Tris
Levei minha progenitora para casa após a saída dos policiais. Meu pai ficou preocupado, assim como eu.
Minha mãe ficou bem triste com a notícia que recebeu, ela sempre foi ligada a todos eles como uma verdadeira amiga.
Só soube que Estela morreu por causa do micro gravador que os policiais quebraram, eu a conheci quando menina, fiquei sabendo da separação dos pais dela.
Minha mãe me levava pra brincar com ela no consultório, mas foi há muito tempo e nunca fomos de fato amigas, porém, é estranho saber que a mesma foi assassinada.
Tenho uma sensação estranha no peito, como se algo de ruim fosse acontecer a qualquer momento, isso não é nada bom, e o fato da senhora Prior ter se trancado no quarto e não querer sair pra nada só piora as coisas.
– Tome um banho e descanse querida, sua mãe vai se acalmar em breve e logo explicará o que está acontecendo – meu pai me deu um abraço que logo foi retribuído.
– Senti falta disso – sussurro aspirando o cheiro de sua colônia amadeirada.
– Eu também, você sempre será minha meninha – diz sorrindo.
– E o senhor sempre vai ser o meu paizinho – digo lembrando-me de como o chamava quando mais nova – Vou tomar o banho então – abandono o abraço com um sorriso e sigo na direção tão conhecida por mim.
Ao abrir a porta do meu quarto, noto que tudo está como eu deixei há seis anos, quando fui morar com Christina em um apartamento para terminarmos a faculdade como “mulheres independentes."
Quando me mudei para o meu próprio aparatamento(dois meses atrás), Christina recebeu a visita de uma amiga que estava estudando em New York e convidou a mesma pra morar com ela. Ainda não cheguei a conhece-la, mas combinamos de marcar alguma coisa pra nos conhecermos. A morena é minha melhor amiga, nos conhecemos no consultório da minha mãe, costumávamos brigar pelos brinquedos, até que em um belo dia, Christina me fez tropeçar e torcer o tornozelo.
Foi a melhor coisa que me aconteceu, nos tornamos amigas desde então e a dita cuja continua visitando minha mãe. Não pensem que Christina tem um trauma ou problemas assim, minha amiga simplesmente gosta de desabafar com alguém que não vai critica-la e nem contar nada sobre o assunto a ninguém.
Entrei no quarto e fechei a porta observando todos os detalhes do cômodo, a cama de casal que sempre ficou no centro do quarto com uma coberta branca, o guarda-roupa e os tantos móveis familiares.
Sorri nostálgica ao relembrar dos momentos que passei aqui, das noites de festa do pijama com as amigas, dos filmes assistidos com o Caleb.
Acreditem em mim quando digo que ser independente e morar sozinha não é tão bom assim ás vezes.
Peguei uma toalha e entrei no banheiro, me despi pensando em tudo o que aconteceu hoje e liguei o chuveiro, senti todos os meus músculos relaxarem ao entrarem em contato com a água gelada.
•••
Nós jantamos juntos, meu pai tinha razão, ela saiu do quarto e nos explicou o que havia acontecido, seus olhos estavam inchados pelo choro recente. Descobri que o nome do outro paciente morto era Mário e que a família já havia feito o sepultamento, o corpo de Estela será liberado amanhã e o enterro será durante a tarde.
Mesmo sabendo que minha mãe irá, acho melhor que outra pessoa a acompanhe, não suporto ir a velórios. Nos sentamos em um dos sofás brancos da sala.
– Então, vai dormir aqui hoje? – pergunta normalmente.
– Sim, se não se importarem é claro – deito com a cabeça no colo da minha mãe.
– Claro que não nos importamos – ela responde, fazendo carinho no meu cabelo.
– O Caleb disse que está vindo pra cá agora, acabou de terminar o turno – meu pai informa, colocando o telefone em seu devido lugar e sentando-se no mesmo sofá que eu.
Caleb é meu irmão gêmeo falsificado, como gosto de o chamar por não termos tantas coisas em comum, ele é mais velho que eu doze minutos e nunca me deixa esquecer isso.
Meu irmão sempre foi um gênio, terminou os estudos com quatorze anos e iniciou a faculdade de medicina com quinze, hoje já é um ótimo cardiologista, já eu, só terminei os estudos com dezesseis, nunca fui adiantada na escola como ele. Depois de alguns minutos, o dito cujo abre a porta da casa e ao nos ver juntos no mesmo sofá cruza os braços e dá um sorriso.
– Você já chegou aqui primeiro pirralha? Sai daí que agora é minha vez – caminha em nossa direção e se espreme no sofá para ficar ao lado da mamãe.
– Sai daqui você, eu cheguei primeiro! – digo sorrindo.
– Eu sou mais velho, então me obedeça – abraça minha mãe, que ria da nossa discussão e dá um beijo em seu rosto – Como a senhora está?
– Bem – diz abraçando-o de volta e Caleb pisca pra mim, em sinal de vitória.
– Tenho meu pai! – dou língua pra ele e abraço meu pai que começa a rir com minha mãe.
Nós não costumamos fazer isso depois de adultos, afinal, temos vinte e seis anos, mas hoje minha mãe precisa se divertir com a gente e não se sentir sozinha.
– Crianças! Parem com isso, que tal um filme? – sugeriu entre risos e nós concordamos.
Optamos por uma comédia romântica, minha mãe ficou em um dos sofás abraçada com o meu pai e eu fiquei no outro com o Caleb. Nós já assistimos esse filme tantas vezes que até já decoramos as falas.
– Eu te amo querida, então me abrace forte e aceite casar comigo – Caleb imita a voz do mocinho e acaricia meu rosto.
– Eu também te amo Carlos Eduardo Miranda – respondo e beijo sua bochecha – Mas eu me amo mais, vou casar comigo mesma, meu bem – digo com arrogância e depois rimos.
– Nossos filhos são estranhos – escuto mamãe comentar.
– Completamente – concorda o papai, fazendo a gente rir mais.
– Quero vir aqui mais vezes – ele murmurou.
– Eu também. – digo voltando a prestar atenção ao filme.
Dois dias depois...
Uma colega da minha mãe pediu para que eu a buscasse no trabalho afirmando que o pneu de seu carro havia furado e que ninguém mais podia busca-la, não somos tão próximas, mas não quis ser mal educada com a mulher que estava com a voz chorosa ao telefone.
Estaciono o carro e espero por um tempo, como Mey não aparecia, saí do carro e resolvi entrar na loja de roupas. A porta não estava fechada e a rua estava estranhamente deserta. Ao entrar na enorme loja percebi que tudo estava um breu e acendi a luz imediatamente, nunca gostei da escuridão.
– Senhora Mey? – pergunto receosa sentindo uma sensação horrível por todo o corpo.
Foi quando aconteceu... ouvi gritos desumanos vindos de um dos compartimentos da enorme loja e uma sensação de adrenalina tomou conta de mim, peguei um pedaço de ferro usado pra sustentar o manequim e tirei o celular da bolsa.
Já assisti muitos filmes de suspense e não cometi o erro de ir atrás da senhora Mey sem ligar para a polícia antes, dei o endereço, falando o mais baixo possível.
– Senhora Mey! – gritei e ninguém respondeu. Guardei o celular após encerrar a chamada – Senhora Mey!
Os gritos haviam cessado e eu estava atenta ao mínimo barulho, a loja era enorme, tinha dois andares e vários manequins dispersos pelo local. Ouvi um último grito e corri em sua direção, não saber onde ela estava me deixava frustrada.
– Mey! – chamei mais uma vez e não obtive resposta.
Continuei a andar pelo corredor escuro e abri todas as portas que eu encontrava, até chegar na última, onde havia uma placa que permitia somente a entrada de funcionários.
Abri a porta com as mãos trêmulas e não encontrei nada, soltei o ar que inconscientemente prendi em meus pulmões e me preparei para ir embora quando vi uma manha vermelha no chão que levava até um armário velho. Abri a pequena porta e o grito de espanto e desespero que saiu da minha garganta quando o corpo da senhora caiu em minha frente foi inevitável, assim como a ânsia de vômito.
O corpo dela estava ensanguentado, com vários cortes profundos, nos braços, pernas e rosto. Imagino o sofrimento e a dor que cada corte lhe causou e sinto vontade de chorar, mas um alarme soa em minha mente, alertando-me que o indivíduo que fez isso com Mey ainda pode estar aqui.
Aperto a barra de ferro com mais força e saio da sala, corri em direção a saída e fiquei ainda mais aflita ao notar que estava trancada, tentei abrir de todas as formas, procurei por uma saída de emergência, uma janela ou qualquer coisa que pudesse me ajudar a fugir, infelizmente não encontrei nada do gênero.
O único som audível é o do vento lá fora e isso me incomoda bastante, tentei me agarrar a esperança de que o assassino tinha ido embora e que logo a polícia chegaria pra me salvar, no entanto, isso não aconteceu, pelo contrário, tudo piorou. As luzes se apagaram e todos os meus sentidos ficaram em alerta, ouvi passos se aproximando de mim e logo o som de algo afiado cortando o ar se fez presente. Me abaixei imediatamente e quando estava prestes a revidar com a barra de ferro, a pessoa chutou minha canela e depois deu um soco em meu rosto, fiquei desnorteada por segundos e logo revidei, acertando-lhe com a barra,escutei apenas um grunhido de dor antes de um corte ser feito em meu braço.
– Desgraçado! – gritei quando senti um chute acertar a região das minhas costelas e caí no chão, após repetidos chutes ele apertou meu pescoço com demasiada força, me debati tentando me liberar, mas foi em vão – Me solte – digo sufocada e escuto uma risada abafada enquanto perco a força em meus membros, o aperto é diminuído, de forma que volto a respirar com dificuldade, mas logo sinto algo pontudo e metálico fazer um profundo corte em minha perna com agressividade.
Gritei quando senti a dor do segundo corte na mesma perna, minha consciência estava pesada e a dor que eu sentia era horrível. Senti a ponta do objeto no meu rosto, contudo, o toque metálico se afastou assim que o som de sirenes se tornou da presente.
– Nos veremos novamente, não terá sorte na próxima, nem seu irmão – disse com uma voz abafada.
Quatro
Recebemos uma ligação dizendo que alguém estava sendo torturado em uma loja e não hesitamos em ir o mais rápido possível para o local.
Ao chegarmos lá, a porta da loja foi arrombada por um dos policiais e logo Edward ligou a iluminação do estabelecimento, os profissionais se dispersaram a procura do bandido e pude ver o corpo de uma mulher jogado no chão com um profundo corte na perna e cheia de hematomas pelo corpo, ao me aproximar a reconheço, Beatrice Prior.
Constatei que ainda estava viva e a peguei no colo com cuidado, levando-a para fora do local e deitando-a em uma maca sobre instruções de Tori.
– Ela precisa de cuidados médicos com urgência, está perdendo muito sangue – disse enquanto pressionava um pedaço de sua própria blusa sobre o ferimento.
– Leve-a para a central da Audácia,estará mais segura por lá. Nossos médicos cuidarão dela.
– Tudo bem – concorda e depois entra na ambulância onde a garota do tempo estava.
Voltei para a loja e recebi a informação que os outros tinham revistado o local inteiro e não encontraram nem sinal do assassino.
Edward achou o corpo de uma senhora em uma das salas e comprovou que ela era mais uma vítima do indivíduo que estamos procurando, afinal, tinha a marca na mão.
Passamos a noite inteira investigando o local e o corpo mutilado foi levado para a autópsia, só voltamos pra Audácia depois de recolher o máximo de pistas possíveis.
Erick e Peter não estavam presentes na hora da busca e pediram desculpas por não terem comparecido.
Rebekah havia marcado uma reunião com todos os pacientes da mãe de Beatrice pra agora. Como a jornalista ainda estava desacordada, resolvi ir logo.
Os policiais enviados ao escritório de Natalie Prior voltaram com poucas informações e depois de descobrir que a vítima também tinha uma relação com a psicóloga, não podemos ficar de mãos atadas. Ao que sabemos, a próxima vítima pode ser qualquer um desses trinta pacientes.
– Meu nome é Quatro… – escuto alguns risos.
– O que aconteceu com o dois e o três? – pergunta com ironia uma garota morena de cabelos curtos e castanhos. Vou até a mulher e a encaro seriamente.
– Qual o seu nome?
– Christina.
– O assunto que tenho a tratar é sério e caso não queira ser presa por desacato a autoridade, sugiro que não faça piadinhas, Christina – digo isso e volto pro meu lugar – Vocês estão aqui por um simples motivo, podem ser futuras vítimas de alguém e nossa obrigação é protege-los disso!
– Como assim futuras vítimas? – pergunta uma mulher de estatura média. – Meu nome é Gabrielle senhor, e nunca tive inimigos para isso.
– Senhorita Gabrielle, um assassino não procura saber se uma pessoa é boa ou não antes de mata-la – responde Edward – Estamos lidando com um verdadeiro psicopata. Por isso, iremos disponibilizar alguns policiais para protege-los de alguma futura ameaça, evitem ficar sozinhos ou em locais com pouca movimentação, só queremos ajudar.
– Certo – Gabrielle responde um pouca assustada – Há alguma ligação entre todos nós? Como podem saber que ele nos procurará?
– Não podemos revelar a ligação entre vocês por enquanto, espero que entendam, podem ir – disse Edward, mas minha atenção estava focada numa criança.
Uma menininha ruiva de olhos castanhos, que parecia confusa com o que acontecia, não aparentava ter mais que seis anos de idade.Vou até ela e a vejo recuar.
– Cadê a sua mãe? – pergunto e ela aponta pra recepção, onde uma mulher falava ao telefone – Qual o seu nome? – me abaixo para ficar da altura dela.
– Eloíse, você vai me prender seu policial?
– Não, eu só prende gente grande que faz coisa do mal, você é uma menina boa, não é? – pergunto.
– Sim, também quero prender gente mal, vou prender a madrasta da branca de neve – diz com um sorriso sereno.
– Claro que vai – peguei meu distintivo e entreguei a ela – Você vai ter um igual a esse.
– Ele é bonito, tem uma estrela.
A mãe dela aparece e se desculpa, converso com ela por alguns instantes e descubro que as duas fazem terapia juntas.
– Tchau, tio policial – me entrega o distintivo e pega a mão da mãe pra ir embora.
– Tchau -- respondo com um sorriso discreto.
Saio do local em que estava e vou em direção ao escritório quando alguém me alcança.
– Quatro – Rebekah me chama e percebo que estava usando um jaleco branco e luvas cirúrgicas, o que não é normal, mesmo que trabalhe com a polícia, Rebekah odeia observar ou ajudar em alguma autópsia. Ela deve estar trabalhando em alguma substância que desconheço.
– Oi Rebekah, algum problema?
– Sim, mas vamos falar sobre ele daqui a pouco. A garota do tempo acordou e está mais disposta, acho melhor você conversar com ela – explicou enquanto ajeitava a armação de seu óculos no rosto – Boa sorte, você vai precisar – diz com um sorriso antes de se afastar, rumo a ala de Pesquisas.
– Obrigado, Rebekah – digo e vou até a ala hospitalar.
Preciso falar com a garota do tempo, ela é minha única esperança, a única que sobreviveu para dar alguma informação, espero que a mesma nos ajude com esse caso.
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