— Tenho uma coisa para mostrar. — Digo ao Palhaço. Ele apenas esperou eu continuar a falar, eu peguei o meu celular e mostrei para ele o vídeo que gravei. Eu estava tão ansiosa para saber de sua resposta sobre isso, será que ele aprovaria? Ou eu tinha que pegar mais pesado? Espero que seja do seu agrado. Passou-se uns trinta minutos pelo menos e eu puxei o celular novamente para mim.
— Aquela facada deve ter sido deliciosa ao vivo. — Ele me disse. Ah, mas foi, eu gostei de fazer aquilo. Eu deveria tentar mais vezes. Me deixou muito animada e eu me senti muito bem, pra mim não foi nada de mais, talvez ela ate merecesse mais. — Você foi tão rápida e eficiente, cupcake. — Ele me disse. — Eu adorei. — Eu sabia que ele iria gostar do meu trabalho. — Como se sente com essas experiencias que eu proporciono a você?
— Maluca. — Falei a ele. — Viva. — E então continuei. — Feliz.
Com certeza essas palavras faziam todo o sentido para mim, eu realmente me sentia assim, nada se compara a essa nova vida que ele esta me mostrando. Vou ser eternamente grata a isso. A ele. Não sabia que eu podia ser diferente. Eu amo estar apaixonada por ele. Se fosse pra escolher entre essas duas vidas, eu com certeza escolheria a do Palhaço, é muito mais divertido. Respirei fundo muito contente e orgulhosa de mim mesma.
— Você se saiu perfeitamente bem — Eu sei. —, mas terá que aprender muitas coisas ainda, meu bem.
— O que? Podemos começar agora mesmo. — Seus olhos grudaram na minha empolgação. Olhando bem para ele, eu percebo um pouco de simplicidade e admiração. Por mim? Ah, não, claro que não. Eu devo estar pirando.
— Sua beleza me encanta, Harley. — Mudou de assunto. Que isso, na sessão passada ele me deixou tão sem jeito que eu mal sabia o que dizer a ele. Eu estava descobrindo uma parte muito convencida minha, é claro que sou linda! Todos os homens me querem, os olhos deles percorrem pelo meu corpo inteiro até dizer a primeira palavra.
— Obrigada. — Agradeci.
— Você devera escutar as regras que eu digo, meu bem, e vai ter que obedece-las e honra-las da mesma forma que faço. — Assenti. — A primeira delas: deixe entrar em sua mente que eu sou a única pessoa em sua vida que você deve respeito e honestidade.
— E a segunda?
— A segunda? Deve estar sempre em sua boca. — Me disse. Como assim em minha boca? Coloquei a mão em meus lábios e pensei no que estivesse falando. O riso. — Sorria, Harley, não importa o dia, a hora, o lugar ou a situação em que você estiver. A piada depende do seu sorriso.
— Como a vida depende a minha felicidade. — Eu ri entendendo exatamente o que ele me disse. Eu adoro ele. Tantas pessoas não conseguem interpreta-lo, mas isso é tão simples pra mim, como se fosse uma adição de matemática.
— A terceira... Você precisa entender que psicopatas não tem sentimentos. — Sim, eu sei disso. Posso dizer que não ligo para mais ninguém a não ser ele mesmo. — Nos não ajudamos, não perdoamos, não nos arrependemos, não nos aliamos, não confiamos, nós não amamos. — Amar?
— Não, não, espere ai. Como assim nós não amamos? — E se eu for uma maluca apaixonada? Louca de amores por ele? O que tem demais? Eu não me importo com nada mesmo. Respirei fundo, isso não pode ser verdade, eu o amo, e eu posso ser uma psicótica idêntica ao seu jeito, ele só vai precisar entender o meu amor por ele.
— Vai me dizer que sente isso por alguém, doutora? — Ele riu como se eu tivesse um parafuso a menos. Eu já provei diversas coisas a ele.
— Eu sinto. — Falei olhando para ele.
— Você só deve estar em sã consciência para dizer uma coisa dessas. — Falou rindo. É claro que sou sã! Eu amo ele. Estou consciente de que amo um psicopata, minha loucura se envolve em outros aspectos. Como outras coisas, outras pessoas. Minha sanidade esta ligada ao meu amor por ele a partir de agora. O resto é uma piada. Tive um pingo de esperança assim que resolvi falar as palavras.
— Eu te amo. — Falei a ele. O mesmo transformou sua face numa figura séria, olhando em meu olhos. Parecia que havia levado um grande susto. Sorri para ele. Vou levar seu legado para sempre a partir de hoje. Um sorriso nos lábios basta a todos que me observam. Ele não vai dizer nada? Eu entendo que ele é um psicopata, o maior lunático que alguém pode conhecer, mas sei que no fundo ele sente algo relacionado a amor. Ele gosta de mim e tudo mais, disso eu sei, mas amor é diferente de gostar e se ele é capaz de gostar, ele é capaz de amar. — Mr. J...
— Voltamos aos velhos tempos, Drª. Quinzel. Vamos voltar a uma consulta descente até o fim dessa sessão, conversaremos sobre mim. — Tudo ao normal até o final dessa sessão? Ele esta com saudades disso? Tudo bem por mim. Tentarei descobrir algo sobre seu passado, eu ainda não desisti mesmo. Só não entendi a mudança de humor. Eu não esperava isso após um "Eu te amo", talvez um beijo seria algo mais adequado. Claro. Tentei olhar seu interior.
Ele não sabe o que o amor significa.
Certo, eu sei que é isso que ele esta pensando. Não conheceu o amor. Isso o deixa intrigado. Com um passado que ele esconde, quem poderia o amar naquela época. Ninguém transmitiu coragem e proteção a ele. Só há uma pessoa que poderia ter o mudado. E todos nós sabemos que é a mamãe.
— Como era sua mãe? — Perguntei.
— Como as outras. — Como as outras? Eu não sei o que isso significa. Eu nunca tive uma mãe de verdade, com certeza ele não teve também, eu não sei explicar como é que as mães são, e ele também não sabe. Disso eu tenho certeza.
— Você não teve uma mãe. — Ele não gostou do que eu disse. — Esta tudo bem, Mr. J, eu também não tive. — Alguma coisa eu descobri, e dessa vez ele não negou e nem desandou a conversa. Ninguém nunca o amou para ele amar. Isso é tão triste, mas agora eu estou aqui, e mostrarei a ele como nem tudo é do jeito que ele pensa. O silencio ficou. Ele estava dizendo que eu tenho que aprender muitas coisas ainda... Ele só me disse três dessas "muitas". — O que mais eu tenho que aprender? — Eu não me aguentei e voltei ao assunto. Ah, como eu sou chata.
— O resto você perceberá sozinha, Harley. — Me falou. — Podemos continuar com a sessão? — Tudo bem, ele não quer falar disso, então não vamos falar disso. Pensei em algum assunto. — Sem explorar o meu passado, querida.
Claro. Eu entendi.
— Você não tem nenhum amigo com quem possa confiar? — Pergunto. Alem de Jonny, não que ele confie em Jonny, mas se ele não o matou até agora é porque Jonny o impressionou. Até eu fico impressionada com isso.
— Harley, você já parou para ver como o nosso mundo é vil? Como é solitário passar por toda essa desgraça e sujeira sem mais ninguém? — Okay, okay. Ele não tinha amigos, nem amigos pessoais, bem, nos temos uma relação pessoal. Considero-me a mais próxima a ele.
— Eu entendo que estamos sozinhos no mundo, e que ninguém se importa com ninguém. — Eu já provei que isso é verídico para mim mesma. Não preciso duvidar.
— Ah, você entende! Mesmo no meio de malucos como nós, você pode se espernear, bater e chutar... Ninguém se importa. — Pensamentos tão iguais. — É como se você não existisse.
Tudo bem, de verdade isso é real. É como se eu não existisse para certas pessoas desde o meu nascimento. Só para meu pai, mas quem disse que eu me importo com ele? Ele fugiu, me deixou, sua parte criminosa falou mais alto, e eu vou deixar a minha falar mais alto também. Na escola, eu sempre fui uma pessoa quieta, eu até tentei me relacionar com algumas meninas para ter amigas, mas todas sempre falavam que eu era muito chata. Então comecei a me excluir, até a professora me esquecia na chamada.
Ele me faz lembrar de tantas coisas do meu passado, que nem eu sabia que havia vivido.
— Eu sinto, as vezes, que estou preso nesse caminho para lugar nenhum, para o vazio. — Falou simples. Não faz sentido nós sermos assim, que caminho iriamos seguir? Sendo que somos inexistentes, mas ao contrario de mim, todos o conhecem, todos os respeitam, os bandidos o invejam, todos o temem. Já eu? Eu não sei. Talvez todos apenas me desejam, para jogar fora depois. — Mas agora...
— Agora você sente que tem alguém ao seu lado para dividir esse caminho com você — Eu.
— Eu me sinto a deriva... É como se alguém tivesse puxado a tampa da minha realidade e eu tivesse descido pelo ralo para uma coisa nova. — Esse alguém no meu caso, é ele. Eu estou mudando. Tendo experiencias novas também. Ele estava falando da forma figurada, né? Não que isso tenha acontecido com ele. Eu acho. — Você não deve saber como é...
Errado, eu sei como é. Mr. J não sabe tudo em relação a mim. Eu peguei ele dessa vez. Hahaha.
— Pode me dizer como essa pessoa faz você se sentir? — É o Batman. Eu sei disso com toda a certeza. Não foi o Batman que fez ele ter um dia ruim? Não foi ele quem fez The Joker ficar louco? Eu ainda tinha minhas duvidas, não procurei saber o que ele fez com The Joker. Seria um intromissão na sua vida, e eu sei, não devo perguntar do seu passado.
— É achar alguém com quem eu possa me relacionar. — Relação na rivalidade. — E acredite, nunca aconteceu antes.
— Ah, eu sei. — Meus pensamentos estavam me levando a pouco tempo, dizendo que ele não tinha ninguém quando pequeno. Consigo compreender tudo, e tudo que vem em minha cabeça é ficar ao seu lado para o que der e vier.
— Você sabe. Você não parece ter medo de se soltar e se jogar. — Eu não tenho medo. Eu tenho feito coisas absurdas por isso. — Cair em queda livre... E eu nem trouxe uma boia. — Cair? Como se caísse de algum prédio ou algo do tipo? Que loucura, eu me jogaria por ele. Faria mil e uma coisas para sua felicidade.
Eu ri do que ele falou. Espera, eu mal tinha prestado atenção na parte da boia. É como se ele caísse em algum liquido como... Água ou... Químicos. Químicos. Olhei para sua pele, ela era bem branca, havia vezes que ele estava suado ou não tinha tomado banho constantemente, o Arkham não se preocupa na higiene dos pacientes. Mas sua pele sempre continuou muito branca. Não era maquiagem. Apenas sua boca era maquiada. O resto era de sí próprio.
Eu sei que químicos podem mudar suas características. Estava tão na cara, Harley. Talvez meu amor por ele tenha me deixado meio lerda.
— Você é tão engraçado. — Falei. — Me diz... Você tem algum poder sobrenatural? — Isso podia me ajudar um pouco. Nossa, fiz igual a ele agora. Mudei de assunto sem nem me preocupar com o que ele disse.
— Adquiri grande força, minha inteligencia foi ampliada, tenho uma mente grande para construir armas a meu favor, resistente a dor e sou imune a toxinas. — Bingo.
— Ele te jogou num tanque de tóxicos químicos. — Ele me deixou saber disso, não foi? Me falou do seu passado sem nem ao menos perceber. Jogada de mestre, apenas sinto muito de ser tão inteligente quanto ele.
— Ele quem?
— Batman.
Continue...
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