1. Spirit Fanfics >
  2. The Hybrid >
  3. Demetria

História The Hybrid - Demetria


Escrita por: EstrabaoJwregui

Notas do Autor


Leiam as notas finais!

Capítulo 17 - Demetria


Fanfic / Fanfiction The Hybrid - Demetria

Lauren Pov.

 

Alguns minutos depois entrei na autoestrada, avistamos rochedos e uma paisagem deslumbrante. Num dos lados, um imenso lago era banhado pela luz da lua. Notei algo se movendo rapidamente pelo canto de olho. Olhei para as árvores passando e nada. Olhei mais atentamente e pensei ter visto uma sombra se arrastar pelo chão. Senti como estivesse sendo vigiada.

Já eram quase 5 da manhã, e eu me sentia cansada. Agradeci mentalmente por Camila ter dormido o caminho todo. Faltavam apenas alguns quilômetros para chegar ao destino. O sol preguiçosamente surgiu no horizonte.

Estacionei o carro na encosta de um desfiladeiro. Saí do carro passando a mão levemente pelos braços, tentando me manter aquecida. Algumas horas atrás eu havia tirado minha jaqueta e coberto Camila que murmurava algo inteligível.

Sentei sobre o capô, e aproveitei a brisa gelada da manhã.

 

— Já chegamos? — uma voz sonolenta disse, me fazendo virar. Camila estava com os cabelos jogados para um lado, nem parecia que tinha dormido. Será que ela sempre acordava linda?

— Ainda não, parei para ver o nascer do sol. Quer se juntar a mim? — falei tentando soar amigável. Ela sorriu e sentou ao meu lado.

— Você é sempre quieta assim? — perguntou.

— Não sei o que quer dizer com isso. Mas, posso dizer que sou reservada.

— Ah, você é, e misteriosa também. Me fez lembrar que eu não sei nada sobre você. Vamos me conte alguma coisa. — falou abraçando os joelhos. Olhei em sua direção tentando achar algum tom de brincadeira, mas não era.

— Minha vida é entediante.

— Sério Lauren? Nenhuma história? Aposto que você era do tipo valentona da escola, estou certa? — falou com um sorriso brincando em seus lábios. Acabei rindo.

— Errada. Eu era sim, uma “valentona”. Mas só batia nos idiotas.

— Oh! Então você batia em si mesma? — falou rindo alto, sua risada era a mais gostosa que poderia ouvir.

— Desisto de tentar ter uma conversa civilizada com você. — falei fechando a cara. E lá estava novamente, aquela tensão entre nós.

 

Camila pulou de cima do carro e correu em direção ao precipício. Ela estava fascinada com o nascer do sol. Ela estava muito perto da beirada. Quando ela se inclinou sobre a murada de proteção eu senti uma vertigem. E de súbito desci do capô e corri até ela, a puxei para trás, para mantê-la segura.

 

— Céus, Camila! Ainda está bêbada? — falei olhando para ela. Gentilmente a virei para mim.

 

Fixei meu olhar em sua boca macia. Nos olhamos por uma fração de segundos. Bem devagar, Camila uniu nossos lábios de leve. De início eu hesitei, mas não fiz um movimento sequer para impedi-la. Então foi minha vez de não querer parar. Com a língua, contornei seus lábios que se abriram para me receber. Sentir seu gosto despertaram todos os meus sentidos.  Tudo ao nosso redor se dissolveu, e era como se só houvesse nós duas no mundo. Só havia nós, e seu corpo contra o meu. Senti vontade de acariciá-la, mas Camila se afastou e parecia estudar meu rosto com curiosidade.

 

— Incrível. — murmurou.

— Sim. — concordei, Camila enrubesceu e virou o rosto.

— Eu... estava falando da paisagem.

— Ah... — falei surpresa. O que diabos acabou de acontecer?

 

Pensei que a conhecia, mas Camila Cabello era cheia de surpresas. Caminhamos de volta ao carro e me praguejei por ter cedido a ela. Eu parecia forte e inatingível; como se ninguém pudesse tocar meu coração. E via isso em Camila também, só que agora não sabia se era mais assim.

Camila me beijou! Sem motivo aparente, ela se inclinou e me beijou. Sob o nascer do sol e foi intenso, levei a mãos aos lábios, tocando-os de leve.

Essa maldita tinha o poder de fazer meu sangue ferver e o coração acelerar. Essa sensação já esquecida por mim estava voltando. Eu sentia um calor no peito, eu não queria me apaixonar por ela. Mas isso era quase impossível. Calculei quando tempo levaria para chegarmos. Duas horas. Mais duas horas com Camila Cabello.

Quase oito da manhã e eu tinha que encontrar uma hospedagem. Meu plano era vir, sozinha, e dormir dentro do carro. Mas Camila me forçou a mudar os planos.

Não falamos mais nada depois do nosso segundo beijo. Se é que posso chamar o primeiro de beijo, que foi só um encostar de lábios, e somente com a intenção de fazê-la parar de falar.

Depois de duas paradas para achar um lugar, no que resultou em achar todos lotados. Tomei o conselho da senhora de cabelo grisalho que encontrei no caminho. Estacionei o carro em frente a hospedaria, que mais parecia uma casa de família. Era grande o suficiente para se morar bem.

Saí do carro antes que aquele silêncio me matasse, Camila só ficou lá olhando ao redor enquanto eu pedia por um quarto.

 

— Como assim não tem dois quartos disponíveis? Há algum lugar que tenha?

— Sinto muito minha jovem. As festividades tradicionais estão chegando e tudo está reservado. Eu só tenho um quarto disponível.

 

Mesmo de má vontade paguei pelo quarto e sai bufando de lá, achando Camila olhando fixamente para o céu.

 

— Pensei que o sol transformava vampiros em pó. — ela disse quebrando o silêncio.

— A luz do sol pode nos incomodar, mas não passa de um mito criado pelas pessoas de algum vilarejo séculos atrás.

— Quantos anos Richard tem? — perguntou com curiosidade.

— Alguns...

— Centenas? — falou abrindo a boca em um perfeito “O”

— Algo em torno de 592 anos. — falei como se não fosse nada demais.

— É por isso que todos tem medo dele?

— Eu não tenho medo dele. — falei incomodada. — Tome, — joguei a chave do quarto para ela — eles servem o jantar às 19h. Tenho que resolver umas coisas.

— Aonde você vai?

— Não saia sozinha, e tente não comer ninguém.

 

Entrei novamente dentro do carro e sai a toda velocidade. Eu vim atrás de algo e precisava encontrar logo, mais tempo longe de Camila, maior chance de eu não ceder aos seus encantos.

 

Camila Pov.

 

Quando eu penso que Lauren não podia ser mais idiota, ela vai lá e me mostra que pode sim. Ela me deixou sozinha num lugar que não conheço e apenas com a chave de um quarto.

Bem, acabei vindo por impulso e fiz a loucura e o maior erro da minha vida em beijar Lauren, talvez o efeito do horizonte, somente nós duas naquele penhasco tenha mexido comigo. Lauren estava muito prestativa e me deixei levar pelo desejo. Eu não conseguia ficar ao lado dela sem pensar em como seria bom afundar meus dedos em suas mechas negras; e senti nessa manhã como ela tinha um beijo delicado. Não foi forçado, apenas aconteceu.

Entrei no quarto e ele parecia decorado no estilo romeno. Uma colcha de veludo vermelho-sangue decorava a cama, um tapete persa elegantemente desgastado cobria parte do carpete bege e as paredes eram pintadas de cinza-azulado. Meu olhar parou de repente num suporte na parede com o que pareciam ser armas antigas. Coisas afiadas e pontudas.

Joguei-me na cama relaxando meu corpo, dormi na cama, no sofá, vi todos os canais que ensinavam receitas que eu nunca vou fazer na vida. Eram 19h30 quando lembrei-me do jantar. Eu não estava com fome, mas não pretendia ficar trancada naquele quarto até Lauren voltar.

Andava pelo corredor, a alguns metros perto da escada e senti uma pontada no estomago. Parei, sendo tomada pela dor intensa.

Me curvei com a mão no estomago, sem poder me mover. Eu nunca havia sentido nada como aquilo antes. Me apoiei na parede tentando respirar.

Cerca de alguns minutos depois eu estava andando na direção do restaurante da hospedaria. Me sentia desorientada, e com fome... não era uma fome normal, mas uma sede profunda e insaciável. Procurei uma mesa vazia e me sentei, e para a minha surpresa eu podia ver os detalhes das veias no pescoço das pessoas, o sangue correndo por elas; senti minha pulsação aumentar e uma sensibilidade e dormência nos meus próprios dentes. Uma senhora de meia idade se aproximou perguntando o que eu queria para o jantar, ela citou alguns pratos que certamente eram deliciosos, mas eu queria outra coisa. Eu queria o sangue daquelas pessoas.

Saí daquele lugar que aos meus olhos eram um banquete e tomei as ruas, andando sem rumo para qualquer lugar sem ninguém. Continuei a caminhar, eu tinha que me controlar; eu nunca fiz mal a ninguém.

As dores da fome desapareceram tão rápido quanto apareceram. Senti-me voltando ao normal. Cheguei em uma esquina e podia ver um café aberto, acelerei o passo respirando fundo.

Examinei o lugar, entrei rápido e quase sem fôlego e podia sentir minha cabeça girar. Eu sentia aquele desejo crescente novamente. “Tente não comer ninguém” as palavras de Lauren pareciam tolas agora. Não era tão fácil assim.

 

— Desculpe, senhorita. Mas já estamos fechando. — a moça disse. Senti meu coração palpitar.

 

Com um movimento rápido, pulei sobre o balcão. A mulher tentou gritar, mas já era tarde demais. Afundei meus dentes em seu pescoço, e bebi. Senti seu sangue correndo por minhas veias, o desejo sendo satisfeito. Era exatamente o que eu precisava.

A mulher caiu, inconsciente. Me inclinei para trás, o rosto coberto de sangue, e sorri. Havia descoberto um novo sabor. E nada me impediria de prová-lo novamente.

 

Acordei com uma dor ardente. Minha pele parecia estar queimando e, quando tentei abrir os olhos uma pontada forçou-me a fechá-los. A dor explodiu em meu crânio. Mantive os olhos fechados, e usei a mão para tatear. Estava deitada sobre algo macio.

Abri meus olhos, lentamente desta vez e espiei por entre os cílios. Sentei-me rapidamente, a dor explodiu, meu pescoço e cabeça tomados pela dor.

Esfreguei os olhos tentando lembrar dos eventos da noite passada. Tudo estava em branco na minha mente. Usei toda a minha capacidade para que as lembranças voltassem.

Quarto. Dor. Fome. O desejo. Percorri os corredores. Então... nada, somente branco.

Escorreguei um de meus pés para fora da cama e ao tocar no chão um choque percorreu meu corpo. Eu estava dolorida. Coloquei o outro pé e me esforcei para fora da cama. Fiquei surpresa ao conseguir ficar de pé sem cair.

 

Ao entrar no banheiro encontrei Lauren, que estava tirando algo do seu braço com uma pinça. Ela estava com os cabelos molhados e eu podia ver as gotas descendo pelo seu pescoço e se perdendo no vale dos seus seios.

 

— Eu entrei no quarto somente para tomar um banho, espero que não se importe. — falou friamente.

— Bom dia. — sussurrei. — Você está bem?

— Inteira. — falou ao puxar um pedaço do que parecia ser um estilhaço de bala. — E você pelo visto teve uma noite ótima. — falou me fitando pela primeira vez. Seus olhos estavam escuros. — Pensei ter dito para não sair sozinha.

 

Pisquei meus olhos algumas vezes, a visão de Lauren em uma regata branca e um jeans desabotoado a minha frente me fez ter pensamentos ruins. Então ela parou a minha frente, me analisando seu peito subia e descia com a respiração pesada.

 

— Eu não saí ontem. Eu fiquei no quarto... — pus a mão na cabeça. Tentando me lembrar.

— Já estão em todos os jornais; um corpo foi encontrado em um café. Espero que tenha sido um bom banquete. — Lauren falou levando o polegar até o canto da minha boca, logo saiu me deixando sozinha.

 

A imagem que encontrei através do espelho não era nada animadora. Havia resquícios de sangue seco nos meus lábios. Entrei debaixo do chuveiro frio tentando normalizar minha respiração. Por Deus, o que eu fiz.

Chorei como nunca antes, as imagens esquecidas vieram aos poucos e me encolhi em reprovação. Mas estranhamente não senti remorso. Após um bom tempo debaixo d’água sai batendo o queixo de tão frio. Me enrolei em um robe de lã e percebi que eu não tinha roupa e as minhas estavam sujas de sangue.

Gelei ao entrar no quarto e encontrar Lauren em pé perto da janela.

 

— Escolha alguma roupa na mala, algo deve servir. — falou ainda de costas. Havia uma bolsa em cima da cama, a mesma que Lauren trouxera com ela.

Escolhi algumas peças e retornei para o banheiro para me trocar, já que Lauren não deu sinal que sairia do quarto. As roupas dela eram cheirosas e ficaram boas em mim, uma calça jeans simples e uma blusa de uma banda que eu não conhecia.

Pronta, saí preparada para o sermão de Lauren e toda sua fúria. Mas ela guardava suas coisas de volta na bolsa.

 

— Eu fechei a conta, não podemos mais ficar aqui.

— Mas e o assunto que tinha que resolver? — perguntei seguindo-a para fora do quarto.

— Resolverei esta noite, e você vai comigo. — parou no meio do corredor e me fitou. — Queria me ajudar? Essa é sua chance. Os Walkers voltam hoje de viajem, e vamos dar uma boas-vindas a eles.

 

Lauren parou o carro em frente uma casa, e sem cerimônia ela saiu e foi até a porta. Fui correndo atrás dela.

 

— Ei o que está fazendo? Não pode ir entrando na casa das pessoas. — falei relutante, Lauren forçou a fechadura e sorriu para mim.

— Sim, eu posso. E você não deveria morder gargantas alheias sem permissão. — falou com tom seco.

— Eu não lembro de como isso aconteceu. E não me julgue, você deve ter feito coisa pior. — disse com raiva. Ela parou, fazendo-me esbarrar em suas costas.

— Certamente, as proporções do meu descontrole é muito maior. — seus olhos estavam longe, como se lembrasse de algo doloroso, fiquei em silêncio. — Está com fome... de comida verdade?

 

Lauren não tinha vergonha na cara, ela saiu abrindo a geladeira e jogando tudo em cima da bancada. Em poucos minutos ela fez alguns sanduíches.

 

— De quem é essa casa? — perguntei andando pela sala olhando os móveis, havia retratos em cima da lareira. Uma família feliz, um senhor e uma senhora. Pareciam perfeitos do seu modo.

— Quem quer que seja, Richard não gosta deles. — Lauren falou com a boca cheia. Olhei-a reprovando tal ação. Ela deu de ombros. — Olha, parece um riquinho bancado pelos pais... uma família de médicos pelos diplomas na parede.

 

Então me virei em sua direção olhando um retrato onde além dos senhores havia alguém a mais. Aproximei e analisei uma mulher bonita, devia ser filha deles, olhei mais atentamente ao retrato do rapaz sentado ao lado do homem mais velho. Meu queixo caiu ao reconhecer aqueles olhos esverdeados, a barba impecável e o terno bem alinhado.

 

— Lauren temos que sair daqui, agora. — falei tendo uma sensação ruim.

— Por que? Acabamos de chegar. Será que eles tem alguma bebida. — andou até uma mesa lateral, lendo o rótulo de um whisky.

— Qual o nome que você disse mesmo? — perguntei insegura, meu coração batendo no peito.

— Sr. E Sra. Walker.

— Não pode ser! — foi quase um grito agudo que chamou atenção de Lauren.

 

Ela me olhou confusa, e depositou a garrafa com cuidado sobre a mesa. Senti seus olhos me queimarem.

 

— Tem algo a me dizer, Camila? — andou lentamente até mim. Uma áurea pesada nos rodeou. Ela estava longe de ser a Lauren compreensiva que beijei sob o nascer do sol.

 

Mas antes que eu respondesse, ouvi palmas e um riso. Olhamos em direção da porta que havia ficado aberta. Lauren respirou fundo e parecia chocada. Elas se encararam por um bom tempo e ouvi os batimentos de Lauren aumentarem, quem era aquela mulher que a deixou tensa, e pronta para atacar?

 

— Sabia que você é entediante de se observar Lauren, mas esse ser insignificante até que divertiu minha noite ontem. Você tinha que ver como ela perdeu o controle e atacou aquela jovem. Um trabalho de amador, aprenda a esconder o corpo. — falou olhando para mim. — O que foi Lauren, perdeu a língua?

Ela parou em frente a Lauren, tocando o rosto dela com a ponta de sua unha. Havia ódio nos olhos de Lauren, ela parecia perturbada.

 

— O que você quer? — a voz de Lauren saiu rouca.

— Adoro o seu humor. — debochou. — O que aconteceu com a Lauren apaixonada de anos atrás?

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — pedi já sem paciência.

— Não se meta! — a mulher rosnou.

— Eu não falei com você projeto de atriz pornô! — falei sentindo o sangue correr mais rápido pelas minhas veias. O modo como ela olhava para Lauren me irritava, e me ignorar só aumentava minha vontade de saber quem era ela. Lauren me olhou e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. Mas a tensão no ar continuou.

— Você sabe com quem está falando? Garotinha sem sal! Ninguém fala assim com Demetria Devonne!

 

Irritada ela veio em minha direção, mas antes que ela tocasse em mim Lauren a pegou pelo pescoço e sem esforço a levantou.

 

— Cale-se, você deveria se ajoelhar e beijar os pés dela, Demetria. — Lauren trocou um olhar cúmplice comigo. Ela estava mais protetora do que antes, seria os acontecimentos recentes?

— Lauren querida... me solte. — Demetria pediu olhando nos olhos de Lauren, mas ela não ouviu e parecia querer resolver uma briga antiga, seus olhos estavam divertidos em ver a mulher indefesa.

 

“As proporções do meu descontrole é muito maior” lembrei de suas próprias palavras, Lauren não deu sinal que soltaria Demetria ela realmente a mataria. Tinha um sorriso em seu rosto que me assustou mas era lindo.

 

— Lauren, solte ela. — era uma tentativa e eu já esperava Lauren me fuzilar e não dar a mínima, ela nunca me escutava. Mas não, ela parou de apertar o fino pescoço da mulher. Alguns segundos depois Demetria estava buscando por ar caída no chão.

 

Demetria começou a rir, um riso histérico soando pela sala. Ela puxou um revólver em minha direção e apertou o gatilho.

Por um momento eu achei que tivesse presa num pesadelo. Tudo aconteceu tão rápido e de repente desacelerou, como em câmera lenta.  Até a bala que vinha na direção da minha cabeça se movia lentamente.  Fiquei esperando o tal filme da minha vida começar, louca pra lembrar os momentos felizes, mas o que vi se desenrolar à minha frente foi muito mais assustador do que todas as piores memórias juntas.

Antes que eu pudesse piscar, um ombro largo bloqueou minha visão e mãos fortes agarraram meus braços, seu peso me fez perder o equilíbrio e seguir em direção ao piso frio de mármore.  Ouvi o som aterrorizante de carne e músculos sendo dilacerados pelo projetil.  Escutei o gemido de dor.  Então encontrei aqueles olhos verdes me observando, espantados.

 

— Não! — tentei gritar, mas estava sem ar. Na queda, seu peso me fez perder o fôlego.

 

O corpo de Lauren ficou mole sobre o meu. Tentei empurrá-la para o lado, para que eu pudesse acudi-la, mas não consegui. Ela piscava muito, tentava não gemer. Eu não conseguia ver onde a bala a atingira. O mundo voltou a girar, veloz e assustador. Alguém caiu. Lauren começou a se mover, tentando sentar, a mão pressionada sobre o ombro esquerdo, os olhos presos no embate entre Hayley e Demi. Antes que ela decidisse se levantar e tentar salvar o mundo, procurei qualquer coisa que pudesse usar como arma para atingir Demi, que acabara de empurrar Hayley com violência, derrubando-a ruidosamente. Hayley gemeu.

 

— Você não devia ter me desafiado! — bramiu Demetria, subitamente à minha frente.

— Lauren, não!  – gritei, mas não fui rápida o bastante.

 

Lauren se lançou sobre Demi, desajeitada, e acabou acertando um soco nela. Demi balançou, e Lauren usou o peso do próprio corpo para derrubá-la. O punho de Lauren encontrou o nariz de Demi uma, duas, muitas vezes. Demetria era menor, porém mais ágil e, em sua insanidade, forte como um mamute. Elas trocavam socos e chutes, e eu não conseguia me meter entre as duas, com medo de que Lauren se ferisse ainda mais. Em algum momento, avistei a arma ali no meio. Era como naqueles filmes em que o bandido e o mocinho se engalfinham, e em seguida haveria um tiro. Um dos dois estaria morto. Eu não podia permitir que isso acontecesse.

Tomando impulso, voei sobre Demetria, derrubando-a meio de lado. Acertei-a como pude, o estômago, no queixo, na orelha, nas costelas. Ela tentou apontar a arma para mim, mas mãos grandes e fortes a impediram.  Lauren se esforçava para desarmar Demi enquanto eu tentava nocauteá-la.  Os ossos de minha mão estalaram, mas eu não senti a dor. Numa última tentativa, Demi conseguiu enviar o joelho entre minhas costelas e eu caí, sem fôlego.

Lauren hesitou ao me ver arfando em busca de ar, e Demi se aproveitou, atingindo-a no nariz, deixando-a atordoada o suficiente para se livrar de suas mãos. Demetria se colocou de pé, meio torta, trôpega, ensanguentada, os olhos injetados presos aos meus.  Então seus lábios se curvaram para cima, num sorriso diabólico. Ela ergueu o braço lentamente, apontando o cano do revólver para mim.

Fechei os olhos e esperei que tudo acabasse.

 

Um baque surdo e um gemido me fizeram abrir os olhos. Demetria estava caindo, os olhos revirando nas órbitas. Lauren estava em pé bem atrás dela, arfante, ferida.  O vaso de prata - pesado e maciço - pendeu de sua mão e caiu a seus pés. Demi desabou, mole, soltando a arma, os olhos fechados, a boca entreaberta. Lauren chutou o revolver para longe antes de entregar os pontos e se deixar afundar no chão. Corri para ela.

 

 

— Lauren, fala comigo! — pedi, me agachando a seu lado, tocando seu ombro encharcando minhas mãos de sangue.

— Shhh... — ela gemeu com a voz engasgada. — Estou... bem. Não se pre...ocupe.

 

Eu não conseguia desgrudar os olhos de todo aquele sangue, meu coração batia rápido, em um ritmo alucinante. Lauren sangrava. Ela tentou se sentar.

 

— Ah, não! Não se mova! — choraminguei, eu a empurrei gentilmente para o chão. Entendendo as pernas embaixo de sua cabeça na tentativa de deixa-la mais confortável. Foi quando eu vi a enorme ferida em suas costas, no meio do ombro. — Não!

— Estou bem... Não chora, você fica horrível quando chora. — ela ofegou, percebi que ela se esforçava para parecer menos agonizante. Seus olhos estavam fixos nos meus.

— Por favor, não morre! Quem eu vou chamar de idiota? — implorei.

 

Ela sorriu brevemente.

 

— Não vou morrer. Prometo. — Uma poça de sangue se formava no mármore branco.

— Ah, meu Deus! Demetria matou a Lauren. Demetria matou a Lauren! — gritei histericamente.

— A Lauren está ferida, mas consciente. — Hayley tentou me acalmar. — Ela vai ficar bem. Acalme-se, temos que retirar a bala de prata antes que ela piore.

 

Tentei mudar de posição para que Lauren ficasse mais confortável, se é que isso era possível; mas ela pensou que eu a deixaria.

 

— Fica comigo — pediu com a voz controlada. Não sei o motivo, mas lágrimas turvaram a minha visão. Eu assenti mesmo ela não podendo ver, pois fechou os olhos.

— Fico. Pra sempre.


Notas Finais


Amados, vou ter que explicar algo para não ficarem perdidos no próximo capítulo.

Sobre a "Ligação" da Camila que foi citada nos caps anteriores. funciona assim, quem a transformasse (morder) ficaria ligado a ela (obedecendo, e tals). Mas se a pessoa morrer a ligação é quebrada.
O mesmo vale para quem Camila morder PRIMEIRO. Afinal ela é da realeza vampírica; e quem foi esperto notou que ela não é só isso.

Espero que entendam, até loguinho pequenos gafanhotos.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...