História The Kissu Kissu Experiment - Uvall.

“A sua mãe sabe?”

“Ah, vai. Para, não começa igual o Jaebum.”

A situação estava um horror para o lado de Yugyeom que, agora plenamente acordado e com medo, não conseguia entender o que havia o impulsionado a fazer toda aquela cena com Mark, normalmente não era assim, mas não conseguia se lembrar qual tinha sido o problema. Só bastou que o outro entrasse dentro do quarto para que o mais novo acordasse de sua dualidade carente e entendesse que, por um segundo, havia se jogado contra Mark, oferecendo-o sua virgindade. Não conseguia acreditar.

“Jaebum sabia sobre tudo isso e concordou? SEM CONTAR PRA SUA MÃE?”

Oh, Yugyeom devia ter pensado muito antes de citar Jaebum na frente de Youngjae. Seu primo, mesmo que depois de anos, ainda parecia não ter superado a crush de infância que, sinceramente, funcionou mais como uma perturbação durante muitos anos.

“Não começa, Youngjae. A minha mãe não tem nada haver com isso, é só uma noite que você vai esquecer assim que você se mudar pro seu próprio dormitório, não é mesmo?” O sorriso que Yugyeom ostentava no rosto transmitia muito mais medo do que segurança ao mais velho.

“Okay.” Suspirava derrotado. Entendia que não conseguiria vencer uma batalha de palavras e exposição contra Yugyeom, o mais novo sabia muito mais sobre Youngjae do que ele revelou para qualquer outra pessoa. Jamais deixaria com que o outro contasse algo para Jaebum, temia isso mesmo sabendo que seu primo não o trairia e contaria a coisa. “Mas, considerando que você confie em mim, o que vocês estavam fazendo lá? Essa coisa é séria mesmo? Quanto tempo isso vem acontecendo? Ele é seu-”

“Sim, eu sou o namorado dele.” Mark sabia que não devia ter aparecido do nada, mesmo após ter passado cerca de minutos limpando copos e potes na cozinha. Afinal, Youngjae havia o expulsado da sala firmemente com o intuito de ter uma conversa séria com Yugyeom. Mas o olhar na cara de cada um dos outros dois valera a pena aquela mínima zoeirinha. O estranho, supostamente primo de “seu namorado”, parecia estar tão assustado e angustiado que representava alguém pronto para desmaiar ou gorfar ali mesmo na sala. O mais novo aparentava estar quase perdendo o ar, num misto entre dar uma risadinha desacreditando do que Mark havia dito e botar tudo para fora caso seu primo também o fizesse.

Com plena fé em sua atuação, deixou o encosto da porta para se aproximar de onde os outros dois conversavam, ainda em pé, e jogou um de seus braços por volta dos ombros de Yugyeom ao mesmo tempo que recostava sua face sobre o ombro do mesmo, ainda sorrindo puramente para um desnorteado Youngjae. Só conseguia pensar em como riria, isso se saísse vivo daquela casa nos próximos minutos já que todos os rostos lhe olhavam descrentes, quase como com raiva.

“Sim, ele é meu namorado faz um tempinho… ?” Resolveu entrar na mentira de Mark antes que Youngjae começasse com mais um questionário ou infinitos julgamentos. Verdadeiramente falando, Youngjae acreditara mais na mentira do que si. Mark ainda havia de provar que não queria apenas seu corpo nu.

“Mas por que você não me disse nada?” Youngjae mordia os lábios, questionando a situação fervorosamente. Muitas perguntas passavam por sua cabeça naquele momento: Desde quando Yugyeom era gay, ou bissexual? Desde quando seu priminho havia crescido para ser mais alto e mais corajoso ao ponto de estar beijando bocas em seu próprio quarto, quando Youngjae não encontrava alguém faziam anos? E como Yugyeom tinha encontrado alguém tão bonito?

Haviam muitas perguntas a serem respondidas.

“A gente não queria apressar as coisas, não faz muito tempo que a gente começou.”

Yugyeom poderia dizer que, no fundo de seu coração, amava Mark cada vez mais um pouquinho, o outro tinha um jeito característico com as palavras e, cheio de carisma, conseguia convencer Youngjae com mentiras simples que seriam facilmente contestadas por alguém mais sagaz, como Junior ou Jaebum.

“Ahn? Você pode nos deixar sozinhos pelo resto da noite… ?” Não conseguia se lembrar se já haviam citado o nome do outro durante as conversas e, se o chamasse de “namorado”, soaria como um pai protegendo uma filha e não gostaria de parecer assim.

“Oh, pode me chamar de Mark. É claro, eu já tinha que sair daqui a pouco mesmo.” Estendia a mão para que o outro apertasse, num sinônimo de apresentação e, ao mesmo tempo, de adeus. Brevemente, viu o rosto de Yugyeom se contorcer ao seu lado, num certo desprazer pela interrupção causada por Youngjae, já que parte do planejamento era para que Mark passasse a noite consigo. “Gyeomie, pode me acompanhar até a saída?”

“Claro.”

O caminho breve foi silencioso, até que estavam do lado de fora da casa e com a porta fechada atrás deles. Confortados pelo propagado barulho de insetos que infectavam a noite, Yugyeom não tinha muito o que comentar sobre a situação.

“Desculpa.” Tentava não olhar diretamente para o rosto de Mark que estava tão próximo do seu. “Eu não sabia que ele ia vir até hoje de tarde, normalmente nem minha mãe entraria no meu quarto sem avisar. Ela nem mesmo surtaria tanto, mas é que o Youngjae é um pouco especial.” Soltava uma risadinha, tentando quebrar o clima meio tenso que, por acaso, apenas ele estava sentindo.

“Bah, tudo bem quando termina bem. Ele não quis me matar e nem nada, então não é o pior dos casos pelos quais passei.” Piscava docemente com apenas um olho, de maneira a acalmar o outro que apenas se desnorteou com a frase. “Além do mais, vocês são família. É melhor você ir lá logo, quanto antes se resolverem: melhor.”

“Obrigado, a gente vai se ver de novo, né?” Mordia os lábios, um tanto quanto esperançoso para que não tivesse afastado Mark por conta da maneira coxa como havia agido durante a noite, principalmente antes da chegada de Youngjae.

“Claro, não aconteceu nada demais. Bye bye.” Após cantarolar ligeiramente a despedida em inglês, levou os lábios à bochecha do outro dando um leve beijo de maneira tranquilizadora.

♤

“Então, quando foi que começou?” Youngjae pulava na cama ao lado de Yugyeom, com um dos travesseiros no colo. Parecia estar imitando uma das protagonista do Pretty Little Liars, mas o mais novo duvidava que o ato fosse com a intenção de aliviar o momento.

“Faz umas semanas… ?” Não entendia bem onde o outro queria chegar, mas sabia que poderia esperar um questionário e, provavelmente, não dormiria bem aquela noite para que se concentrasse decentemente nas aulas do dia seguinte.

“E vocês já estão nesse nível de relacionamento?” Os olhos esbugalhados reiteravam a inocência do mais velho, Youngjae sempre fora a criança mais medrosa do bairro. “Mas por que você não contou pra sua mãe? Ela não vai se incomodar nem nada assim, ela é um amor e também sabe que o Jaebum tem um namorado e tudo e nunca falou nada sobre isso.” A última parte da frase pegou Yugyeom de surpresa, jamais imaginara que chegaria ao momento em que seu primo falaria de Jinyoung com tanta naturalidade sem esboçar uma mínima aflição.

“Não! Não tem nada haver com a minha mãe, eu já disse. É difícil explicar.” Mordia o interior da bochecha, visivelmente incomodado com a atenção e curiosidade que insistia em ser esboçada nos olhos daquele que estava a sua frente. “Você sabe, hmm… Mark é uma pessoa muito bonita, certo?”

“É claro! Você com certeza tem bom gosto.” A risada após a frase quase servia para quebrar o clima, mas apenas o rosto de Youngjae aparentava exímia felicidade, o de Yugyeom continuava visivelmente transtornado.

“É, mas… Talvez ele não seja uma boa pessoa?” A indagação soava extremamente incerta. “Eu conheci ele de um jeito muito bobo e ele pediu pra sair comigo? Eu não entendi muito bem, mas concordei, eu acho.”

“Mas qual o problema? Não tem nada de errado, são só alguns encontros, né? Não tem nada demais, ele não fez nada estranho… fez?” Tentava arrancar um sorriso do rosto do primo mais novo, mesmo que entendesse que parecia estar forçando um pouco demais a barra.

“E daí que ele estuda na mesma faculdade que o Jaebum e o Jinyoung, e eles meio que se conhecem? E, pelo que parece, Mark é tipo esse protagonista de filme adolescente que não namora e vai em muitas festas, quebra muitos corações e dorme com mais de uma pessoa diferente por semana, de acordo com Jinyoung. Ma-mas…” O gaguejar contribuía para que seu nervosismo fosse exaltado aos olhos do outro, provando que a situação era no mínimo séria aos olhos de Yugyeom. “Ele parece uma pessoa bem legal, tipo, ele não fala muito, mas faz com que eu me sinta confortável, sabe? E nós nunca fizemos nada demais… Bem, até hoje, né.” Soltava uma risada descontraída, rapidamente substituindo por uma expressão mais austera já que queria saber a opinião do outro. Youngjae não costumava tirar conclusões tão apressadas quanto seus outros amigos.

“Awn, meu pequeno Gyeomie está apaixonadinho.” O corar que transpareceu no rosto do mais novo fez com que ambos rissem em uníssono, Yugyeom não iria discordar já que tal ideia estava fixada em sua cabeça desde muitos dias antes, talvez realmente precisasse conversar com alguém já que a distância finalmente havia separado-o de praticamente todos os seus amigos. “Mas ele pareceu um cara legal, por que Jinyoung e Jaebum fizeram tanta questão de denegrir a imagem dele pra você?”

“De acordo com eles, eu ainda sou muito jovem pra me envolver com esse tipo de pessoa, eu não sei do que ele é capaz e várias outras bulhufas sem muito sentido.” Soltava um longo suspiro. “Eu já tenho dezoito anos faz um tempinho e faltam apenas alguns meses para que eu saia do ensino médio, qual o problema de sair com um estudante universitário, certo?”

“Oh, espera um minutinho. Ele sabe?”

“Sabe o que?”

“Que você é um estudante do ensino médio.”

“Não?”

“Isso explica alguma coisa, eu acho.” Voltava a rir, tirando um pouco da sobriedade da discussão. “Eles usam a sua idade pra fazer com que você desconfie do Mark, mas você não confia o suficiente nele nem mesmo para falar sobre isso, você ao menos sabe quantos anos ele tem?”

“Vinte dois, o Jinyoung me disse.” Cabisbaixo, não conseguia olhar para além das próprias mãos que, em seu colo, se emaranhavam de maneira ansiosa.

“Bem, é um intervalo de idade grandinho, mas não leve isso em consideração. Vocês tem mais é que conversar um pouco, sabe?” Colocava a mão no queixo, pensador. Se sentia um verdadeiro e ótimo conselheiro de relacionamentos. “Quando eu perguntei, ele assumiu um papel como seu namorado, então ele definitivamente deve querer alguma coisa. Pode deixar que eu cuido do Jaebum e do Jinyoung, eles vão aprender a não fazer o meu priminho se sentir mal.”

“Obrigado.” Sorria um pouco entristecido.

“Agora que a gente meio que já resolveu isso, eu tenho um pedido pra você!” Era o momento perfeito para que colocasse as cartas na mesa e explicasse o porquê de que estava ali na casa dos Kim e não em sua casa em outra cidade, quem dera fosse apenas para se inscrever em uma nova universidade.

♤

“Ei pessoal, eu posso fazer um pedido pra vocês?”

Yugyeom se aproximava da mesa na qual Jinyoung brigava com Bambam por conta deste estar tentando pegar, escondido, uma das fatias de pizza que o mais velho comia ali na pizzaria. Bambam, indignado, começara a gritar questionando o porquê do outro receber pizzas de graça sendo que nem ao menos trabalhava no local.

“O que, Yuggie?” Jinyoung se pronunciava logo após arrancar da mão de Bambam uma de suas fatias de pizza.

“É mais uma pergunta pra você, já que do Bambam eu sei a resposta.” Passava a mão entre os cabelos, estava realmente desesperado se estava ali perguntando aquilo exatamente para Jinyoung de todas as pessoas. “Você já jogou League of Legends?”

“Não, por que?”

“É, por que?”

A pergunta de Yugyeom elevou a curiosidade de ambos os presentes, Bambam, com toda certeza, jogava o jogo já que ambos sempre tiravam noites para virar acordados quando ainda se encontravam muitos dias durante a semana, isso quando não tinham de trabalhar numa pizzaria.

“Eu preciso de um pouco de ajuda, pra um campeonato amador, eu acho.” Os olhares chocados lhe diziam que devia uma explicação. “Não é pra mim, é pra um conhecido, ele meio que precisa do prêmio, então eu estou tentando recrutar um time pra ele. Provavelmente vou ter que participar também, mas não acho que eu seja bom o suficiente.

“Ah, eu tenho uns conhecidos que iriam gostar de participar, mas eu tenho que confirmar com eles. A gente pode se encontrar amanhã? É sábado então não deve ter nenhum problema pra eles dois.” Bambam teclava no celular de maneira fervorosa, provavelmente contatando as pessoas de quem estava falando. Sempre foi um pouco animado demais quanto a competições, então Yugyeom tinha certeza que podia contar com ele para que ajudassem Youngjae.

“Claro, só me diz o lugar de nós encontrarmos depois.”

“EU PRECISO DA AJUDA DE VOCÊS AQUI!” Um Jaebum muito furioso gritava da porta da parte traseira do estabelecimento, com a face de quem iria arrancar a cabeça de seus funcionários/ajudantes caso estes não tratassem de começar a fazer aquilo pelo que eram pagos ao invés de baterem papo.

♤

Bambam: JACKSON!

JACKSON, SEU IDIOTA!

ACORDA!

ME RESPONDE!

Jackson: EU TO ACORDADO.

SÓ ESPERASSE EU RESPONDER, DESESPERADO.

QUAL O PROBLEMA?

Bambam: EU PRECISO DA SUA AJUDA.

LIGA DAS LENDAS, SÁBADO, DUAS HORAS.

NO LUGAR DE SEMPRE, PRECISAMOS DE MAIS UM MEMBRO PRO TIME.

Jackson: Time?

Bambam: Sim, nós vamos participar de um time.

Eu, você, Yugyeom e mais duas incógnitas, preciso que você encontre mais um!

Jackson: Yugyeom?

Ele vai estar lá amanhã também?

Bambam: Vai, ué. Precisa de cinco pra fazer um time e a gente vai decidir sobre a inscrição.

Jackson: OH!

Vai ser um encontro duplo então ;*

♤

Três horas batendo no relógio e, pelo jeito, já parecia que as pessoas queriam comer pizza mesmo que a pizzaria ainda não estivesse aberta. Jinyoung recolheu seus materiais escolares da mesa, pronto para se dirigir até a porta do estabelecimento quando, por trás daquele vidro, pode reconhecer aquele que o incomodara.

“Jae-ah?” A surpresa foi mútua na voz e no rosto de ambos, visto que Youngjae estava virado de costas para a porta que o conhecido, e particularmente “amigo”, havia aberto.

“Jinyoung-ah!” O abraço foi repentino, mas foi recebido de maneira carinhosa pelo Park mesmo esse continuasse surpreso com a situação. “Eu vim encontrar o Jaebum-hyung, mas não esperava encontrar você também, faz tanto tempo.” Sorria para o amigo de longa data, mesmo que houvessem mais de seis meses que não se viam.

“Oh, ele tá na cozinha fazendo umas pizzas, você quer uma pra comer? Vem, pode entrar.” Abria caminho para que o outro adentrasse o local.

Youngjae já estava nervoso o suficiente mesmo achando que tinha se preparado o bastante para encarar Jaebum, mas ao lado de Jinyoung seria ainda mais difícil do que o normal.

Em uma perspectiva mais profunda da situação: Jaebum, Yugyeom e Jinyoung são todos amigos de infância, com Youngjae sendo o primo do mais novo e que sempre estava fazendo visitas pela vizinhança já que morava em um bairro mais distante. No começo, os três eram extremamente íntimos em vista de que Yugyeom era o mais jovem e apenas uma criancinha, mas com o tempo a puberdade, digamos assim, chegou e o Choi se viu desesperadamente apaixonado pelo hyung do grupo. E Jinyoung, intrépido como era na época, ousou dizer que o outro não podia “ficar” com Jaebum já que eles haviam se encontrado primeiro.

A acusação fez com que Youngjae ficasse um tanto quanto traumatizado, mas a comunicação entre eles foi cortado muito tempo depois, quando Jaebum já havia completado o ensino médio e Youngjae, infelizmente, iria se mudar para outra cidade e não poderia mais vê-los. O que acabou servindo como uma desculpa para nunca mais ter que falar com nenhum de seus conhecidos em Seoul, embora agora estivesse ali a mercê do destino para ajudar Yugyeom.

“Nossa… Cara, faz tanto tempo.” Jinyoung se voltava para o mais novo, agora já sentados numa mesa enquanto esperavam que Jaebum saísse da cozinha da pizzaria e viesse ver quem havia acabado de chegar. Os olhos do Park brilhavam com uma certa animação e não conseguiam se desconcentrar do rosto do amigo, como se estivesse se acostumando novamente com aquele rosto que não via fazia meses.

“É, hehe.” A voz saia um tanto quanto exitante, tímida e entristecida. Tudo seria tão mais fácil para o Choi se Jinyoung ainda fosse apenas uma criança atrevida que falava um pouco demais, mas na verdade ambos já eram adultos e diferente de Youngjae, Jinyoung agia como tal.

“Então, tudo bem? Faz tanto tempo que você não visita a gente, você tá ficando na casa do Yugyeom? Por quanto tempo?”

Jinyoung não era do tipo que falava tanto durante pequenas quantidades de tempo, mas Youngjae podia dizer que estava surpreso em perceber que o outro estava tão animado com sua visita ao ponto de sair do postura ordinária. Se é que podia considerá-la assim já que não o via fazia muito tempo, não poderia dizer nem que o outro era aquela pessoa que conhecera.

“Eu vou ficar na casa do Yugie por um tempo, eu acho que eu vou me mudar pra um apartamento aqui de novo, pra estudar em outra universidade.” Embora seu rosto agora ostentasse um sorriso, a sonoridade de sua voz ainda demonstrava certa incerteza e dor sobre estar ali, sabia que o outro provavelmente tinha percebido, sempre fora perceptivo. Diferente de Jaebum que sequer tinha percebido a paixonite de Youngjae mesmo após anos andando juntos.

“Wow, isso seria muito bom, como nos velhos tempos.” Suas mãos iam em direção ao queixo, fazendo com que passasse a ostentar uma postura pensadora. “Pra que faculdade você pretende tentar entrar? Você queria fazer música, né? Jaebum-hyung faz música numa bem perto daqui, por que você não tenta ela?”

“Jinyoung?” Uma voz vinha de longe de ambos sentavam, exatamente de uma porta que estava um tanto quanto atrás de onde Youngjae sentara. “Quem tava na porta? Você não para de falar sozinho faz um tempo, hein?” O mais velho entrava no ambiente após abrir a divisória que existia entre o salão principal da pizzaria e a cozinha, ainda não dando muita atenção para o visitante.

Os braços de Jinyoung se exaltaram na direção do mais novo entre eles, não tinha palavras para descrever a chegada do velho amigo no estabelecimento, apenas continuava a gesticular com as mãos na direção daquele que estava à sua frente. Youngjae, sem muita ideia do que fazer no momento, apenas continuou a enfiar um pedaço da pizza oferecida na boca, uma desculpa para que não tivesse que falar nada até que Jaebum se juntasse a conversa.

“JAE-AH!”

As coisas estavam cada vez mais confusas para o visitante. Sinceramente, esperava que todos os seus amigos, excluindo Yugyeom já que o mesmo entendia a situação, passassem a odiá-lo e questioná-lo sobre seu desaparecimento e não que o afogassem em abraços para os quais ele não estava plenamente preparado.

“Oi, Jaebum. Hehe.” A tensão em seus ombros o impediu de abraçar o outro, ou quem sabe foi apenas a força que o Im ostentava nos braços que o travou naquela posição de sentado na poltrona da pizzaria.

“Ei, Jaebum, deixa ele respirar.” Jinyoung bufava de maneira - quem sabe - enciumada, puxando o namorado que se atracava com o amigo. “Você tá sujando ele de farinha, idiota.”

“Aah, desculpa.” Apenas com o comentário persistente do Park que Youngjae percebeu o vestuário de Jaebum constituinte de um avental e um chapéu engraçado, exatamente como aquele com que brincavam quando mais jovens. Tanto o avental quanto seus braços estavam repletos de farinha e, agora, parte da blusa de Youngjae também. “E então, como vai? O que você tá fazendo aqui?” A animação refletida na voz era muito parecida com a que Jinyoung transmitia segundos antes.

“Ele tá pensando em se mudar para ficar com a gente de novo.” Respondia pelo mais novo de maneira excitada, vendo um brilho espelhado aparecer nos olhos de seu namorado.

“Isso significa que nós vamos ser um trio de novo?” O mais velho chamava o outro para um high five barulhento.

“Nossa, você é pior do que eu. Sempre reclama que eu esqueço do Yugyeom e agora fala que nós somos um trio?” Fingia certa seriedade, ignorando totalmente a exaltação com que a mão de Jaebum se aproximara de si para o cumprimento.

“Então, um quarteto?” Tentava recobrar o ânimo, ainda não desistindo de realizar o gesto conjunto.

“E o Bambam?”

“Tá bom, um quinteto, mas essa família acaba por aqui.” Sorria, finalmente recobrando totalmente o humor para levantar o braço e a palma da mão para que a situação fosse concluída. Jinyoung ria igual, mas seu movimento para finalizar a discussão com o high five foi claramente interrompido por uma frase persistente de Youngjae, que esteve quieto durante o último minuto apenas assistindo.

“E o Mark?”

“Mark?!” A indignação foi em uníssono.

“Sim, sim. O namorado do Yugie.” A inocência no rosto dele era deveras encantadora, não conseguia entender o que os outros dois poderiam ter contra aquele que fora nomeado, afinal Yugyeom não tinha um gosto ruim para amigos, quem poderia dizer alguma coisa sobre namorado.

“Você encontrou ele antes de encontrar a gente? E ainda aparece aqui e fala isso na cara de pau? Tu é muito abusado mesmo, garoto.” Às vezes Jaebum era um tanto quanto assustador quando a situação se resumia a vida amorosa de seus “filhos”, como gostava tanto de falar.

“MEU DEUS! Ele seduziu você também, não é? Se eu soubesse que você ia aparecer teria resolvido tudo isso antes, já basta o Yugyeom completamente apaixonado.” A face de desaprovação tomou totalmente conta da retórica de Jinyoung. “Você tem muito que aprender, Youngjae. Não é só porque ele é um rostinho bonito que ele tem que ser boa pessoa.”

“Mas nós até conversamos quando ele tava na casa do Yugie, ele parece bem legal.”

“É AÍ QUE VOCÊ SE ENGANA. Nós conhecemos ele faz muito tempo já e ele não presta, ele é muito mais velho que o Yugie e vive se aproveitando das pessoas na faculdade só porque ele tem uma carinha bonita.”

A expressão de fúria de Jaebum não foi o suficiente para que Youngjae fosse impedido de retornar com a seguinte frase, de maneira tão ousada que não foi nada parecido com aquele que conheciam desde a infância.

“Você não acha  que ele já é velho o suficiente pra decidir sobre quem ele namora ou não?” A intensidade no olhar de Youngjae não passou despercebida por Jinyoung e Jaebum.

“Jae-ah, você não entende. Nós nunca falamos muito com ele diretamente, mas ele anda com um pessoal não muito confiável e frequenta lugares que não são realmente adequados para alguém que namora um estudante de ensino médio. Yugyeom deveria andar com pessoas da idade dele, você já imaginou em que tipos de lugares eles podem acabar indo?” Jinyoung tentava acalmar o outro, ainda com olhos esbugalhados e assustados com a reação do mesmo ao tema discutido.

“Eu deveria saber porque ele não queria me contar, vocês dois também não ajudam, não é? Continuam os mesmos merdas presunçosos tentando enfiar na goela dos outros tudo aquilo que entendem como verdade.” Okay, aquilo com certeza estava fora da caracterização comum do fofo e inocente Youngjae que tinham conhecido, mas pessoas mudam para além daquilo que é esperado. “Eu vou ficar aqui por um tempo. Quando vocês não quiserem ser uns idiotas sobre tudo isso, quem sabe nós podemos conversar como gente.” Com um sorriso, saiu do estabelecimento, deixando os outros dois boquiabertos sobre o ocorrido, como se tudo tivesse sido apenas uma fantasia. O mais novo não se importava com que pensassem sobre ele a partir daquele momento, que pensassem o que quisessem.

No seu caminho para “casa”, Youngjae se propôs a refletir sobre como, um dia, teve seu coração destroçado por Jaebum numa situação parecida e, embora não tivesse tecnicamente superado, seria forte o suficiente para garantir que Yugyeom não passasse pelo mesmo. E se isso garantisse um sorriso na face de seu primo, voz nenhuma em sua cabeça seria capaz de convencê-lo de que sua paixão não havia passado.