri mesmo que o céu esteja desabando e é com esse sorriso que quero começar minha história com ele.

Sem o bonitinho “Era uma vez...”.

E também sem o clássico “E viveram felizes para sempre”.

Vamos começar por hoje, pois para mim é o agora que importa e agora eu escolho ser finalmente livre para viver todas as loucuras que eu quiser, da maneira que eu quiser, do jeito que eu quiser.

Desde que tenha Tommy ao meu lado.

- Eu nunca vou largar você! – volve ele lendo meus pensamentos.

Eu acho que existe uma razão para nós dois termos nos encontrado. Talvez seja a vontade de Deus, ou talvez seja o destino, porém tudo que sei é que foi no coração do oceano que encontrei minha felicidade, o TITANIC foi o meu melhor sonho e o meu pior pesadelo, mas sem essa viagem, meu coração continuaria vazio e escuro como as águas do Atlântico.

E agora, ele nunca esteve tão vívido e cristalino, transbordando cada partícula que Thomas O’Brien impregnou dentro de mim.

Me apaixonar por ele foi a única coisa que esteve fora do meu controle desde que nasci e mesmo assim, é a mais correta que conheço.

Já que Thomas é tão bom em tudo que faz, vou deixa-lo navegar e controlar meu coração nesse mar de aventuras, sendo meu norte, meu guia, meu capitão.

Comecemos essa viagem então por Nova Iorque.


Notas Finais


Vamos para o Epílogo :)


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