Lauren Jauregui's point of view
Era tarde em Nova York. Uma tarde fria, com direito a geadas e aeroportos fechados por conta das tempestades de neve previstas.
Eu deixava o escritório junto a alguns colegas quando senti meu celular vibrar pela décima vez em menos de trinta minutos. Bufei - eu tinha certeza que era Taylor com mais algum de seus dramas amorosos, ou mamãe com suas reclamações sobre papai e Chris. Me despedi de meus colegas de trabalho e atendi o celular sem prestar atenção do nome que brilhava no visor.
-Alô? - disse, irritada, apoiando o celular nos ombros enquanto destrancava o carro com um clique no alarme e adentrava o mesmo.
-Laur, sou eu. Mamãe tentou te ligar diversas vezes depois que soube do clima de NY, e quando se desesperou de vez, me fez tentar em seu lugar.
-Eu estou bem, Tay. Diga a ela que fui dispensada mais cedo e, fora o frio, está tudo bem por aqui - eu esperava acabar aquela ligação o mais rápido possível. Amo minha família, mas tudo o que me lembrava Miami me remetia a Camila. Eu não precisava de mais sofrimento. - Era isso?
-Sim, da parte de mamãe, sim... - minha irmã parecia encabulada, o que não era típico daquela pequena fofoqueira. Esperei que ela continuasse, após um longo suspiro. -Laur, é Camila.
Ah, claro! Mesmo depois de ter proibido expressamente que qualquer um deles me dissesse qualquer coisa sobre ela - salvo algum problema financeiro, ou algo que eu pudesse concertar com dinheiro - minha irmã obviamente continuava tão próxima a cunhada quanto antes.
-Taylor, eu já disse que não quero...
-Lauren, ela está doente.
Derrubei as chaves no assoalho do carro antes que conseguisse encaixá-la na lateral do volante e dar partida no carro, o que não foi de todo mal, afinal, eu provavelmente bateria o carro após aquela notícia.
Camila tinha uma saúde frágil desde que nos conhecemos, o que piorou um pouco mais após seu diagnóstico de hipoglicemia. Era eu que a mantinha na linha quanto a sua dieta sem açúcares e a atentava para as pequenas porções de comida a cada 3h. Ela provavelmente tinha se descuidado. Teimosa!
-O que?! Ela... foi a...?
-Acabo de sair do consultório da dr. Vives, e bem, segundo os resultados dos exames dela, a gravidez é de risco, considerando o nível de glicose e sua pressão, agora mais baixa que antes. - tomando fôlego e parecendo extremamente abatida, minha irmã parecia ter dificuldade para continuar, o que me fez estremecer. -As complicações poderiam ser ainda maiores se ela não continuasse com o uso do medicamento.
-Que medicamento? Quanto custa? Está falando sobre aquele que a fez inchar, anos atrás, e então ela parou de usar?
-Sim, Laur, este. Bom, parece que o bebê podia sofrer um tipo de mutação genética, caso fosse uma menina...
Imediatamente, imaginei um bebê com duas cabeças e três braços. Em seguida, imaginei um bebê X-men. Parecia divertido para mim.
-Continue, Taylor.
-É uma menina, Lauren. - murmurou, tão baixo que quase não pude ouvi-la.
Uma menina. Nós costumávamos imaginar como seria ter uma menina, e Camila sempre zombava de mim, dizendo que eu seria a mãe ciumenta - por um breve momento, senti uma ponta de ciúmes de quem estava tão perto das duas.
-O ultrassom foi feito e, segundo Lucy, não há sinais de mutação, mas Camila não poderá mais trabalhar, ou fazer qualquer esforço. - minha mãe havia comentado algo sobre Camila estar pagando grande parte das contas sozinha, mas não dei muita atenção. Aparentemente era sério mesmo. -Temo por ela, Lauren. Sei que as coisas entre vocês acabaram muito mal, mas independente do que você pensa ou acha saber, esses meses serão muito difíceis para ela e... O parto pode ser muito complicado para ela...
Não esperei que ela terminasse. Desliguei o celular, jogando-o no banco do passageiro. Pesquei minhas chaves no chão do carro e dei partida. Eu pegaria o primeiro voo para Miami, e eu estava pouco me fodendo para a geada ou tempestade de neve. Eu não suportaria perdê-la, ainda mais sem poder ver seu pequeno e delicado rosto ainda com vida.
Eu voltaria, mesmo que ela não me quisesse mais.
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