Quatro
– Há vestígios de que foi realmente enforcada e depois a penduraram pela corda – Tori informa enquanto entramos no centro de investigação restrito da Audácia.
– Quando tiver certeza me avisa, pago uns drinks se conseguir achar alguma impressão digital.
– Pode deixar, vou começar a autópsia agora mesmo – dizendo isso, ela vai em outra direção.
Estamos com um novo caso em mãos, encontramos uma bailarina morta no teatro essa manhã, o corpo estava pendurado pelo pescoço com uma corda amarrada no teto como se ela mesmo tivesse se enforcado, o cadáver foi encontrado por outra adolescente.
Entro na sala de interrogação e encontro Erick observando a pessoa que será interrogada, a adolescente de dezesseis anos que encontrou a vítima.
– E aí, você ou eu? – perguntou.
– Ela é toda sua – digo sério.
Ao ouvir minha resposta o mesmo entra na sala e senta em frente á garota na pequena mesa, a sala de interrogação é pequena e pouco iluminada, uma das paredes tem parte de si formada por um vidro resistente, feito estrategicamente para que quem estivesse fora da sala visse o que acontecia detalhadamente, enquanto o interrogado não poderia ver nada e nem ninguém, a não ser o interrogador.
Erick fez várias perguntas que foram respondidas de forma dolorosa pela garota.
– Então Grazielle, o que estava fazendo quando encontrou o corpo de Estela White? – Erick pergunta.
Grazielle é uma garota magra com longos cabelos loiros e ondulados, seus olhos são castanhos e pelo que ouvi de alguns familiares, é muito vaidosa.
– Cheguei mais cedo pra ensaiar e enquanto eu dançava via várias penas caindo no palco, quando olhei pra cima o corpo de Estela estava pendurado pelo pescoço e as penas que caiam eram de seu figurino -- ela responde nervosa, seus olhos estão inchados, provavelmente pelo choro recente.
– Sabe me dizer por que a vítima estava sozinha no teatro até tarde? – seu tom de voz era autoritário e a garota tremia de medo.
– Bom, Estela ia participar de uma apresentação bem importante hoje e ficou pra ensaiar um pouco mais –responde colocando as mãos no rosto.
– Tem mais alguma coisa que não contou ao Edward? -- perguntou com uma sobrancelha arqueada.
– Não, não lembro de mais nada. Ela era minha amiga, nunca fez mal a ninguém, sempre foi gentil e atenciosa. Prendam o monstro que fez isso com ela por favor – implora, enquanto começa a chorar novamente.
– Faremos o nosso trabalho senhorita, está liberada – Erick sai da sala por uma porta que só abre com as digitais da nossa equipe, uma cortesia de Rebekah, nosso gênio particular.
Ele veio em minha direção e saímos juntos do local, caminhamos por alguns corredores sendo cumprimentados por alguns funcionários.
– Não acho que ela seja a assassina. – disse se referindo a Grazielle.
– Não podemos eliminar suspeitos Erick – digo ao chegarmos em frente a porta da sala de reuniões. – Esqueceu do garoto de treze anos que matou a própria mãe e colocou a culpa no vizinho? Achamos que o moleque era inocente e tivemos problemas com isso.
– Tem razão, senhor – diz com ironia.
Apesar de trabalharmos juntos não somos tão amigos assim, fomos concorrentes pouco tempo atrás, o objetivo era o meu cargo atual e acabei vencendo. Mesmo com algumas diferenças, sabemos ser profissionais e não misturamos desavenças com o trabalho.
Ao entrar na sala, vejo que todos estão conversando e sento em meu lugar.
– Terminei a autópsia e sinto em informar que não há nenhuma impressão no corpo. Não estamos lidando com um amador. – diz Tori indignada.
Tori trabalha há mais tempo que eu nesse ramo, tem mais experiência e eu a respeito por isso, sei que está sendo frustante estar na estaca zero novamente.
– O nome da vítima, como vocês sabem, é Estela White, tinha dezoito anos, era bailarina desde pequena e visitava a psicóloga Natalie Prior, ao que descobri, a menina ficou traumatizada com a separação dos pais. – Edward explica.
Edward é um detetive ótimo em nossa equipe, é loiro e tem os olhos claros.
– Sabem se ela tinha inimigos ou conflitos com alguém? – pergunto.
– Não tinha, era uma garota bem tranquila. – responde Edward.
Isso está mais difícil do que pensei, não temos suspeitos nenhum no momento.
Estela White... as lembranças da cena do crime vêem em minha mente de uma vez.
– Estela teve um círculo desenhado na palma da mão direita com uma faca. Sabem o que pode significar? – pergunto.
– Talvez o assassino goste de geometria – Peter diz em tom de brincadeira e todos o repreendem com o olhar – Que foi? Só quis descontrair um pouco, vocês só vivem com a cara amarrada – Ninguém deu atenção pro comentário inoportuno e Peter se calou frustado.
– Semana passada vi um caso parecido, a vítima tinha a mesma marca na mão. – Rebekah levanta e começa a digitar freneticamente no teclado digital que estava mais a frente.
Rebekah é uma mulher alta de cabelos cacheados, muito bonita, trabalha pra gente no campo de tecnologias avançadas, ela é ótima no que faz, já salvou minha pele várias vezes, inclusive, quando uma jornalista tentou me hackear.
– O nome dele era Mário Green, tinha trinta e dois anos e era gerente de uma loja no centro. De acordo com a autópsia, ele foi esfaqueado até a morte e o mais estranho foi que o assassino deixou a arma do crime próximo ao corpo, como se quisesse mostrar que foi usado um facão – Rebekah informa – O símbolo estava presente na palma da mão dele, ou seja, Mário e a bailarina foram assassinados pela mesma pessoa – acrescenta e após digitar alguma coisa no computador digital, um telão cheio de imagens das cenas do crime aparecem em nosso campo de visão – Parece que temos um novo Serial killer no pedaço.
– Você é um gênio! – Edward a elogia e eu concordo com o loiro.
– Tirando o sinal na mão, eles têm mais alguma coisa em comum? – pergunto.
– Ambos frequentam o consultório da psicóloga Natalie Prior – Peter responde – Já marquei uma reunião com ela, pra daqui a duas horas.
– Ótimo.
– O que será que ele pretende fazer? – pergunta Tori referindo-se ao assassino.
– Não sei, mas vou descobrir.
Tris
– Você entra em dez segundos! – Al avisa enquanto arruma a câmera na posição correta.
Corro pra frente da câmera e preparo meu melhor sorriso.
1..4..7..10!
– Bom dia, Chicago! Sou Beatrice Prior com a previsão do tempo! – vou até o slide com a imagem do mapa de nosso país e começo a apontar para as regiões da qual estou falando – Em New York, o tempo permanecerá frio com leves pancadas de chuva no fim da tarde – aponto para o local – Em boa parte da capital o tempo estará quente, perfeito pra quem gostaria de ir á praia nesse fim de semana. As temperaturas na Flórida podem variar de 30°C para 32°C...– falo sobre o clima da maioria das regiões, até que vejo que meu tempo está acabando – Obrigada pela atenção, tenham um ótimo fim de semana.
– Corta! – escuto Al ordenar.
Al é meu colega de trabalho, na verdade, um dos únicos amigos que conquistei aqui, ele é diretor desse sete de filmagem, mas acho que o mesmo tem potencial pra dirigir algo melhor.
Saio do local de onde estava e aceno para o casal que apresenta o jornal das sete ao lado, os dois dão um sorriso e voltam a ler o script.
– Vou lanchar – sussurro para Al.
– Te encontro lá garota do tempo – diz com um sorriso e eu faço uma careta com o apelido.
Ando pelos corredores da enorme emissora e paro ao escutar passos em minha direção.
– Senhoria Beatrice, posso falar com você por um segundo? – Jeanine pergunta ao me alcançar.
Você já falou comigo por um segundo!
– Claro – dei o sorriso mais falso que possuía.
– Gostaria que limpasse minha sala, está uma bagunça e vou receber alguns advogados daqui a pouco – ordena sem sequer olhar pra mim direito.
– Há faxineiras para isso senhora, sou apenas a garota do tempo e estou em meu horário de almoço – respondo normalmente.
– É claro que há alguém para isso, mas prefiro que seja você – contrapôs.
– Nunca fui faxineira e não pretendo ser agora, me desculpe. Com licença – saio de perto dela e entro no elevador.
Viram o que eu tenho que suportar?
Sou conhecida apenas por ser “a garota do tempo ” e isso é repugnante, me formei em jornalismo há quatro anos e não consegui um cargo sério!
Jeanine me odeia, nunca me deu um trabalho de acordo com minha capacidade declarando que sou apenas uma menina inexperiente e um rostinho bonito, para piorar ainda pede favores do gênero. No entanto, não sou boba e sei de todos os meus direitos, ela não pode pedir esses absurdos a uma funcionária de outra área.
Ela é o braço direito do dono da emissora, o senhor David. A cobra prefere trabalhar no setor jornalístico e garanto que a mesma não facilita a vida de ninguém.
A porta do elevador se abre e eu saio em direção ao refeitório, o local está cheio de atores e apresentadores, a única mesa desocupada era uma próxima ao banheiro. Sem opção, acabei sentando lá, após alguns minutos pedi um suco de laranja com um sanduíche a garçonete, sem esquecer do super lanche do Al.
Pego meu tablet e começo a pesquisar algo interessante no banco de dados restrito da Erudition, consegui a senha do banco de dados privado da empresa hackeando todas as contas da Jeannine, sou ótima nisso. Descobri que a conta bancária dela é bem gorda e que a loira dorme com o dono da emissora.
– Não há nada de interessante aqui – digo ao olhar pro tablet.
Nesse pequeno período, Al apareceu no refeitório e sentou-se comigo.
– Já fez o pedido? – perguntou.
– Já.
– Jeanine está mais rabugenta que o normal, passei por ela no corredor e fiquei com vontade de sair correndo, está soltando fogo pelas narinas.
– Isso foi culpa minha, me recusei a limpar a sala dela, não sou mais a estagiária bobona que limpava tudo o que ela queria -- digo e ele dá um sorriso orgulhoso.
Assim que entrei pra Erudition, Jeanine me usou como capacho e empregada por certo tempo. Nunca descobri o porquê de ela me odiar tanto.
– Fez bem, olha minha nova imitação dela – comecei a prestar atenção – “Esses funcionários de hoje em dia não nos respeitam, pedi pra Prior fazer uma simples limpeza e a garota negou, quanta incompetência!” – diz com uma voz fina, fazendo gestos estranhos.
– Essa foi a melhor – elogio entre risos.
Vejo a garçonete se aproximar e colocar os lanches em cima da mesa.
– Obrigado, Sara – agradece Al.
– De nada, bom apetite – diz antes de se retirar.
– Acho que a Sara gosta de você – sussurro com um sorriso malicioso.
– Impressão sua – diz indiferente.
Comemos tranquilamente, tenho a tarde de folga e nem sei o que fazer. Meu smartphone começa a tocar.
– Com licença – digo e Al assentiu – Alô?
– Oi filha, como você está? – minha mãe pergunta toda animada.
– Bem, e você?
– Estou ótima, vem aqui no consultório conversar comigo. Desde que comprou seu apartamento, nem me visita mais.
–Tudo bem mãe, chego aí daqui a pouco.
–Ta bom, tchau meu anjo.
– Tchau – coloco o smartphone na bolsa.
– Tenho que voltar ao trabalho, tenha uma boa tarde de folga – diz ao terminar de comer.
– Obrigada.
•••
– Como vai no trabalho? – minha mãe pergunta.
– Vai bem, na medida do possível – respondo – E o seu deve estar ótimo – digo sorrindo.
Natalie Prior é uma das melhores psicólogas de Chicago e não digo isso apenas por ser minha mãe. Além disso, é uma mulher maravilhosa e muito bonita pra sua idade, há quem diga que a mesma parece minha irmã mais velha. Estamos em seu consultório agora, pelo visto, ela não tem pacientes hoje.
– Sim, amo o meu trabalho.
O telefone toca e minha mãe atende:
– Oi...Ah,claro que sim...Tinha esquecido... Mande-os entrar Emily... Tá, tchau.
Escuto a porta se abrir, mas não vejo quem entrou por estar de costas para a mesma.
– Com licença, gostaríamos de fazer umas perguntas pra senhora Natalie Prior – uma voz grave informa.
– Claro, sentem-se por favor – diz minha mãe e eles a obedecem, sentando-se no outro sofá branco.
Ao me virar na direção dos homens, os reconheço imediatamente, Edward, Erick e Peter. Tobias Eaton deve estar resolvendo outros assuntos, referentes a Audácia.
– Beatrice? – Erick me olha surpreso.
– Olá, o que querem com a minha mãe? – pergunto.
Isso é estranho, já sou maior de idade e tenho certeza que não roubei nada de ninguém dessa vez.
– Nada que você deva saber, poderia nos dar licença – ele diz sério.
– Vá filha, depois conversamos – minha mãe ordena e eu saio da sala bufando, deixando-a sozinha com os policiais.
Conheço o Tobias há algum tempo, digamos que tentei hackear informações dele e da Audácia, mas não deu muito certo. Nunca gostei dele, vive interferindo no meu trabalho, o que tem de errado em deixar uma jornalista te hackear e expôr o seu trabalho no jornal? Nada!
Eu só queria uma matéria digna de primeira página, esse é o único jeito de Jeanine me dar um cargo decente.
Tobias já me deu muito prejuízo, uma vez minha câmera fotográfica foi jogada numa piscina por ele. E os homens que trabalham pro Eaton são da mesma laia que a dele!
– Está tudo bem senhorita Prior? – a secretária pergunta aflita e eu percebo que estou encostada na parede com os braços cruzados, visivelmente brava – Quer um copo com água?
– Não é nada Emily, só estava pensando, mas aceito o copo com água.
Emily tem dezessete anos ainda, é alta e morena, tem os cabelos curtos e cacheados. Minha mãe simpatizou com a garota e resolveu dar o emprego a ela.
– Vou buscar.
Assim que ela saiu, joguei um minúsculo gravador por baixo da porta e me sentei em um dos bancos de madeira da recepção, colocando meus fones de ouvido.
– ...É uma pena, Estela era uma boa menina – reconheço a voz da minha mãe.
– Dois de seus pacientes foram mortos, não têm algo a declarar sobre isso? – pergunta Erick.
– Não tenho ideia de quem tenha feito essas barbaridades. – responde.
– Precisaremos interroga-la novamente, não saia da cidade senhora Prior – informa Peter.
– Sim,estarei a disposição. – diz minha mãe.
– Poderia me dar a lista de todos os seus pacientes? – pede Edward.
– Claro, pode pegar com a secretária!
–Tenho uma importante pergunta senhora Prior... – o som sumiu como se alguém tivesse desligado o gravador.
– Aqui está sua água – Emily me entrega o copo e eu tomo tudo de uma vez, lhe entregando o objeto em seguida.
– Obrigada – agradeço e a morena assente.
O que será que está acontecendo? Espero que minha mãe não esteja correndo perigo!
Depois de meia hora, eles saem pela porta e minha mãe pede algo para Emily, que entrega um envelope a Edward em seguida.
– Filha, acompanhe os senhores até a saída – pede com a voz embargada.
– Mãe, está tudo bem? – pergunto preocupada.
– Está sim, vá logo Beatrice!
Concordei e os acompanhei até o elevador, entrando no dito cujo.
– Devia ser mais esperta garota do tempo – diz Peter com um sorriso sacana.
– Não sei do que está falando.
– Se quer colocar um micro gravador em algum lugar sem que ninguém perceba, evite coloca-lo em locais muito brancos com policiais por perto – explica Erick e senti que o babaca se controlava pra não usar o sarcasmo.
Então foi esse idiota que quebrou meu gravador? Um desses é caro!
– Continuo sem entender senhores – apesar de tudo, ele ainda é um policial e não quero ser presa por desacato a autoridade e muito menos por espionagem.
Chegamos ao térreo e saímos do elevador.
– Tenha um bom dia e seja menos intrometida garota do tempo – diz Peter
Foda-se!
– Digo o mesmo – respondo e os outros dão pequenas risadas antes de deixarem o prédio.
Seja o que for que estiver acontecendo, é algo grave,nunca vi minha mãe chorando dessa forma...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.