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História The Heart of the Ocean - Newtmas - Whisper of the heart


Escrita por: LadyNewt

Notas do Autor


L o v e r s,

Muitas coisas acontecendo aqui.
Ai meu Deus!!!
Segura no puta merda e vai.

B o a L e i t u r a!
LadyNewt!

Capítulo 4 - Whisper of the heart


Fanfic / Fanfiction The Heart of the Ocean - Newtmas - Whisper of the heart

Southampton,  HEMPSHIRE

UK

10 de Abril de 1912

10h37min

 

NEWT

 

Como o bom Britânico que meu pai obviamente não é, chegamos todos atrasados no porto de Southampton. A viagem, que não foi nada fácil, além de cansativa me deixou levemente irritado por uma dúzia de motivos.

O primeiro deles é que saímos de madrugada de Londres até a cidade litorânea situada no sudoeste do país. Ao invés de usar o cérebro e ir até o local de partida um dia antes para garantir um percurso tranquilo, Janson Sangster decidiu sozinho que deveríamos fazer todo o trajeto de uma vez, correndo o risco de perder a viagem, que originalmente levaria meu pai, Trina e eu, mas trouxe também a companhia “agradável” de ninguém menos que Teresa Agnes, o motivo número dois da minha irritabilidade constatado.

Teresa é a tal sobrinha, aquela que se faz de boa moça de família na frente da mãe, mas quando ninguém está olhando gosta de manter-se de joelhos na suíte dos meus pais, mostrando seus dotes bucais e levando algumas palmadas na bunda.

Não consigo esconder meu descontentamento em viajar ao lado dela, ainda mais sabendo que minha tia está no carro de trás, seguindo feliz para o mesmo destino que eu.

Uma enorme fila de automóveis toma um tempo considerável para andar e nos levar até o local exato de embarque. Meus olhos custam a acreditar o que vejo. Eu já tinha noção da magnitude desse navio, mas agora estando perto dele, ele é muito maior do que meus pensamentos desenhavam. Desço estarrecido com o seu tamanho, encantando com a perfeição dele.

- Eu falei para você que era grande! – meu pai dá dois tapinhas nas minhas costas e em seguida escorrega seu polegar até meu queixo, fechando minha boca aberta.

- Isso... Isso é surreal... – murmuro para ele, sorrindo e empolgado de verdade pela primeira vez em semanas.

- Vamos nos juntar com sua tia, venha filho.

Papai me puxa pelo braço, mas somente meu corpo do pescoço para baixo acompanha o percurso. Minha cabeça ainda não conseguiu se desprender daquele transatlântico gigantesco. Ao finalmente voltar a realidade, estranho quando vejo minha tia Ava ao lado de Derek Hale.

- O que ele faz aqui? – o questionamento é eminente, mas não sei se meu pai está disposto a responder dada a sua expressão de indiferença quando escuta minha voz.

- Hale é essencial para nossa proteção.

Simples. Rápido. Sem pistas. Como imaginei que faria.

- Proteção? Estaremos no transatlântico mais seguro do mundo, seu segurança é altamente dispensável nessa viagem.

Minha boca me traí. Ela revela o que minha mente pensa, mas meu orifício bucal não consegue filtrar, algo típico na minha vida. Familiarmente conhecido como o bocudo dos Sangster, nem todos gostam de mim por 99% das vezes dizer o que penso, mas a verdade é que nem ligo. E só para constar, eu não gosto de Hale.

Como previa, Janson ignora minha pergunta e segue até onde Ava está, já ao lado de Teresa “Blargnes”. Trina, Derek e o motorista ficam com a parte pesada da coisa, carregando nossas malas para dentro. Um charmoso petit comité recebe os passageiros da primeira classe antes do embarque, que é realizado separadamente das restantes. Champagne, canapês e pequenas porções de comidas são servidos pela tripulação, ostentando um sorriso de orelha a orelha, soando tão forçado como o comportamento santo de Teresa ao lado da mãe.

Arfo fundo, pegando um taça de champagne assim que o primeiro garçom cruza minha frente. De longe meu pai lança um olhar inteligível, penso se não seria melhor largar a taça novamente na bandeja, mas ele desfere um aceno de cabeça permissivo, autorizando a brincadeira. Não é como se eu nunca tivesse experimentado bebida alcoólica, mas é algo que não acontece com frequência, somente em raros eventos de família, mas apenas depois que fiz dezoito anos.

Janson tentou me iniciar com whisky. Falhou miseravelmente em todas as tentativas. Prefiro um porre de soda italiana com vinho do que algo terrível como aquela bebida âmbar.

Mantenho então a taça com o líquido borbulhante em mãos, perambulando pelo local reservado e todas as malditas vezes meus olhos acabam focando na embarcação atracada, apenas esperando nosso embarque para seguir viagem. Sinto que meus pés tem vida própria e saem andando pelo porto, admirando o embarque das outras classes, bem mais barulhentas da que me encontro. Me afasto consideravelmente da minha família, é bom respirar de vez em quando um ar que não venha fedendo a libras.

Foco em um pequeno e barulhento grupo de rapazes, com vestes simples como calça social, camisas amarrotadas e suspensórios, bem diferentes de como estou. Eles passam por mim rindo, carregando apenas uma pequena bagagem cada um, seguindo diretamente para a rampa de acesso a terceira classe. Parecem estar se divertindo pra valer, dando pequenos tapinhas uns nos outros. Há um asiático, um rapaz loiro alto, um outro negro e um quarto, moreno, tão absorto no transatlântico quanto eu, que sequer notou que eu estava ali,

- Muito obrigado pelo mimo, almofadinha!

O loiro alto rouba minha taça de champagne ao cruzar minha frente, gargalhando pelo delito em plena luz do dia.

- Não devia fazer isso, Benjamin! – o asiático ralha com ele, pedindo desculpas com as mãos conforme eles se afastam.

Dou um sorriso amarelo, realmente está tudo bem, era só uma droga de champagne sem graça. Enquanto acessam a rampa, o garoto moreno finalmente percebe o que aconteceu e ri para o loiro quando o vê bebericando a minha bebida. Eles conversam algo, dá para perceber pelo jeito que suas bocas se movem e só então o jovem me nota ao longe, hora olhando para a taça, hora olhando para mim. Seus olhos... Nunca vi olhos tão profundos como aqueles que me fazem desejar mergulhar naquele mar avelã. É um misto de dor, sofrimento, aventura e alegria, algo tão confuso e complexo para ser processado.

Um sussurro sopra em meu ouvido, fazendo meu corpo inteiro arrepiar.

Achei que a diversão deles havia acabado, mas estava enganado. O moreno de pele alva puxa o resto de champagne do amigo e ergue a taça, fazendo um brinde a distância antes de entornar minha bebida de uma única vez, dar as costas e finalmente entrar no navio.

- Newton? – meu pai cruzou meio caminho atrás de mim, requisitando minha atenção – Hora de embarcar, filho. Vamos. Você não devia estar aqui perto dessas pessoas.

 

 

11h42min

 

Uma grande agitação ocorreu logo que embarcamos e o capitão Edward Smith anunciou a partida o Titanic. Smith é figura conhecida entre nós passageiros da primeira classe, sendo o mais respeitado oficial da White Star Line, companhia do transatlântico. Papai já jantou com ele diversas vezes em casa, mas nunca troquei mais do que meia dúzias de palavras com ele.

Após a partida, descobri que Trina já havia acomodado nossas coisas na nossa cabine, que achei que dividiria com meu pai. Estranhei quando as minhas malas não estavam ali.

- Trina, você sabe das minhas coisas? – questionei para a loira, disposto a tomar um banho antes de desfrutar da primeira refeição a bordo e finalmente aproveitar o restante da tarde para explorar o navio.

- Sinto muito, Sr. Sangster, fui instruída e leva-la para outro quarto.

- É sério isso?

- Sim senhor. – ela responde guardando algumas coisas do meu pai no armário.

- E qual número seria?

- Cabine 14, senhor.

Agradeço a governanta e saio em busca do meu quarto, cinco portas e uma esquina depois da do meu pai. Forço a maçaneta, descobrindo que ela está aberta, entro e a selo, afrouxando os botões da minha camisa, seguindo direto para o banheiro. Descubro que Trina é muito melhor do que imaginava, deixando todas as minhas coisas prontas sobre a bancada da pia e dentro do box. Roubo uma toalha e entro na ducha, finalmente relaxando antes do almoço. Desligo a mesma após um rápido banho, sentindo-me levemente enjoado a medida que o Titanic vai navegando pelo oceano. Tomo um remédio para enjoos e saio do banheiro, apenas com uma toalha em torno da cintura.

Logo que abro a porta meu corpo se choca com outro totalmente... Nu.

- AHHHHHHHHHHH! – grito primeiro, num tom grave.

- AHHHHHHHHHHH! – a ruiva também grita, num tom muito agudo, protegendo seu corpo com as mãos.

- O QUE FAZ NO MEU QUARTO? – grito de costas, evitando vê-la nua e tornar isso ainda mais constrangedor.

- Esse é meu  quarto. Por que está nu? – ela resmunga, empurrando meu corpo e correndo para o banheiro, batendo a porta na minha cara. Além de ter uma voz potente ela é cega, pois estou de toalha. TO-A-LHA! Estou quase respirando novamente, até que a maluca abre a estrutura do nada, um pouco mais calma – A propósito, sou Sonya McNamara e quero você longe daqui!

 

 

12h12min

 

- CLAMA? VOCÊ ME PEDE CALMA? COMO POSSO FICAR CALMO? – grito desesperado, levando minhas mãos aos cabelos ainda úmidos, vestido apenas com a maldita toalha.

- Qualquer garoto na sua idade estaria reagindo de uma maneira totalmente diferente a isso... – Janson me dá as costas, mais preocupado em encher seu copo de whisky com gelo do que me dar explicações plausíveis para seu estado de demência pura.

- EU NEM A CONHEÇO! – insisto no meu patético showzinho de desespero e replicas inúteis.

- Por isso vai dormir no mesmo quarto que ela, para que possam se... Conhecer.

A maneira como diz aquela palavra me enoja, automaticamente me vem Teresa na cabeça e o tipo de “conhecer” que ela faz com ele todas as noites.

- Da mesma maneira como “conhece” a minha prima Agnes desde que a mamãe passou a definhar em uma cama, morrendo sozinha de câncer? – sou duramente traído pela minha boca mais uma vez.

Janson solta seu copo sobre o bar e tudo acontece tão rápido que só processo o que aconteceu quando meu rosto começa a arder  e esquentar após o estalar da sua palma contra ele.

- Meça as suas palavras quando falar comigo, seu mal agradecido. – rosna ele, cruel e perverso como nunca vi – Eu mando em você. Eu decido seu destino. Eu quero que se case com ela e viva na América! – ele quase grita, saindo do seu tom prepotente, ditando minha vida.

- As coisas não deviam ser assim... – murmuro segurando minhas lágrimas, chocado por ele ter batido em mim – Eu deveria me apaixonar primeiro...

Papai solta uma gargalhada assustadora, debochando do que acredito.

- Amor não existe, Newton! Tudo isso é culpa desses seus livros idiotas, cheio de historinhas com final feliz pra boi dormir. A vida real é bem diferente, meu filho, e estou te preparando para ela da maneira mais digna possível, unindo você a família de Vince McNamara e garantindo um bom futuro a sua família. Agora pelo amor de Deus, volte para aquele quarto, peça desculpas a moça e coloque uma roupa decente para almoçar conosco.

Essa é sua última ordem, antes de acender seu charuto nojento, esperando que eu me mova.

 

 

17h56min

 

- Você precisa comer alguma coisa, Sr. Sangster. - Trina insiste parada na porta do quarto, observando meu estado catatônico no sofá do quarto – Ao menos descanse na cama até o jantar.

É, definitivamente ela é uma boa mulher.

Meus olhos estão pesados de tanto chorar, passei o dia inteiro trancado aqui dentro, processando o que fui obrigado a engolir numa só tacada ao meio dia. Esse tempo sozinho serviu para colocar as minhas ideias no lugar e refletir sobre tudo. Ficou claro para mim que a conversa ontem a noite entre Vince e meu pai era referente a isso, esse disparate em me unir com a Srta. McNamara, sem chance de regressar para Londres, sendo obrigado a viver com uma pessoa que não amo, morando numa cidade que não quero, muito provavelmente me formando em uma profissão que não me agrada.

Agora eu entendo o motivo do meu irmão Gally ter fugido de casa. Papai tentou essa mesma manobra com ele, mas sendo muito mais rebelde e corajoso do que eu, Galileu largou tudo para trás e foi viver a sua vida da maneira que bem entende.

- Eu preciso me trocar para o jantar. – a voz irritante da ruiva invade meu ouvido, desejando que eu, sei lá, suma desse quarto?

- Eu quer que eu faça o que? – resmungo com o rosto ainda enfiado entre as almofadas do sofá. Trina nos deixa sozinhos.

- Que se arrume também, oras! – ela impõe sua voz, me dando uma ordem.

- Ainda não somos casados para mandar em mim... – reviro meus olhos, sem que ela veja.

- Mas se vai me pedir em casamento hoje, na frente daquele monte de gente, espero ao menos que apareça bem vestido, sem a menor pretensão de me fazer passar vergonha.

Suspiro alto, retirando meu rosto escondido do estofado e sentando no sofá, fungando alto e limpando minhas lágrimas. Sonya lança um olhar analítico até mim, mas decide dar as costas e tomar seu banho, enquanto sua governanta me encara de cara feia e separa as coisas dela.

- O que foi? – chio para a mulher, irritado.

A morena aponta para meu armário, ordenando que tome alguma atitude e saia dessa melancolia em que me encontro.

- Ok. Ok.  – mais uma vez entrego a resposta que todos querem e não a que gostaria de entregar. Jogo minha roupa de qualquer jeito no sofá e bufo frustrado. Eu só queria ficar nessa quarto trancado até chegar em Nova Iorque...

Espero uma eternidade para que Sonya saia do banheiro, ela mal olha na minha cara quando passo por ela e me tranco no local. Encaro meu reflexo no espelho e choro mais uns cinco minutos, até que crio coragem para tomar mais um banho. As lagrimas não param de sair, mesmo insistindo e lutando contra elas. Saio do banheiro achando que estou sozinho, mas me assusto ao notar que Sonya está sozinha, toda arrumada e me esperando, ostentando um lindo vestido rosa claro.

- Precisamos conversar... – ela começa ao ajustar seu corpo miúdo na cama.

Encaro meu peito nu, a toalha na cintura, o armário com minhas coisas e em seguida minha roupa separada, organizada meticulosamente sobre a cama. Molho excessivamente os lábios, sem saber o que fazer.

- Pode se trocar aqui, eu não ligo. – pede ela, a voz muito mais calma.

Dou as costas para ela e passo a me trocar, profundamente roxo de vergonha. Me embanano todo nas minhas ações, tremendo dos pés a cabeça, não é costume homens e mulheres que não tem um relacionamento estável dividirem um quarto, quanto mais ficarem pelados um na frente do outro.

- Não precisa ficar nervoso. – Sonya diz tranquila.

- Desculpe, nunca fiquei nu na frente de alguém... Isso é... Isso é constrangedor.

- Eu sei, eu também não, mas se vamos nos casar, não seria melhor irmos nos conhecendo? – propõem.

- Imaginei que isso aconteceria comigo vestido! – lanço e ela ri, uma risada gostosa, desarmando a garota mandona que conheci hoje cedo.

- Newt... – ela levanta assim que termino de fechar a minha camisa e vestir o fraque. Posiciona-se na minha frente, encarando o fundo dos meus olhos – Sei que isso é difícil pra você. Eu fui educada e cresci sabendo que um dia isso aconteceria e sinceramente estou satisfeita com a escolha dos meus pais. Sempre via você em eventos, tão distante e calado, nunca me dando a chance de chegar perto e realmente conhecê-lo. Sei que meu pai nunca escolheria alguém para mim que fosse menos que digno, respeitoso, responsável e dono de um futuro brilhante.

Ela para de falar, pegando a gravata borboleta sobre a cama e ajustando ela em meu pescoço, efetuando o nó pra mim. Mamãe sempre fazia isso, eu não tenho ideia de como realizá-lo. Ao término ela sutilmente enxuga uma lágrima que escorre sem permissão do meu rosto e fica na ponta dos pés, beijando meus lábios com um selinho doce e perfumado.

Sou incapaz de me mover, afastá-la ou retribuir o gesto. Seu toque é tão macio e confuso, que me pego comparando ele com o de Alby na noite passada, o beijo que causou um furacão dentro de mim, quase levando-me a fazer uma loucura após todas as luzes de casa se apagarem e correr até o quarto dele localizado no casebre no fundo do jardim.

- Podemos fazer isso da maneira fácil, que todos esperam, ou podemos fazer da maneira difícil, criando barreiras entre nós dois e nossas famílias. O que vai escolher, Newt? – ela se afasta um pouco, na expectativa da minha resposta. Seus olhos quase verdes tem um brilho incomum, me apunhalando sem saber.

Estendo minha mão direita e inclino minha cabeça até a porta, dando em gestos a resposta mais fácil. Eu escolho mais uma vez o caminho que todos esperam.

 

 

19h53min

 

Rostos. Risos. Luzes. Risoto. Champagne. Tragos. Goles. Pompa. Vestidos caros. Conversas fúteis. Pessoas vazias. Um enorme anel de noivado no dedo anelar direito da Srta. McNamara.

Não escuto metade das coisas que os adultos falam em volta da nossa mesa redonda, composta de dez lugares; papai, Teresa, Ava, Vince, a Sra. McNamara, Sonya, o engenheiro do Titanic, Sr. Andrews, Marry Campbell, sua filha Rachel e eu. Todos juntos, reunidos, celebrando o primeiro jantar no navio e meu irrisório noivado com a Srta. McNamara, anunciado aos quatro cantos a minutos atrás.

- Melhore essa carinha antes que seu pai perceba, Newt.

Quem me dá o conselho é Marry Campbell, amiga de longa data da minha família e uma das tutoras que me educou em casa. Mamãe e Marry eram grandes amigas e mesmo após a morte dela, toda semana recebia a visita da Sra. Campbell, preocupada comigo.

Ajeito meu corpo na cadeira luxuosa, entregando um sorriso tímido para ela. Evito o contato visual, Marry saberia decifrar tudo que estou sentindo apenas com a força do seu pensamento. A fome ainda não me atingiu, brinco com meus talhes de prata sobre a porcelana perfeitinha, abrigando a comida intocada. Meus olhos vagueiam hora ou outra pelo grande salão, analisando a vida dos outros passageiros, todos felizes, rindo, se refestelando de comida e champagne como se só isso importasse no mundo. Hora ou outra vejo Sonya esfregar seu anel de noivado na cara de Rachel e Teresa, se gabando de algo que meu pai comprou com antecedência, passando a perna em mim.

- Quer conversar comigo, querido? – Marry oferece, segurando minha mão sem vida repousada em meu joelho, escondida abaixo da mesa.

Nego com a cabeça.

É quando o olhar dela cruza com o meu e sei que Marry sente o que me aflige, pois ela acaricia meus dedos, suspirando penosamente.

- Isso vai passar, Newt. Vai passar... – sibila ela, fazendo-me engolir a seco quatro vezes por segundo.

- Não, não vai... – murmuro sentindo uma intensa falta de ar dominar meu corpo.

- Procure se acalmar, seu pai vai perceber o que está acontecendo.

Olho perdido para todos os lados do salão, atordoado com o barulho de música clássica, risadas, talheres raspando nos pratos, cadeiras arranhando o piso de madeira polida, meu pai em uma prosa animada com Vince, Teresa alisando a perna dele por debaixo da mesa, Ava levando uma generosa garfada de camarão a boca, Sonya mais uma vez admirando sua solitária gigantesca presa ao anel e garçons para lá e para cá como baratas tontas. Tudo girando em câmera lenta, me apavorando com a perspectiva zero de uma vida feliz na América.

- Com licença.

Jogo meu guardanapo de tecido sobre a mesa, antes de arfar fundo duas vezes, antecedendo minha fuga até a área externa do navio. Tenho certeza de que deixei alguns perplexos para trás, sou capaz de ouvir meu pai gesticular sobre o que estou fazendo enquanto me afasto com pressa, esbarrando em algumas pessoas e capto distorcido a resposta de Marry, alegando que vou apenas tomar um ar lá fora.

Alcanço um extenso corredor de madeira ao abrir duas portas brancas. O local está parcialmente vazio, a noite está fria, o que afasta a maioria dos passageiros de gozar um tempo naquela área externa do Titanic que estou pisando pela primeira vez.

Corro.

Porque tenho medo.

Porque quero resposta.

Porque pela primeira vez na vida desejo com todas as minhas forças criar coragem para mudar meu destino.

A cada passada larga, uma lágrima se desprende dos meus olhos cansados de tanto chorar. Percorro mais de cento e cinquenta metros, até minha fuga acabar na grade de proteção da parte traseira da embarcação, revelando um grande nada a minha frente.

Acabou a minha fuga. Ela termina aqui, entre o corrimão e o vão até o mar, furioso lá embaixo ao se chocar contra a fuselagem do Titanic, açoitando o metal resistente.

Meu pescoço esguio segue involuntariamente para frente, analisando a altura de onde estou até o mar. Mais duas golfadas de ar, que de nada servem se não me deixar mais dependente de oxigênio ainda. E ele não vem, ele nunca preenche meus pulmões desde que mamãe partiu.

Uma rápida olhada para a esquerda, e nada vejo. O mesmo acontece com a direita.

E então, sobre a luz da lua no meio do Atlântico Norte, vejo a minha frente minha única saída. Um pé já está na primeira sessão de ferro que compõem o parapeito. Coloco o segundo, erguendo meu corpo quarenta centímetros do chão, faltando somente mais um metro e dez para passar até o outro lado da grade e finalmente estancar meu sofrimento, encontrando no fundo do oceano minha solução.

Que papai fique com sua Teresa e Sonya consiga procriar com um anel de noivado. 


Notas Finais


Ai meu pai, cadê o Tommy para segurar esse loirinho?

BjinXX e até semana que vem


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