1. Spirit Fanfics >
  2. The Last Job >
  3. Único

História The Last Job - Único


Escrita por: ManuSolaceDiAngelo

Notas do Autor


Sempre quis ler uma história assim e ainda não tinha feito uma. Veio como um jorro de inspiração e espero que gostem... saindo do forno: The Last Job

Capítulo 1 - Único


THE LAST JOB

Os homens invadiram a sala da casa. Derrubaram a porta a chutes. O adolescente largou o console do vídeo game assustado. Seus pais apareceram na sala desesperados. Olivia correu em direção ao filho e o abraçou. O homem mais alto arrancou a mulher dos braços do filho, e pressionou o canivete contra o pescoço da moça, enquanto ela se debatia e gritava para pouparem seu filho.

- Não! - o garoto gritou - não mata minha mãe! Por favor! Não mata.

O homem sorriu antes de cortar o pescoço da mulher. Limpou o anel de prata sujo de sangue. Um olhar foi o suficiente e o outro homem destravou a arma em sua mão. O garoto tampou os ouvidos e deixou as lágrimas escorrerem pela face.

- Por favor! - ele implorou - Por favor! Não faz isso! Por favor não faz!

O homem atirou uma única vez. O projétil se alojou no meio da cabeça de Enzo.

Quando o garoto percebeu era tarde demais. Não teve tempo nem de se despedir dos pais.

*****

Ele não era assim desde sempre. Ele sabia quando começou a praticar as ações que o levaram àquele caminho sem volta. Tinha consciência de que em algum lugar dentro de si, ainda havia a criança sorridente  que era antes de se tornar o assassino de sangue frio.

Mr. V, como era conhecido, nem se importou com o sangue que manchava suas roupas. Era prazeroso quando se lembrava do líquido jorrando como água do pescoço de mais uma vítima. Ele gargalhou quando se lembrou dos gritos da prostituta.

- Pode levar tudo - ela implorou desesperada - só me deixa ir, por favor!

Ele riu. Fazia muito tempo que aquelas palavras deixaram de fazer sentido para ele. Desde quando ele fez esse mesmo pedido, mas mesmo assim viu seus pais serem brutalmente assassinados por mercenários.

Ele puxou a mini saia da moça com força. A calcinha se rasgou no ato. Era engraçado como ela tentava esconder sua partes íntimas com as mãos, como se ele estivesse interessado. Ele quis gargalhar.

- Por favor! - ela chorava implorando para não ser violentada daquela maneira - me deixa ir embora. Fique com tudo. Por favor!

- Não vou perder meu tempo tentando explicar que tenho nojo disso que você tem entre as pernas - ele disse friamente - vamos acabar logo com isso.

Foi a última coisa que ela escutou antes de ter seu pescoço perfurado pelo canivete. Ele se foi quando ela parou de se debater.

- Não vai mais abusar dos filhos, vadia - ele falou para o corpo sem vida - eles vão ficar muito melhores sem você.

No dia seguinte os jornais noticiariam a morte de Valentina Sandy. A prostituta que obrigava os filhos a venderem seu próprios corpos para que ela comprasse drogas.

No canto de um bar, agora Mr. V. via o telejornal noticiar mais uma morte. Ele sorriu pelo trabalho bem feito. Estava ali naquele bar para receber o pagamento. Um homem ocupou o banco ao seu lado.

- Cruel, sem piedade. Bom trabalho Mr. V. do jeito que ela merecia - o homem observou.

Mr. V. não respondeu. Ele apenas continuou a beber sua cerveja enquanto recolhia o bolo de notas que o cliente havia deixado sobre o balcão.

E assim terminou mais um dia para ele. Pagou pela bebida e foi em direção a seu apartamento. Dormiu como se nem tivesse acabado de matar alguém.

*****

Bernardo leu a notícia que estampava a capa do jornal naquela manhã. Mais uma morte brutal na noite de New York. Quando aquela violência acabaria? Só faziam três dias que ele havia se mudado para a cidade e já estava cansado das notícias ruins que eram destaque nos jornais.

Estava ali a trabalho. Era diretor executivo em uma empresa de construção civil. Havia ganho a oportunidade apesar de tão jovem, apenas 25 anos. Era seu primeiro dia.

Correu por entre as ruas afim de conseguir um táxi, tarefa que ele descobriu ser difícil no movimento da rua aquela hora da manhã. New York estava acordando a todo pique. Viu um carro parado em um dos pontos. Correu até lá sem olhar para frente. Parou quando esbarrou em alguém.

Era um homem vestido em tons escuros. A calça jeans apertada era preta, usava uma blusa de frio também preta, o gorro o protegia mais da manhã fria da cidade. Bernardo reconheceu aqueles olhos verdes por detrás da expressão cansada do homem.

- Renan! - falou.

Ele tentou segurar o táxi e conversar com o amigo ao mesmo tempo, mas uma mulher ainda mais apressada que ele entrou no veículo.

- Bebê? - Renan perguntou ainda incerto de que aquele era seu amigo de infância.

- Tirando os apelidos infantis, sou eu sim - Bernardo deu um sorriso divertido - aqui e agora pode me chamar de Engenheiro Civil Bernardo Shuez.

Renan sorriu como a muito tempo não fazia. Era seu melhor amigo na sua frente. Era, na verdade, o único amigo verdadeiro que teve em seus poucos anos de vida.

- Agora já perdi o táxi, vou chegar atrasado de qualquer forma - o engenheiro começou a dizer - tem tempo para um café?

*****

Uma parte de Renan quis não ter encontrado com o amigo. Era muito para assimilar. Não se viam há bons 10 anos. Se conheceram ainda na pré escola, se tornaram amigos logo no primeiro dia de aula. E não se separam até quando Bernardo se mudou de cidade aos 14 anos por causa da separação dos pais.

- Então, o que está fazendo aqui na cidade? - Renan viu quando Bernardo abriu um sorriso antes de começar a narrar.

Renan notou as expressões de felicidade que o amigo fez ao contar o quanto lutou por aquela vaga de emprego, disputando com vários engenheiros mais experientes que ele. Renan se sentiu culpado em algum momento. Já pensava na história que inventaria, qual seria o emprego da vez.

A essa hora todos vocês já notaram que no cair da noite Renan Velásquez se tornava o sanguinário Mr. V.

- E você? O que faz da vida? - Shuez perguntou tomando um gole de seu copo de cappuccino.

- Trabalho em uma loja de discos - foi a primeira coisa que lhe veio a cabeça e no fim fez sentido já que sempre sonhou en fazer faculdade de música antes de tudo - Mas não acho que vou ficar muito tempo por lá.

- Você sempre quis isso da vida. - Bernardo começou - não trabalhar em uma loja, mas… Sabe, a música.

- É… - o assunto se encerrou ali. Renan agradeceu por isso. Não gostava de falar de sua vida, não se fosse para dizer para o melhor amigo como sua vida descrevia uma espiral descendente.

- Eu queria ter vindo quando seus pais morreram. Meu pai não deixou - Bernardo disse um tanto encabulado - me desculpa.

- Tudo bem. Admito que você fez falta lá. Mas, eu já superei, não se preocupa com isso - Renan abriu um sorriso.

Olhou para o copo para seu amigo não ver o traço sombrio que seu rosto adquiriu. Havia entrado naquele ramo, se é que podia ser chamado assim, para vingar a morte de seus pais e fazer os homens que os assassinaram sofrerem toda a dor que eles sentiram.

*****

O cair da noite trouxe consigo Mr.. V. A vítima dessa vez era um homem, cabelos grisalhos, 53 anos, diretor da empresa de construção civil mais importante de New York.

- Não deveria ter demitido aquele cara só por um atraso, George Batson - Renan encostou-se no batente da porta do escritório do multi milionário - Ele era o melhor funcionário daqui. Muito melhor que você - sua voz era fria, seus passos sorrateiros. Antes que o mais velho percebesse já tinha uma faca contra sua jugular - Não vai ter a chance de pedir desculpas para ele. Morra sabendo que ninguém, ninguém mexe com o meu Bebê, ok?

O homem assentiu antes de sentir o metal afiado furando sua pele.

Renan queimou as roupas sujas de sangue antes de terminar aquela noite. Se dirigiu até o endereço anotado em um guardanapo que estava em seu bolso. Havia respingo vermelhos no papel e não estava mais em sua jaqueta. Ele ignorou aquele detalhe, e foi para o endereço do amigo.

- Oi - ele colocou um sorriso bonito no rosto - desculpa por ter te atrasado de manhã.  Você foi demitido por minha causa.

- Não mesmo - Bernardo deu de ombros abrindo a porta para o amigo entrar - o Batson não gostava tanto de eu ter conseguido a vaga. Só estava esperando uma oportunidade para me demitir. Só não achei que seria tão rápido.

Renan quis chegar mais perto de Bernardo. Ficou com medo de o fazer. Fazia tempo que ele ele não sentia medo, nem a morte ele temia mais. E mesmo assim, não conseguiu controlar a ansiedade perto do melhor amigo, perto do homem que era dono de seus melhores sentimentos.

- Esse deve ser um assunto difícil para você, mas meu pai não deixou, como eu já disse. Ele me proibiu de falar com você desde… Ah, você sabe.

- Desde que eu disse que gostava de você - Renan suspirou desanimado - já imaginava que seria esse o motivo de você ter ido embora.

Bernardo tomou a iniciativa que Renan não teve coragem. Andou até ficar de frente para o amigo. Continuava mais baixo, mas não se importou. Na verdade gostava de sumir por entre os braços do melhor amigo.

- Ele me fez morar com ele, porque pensou que me afastando de você podia fazer meus sentimentos desaparecerem.

- E não deu certo, porque nós somos feitos um para o outro - Renan nem parecia o mesmo homem frio que assassinou alguém algumas horas antes.

- Acho que somos.

O primeiro encontro foi o de olhares, o segundo foram de lábios. Só quem passa muito tempo desejando algo sabe o sentimento que o domina quando faz sua conquista. Bernardo era muito mais que um prêmio para Renan, era seu melhor amigo, o único amor de sua vida. Isso devia contar como importante, já que em meio a tanta sede de matar, de vingança, Bernardo despertou nele uma vontade intensa de cuidar, de amar.

Deitaram no sofá ainda com lábios grudados e línguas disputando espaço. Ofegantes, reclamaram simultaneamente quando precisaram de ar.

- Meus pais deixaram uma herança. Não precisa ir embora agora que está sem emprego. Fica comigo, enquanto não se ajeita novamente - o assassino deixou um beijo morrer na pele do pescoço do amigo enquanto esperava por uma resposta que não veio - Bebê? - ele insistiu.

- Não sei se posso - Bernardo desviou o convite - eu não quero abusar de você ou da sua hospitalidade.

Renan levantou o olhar para encarar o homem sob si. Aquele olhar que, geralmente, despertava o medo de quem o encontrava, só demonstrava amor naquele momento. Um amor envolto em saudade, amor que resistiu em meio a tantos sentimentos ruins, devastadores no coração do assassino.

- No dia em que contei que estava apaixonado, queria te pedir em namoro. - ele disse e soltou uma risada baixa - não me julgue! Eu tinha 14 anos! E ia fazer a maior loucura da minha vida! Enfim, Bebê, eu ainda te amo. Nunca deixei de amar. E se tem alguém que pode consertar a minha vida, esse alguém é você. Então fica comigo? Por favor, não vai embora de novo!

Renan não implorava algo a 10 anos, desde a morte de seus pais. Prometeu a si mesmo que não se humilharia para mais ninguém do jeito que fez naquele dia, mas agora estava ali, implorando para Bernardo ficar em sua vida, para não o abandonar novamente.

O engenheiro desarmou todas as desculpas que já tinha ensaiado. Havia chorado como uma criança quando seu pai o levou para San Diego. Nunca fez amigos na cidade nova, passou um ensino médio solitário. Agradeceu aos céus quando tudo acabou. Entrou para a faculdade de engenharia e só ali fez alguns poucos amigos. Mas, apesar de não estar mais sozinho, nunca conseguiu esquecer o melhor amigo de infância.

- Eu… Eu fico - disse abrindo um sorriso - Eu fico com você. Chega de ficar tão longe.

Os lábios se encontraram com delicadeza. Renan quase chorava de felicidade. Mr. V. rolaria os olhos se o visse naquela cena, se visse os sentimentos expostos naquele beijo. Tirou sua própria camisa revelando um peitoral liso que Bernardo não resistiu em acariciar. Repetiu o ato com a camisa do namorado e foi a sua vez de admirar o corpo sob o seu.

As calças tiveram o mesmo destino, junto com suas boxers. Os corpos nus conversavam mutuamente. As palavras não conseguiriam demonstrar tudo o que se passava na cabeça e no coração deles.

Bernardo fechou os olhos e suspirou quando a boca do namorado atingiu seu pescoço. Renan deixou um beijo ali antes de puxar a pele por entre os dentes. Os sons do sexo saiam involuntariamente da boca do engenheiro. Principalmente quando a tortura em seu pescoço foi acompanhada de uma carícia pelos músculos do peito. Uma das mãos de Renan desceram pela região até chegar na ereção do parceiro. Bernardo não segurou os gemidos na garganta. E aquele som era muito melhor do que os gritos das vítimas para Mr. V.

Bernardo quis dar o mesmo prazer que sentia ao namorado, mas foi impedido.

- Deixa eu te fazer feliz hoje? Me deixa te dar o prazer que eu sempre quis? - pediu entre suspiros de prazer. Estava quase gozando só de ver o prazer estampado no rosto do homem que amava.

Parou aquelas carícias no pênis do namorado. Se separou do corpo mas imediatamente quis voltar, eram atraídos como imã. Pegou um preservativo na gaveta da cômoda e vestiu em si mesmo. Se deitou sobre o corpo de Bernardo capturando os lábios do namorado. Penetrou o corpo do namorado com carinho e atenção. Não queria lhe causar dor. Beijou cada pele exposta no rosto de Bernardo enquanto esperava que Bernardo se acostumasse com o volume em si.

Bernardo quase gritou de prazer ao sentir os movimentos em si. Eram devagar e profundos. Era como se Renan quisesse eternizar o momento.

- Bebê, eu sempre amei você - disse o maior entre as enterradas - você foi o único que eu amei.

Bernardo sorriu. Mordeu os lábios em seguida para abafar um gemido.

- Eu nunca parei de pensar em você - Bernardo disse juntando sua testa a do namorado - sempre amei você. Se tivesse me pedido em namoro naquela época, eu teria aceitado sem pensar duas vezes.

Renan sentiu aquelas palavras aquecerem seu coração e seu corpo. Seu corpo explodiu em êxtase, gozando dentro do corpo do namorado.

Bernardo gozou em seguida, sujando o abdômen de ambos. Renan se sentiu melhor do que quando se sujava com o sangue de suas vítimas.

A noite se estendeu, e pela primeira vez, em muito tempo, Renan não precisou estar na pele de Mr. V. para se sentir bem. Estava bem melhor sendo apenas Renan Velásquez, namorado de Bernardo Shuez.

*****
- Que horror! - Bernardo deixou morrer na garganta um grito - Batson foi encontrado morto a sangue frio em sua sala hoje pela manhã.

- Era para você estar feliz - Renan disse se virando para a pia, evitando o olhar assustado do namorado - ele te fez tão mal. Tirou de você o emprego que sempre sonhou por motivos tão fúteis e ridículos. Só por inveja, só porque você conquistou tudo o que ele queria e tem só a metade da idade dele.

- Ele não merecia morrer assim. Ninguém merece, por mais ruim que ela possa ser - Bernardo disse com ar sonhador - Não vamos combater injustiça com injustiça, ou estaremos tão errados como quem nos machucou.

Renan não respondeu. Pensava bem diferente do namorado. Ele podia ter se tornado um bom homem e perdoado os homens que invadiram sua casa e cortaram o pescoço de sua mãe na sua frente? Podia perdoar o parceiro daquele homem, que assassinou seu pai com um tiro no meio do crânio? Podia perdoar alguém que destruiu sua família e não deixou tempo nem para um último “Eu te amo”? Não, não podia.

- De qualquer maneira, me ligaram, dizendo que se eu quiser o emprego de novo, ele é meu - Bernardo disse feliz e Renan se virou para ver aquele bonito sorriso que enfeitou o rosto de seu Bebê - não posso deixar que isso tudo acabe com meus sonhos, não é mesmo?

Renan largou a louça e com as mãos cheias de espuma pegou a lateral do rosto do namorado e deu-lhe um selinho demorado.

- Eu te amo, tanto, Bebê.

*****

- Velásquez, tenho informações do seu interesse - a voz cortante disse do outro lado da linha.

- Charlie, sabe que odeio quando enrola. Seja direto, não me encha a paciência! - exigiu Renan.

- Os dois que você busca estão na cidade - Renan parou de afiar a lâmina do canivete e colocou sua total atenção na conversa - foram vistos no subúrbio, é território deles. Terá de ser rápido.

- Vou ser, Charlie. Rápido e cruel, como eles foram com os meus pais - Renan disse amargurado - um ótimo encerramento das atividades.

- Vai se aposentar do ramo? - Charlie inquiriu.

- Encontrei um motivo para ser um homem bom, agora - Renan não impediu que um sorriso apaixonado aparecesse em sua face.

- Tudo bem, garoto, te mantenho informado.

Quando Charlie desligou o telefone, Renan já tinha arquitetado diversos planos. Um era mais sádico que o outro.

A noite o trouxe de volta a pele de Mr.. V. Dessa vez não haveria preparo, apesar de tudo que havia pensado, não haveria planos. Os homens morreriam antes de ter a chance de implorar por suas vidas. Ele entrou no bar carregando nada mais que uma arma e um canivete. Sentou em um banco no balcão vendo aqueles bêbados rindo alto. Ele tinha um sorriso sádico no rosto.

Seu celular anunciou uma nova mensagem. “Vou dormir aqui hoje. Amanhã você vem me ajudar com as malas, Amor?”. Mr. V. respondeu a mensagem resistindo ao impulso de largar tudo e ir dormir com seu Bebê.

- É o último trabalho, Bebê - ele falou para si mesmo - prometo que vou ser alguém que você mereça a partir de hoje.

Guardou o celular e voltou sua atenção a cerveja. Antes que pudesse pegá-la, a garrafa foi derrubada por uma mão calejada. Renan apenas sorriu ao reconhecer o anel de prata que ornamentava o dedo do homem.

- Nunca te vi aqui, rapaz - o homem observou - o que quer na minha área? 

- Sua vida.

Os homens no bar gargalharam. Steve era o dobro de tamanho do garoto, tinha uma arma apontada para a cabeça do mais novo e o intruso ainda tinha coragem para ameaças.

- Eu consigo pegar o canivete no meu bolso e te matar antes que consiga atirar - Mr. V. disse calmo, baixo e frio - eu não sou mais a criança assustada que implorou pela vida dos pais.

- Quem eram os vagabundos dos seus pais? Me diz como foi que eu matei seus pais vadios - Steve disse com escárnio.

Isso foi o suficiente para Renan se enfurecer. Seus pais não eram vagabundos, eram os melhores jornalistas do mundo e morreram por que homens vadios como Steve tiveram seus crimes revelados nas reportagens dos dois.

Antes que o homem esperasse, Renan deu um tapa na arma antes apontada para sua cabeça. No momento de distração do homem, tirou seu canivete do bolso e pulou sobre o pescoço do traficante. Sentiu as armas dos outros bandidos apontadas para si, mas não era como se não estivessem interessados na morte do líder . Renan enfiou minimamente a lâmina no pescoço do homem e falou em seu ouvido:

- Olivia Velásquez, a mulher que você assassinou como um animal. Lembra de seu canivete cortando o pescoço dela? - A lâmina afundou mais - pois eu lembro.

Antes que houvesse resistência à jugular de Steve tinha sido perfurada e sangue molhava o chão de madeira do bar enquanto o homem se debatia. Renan viu sorrindo um dos assassinos de sua família morrer. Era a vez do outro.

Olhou em volta procurando o outro rosto que estragou sua vida. Encontrou o bêbado deitado em uma das mesas, alheio a morte do parceiro. Andou até lá sem se importar com os olhares que recebia, alguns de aprovação outros de medo.

- Seu bêbado, seu merda - ele levantou a cabeça do homem com brutalidade e atirou antes que o homem percebesse - Enzo Velásquez não merecia morrer daquele jeito.

E saiu do bar vingado. Mas não se sentiu melhor. A palavras de Bernardo martelavam em sua cabeça. “Não vamos combater injustiça com injustiça, ou estaremos tão errados como quem nos machucou.”. Bernardo o odiaria se soubesse o que havia acontecido ali. Não podia perder seu amor por um plano de vingança.

Encostou-se na parede mais próxima. Suas roupas molhadas de sangue sujaram ainda mais pela lama do beco sujo. Ligou para o namorado em desespero.

- Oi Amor - uma voz sonolenta atendeu. Renan podia imaginar o sorriso de Bernardo e isso o fez ficar pior. Seu Bebê não merecia estar com o monstro que Mr. V. era.

- Me perdoa, Bebê - pediu - eu vou ser um homem para você, eu prometo. Um homem de verdade. Vou fazer o certo dessa vez, eu juro, Amor. - disse sem dar tempo de Bernardo entender algo.

- Renan, Amor, o que está acontec… - Bernardo foi interrompido.

- Me perdoa, meu Amor? Diz que me perdoa? Só diz isso, por favor - As lágrimas atrapalhavam o ato de falar e ele chorou ainda mais.

- Perdoar pelo que? - Era Bernardo quem se desesperava - O que ‘tá acontecendo, Amor?

Renan não pôde responder.

- Renan Velásquez, você está preso pelo assassinato de Valentina Sandy, George Batson, Steve Preston e Rufus Drake. - um policial invadiu o beco com a arma apontada para si - deixe as armas no chão, levante as mãos e saia de onde está. Você tem direito a um advogado e...

Bernardo deixou o celular cair antes de terminar de escutar a prisão. Chorou como nunca havia feito antes.

- Eu perdôo, Amor - disse abatido antes de ser levado pelo cansaço.

*****

Faziam dez anos que estava ali. A cela cheia, os homens amontoados sobre as partes vazias do chão. Essa foi a realidade dele por longos dez anos de pena.

Ele não precisou de muito espaço. Não conseguia dormir. Era o dia da visita, mas era nesse dia que completaria o último dos dias a que foi condenado na prisão.

Nesses dez anos de prisão, Renan recebeu apenas uma visita. Bernardo vinha rigorosamente todos os sábados para ficar pelo menos aquelas duas horas com seu noivo. Noivo porque quando cinco anos já haviam passado o engenheiro trouxe um anel de noivado. E se casariam quando os dez anos, três meses e doze dias de pena acabassem.

Ambos tinham mudado muito nesse tempo. Bernardo trabalhava no mesmo cargo que Batson deixou vago quando foi assassinado. Renan havia conseguido alguns benefícios por bom comportamento e havia terminado a faculdade de música que sempre sonhou em fazer. Montaria sua própria loja de discos quando saísse da prisão e faria uma escola de música para crianças carentes como serviço comunitário, o que fazia parte da pena a que foi condenado.

A aparência também havia amadurecido para os dois. Renan estava mais forte pelos trabalhos da prisão, além da expressão mais calma do que tinha dez anos antes. Bernardo continuava alegre como sempre foi. Estava mais feliz, apesar de tudo. Finalmente via nos olhos de Renan o adolescente feliz por quem se apaixonou 20 anos antes.

- Eu te amo, Bebê - Renan havia dito na primeira semana de prisão - me perdoa por isso, me perdoa por tudo aquilo. Eu queria ser alguém bom pra você. Vou pagar por cada pessoa que matei e depois eu juro, meu amor, que vou fazer tudo que é certo.

Bernardo segurou as mãos do namorado e sorriu. Renan não entendeu o porque daquilo, não esperava que seu bondoso namorado entendesse tão bem o que se passava com ele.

- Eu não vim para New York só por causa do emprego - ele falou - por isso também, mas foi por sua causa. Meu pai é policial, ele sabia dos casos de Mr. V. e chegou chegou a comentar algo sobre isso. E as pessoas morriam do mesmo jeito que seus pais morreram. - ele tomou fôlego antes de continuar - achei que fossem os mesmos homens que mataram seus pais e assim que me formei quis vim para cá. Você precisava de apoio e eu estava te devendo isso. Quando nos encontramos na rua, você parecia tão diferente do garoto alegre por quem eu me apaixonei. E eu quis muito te fazer feliz novamente.

- Você fez - Renan disse envergonhado. Não por dizer aquilo, vergonha de ser quem ele era, vergonha de tudo que fez. - você é bom demais para mim.

- Não diz isso. Foi você quem me fez mais feliz. - Bernardo entrelaçou seus dedos aos do namorado. - Quando fui trabalhar naquele dia, encontrei o guardanapo com o meu endereço na sala do George e foi então que entendi. Você era o Mr. V. E era para eu te odiar e querer me afastar mas eu não consegui. E você me ligou pedindo perdão e eu esqueci completamente a ideia de te deixar. Eu ainda quero te fazer feliz. Nem que para isso eu tenha que vir aqui todos os sábados por dez anos.

- Eu te amo, tanto. - Renan deixou algumas lágrimas emocionadas caírem - eu não mereço seu amor. Eu não mereço alguém como você.

- Azar o seu - Bernardo disse divertido - porque eu não vou embora tão cedo.

Agora faziam dez anos daquela conversa. E Renan estava pronto para deixar Mr. V. para trás e ser apenas ele, noivo e futuro marido do melhor homem que já conheceu.

Foi com um sorriso que ele deixou os portões da penitenciária para trás. Aquilo era passado. O seu futuro estava bem ali, sorrindo feliz e esperando por ele do outro lado da rua.


Notas Finais


E aí?
Até a próxima!
:)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...