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História The last one - Agora é a vez dela de contar


Escrita por: Insolencia

Notas do Autor


Atualizei as capas dos capitulos para as skins de alguns personagens importantes da história, segue o indice
Cap 1 - Franklin
Cap 2 - Lilith
Cap 3 - A profeta
Cap 4 - Rachel
E agora, vamos ao capitulo

Capítulo 4 - Agora é a vez dela de contar


Fanfic / Fanfiction The last one - Agora é a vez dela de contar

~~1 semana antes~~

Sabe aquele dia que tu acorda e já sabe que nem deve sair da cama?! Pois é, foi assim comigo no primeiro dia de aula, se eu tivesse seguido meu instinto... Mas não, claro que não, eu fui pra aula, e pra piorar caiu uma tempestade de raios bem na minha cabeça, claro que isso tudo não seria problema se o panaca do Franklin não tivesse me arrastado pra uma aventura no inferno. Desde que acordei em uma clareira seminua com meu colega de classe minha vida se tornou um caos, para começar, já estou a muitos, muitos dias longe de casa, e eu nem avisei minha mãe que ia sair, ela deve tá muito louca atrás de mim, além disso, eu descobri que não vou voltar pra casa muito cedo, por que, pelo jeito, o que aconteceu conosco (eu e o Franklin) foi uma viagem pra outra dimensão, isso mesmo, e imaginem, eu nem trouxe outra roupa, e cá entre nós, eles não tem nenhum senso de moda nesse país, as mulheres só usam vestido, e quando usam outras coisas são armaduras, SIM, em algum lugar do cérebro de batata das pessoas daqui parecia provável que mulheres usassem armaduras, onde já se viu, moças são delicadas, armadura é coisa de guerreiro, e ser guerreiro é coisa de homem. De qualquer forma eu demorei, mas consegui costurar uma roupa para mim foi difícil e demorado, demorei mais ainda por que consertei as roupas do Franklin que estavam piores que os trapos que mendigos vestem, tive que costurar a mão, achei que não ia ter tempo de terminar e teria que sair com o Franklin na jornada dele com esses trapos que me deram, também me disseram para esperar que ele voltasse da missão no castelo. N – E – M P – E – N – S – A – R, não vou ficar sozinha enquanto ele fica pagando a de herói por aí, só por que me salvou uma... digo, duas vezes, já acha que é alguém, bem capaz, além disso, ele ainda teve a audácia de desmaiar, e pior, a Lilith me contou que ele desmaiou em uma batalha para salvar a cidade inteira, aí é o fim da picada, não tem o que fazer, sou obrigada a dar um crédito pra ele e admitir, sempre achei que ele fosse um babaca mas ele tem sim algumas características boas, é um pouco forte, até que bonitinho (mais do que eu me lembrava da escola) e se sacrifica pelos outros, é uma coisa bonita de se fazer, e foi graças a isso, vendo todas essas coisas acontecerem na minha frente que eu descobri que talvez cair aqui nessa pocilga (Edron) não tenha sido culpa do próprio Frank, talvez o destino tenha me trazido aqui, talvez haja algo que eu possa fazer para ajudar ele.

Levantei em meio aos meus pensamentos e coloquei minha nova roupa, blusa branca de pano de lã fina, e um shorts de linho que ficava um pouco apertado, afinal eu tinha errado na costura, dei uma última olhada no Franklin, já fazia 1 dia inteiro que ele estava desmaiado, no início eu fiquei preocupada com ele por que se ele morrer, só deus sabe como eu faria pra voltar pra casa, porém com o tempo passando eu comecei a me sentir mal por ele, ele não queria estar aqui também, eu sei disso, e mesmo assim, ele aceitou o que aconteceu e aceitou a realidade, mais que isso, começou a se sacrificar para ajudar um monte de gente que ele não conhece. Lilith me disse que ele podia acordar a qualquer momento, então seria bom ter alguém do lado dele, com as pancadas que tomou talvez acordasse confuso, então eu poderia ajudar estando ali dormindo ao seu lado. Abri a porta e fui para a sala onde nós tomávamos café, ela ficava em uma das portas que se encontravam no salão principal, entrei e como era normal Lilith já estava ali, sentei perto dela e comecei a me servir

- Bom dia – Ela disse

- Bom dia – Respondi

Coloquei em minha frente um grande pedaço de bolo de unmiar que é uma fruta natural de Edron, é muito parecido com uma mistura de morango e laranja, pode não parecer, mas o gosto é ótimo, e também, fica ainda melhor com a cobertura feita de sei lá o que, que eles colocam, também me servi de leite (me pergunto sempre de onde vem esse leite, será que é de vaca?) E café, logo comecei a comer, quando decidi perguntar sobre aquilo que não saia da minha cabeça.

- Lilith – Chamei

- Hum? – Ela perguntou

- Sabe, eu estive pensando, O Franklin está dando duro para treinar e se preparar ir atrás daquela bruxa má

- Sim – Ela respondeu

- E bom... Como você sabe, eu vou junto quando ele for atrás dela para derrota-la

- Eu não concordei com isso. – Ela disse com uma voz dura enquanto olhava para a fruta que comia em sua mão

- Mas eu vou. – Tentei falar isso o mais obstinadamente possível para que ela entendesse que eu estava muito determinada a ir. – E gostaria de não ser só um peso. – Logo que terminei de falar ela me olhou, sua expressão mudou, ela pareceu ficar interessada no que eu dizia

- E o que pretende fazer quanto a isso? – Ela perguntou – Pois atualmente um peso é tudo que você é, só vai atrapalhar em uma luta

- Ei! – Me senti ofendida, mas infelizmente não podia contestar, a única batalha que estive perto eu acabei fazendo com que ela gastasse a última poção que tinha.

- Pois então, o que fará? – Ela perguntou novamente logo após dar a última mordida na fruta e jogar o bagaço fora, parecia uma tangerina, porém era de cor azul, já tinha visto antes na fruteira da cidade quando à acompanhei nas compras alguns dias atrás, mas o nome me fugiu a cabeça

- Me pergunto se você não poderia me treinar também. – Falei de forma sugestiva pra tentar manipular ela a aceitar.

- Há, Haha, não! Claro que não – Ela disse rindo da minha cara – Você não tem o que é necessário para ser uma guerreira.

- Você não me conhece! – Exclamei – Não sabe nada sobre mim, como pode dizer que eu não tenho o que precisa?

- Você é flácida – Desgraçada, quem ela pensa que é pra me chamar de flácida? Eu faço academia.

- Flácida?! – Tentei falar no tom mais sarcástico possível pra que ela entendesse muito bem que eu não tinha gostado daquilo

- É.

- Vadia. – Falei

- E também é infantil. – Ela completou

- Certo, então se não quer me ajudar eu vou continuar sendo uma inútil e talvez vocês nunca sejam salvos. – Tentei apelar, usando o maior medo dela, eu já havia notado, Franklin era sua última esperança, se ele não conseguisse salvar Edron, talvez ninguém conseguisse.

- Não vou te treinar. – Ela respondeu

- Então tá. – Peguei o meu bolo e meu café e sai marchando pela sala.

- Espera! – Ela mandou

- O que é? – Falei irritada.

- Eu disse que você não tem o que é necessário pra ser uma guerreira, mas isso não significa que não há nada que você possa fazer para ajudar. – Enquanto falava ela se levantava da cadeira para vir em minha direção, pelas janelas o sol iluminava seu corpo de forma que deixava bem claro o que é preciso para lutar em batalha como uma guerreira, mesmo que eu fosse à academia todos os dias não tinha como eu atingir aquele corpo, suas pernas eram grandes e torneadas, seus braços eram fortes, ela parecia ter um corpo feito para o campo de guerra. Caminhou até mim e falou

- Existem formas mais fáceis de batalhar. – Indagou orgulhosa

- Como assim?

- Venha, vou te mostrar.

Terminei de comer o meu pedaço de bolo e fui seguindo ela pelo castelo bebendo o café, logo entendi para onde íamos, ela estava me guiando para a sala onde ficava uma moça usuária de drogas que encontramos no primeiro dia que chegamos à cidade, não perguntei por que ela me levava até lá, somente a segui, quando chegamos ela abriu a porta sem pestaneio e me puxou para dentro. O quarto estava praticamente igual a primeira vez que entramos, exceto por que agora não estava coberto de fumaça e ela, a dona do quarto, vestia uma roupa diferente, é incrível como ela a única pessoa até agora que parece saber escolher uma roupa, ela estava usando uma blusa azul bem escuro, como a noite, com strass no peito e uma saia preta bem leve de tamanho que ia até os joelhos.

- Como posso ajudar? – O tom de voz dela era extremamente relaxante, enquanto falava ela se encontrava sentada na borda da cama com um grande livro de capa vermelha em mãos, a capa tinha desenhos de cobras e letras que eu não conhecia, todos dispostos formando uma confusa junção de arte com conteúdo.

- Esta garota. – Começou a explicar Lilith – É companheira do herói.

- Entendo. – Respondeu a profetiza

- E ela gostaria de ajudar em sua jornada. – Continuou

- Certamente.

- Eu gostaria... – Lilith parou por alguns segundos, parecia que ela estava tomando cuidado nas palavras, como se tivesse medo de ser entendida errado. – Gostaria que você ensinasse magia a ela.

- Magia?! – Confirmou com um tom de voz confuso a moça na cama.

- É! Magia, eu ensinaria ela a lutar, porém ela não tem o porte necessário, mal deve conseguir uma espada, e é toda desengonçada.

- Hei! – Protestei, mas não adiantou nada, fui ignorada.

- Nosso herói está enfrentando uma barra pesada, magia forte está entrando no castelo. – Ela contou, o que fez Lilith franzir o cenho temerosa.

- Ele corre perigo? – Ela perguntou

- Nenhum! Mas tenho medo que a Rainha o Influencie com suas magias. – Enquanto explicava ela fechou o seu livro e o pôs de lado na cama, levantou-se e veio até nós. – Então você quer aprender os caminhos da feitiçaria? – Ela me perguntou.

- Se for uma maneira de ajudar o Franklin a me tirar daqui, quero sim!

- Você deve entender que não é uma arte simples, alguns não conseguem dominar nem em 100 anos.

- Tem algum jeito mais fácil? – Perguntei, é claro que perguntaria, imagina, eu tenho apenas alguns dias para aprender e ela quer me ensinar algo que pode levar anos, falta de visão estratégica da parte dela.

- Não! – Lilith respondeu com uma voz séria me fazendo entender que ou era aquilo, ou eu teria que ficar no castelo torcendo por sua vitória.

- Então quero. – Defini.

- Certo. – Disse Lilith – Vou deixar vocês duas sozinhas, caso precisem de mim, mandem um mordomo me encontrar. Logo depois de falar isso ela se retirou, levaram alguns segundos de silêncio até eu dizer a primeira coisa.

- Então? Como vai ser?

- Venha comigo.

No que se sucedeu, ela me levou para o pátio onde começou a me ensinar as artes mágicas, devo ressaltar que era particularmente difícil e depressivo aprender magia, pra começar, era tão difícil que nos 2 primeiros dias eu tive que ficar apenas escutando ela falar sobre conceitos e como funcionava para controlar a energia que ela chamava de Mantra, seria mais rápido se eu não fizesse uma enxurrada de perguntas a cada frase que ela falava, mas é claro, também seria menos efetivo, depois de entender o Mantra que é algo muito difícil principalmente por que ele não é nada, e é tudo ao mesmo tempo, (basicamente pra explicar rapidamente pra vocês, o Mantra seria como uma energia que mantem tudo no universo ligado, ele não é feito de matéria, nem de nenhuma partícula conhecida, ele não é tocável, ou visível, mas está em todas as coisas, e afeta/é afetado por elas, ou seja, através dele [que não é nada que exista até que seja usado por algum feiticeiro] é possível criar ou alterar coisas que de fato existem, se achou complicado, isso é por que você ainda não se aprofundou no assunto pra ver que tudo fica tão imensuravelmente complexo que depois de um tempo parece mais fácil passar um leão por uma fechadura do que manipular tão energia...) Continuando, Depois de entender o Mantra vem a parte depressiva, tentar controlar ele, ela me explicou que em sua forma natural, quando eu tivesse sucesso o mantra ia se mostrar como uma chama, e seu tamanho ou calor iria variar da minha habilidade natural em controlar ele, nos três primeiros dias tentando sob sua tutela eu não tive NENHUM resultado, nenhum mesmo, nada, nadinha, era como ficar olhando pra minha mão esperando ela pegar fogo em Nova Iorque, nada acontecia, porém, foi logo no quarto dia tentando que eu pude perceber que estava fazendo algo errado, não estava determinada o suficiente, a profeta me explicou que o Mantra depende muito da vontade do usuário, ele é manipulado através do poder da nossa consciência em relação ao universo, se eu não tivesse uma força de vontade enorme eu nunca conseguiria ativar ele, então no quarto dia, cheia de determinação eu majestosamente repeti o meu feito e não alcancei nenhum resultado. Viu por que eu disse que é muito depressivo? É Como tentar passar no vestibular 3 anos seguidos e reprovar em todos, você tenta, tenta, tenta pra no final decidir desistir e aceitar que é impossível, certo, certo, eu estava recém começando o treinamento, desistir agora seria ridículo da minha parte, mas queria ver vocês esperando magia acontecer, não é nada legal, então mais um dia passou, assim como tinha virado rotina, logo de manhã após o café eu deveria me dirigir ao quarto da sacerdotisa, para então receber minhas lições, entrei lá sem bater como ela já me havia instruído a fazer e me sentei a cama, ela ainda estava dormindo, e já tinha me explicado para nunca acorda-la e quando chegasse cedo começar a praticar antes mesmo dela se levantar.

Fiquei pensando sobre o quanto aquela cama era maior que a que eu e o Franklin estávamos dormindo, e quando lembrei do Franklin notei que já fazia quase uma semana que ele estava desmaiado, ou em coma, não sei diferenciar, aquilo já estava me deixando preocupada, e se ele nunca acordasse?! Não é nem só a questão de não voltar pra casa, mas sim que ele era um bom garoto, totalmente pervertido, mas um bom garoto. Não merecia ficar naquelas condições, será que ele ia voltar a acordar? Bom, de qualquer forma, decidi que esperar sentada seria ainda pior do que esperar treinando, então comecei a praticar, seguindo o que ela havia me explicado, eu deveria imaginar que meu corpo e minha mente estão diretamente ligados ao universo inteiro, ela também me disse que no início seria mais fácil fazer isso de olhos fechados, imaginando que a escuridão que eu iria ver era o universo e que minha consciência estava fora de todo aquele espaço, então, quando eu tivesse pleno conhecimento de que eu e o universo dependíamos mutuamente um do outro, eu deveria sentir sua energia e mover ela através do meu corpo de forma sutil, essa era a parte onde a coisa ficava complicada, eu de fato já era capaz de sentir o mantra quando concentrada, porém era tão, mas tão sutil que era muito difícil saber se eu estava sentindo o mantra ou não, então eu nunca sabia quando era a hora de tentar controla-lo e quando era hora de me concentrar ainda mais.

Com os olhos fechados eu pude sentir algo em meu corpo, era a energia do universo, eu tinha certeza dessa vez, concentrei minha força em mover essa sensação pelo meu corpo, movi ela para baixo, concentrando nas minhas pernas, depois movi ela para cima em meu peito, estava tendo bons resultados, então movi ela novamente pra baixo e pra cima para fixar esse movimento em meu corpo, tentei mover para um braço, mas o anseio por levar ela até minha mão me fez perder o foco e a sensação foi se esvaindo, retornei ela para meu tronco, desci e subi mais algumas vezes, a profeta tinha me explicado que é apenas através da mão de um feiticeiro que o Mantra se torna real, e que só era possível lançar feitiços através das mãos, então sempre que eu chegava nessa etapa eu acabava ficando nervosa e perdendo a concentração e tendo que voltar ao começo. Levei a energia para o braço, senti o poder que aquilo tinha pela primeira vez, minha mão começou a formigar muito antes de eu ter guiado a energia até ela, fiz tudo em um movimento rápido, imaginei o mantra tomando sua forma em minha mão, e o fogo queimando em meus dedos, senti o universo se curvando a minha vontade e a mão ficando dormente, senti também a energia de tudo que era vivo ao meu redor em uma área bem grande, senti as pessoas andando na cidade, senti animais na floresta, senti a floresta, os mordomos no castelo, senti Franklin dormindo em seu quarto e senti animais em baixo da terra, senti uma fruta sendo arrancada de uma arvore e um gato caçando um rato, naquele momento fui enchida de sensações e meus sentidos ficaram confusos, era muito para se perceber, muito para assimilar ao mesmo tempo.

- Muito bem! – Ouvi a calma voz da profeta ao um pouco atrás de mim na cama. Se sua voz não fosse tão pacifica eu teria tomado um susto que me tiraria do chão, talvez até um ataque cardíaco.

- O que? – Perguntei abrindo os olhos, pude ver em minha mão logo na minha frente uma energia alaranjada se esvaindo rapidamente enquanto eu desembaraçava a visão.

- Você conseguiu trazer vida a sua energia. – Ela disse

- Sério?! – Eu estava meio confusa, apesar de parecer obvio, no momento em que eu tinha sintonizado com todas aquelas sensações eu tinha até mesmo esquecido do mantra, foi uma coisa tão estranha que eu mal tinha percebido que tinha conseguido ativar a chama em minhas mãos. – Eu consegui? – Logo já fui tomando um tom comemorativo, afinal eu finalmente tinha dado o primeiro passo para usar magia, uma ideia que eu acho que tinha aceitado rápido demais graças ao Franklin que tinha me ensinado uma filosofia muito importante para vivermos o que estávamos vivendo. “Segue a onda”.

- Sim, muito bem Rachel. – Só quando ela disse isso eu notei que ainda não sabia o nome dela.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Claro minha bela aprendiz.

- Qual seu nome? – Ela fez uma expressão confusa, e acreditem ou não, começou a pensar com uma clara expressão de quem tenta lembrar de algo, como alguém pode não lembrar o próprio nome?

- Sou Venília. – Ela respondeu – Mas por que perguntas?

- Afinal, eu convivo com você, é estranho que nem saiba o seu nome.

- Ah, mas não se preocupe, eu não gosto que me chamem assim, prefiro que se refira a mim como profeta ou sacerdotisa, meu nome traz más lembranças. – Ela falou isso com um tamanho pesar que decidi não perguntar sobre o que se tratava.

- E então? Como me sai? – Perguntei mudando de assunto, finalmente tinha conseguido resultados em minha magia.

- Foi estupendo! – Ela falou com um animo que eu nunca tinha visto em usa voz, agora ela havia vindo até meu lado para se sentar, pude notar pequenas olheiras em seus olhos contrastando com sua empolgação clara.

- E então? O que eu faço agora?

- Repita! Não é tão fácil, tem que praticar até isso se tornar comum. – Enquanto falava seus olhos corriam pelo quarto como se seguissem um gato brincando com uma bolinha. – Precisa aprender a fazer isso a qualquer instante, inclusive quando a pressão for tanta que ou você consegue, ou você morre.

- Parece difícil!

- E é.

Voltei a praticar, e naquele dia, só voltei a ter sucesso muitas horas mais tarde, depois do almoço, e novamente aquela massa de sensações caiu sobre mim, a confusão novamente tirou meu foco, dessa vez, fui capaz de sentir os rios se movendo e os peixes dentro deles nadando contra a correnteza, senti vagalumes em uma caverna e esquilos nas arvores, tudo que fazia parte da natureza parecia também fazer parte de mim, infelizmente não durou mais do que 5 segundos. Após o treino eu estava cansada, diferente dos outros dias, hoje eu havia tido sucesso, e só consegui notar o quanto produzir o mantra era cansativo quando a profeta me perguntou se eu não estava com fome, chequei meu estomago e estava vazio, chequei minhas reservas de energia e elas estavam baixas, chequei minha bexiga e notei que queria ir ao banheiro, fui ao banheiro, depois ao jantar, depois ao banho e por último ao quarto, caí no sono estupidamente rápido.

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No meu sonho eu estava em um vale, duas montanhas cheias de grama verde escalavam em direção aos céus ao meu redor, o sol iluminava a paisagem de uma forma particularmente bonita, sua luz batia no chão com calma, leve como o pousar de uma pomba, algumas arvores cresciam nas montanhas, mas em suma sua costa era bem plana, comecei a caminhar subindo uma delas, logo que me aproximei do cume um rugido ensurdecedor ecoou pela natureza. Era um rugido assustador, tão especialmente assustador que até mesmo a grama parecia ter se assustado, o vento estava fugindo de onde vinha o som produzindo uma grande ventania, até mesmo o sol decidiu se esconder atrás de algumas nuvens que antes não estavam ali, o céu rapidamente escureceu, comecei a correr em direção ao cume da montanha, o rugido não se repetiu, porém agora eu podia ouvir o som de espadas trocando ataques, uma chuva lodosa começou a cair, o clima tinha mudado muito rápido e meu corpo parecia ficar pesado, quando cheguei no topo quase caí pra trás, a montanha escondia um cenário assustador, haviam centenas, não... Centenas não, milhares de corpos espalhados, com todos os tipos de armas atravessando eles, alguns empalados por lanças, outros com as cabeças separadas, mais ao longe uma batalha acontecia, guerreiros lutavam. Haviam apenas 6 de um lado, avançando e derrotando centenas de inimigos, os corpos dos derrotados deixavam fluir o sangue para fora criando uma paisagem amedrontadora, todo aquele sangue começou a crescer, formando uma grande poça, os lutadores pareciam não ver, mas aquela poça começou a se levantar virando um monstro feito de sangue, um monstro muito feio, ele tinha braços largos, e dedos horrendos, seus 9 metros de altura eram o que deixava ele mais horripilante ainda. A chuva caia sobre ele criando pequenas vertentes de vapor gota por gota. Logo que se criou por completo ele se virou para mim, seu rosto era uma das coisas mais absurdamente ridiculamente feias que já vi, ele só tinha um olho e um grande chifre de sangue no meio da testa, sua boca não possuía dentes e seu nariz era enorme, se fosse inclinado para cima seria tão grande quanto seu chifre, ele abriu a boca para mim, o interior parecia um braço negro, não haviam nem dentes nem uma língua, nem uma garganta, apenas um buraco escuro, ele rugiu, um som igual ao que eu tinha escutado antes, meu cabelo ficou tão abalado com aquele som que os fios se levantaram para tentar fugir da minha cabeça, infelizmente para eles estavam bem presos, estranho eu não ter fugido também, mas de qualquer forma, era bem claro que recuar não ia adiantar em nada, fechei meus olhos para me concentrar, aquele era o momento que a Profeta tinha me dito, era a hora de usar meus poderes, concentrei minhas energias, imaginei minha consciência acima dos poderes do universo, e quando fui tentar dominar seu poder...

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Acordei.

Levantei meu corpo rapidamente, o sonho agitado tinha me feito acordar elétrica, olhei pela janela e pude confirmar que já era manhã, pela escuridão que ainda boiava pelo horizonte não eram nem 7 horas, meu corpo formigava, meus olhos estavam lacrimejando, meus pés estavam gelados e meu pijama medieval suado, peguei minhas roupas (O short, a camisa e minhas roupas intimas) e fui me banhar, logo que sai do quarto e andei pelos corredores do castelo fui capaz de constatar que minhas pernas não estavam me respeitando direito, aquele sonho havia abalado drasticamente meu corpo, minhas energias não tinham se recuperado direito e minha barriga tinha esvaziado, no banho tomei muito cuidado para não demorar, senti que se ficasse muito tempo sozinha corria o risco de desmaiar e não ser salva. Voltei para dentro do castelo já vestida e mandei que um dos mordomos aprontasse o café. Eu já tinha me acostumado com essa coisa de mordomos, eles realmente tornavam a vida difícil daquele lugar em uma bem mais fácil, geralmente sempre que eu dava uma ordem pra um deles eu me sentia uma princesa, e isso era muito intensificado por estar morando em um castelo, fui para a sala onde o café seria servido, impressionante, que essa era a primeira vez que eu chegava aqui antes da Lilith que sempre me aguardava sentada em seu lugar, decidi obedecer minhas vontades e sentei em sua cadeira, era igual as outras, porém ficava na extremidade da mesa, era uma posição de respeito, fiquei brincando ali por alguns minutos fingindo ser uma rainha, qualquer som eu já ficava atenta pra caso fosse Lilith sair logo dali, até que então, sem ruído algum a porta se abriu, dei um pulo pra fora da cadeira, meu coração se acelerou e meu rosto ficou vermelho, para minha surpresa eram apenas os mordomos trazendo o café, pude notar em seus rostos que eles continham o riso em relação ao meu susto, consegui ignorar suas caras patéticas até que eles acabassem de se servir.

Comi um café esplendido naquela manhã, geralmente era comum eu me conter para que a conselheira como Franklin a chamava não pensasse mal de mim, mas algumas especiarias daquela cidade eram muito boas, haviam frutas diferentes, salgados diferentes, pães diferentes e uma coisa que eu não fazia ideia do que era, mas parecia com um limão e tinha um gosto inexplicável, vou resumir em “era docinho”. Terminei meu banquete inquieta, até agora Lilith não havia aparecido e já passava do horário que eu chegava aqui todos os dias, então ela estava muito atrasada, quando eu ia levantar para me retirar do aposento um dos mordomos abriu a porta e me informou

- O senhor Fra... Fran... Fab... – Gaguejou

- Franklin! – Exclamei, já imaginando o que ele ia falar e me dirigindo em direção a porta com passos rápidos

- Isso. O senhor Franklin acordou. – Notificou-me

Me enchi de energia, passei pelo mordomo correndo em direção ao quarto, finalmente ele tinha acordado, e por algum motivo isso me deixava idiotamente feliz, corri pela sala dos tronos e atravessei a porta tão rápido que sua batida contra a porta fez um estrondo tão barulhento que lembrava o raio que nos trouxe até aqui, quando cheguei no corredor que levava ao quarto vi Lilith se aproximando vinda de seus aposentos com um mordomo ao seu lado, parei de correr e passei a caminhar, me senti um pouco embaraçada, mas isso não era importante, Franklin estava bem, havia acordado, uma ótima notícia inflava meu peito, me juntei a ela e ambas entramos no quarto juntas.

Logo que entramos eu o vi ali, escorado contra a cabeceira da cama com o olhar para longe, quando ele notou que tínhamos entrado, o que não demorou nada já que abrimos a porta, e isso faz barulho, ele virou para nós e deu um sorriso, idiota, totalmente idiota, quem sai de um coma e sorri para as pessoas que estavam preocupadas antes de dar alguma explicação? Em contraste com meu pensamento lógico, ver ele ali, sentado e sorrindo para nós, encheu meus olhos de lagrimas, de alguma forma isso tinha me deixado mais feliz do que um menino que ganha uma minimoto com 12 anos de idade, fui até a cama e sentei ao pé.

- Como está? – Lilith perguntou enquanto entrava no quarto, um dos mordomos selou a porta nos deixando a sós

- Estou bem, o que aconteceu? – Ele perguntou. Tive que focar toda a minha concentração em controlar a vontade súbita de chorar que agora havia inflado ainda mais, usei uma das mãos para esmagar a cama como uma tentativa de conter meus sentimentos inconvenientes que estavam definitivamente atrapalhando aquele momento.

- Você desmaiou depois de lutar contra o Pégaso. – Explicou Lilith. - Eu acordei e te trouxe pra cá, nós fizemos o possível pra que você ficasse bem, até que acordasse, estou feliz que esteja bem

- Quanto tempo eu dormi? – Depois de perguntar isso para ela, ele vidrou seus olhos em mim, parecia estar pensando em algo muito profundo – E por que está me encarando? –

Que pergunta. Perdi o controle da minha mente, tive que focar todas as minhas energias, comecei a pensar em possíveis respostas, todas pareciam ruins, mesmo as que eram boas naquele momento ali estavam particularmente idiotas, também, não importava, com os olhos cheios de lágrimas como os meus estavam agora depois da pergunta, não importava o que eu tentasse dizer eu ia desabar em lágrimas, fiquei travada por alguns segundos, meus sentidos praticamente desativaram, notei que não ia conseguir controlar aquela maré de sentimentos confusos, eu ia acabar deixando escapar uma lágrima, e meu instinto dizia que eu não queria que ele me visse chorando, então tomei a atitude mais corajosa possível naquele momento.

Me levantei e corri. Corri primeiro para fora do castelo, e depois para a floresta, quando cheguei na floresta senti medo, e quando senti medo, voltei. Dei a volta no castelo para entrar por trás, ainda não tinha sido capaz de organizar meus pensamentos, entrei pela porta dos fundos e me escondi em um quarto qualquer, não sentia vontade de ver ninguém, e acho que se visse não ia ser capaz de explicar por que tinha fugido daquele jeito, era melhor eu mesma me entender antes de voltar à ativa, fiquei naquele quarto o dia inteiro pensando sobre o que tinha acontecido, por que eu tinha me sentido daquela maneira, não demorou muito até que eu chegasse a conclusão mais óbvia de que provavelmente eu estava apaixonada por ele, porém, demorou muitíssimo pra que eu aceitasse que essa era não somente a alternativa mais óbvia como também a única. “Não pode ser” pensei “o que nele me cativou”?... “Antes eu só achava ele um pervertido babaca, o que mudou”?... Essas entre outras perguntas que todas as garotas fazem quando descobrem que gostam de alguém me assolaram naquele dia, tentei praticar um pouco de magia, mas a concentração não chegava, desisti logo em seguida. Um pouco depois, lembrei que devia praticar quando não conseguia me focar, pois seria útil mais tarde, então voltei a praticar, mas a falta de foco me fez não atingir nenhum resultado, talvez progresso, mas não resultados. Dormi naquele quarto mesmo e mandei que um dos mordomos me trouxesse café no quarto, também mandei que ele pegasse as coisas pra eu comer direto da cozinha, e não do lugar onde comíamos, se Lilith ou Franklin estivessem lá, iriam perguntar onde eu estava e viriam me incomodar, naquela tarde eu fui capaz de esclarecer minha mente ainda mais, perguntas como “Qual o problema de eu gostar dele”? Ou “Isso é errado”? E “Será que ele gosta de mim mesmo”? Já haviam começado a surgir, o que é um progresso, eu já havia passado da faze de negação, talvez em uma semana eu já fosse capaz de ver ele novamente, porém, eu tinha medo de quando questionada, me confessar e receber um “É... hum... como eu posso te dizer... eu só te dou bola por que tu é bonita, nada de amor ou coisa do tipo, mas e ai, quer transar?...” Foi quando tive a ideia de perguntar para a única pessoa além dele que seria capaz de me ajudar com isso, minha professora/mestra Venília. Demorei algumas horas para decidir perguntar pra ela, e mais algumas horas para realmente tomar a coragem necessária, foi só então que me dirigi ao quarto dela, os corredores, para minha sorte estavam vazios, então fui sorrateiramente o mais rápido possível em direção ao quarto dela, e logo que me aproximei notei que sua porta já estava aberta, isso era incomum, tão incomum que era a primeira vez que acontecia, fui nas pontas dos pés, bem devagarinho, conforme chegava perto, podia ouvir respirações do lado de dentro, alguns sons estranhos, e gemidos, comecei a me perguntar se ela estava se tocando, espiei pela fresta para ter uma visão ainda mais assustadora do que o gigante de sague do meu sonhe e mais entristecedora que o filme “Sempre ao seu lado”.

Vi Franklin que agora era “o menino que eu gosto” segurando Venília suspensa no ar... Eles estavam nus, ambos! E estavam... estavam transando. Era bastante para aceitar aquele baque, e para piorar a situação, ele teve que desgraçar mais um dos meus sentidos já que só a visão não bastava.

- É agora. – Foi o que pude ouvir ele dizer em meio aos gemidos histéricos da profeta.

Aquela cena havia me paralisado, eu mal era capaz de respirar enquanto via o que claramente era o final da brincadeirinha deles, pois logo em seguida ele largou ela na cama e falou

- Isso foi ótimo!

- Ótimo. – Ela repetiu depois dele bem baixinho deitada na cama

Quando recuperei o controle do meu corpo minha mente se encheu de raiva, quando me chamou pra sair, quando disse que ia me proteger, quando me abraçou a noite, alegando gostar de mim, foi tudo para me iludir?! A fúria encheu me coração enquanto a tristeza tentava pelo menos arranjar um quarto naquele órgão batedor. Fechei a porta com raiva e saí correndo, corri para a noite fora do castelo, abri a porta da frente com pressa e vi que ele havia me seguido, se eu ficasse para fechar não conseguiria fugir, então deixei-a aberta, corri o mais rápido possível, não queria ter que lidar com ele agora, a tristeza agora já não tinha só um quarto, tinha também uma garagem, um banheiro, uma sala e um divã bem espaçoso. Era vizinha da raiva, ambas haviam expulsado a felicidade e a esperança de um relacionamento e agora se divertiam e planejavam churrascos nos domingos. Infelizmente ele era muito mais rápido que eu e me alcançou logo no gramado. Me pegou pelo braço e virou.

- O que você estava espionando. – Sua voz estava intensa, ele parecia nervoso, e quando viu meu rosto cheio de lágrimas travou por alguns instantes

- Você... eu achei que você... então era só pra me pegar mesmo?... você é um idiota mesmo!

- Do que você está falando? – O filho da mãe ainda se fazia de desentendido, agora a raiva em meu coração esbanjava uma mansão e um carro enorme enquanto a tristeza comentava com sua parceira a angustia “Ele ficou rico e agora virou desumilde”

- Que tu é um imbecil. – Gritei na cara dele


Notas Finais


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