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História The Holy Incarnation - The Wolves


Escrita por: SubarashiiHime

Notas do Autor


Espero que gostem!
Boa leitura!

Capítulo 24 - The Wolves


 – Yára! – Gritou Damon em desespero – Pare, por favor! – Ele corria, corria o mais rápido que suas pernas lhe permitiam correr, e aumentando sua velocidade até chegar num ritmo enlouquecedor, conseguiu alcançá-lo pela esquerda, até que num salto pulou, agarrando-o.

– Você enlouqueceu?! – Bradou ele, furioso, pegando o elfo em seus braços e jogando-o sobre seu ombro direito.

Quando deu por si, seus pés estavam fora do chão, e a parte superior de seu corpo de cabeça para baixo. Sentiu o osso do ombro largo do conde enterrar em sua barriga, e suas grandes mãos segurarem-lhe firmemente pela parte traseira de seus joelhos.

– Solte-me! Ponha-me no chão! – Exclamou Yára socando e estapeando as costas do outro, sem a intenção de machucá-lo, mas com força o suficiente para doer. – Não me impeça, Damon, – Disse ele – Faz quase um ano desde a última vez em que o vi, deixe-me vê-lo, eu lhe imploro!

– Não seja tão imprudente. – O conde repreendeu-o num tom ríspido, mas sem abandonar seu índole ar sereno. – Se as pessoas dessas redondezas o virem, correrá um grande perigo! Lembre-se de que todos acreditam em sua morte, e de que agora carregas um novo nome. – Advertiu ele, retornando as pressas para a carruagem a fim de protegê-lo de possíveis olhos curiosos.

Assim que adentraram o veículo, Damon deu sinal a Mark, que estalou as rédeas e a carruagem arrancou num solavanco. Yára suava frio, e seus cabelos brancos grudavam em suas têmporas por conta desse. Seu coração batia de forma descompassada, e seus membros, acometidos de uma breve tensão, tremerem durante alguns minutos. Com um semblante afável e paciente, o conde retirou do bolso de seu colete um pequeno lencinho branco, e limpou-lhe o rosto úmido pelo suor.

– Islyar… Islyar… Necessito vê-lo… – Murmurou o elfo, triste e com os olhos de quem estava prestes a chorar, mas que o contia bravamente.

– Yára, acalme-se. Olhe para mim. – Disse Damon segurando em seu queixo, forçando-o a olhar diretamente em seus olhos. – Sei que está ansioso para encontrá-lo, mas nunca mais tomes atitudes impensadas. Não é necessário que vá até ele, pois em breve eu o trarei até você. Oferecerei ao seu senhorio um bom preço, o suficiente para impedir sua recusa. Portanto peço que não se desespere, está bem?

O elfo assentiu com a cabeça. – Desculpe-me… – Disse ele, apoiando a cabeça em seu ombro enquanto observava a bela paisagem através da janela.

Após cruzarem um aclive sutil, eles percorreram um ponto que ziguezagueava por cerca de dez metros, até chegarem num longo trecho liso e reto da estrada. Mais adiante, havia uma bifurcação, na qual dividia a estrada em duas direções, mas que podiam levar ao mesmo destino: Ao noroeste, cuja a sinuosa estrada levava no beiral da floresta, cortando a mata, e novamente dividindo-se em duas no núcleo desta; E ao norte, próximo às áreas montanhosas, atravessando um grande urzal ermo, uma área em que a vegetação era composta por arbustos ericáceos de baixa estatura.

A carruagem parou outra vez, e o cocheiro apeou rapidamente. – Mestre, devemos continuar ao norte? – Indagou Mark, com um ar sério e preocupado. – Não aconselho seguirmos pela estrada noroeste, que corta a floresta de Epping. Ouvi dizer que o leste da floresta tem sido alvo de criminosos, e que recentemente usam essa região como esconderijo. – Disse ele, apoiando o pé cansado sobre o estribo da carruagem. – Isso é verdade, eu e meus companheiros cruzamos com vários deles ao leste. – Contou Frëya.

– Eu sei, meu caro cocheiro, – Disse Damon, sentando-se mais próximo à janela – e seria no mínimo estranho se não soubesse. Vamos pelo norte. Temo que você e eu teremos de vasculhar sozinhos essas matas em breve, mas a princípio, teremos de chegar a salvo nas terras de Jolland.

– Sozinhos? – Indagou Yára, crispando de leve suas finas e brancas sobrancelhas. – Eu não estou entendendo.

– Você ficará na casa de Jolland. – Respondeu o conde, um tanto rude, mas sem a menor intenção de o ser.

Nem que os porcos voem! – Protestou o elfo, utilizando de um ditado popular inglês. – Eu vou com você, não me trate como um idiota! Eu não sou uma criança inocente, eu sou um homem.

– Sim, você já é um adulto, – Disse Damon – e nada duvido de seu potencial. Mas isso, nós vamos decidir quando chagarmos ao nosso destino.

O elfo suspirou profundamente. – A propósito, quem é Jolland? – Perguntou ele.

– Um grande amigo que há muito não vejo. É um homem perspicaz, e muito sábio para sua idade. – Respondeu o nobre, com um olhar meio vago e com um brilho de nostálgico no olhar.

A carruagem seguiu pela estrada norte, e em cerca de quarenta metros, descendo com cautela um declive em ângulos reentrantes e salientes entre outeiros, chegaram ao urzal, que ao longe, pareciam formar tufos de aljôfares e de ametistas. O clima estava mais agradável do que nunca. No céu o sol brilhava intensamente entre brancas e espessas nuvens, e o vento ameno do meio dia soprava nos arbustos frondosos, carregados de flores de um aspecto que lembravam formosas borboletas brancas e lilases. Havia um grupo de rochas cobertas de limo, dispersas sobre uma região mais plana e limpa do terreno aberto e livremente exposto, próximo a um pequeno rio de águas claras que corria entre as encostas das colinas ao leste. Haviam encontrado um lugar perfeito para descansar, e ali resolveram fazer uma parada durante o almoço.

O elfo desceu do veículo, e protegeu os olhos da luz do sol com uma mão enquanto observava a bela paisagem montanhosa que os rodeava. Com a brisa morna soprando e acariciando sua face, enquanto uma sensação de leveza invadia seu corpo e a alma, recordou-se de um vale em Liliumëst além das colinas Ellorör, um tanto semelhante, até certo ponto, com o local em que se encontravam. Naquele vale, conhecera Islyar há oito anos. Sentava-se em meio as flores de caule esguio que quase o ocultavam por completo, tão pequenino era. “Quem é você, e o que faz em meu esconderijo secreto?” Disse ele, havia ira e hostilidade em seu tom. “Estas terras pertencem a mim” Retrucou Yára, acrescentando: “No entanto, eu não o proíbo. Pode vir quando e quantas vezes desejar”.

O pequeno príncipe, que optou por ocultar sua verdadeira identidade durante algumas semanas, viu muito além do gênio arrogante do garotinho de temperamento forte, e ocasionalmente agressivo. Encontravam-se toda semana ou a cada duas semanas, às vezes com mais frequência, se o tempo estivesse ao seu favor. Lidava com ele com um espírito gentil, calmo e complacente, que com o passar dos dias, toda sua gentileza e amizade acabaram conquistando um valioso espaço no coração de Islyar, e assim, tornaram-se praticamente inseparáveis.

Uma fogueira foi acesa sobre a rocha mais plana, e sobre ela, uma panela foi suspensa através do gancho que pendia de um tripé de madeira. Com uma faca grande e amolada, Frëya cortou um generoso pedaço de carne vermelha, descascou batatas, e picou duas cenouras médias para o preparo do ensopado de carne com legumes, enquanto Damon seguiu ao sopé das colinas em busca de água, onde um longo e estreito lago corria pela planície verdejante.

Tiveram uma boa refeição. A comida estava deliciosa, e o clima único sob o céu de um azul puro em nada deixava a desejar. A conversa foi interessante e agradável, regada por muitas recordações de situações memoráveis vividas por cada um. Embora houvesse participado e se deixado envolver intensamente em todos os assuntos, o elfo detinha uma expressão aflita e angustiada em seu semblante, na qual tentava recompor uma vez a cada minuto.

– Sinto-me mal, Damon, por lhe causar tanto prejuízo, – Disse Yára, levantando-se inesperadamente – mas sobretudo, pelo sofrimento pelo qual os meus amigos estão a passar nas mãos do Sr. Hill e de seu cruel feitor. Além de Islyar, tenho três amigos sob sua posse. Chamam-se Elgöth, Tëvior e Mörian. São pessoas maravilhosas, generosas e amáveis, os quais amo muito.

Frëya não conteve uma exclamação de surpresa. – Você disse Elgöth, Tëvior e Mörian? Eu os conheço! E garanto que estão livres. Lembra-se de meus companheiros, com quem estive foragida durante o período em que me escondi nas florestas de Essex? Pois bem, eles fazem parte do bando.

– Por que não me contou isso antes? – Exclamou Yára, tomado por uma enorme sensação de alívio – Estive tão angustiado, preocupado com esses três, especialmente com Mörian, que vive se metendo em encrenca por conta de sua insensatez. Age de forma ingênua e despreocupada, e suas falas e atitudes não cogitam as possíveis consequências.

Eu não imaginava que os conhecesse pessoalmente. – Respondeu Frëya em sua língua mãe com olhar distante e pensativo estampado em seu rosto. – É claro que seu nome foi citado em várias de nossas conversas, mas com uma conotação de cunho público, “o último herdeiro do trono branco há de consumar a profecia de Serÿm” diziam eles, enquanto um brilho de esperança recaía sobre eles como a luz das estrelas em meio a uma noite lúgrube e sombria.

Tuëlvy…– “Entendo”, respondeu Yára. – Mas diga-me, o que aconteceu? Como você foi parar nas mãos daquele comerciante grotesco? – Perguntou ele, esboçando uma ligeira expressão de repulsa diante das cenas horríveis que vinham à sua mente.

– Separei-me deles durante algumas horas, e vaguei pela floresta em busca de água, e de uma erva para os ferimentos de Mörian, que caiu num fosso antigo oculto por folhas e feixes de madeira seca, uma armadilha para animais selvagens de médio porte.

Yára arregalou os olhos preocupado. – Seu estado era grave?! – Exclamou ele, alterando o tom de voz subitamente.

– Não, não se preocupe, ele está bem. – Respondeu Frëya de imediato, e continuou após uma pequena pausa. – Considerei cruzar a estrada que corta a floresta, pois o fato de estar quase encoberta por ervas daninhas e grandes moitas de capim significa que está sendo abandonada. Poucos metros da estrada, encontrei uma trilha sutil e quase desvanecida, que serpenteava em meio a árvores mais altas até o vau de um riacho raso. Quando volvi, pelo mesmo caminho que até ali havia tomado, fui capturada por cinco homens na estrada, e vendida numa feira livre de Londres.

– Deve ter sido horrível… – Murmurou o elfo elevando a região interna de suas sobrancelhas.

Realmente, mas felizmente, o destino cruzou nossos caminhos. – Disse Frëya, novamente em sua língua mãe. Havia em seu olhar, um genuíno brilho gratífico, e uma certa devoção. Yára a observava com uma expressão compadecida em seu semblante, quando a elfa, postos os joelhos no chão diante deste, lhe beijou a mão, sorrindo ternamente ao dizer: – Lleá vellón nirwán, – “Meu eterno príncipe” Disse ela – fui abençoada e iluminada pela personificação da luz no fim do túnel.

– Ei, – Disse Damon, crispando suavemente a curva de suas escuras sobrancelhas, enquanto contraía os lábios num jocoso biquinho – isso não é justo! Quero saber o que está dizendo, traduzam.

Não podemos – Os dois responderam em uníssono entre risos leves. – Não agora, por assim dizer. – Acrescentou o elfo, assumindo um tom um tanto mais sério.

O conde, contudo, optou por ficar em silêncio e guardar suas dúvidas para Yerwën, mas não deixou de sentir-se curioso, e realmente esperava por uma tradução. “Nirwán’, não é a primeira vez em que ouço o chamarem por esse nome” Conversou consigo mesmo, em pensamento. Queria saber mais sobre Yára, a verdade sobre seu passado, e todos os mistérios a cerca de seu ser. Perdido em seus pensamentos, os olhos castanhos perderam o foco, até que Mark, arrancando-lhe de seus devaneios, aconselhou que retomassem viagem.

Seguindo pela estrada que cortava o urzal, a carruagem percorreu cerca de cinco quilômetros, e as montanhas ao norte pareciam erguer-se cada vez mais altas, estendendo-se para o leste. Num ponto onde a região urzal terminava, quando a estrada se tornava mais tortuosa já próxima ao pé do flanco esquerdino da cordilheira principal, havia uma longa e acentuada curva, cuja direção mudava seu curso para o noroeste. Cinco quilômetros distantes das colinas, atravessando uma região onde o relevo era levemente ondulado, a estrada estreitava-se por conta da aglomeração de árvores, que tornava-se mais densa na medida em que avançavam, chegando ao ponto inicial da estrada que cortava as árvores, com a superfície mais baixa do que a do solo da mata, rumando em direção ao norte da floresta de Epping, a região mais segura entre seus dois mil, quatrocentos e setenta e seis hectares.

Em cerca de trezentos metros adiante, eles subiram um trecho onde a estrada sofria uma dificultosa saliência de terreno, revelando uma região da floresta onde carvalhos pedunculados ocupavam noventa por centro da vegetação, e entre eles, estendiam-se um emaranhado de frondosos azevinheiros com suas pequenas folhas dentadas de um verde brilhante, cujos frutos avermelhados emitiam um brilho rúbido nos pontos onde os raios solares, que penetravam entre as copas das árvores em tênues feixes de luz, o tocavam. Yára olhava fixo através da pequena janela para a bela paisagem que se descortinava à sua frente, absolutamente deslumbrado com o que via.

– Esse lugar é de uma beleza esplendorosa! – Exclamou o elfo, após respirar fundo e sentir o ar puro entrar em seus pulmões. – Sinto-me tão bem quando rodeado pela natureza, uma suave sensação de integralidade e harmonia parece invadir-me até a alma.

– Há um lugar próximo à propriedade de meu amigo, – Disse Damon – um lugar cuja beleza é ainda maior. O levarei lá para um piquenique, além disso tenho uma surpresa pra você, embora não tenha ao menos começado.

– Estou ansioso por isso! – Disse Yára num tom de voz animado e energético. Suas maçãs do rosto tinham um adorável tom rubro enquanto um sorriso doce adornava seus lábios rosados.

Após percorrerem mais cinco quilômetros, achavam-se em uma região de árvores altas com folhas ovais e margens dentadas, carregadas de nozes, cujas sementes oleaginosas, os esquilos se alimentavam. Com a presença inusitada da carruagem, os veados que bebiam água tranquilamente às margens de um rio que corria lentamente para o leste, correram, buscando abrigo, e os esquilos se esconderam no interior de frestas e buracos entre os troncos.

– Veja Damon! – Exclamou o elfo, instigando-o para próximo da janela – Há muitas nozes espalhadas pelo solo. Vamos pegá-las?

– Não importa com se veja, isso não me parece nozes comuns, – Respondeu o conde, estranhando o aspecto peludo da casca marrom, certamente uma espécie de nozes que antes nunca havia visto, ou não recordava-se – e também não me parecem comestíveis. Podem ser venenosas.

– Você está errado, olhe! – Contestou o elfo, apontando para os pássaros que bicavam as nozes no alto das árvores. – Os pássaros as estão comendo, e noventa por cento do que os animais comem, também pode ser consumido por pessoas. – Damon ainda parecia pensativo, até que Frëya, concordou, dizendo:

– Yára está certo, mestre. Uma informação bastante valiosa para os que se perdem na mata.

Ao comando do conde, o cocheiro parou a carruagem, e então Yára saltou da portinhola entusiasmado, antes mesmo dos demais, estava ansioso para provar daquela curiosa noz, que mais parecia uma flor de cor castanha. Seu humor, embora instável, havia melhorado significativamente, após as belas paisagens vistas durante a viagem. Antes de selecionar e guardar as melhores nozes numa bolsinha que levava dentro do colete, juntou uma delas, extraiu a semente e colocou na boca, mastigando lentamente com os olhos fechados para melhor sentir do sabor quente e adocicado, com um leve toque amargo.

Damon provou uma noz rapidamente e caminhou em direção ao riacho para encher seu odre de couro com água. Quando agachou-se sobre uma rocha verdejante, percebeu que da outra margem, uma manada de veados, e outras espécies como raposas, esquilos, antílopes, coelhos e texugos – parcialmente escondidos entre as árvores que lá beiravam, – observavam inquietos, e pareciam querer contornar o rio, até o lado onde estavam. Ele ergueu uma de suas sobrancelhas numa expressão ligeiramente confusa, achou aquela cena um tanto estranha, mas resolveu ignorar, voltando seu olhar ao riacho enquanto enchia o odre dos demais.

Uma corrente gélida percorreu sua espinha, gelou seu estômago e distribuiu pontadas em seu ventre quando rosnados ferozes seguidos de grunhidos de dor irromperam abruptamente. Assim que olhou novamente em direção à outra margem, avistando dois lobos cinzentos atacando o flanco de dois pobres veados, o conde levantou-se atento a não fazer movimentos bruscos que pudessem atrair-lhes a atenção, e girou lentamente em seus calcanhares, mas antes que pudesse se afastar, os lobos, dando-se de sua presença, rugiram furiosos. Damon fez menção de dar um passo atrás, nisso, os robustos animais avançaram rosnando, contornando o rio em direção a eles.

Damon apavorou-se e gritou: – Yára, Frëya! Entrem na carruagem e tranquem a portinhola. – Ordenou ele, voltando-se para o cocheiro, que se incumbia de acalmar os cavalos, acariciando-lhes o pescoço e crinas. – Mark, empunhe sua espada, agora! Há dois lobos correndo em nossa direção!

– Damon, afaste-se! – Gritou o elfo, correndo em direção ao conde. – Embainhe sua espada, eu posso mandá-los embora!

– Por Deus! – O nobre não conteve uma exclamação de espanto. – Você está maluco? Como vai fazer isso? Vá para a carruagem agora! Quer tornar-se refeição para esses lobos? – Indagou atemorizado.

– Você não confia em mim?! – Exclamou Yára, indignado com sua expressiva falta de confiança; então, elevando de repente seu tom de voz e franzindo fortemente suas finas sobrancelhas, ordenou. – Fique atrás de mim agora! E quanto aos outros, protejam-se.

– É claro que confio, mas não posso deixá-lo se arrisc… – Gritou o conde, mas antes que pudesse terminar sua frase, rosnados ferozes e lancinantes se fizeram presentes cada vez mais altos, fazendo com que cada músculo de seu corpo paralisasse de medo.

Os dois lobos cinzentos reapareceram no flanco onde achavam-se, estavam próximos, e corriam adjuntos à ourela do rio em direção a ambos numa velocidade extraordinária, mostrando-lhes os caninos brutais em posição de ataque, com suas garras afiadas prontas para dilacerar-lhes a carne. Damon brandiu sua longa espada, posicionando-a à frente do corpo em posição defensiva, pronto para o combate. Numa distância o suficiente para atacar, os lobos flexionaram as patas, fazendo menção de saltar sobre ele, porém antes do ato consumar-se, Yára pôs-se diante deles, e olhou fundo em seus olhos, estabelecendo uma conexão mental com os animais

“Vão embora, busquem suas presas em outro lugar” – Disse Yára em pensamento, numa comunicação direta com a mente dos animais, um dom psíquico élfico conhecido como O Sexto Sentido, “Mirtán dür”, na língua dos elfos.

Seguido de uivos altos, os lobos curvaram-se sob as patas dianteiras diante do elfo em sinal de respeito, abandonando a ferocidade dos animais selvagens e carnívoros de outrora. Damon congelou, e não conseguiu sequer andar, estava completamente inerte e sem conseguir desviar o olhar daquela estranha cena que sucedia-se, a realidade que se desenvolvia diante de seus olhos estalados de espanto era profundamente dinâmica. Podia senti-los comunicando entre si, mas não fazia ideia do que seriam as mensagens que trocavam. Yára se aproximou, agachou-se entre os lobos, colocando as mãos suavemente sobre as cabeças cinzentas, acariciando afetuosamente o pelo áspero do pescoço e dos flancos e costas.

"Agora vão, voltem de onde vieram, voltem para sua matilha." – Disse o elfo num tom de voz doce e suave, mas, ao mesmo tempo, firme, novamente através de sua mente. Os lobos, então, acataram sua ordem e bateram em retirada, sumindo rapidamente entre as árvores.

– Eu não disse que podia confiar em mim? – Vangloriou-se ele jocosamente, enquanto esboçava um doce e cômico sorriso de canto de boca.

– C-Como… – Gaguejou o conde – Como diabos você fez isso? – Indagou boquiaberto e completamente estupefato, arqueando tremendamente suas sobrancelhas castanhas.

“Mirtán dür” – Respondeu-lhe Frëya.

– Eu não entendo, – Disse Damon – o que significa isso?

– Significa “O Sexto Sentido”, denominado pela percepção extrassensorial entre mentes, sem a utilização de linguagem corporal ou de sinais. – Explicou a elfa. – Yára os fez parar sem mover um dedo, como pôde ver, e eu consegui entendê-los.

– Elfos são mesmo seres incríveis, sábios e incrivelmente puros. – Disse o conde, seus olhos semicerraram e um sorriso deslumbrado dançou em sua face. – Eu os admiro imensamente. Pode-se saber tudo o que tem de saber sobre vocês, e mesmo assim, ainda nos surpreendem.

– Isso – Disse Frëya – é porque vocês humanos apenas pensam que sabem sobre nós. – Havia um tom enigmático em sua voz. – Somos uma raça insólita à natureza humana, cujo os mistérios não lhe foram revelados.

Aquela frase dissipou uma de suas dúvidas, sobretudo despertou muitas outras, incentivando-o ainda mais na busca pelo significado daquele preceito. Antes de conhecer à Yára, Damon acreditou em lendas sobre elfos espalhadas entre o povo britânico, e essas mexiam com sua imaginação e o faziam querer saber mais sobre o povo élfico. Julgou que a guerra seria um primórdio perfeito para seus estudos, e embora o seu acesso aos registros do palácio fora anuído pela majestade, o rei, as informações registradas a respeito da guerra eram exíguas, o que significava apenas uma coisa: o que aconteceu, de fato, antes e após a conquista de território, segue sendo um segredo.

– Mestre, devemos prosseguir viagem. – Disse o cocheiro, interrompendo o raciocínio do conde. – Ontem, no vilarejo camponês, nos atrasamos muito mais do que devíamos.

– Você está certo, – Respondeu o nobre – enviei uma carta à Jolland, avisando de nossa partida, e o dia certo em que chegaríamos, que devia ter sido ontem. Ele deve estar preocupado.

A viagem continuou, e a carruagem chegou num ponto onde a estrada meandrava de um lado para o outro por entre ervas e sarças, rochedos esculpidos pelo vento, e árvores de folha caduca, copa arredondada e caule com casca lisa e de cor branca ou acinzentada, até chegarem a uma região de terreno de planície com poucas árvores. Abandonando a estrada principal, e cruzando uma ponte de madeira um tanto dilapidada sob um córrego de leito rochoso, avistou-se uma propriedade não muito grande, mas também não muito pequena, cuidadosamente cercada por piquetes de madeira branco e arame farpado.

Uma estrutura de pedra em formato de arco constituía a entrada da propriedade, e a estrada bem definida que conduzia à casa principal, era ladeada por uma fileira de alterosas árvores de caule esguio, aprumado e de conjunto harmonioso. Em frente a sumptuosa casa branca de dois pisos e arquitetura barroca, corria um pequeno rio, que movia um grande moinho de água e lagar. A carruagem estacionou defronte às escadas de pedra de dois lances, – haviam duas delas, à esquerda e à direita, que levavam à porta principal da casa – onde duas criadas impecavelmente vestidas os aguardavam. O cocheiro desceu da boleia apressado e abriu uma das portinholas do veículo. Damon desceu primeiro, e ofereceu o braço à Yára para ajudá-lo a descer.

Mark conduziu os cavalos até extremidade do casarão, numa espécie de garagem trancada por um alto portão de madeira. As criadas reverenciaram o conde educadamente, e enquanto a criada mais jovem incumbiu-se acompanhá-lo até a entrada, a mais velha, uma rechonchuda senhora de meia idade, incumbiu-se de mostrar à Frëya a porta pela qual os criados deviam entrar. Ao perceber que Yára seguia à Damon, a velha criada segurou-lhe com força pelo braço e o virou, repreendendo-o rispidamente:

– Onde pensa que está indo, garoto elfo? – Indagou ela. – Venha, você vem conosco. – Exclamou num tom repreendedor, havia o confundido-o com um escravo, e consequentemente começou a arrastá-lo consigo.

Damon, franziu o sobrolho, indignado diante da atitude da criada. – Solte-o imediatamente. – Ordenou ele, enquanto a senhora lhe lançou um olhar confuso. – Yá… Quero dizer, Yivën é um convidado, tanto quanto eu sou. – Ele respirou profundamente, tentando controlar a raiva e manter sua compostura. – Exijo que o trate com respeito, com o mesmo respeito com que se dirigem a mim.

– Óh céus! – Lamentou constrangida, arregalando os olhos e tapando a boca com as mãos em sinal de surpresa. – Mas que terrível erro cometi! Peço-lhe vosso perdão, vossa excelência.

– Não é a mim, cara senhora, – Disse Damon adotando um ar mais calmo e sereno – a quem deves perdão.

– Mil perdões, jovem senhor. – Exclamou a criada com grande consternação.

– Está tudo bem, minha senhora, eu a perdoo. Meu povo é escravo, e isto posto, é natural que seu senso comum julgue-me como tal. Vá, e não se preocupes, pois não contaremos ao seu mestre.

A velha senhora desculpou-se mais uma vez, e retirou-se levando Frëya consigo. Conduzidos pela jovem criada, Damon e Yára subiram os dois lances de escada e entraram no belo casarão branco de inúmeras janelas. Passando por um corredor à direita, onde seis candelabros banhados em prata estavam dispostos sobre uma fileira de cômodas de madeira esculpidas com detalhes ornamentais, eles desceram dois lances escadas, guarnecidas pelos balaústres perfeitamente cinzelados em mármore, que davam para o piso térreo, onde havia uma grande sala de visitas. Haviam sofás e cadeiras de encostos ovais bordejados de flores de madeira com pernas torneadas e estofamento com o enchimento e o tecido fixados a suas armações, dispostas em torno de uma mesinha de centro, próximos à duas grandiosas janelas com vista para o jardim, feitas de madeira, que se fechavam com travessões de ferro.

Grandes quadros, cujas obras de arte retratavam anjos, moças formosas e belas paisagens, decoravam as paredes de estuque caiada em branco, esculpida com detalhes ornamentais. Yára admirou a decoração, apreciou as obras de arte, e caminhou em direção a um painel de mármore, onde havia um busto, uma estátua de um belo homem se limitando à cabeça, pescoço, uma parte do torso e ombros, sobre um apoio de madeira polida.

– Olhe, se parece com você, Damon. – Disse o elfo, tocando suavemente a face da figura esculpida.

 

Continua...



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