Na minha casa me esperavam Helena, minha madrasta, e a Sofia, minha meia irmã de 5 anos.
-- Maninha -- Sofia se atirou em meu colo.
Tive minha resposta. Elas. São elas o motivo de eu não fugir daqui. Elas me mantêm aqui nessa casa.
-- Vá comer algo.
-- Não obrigado. - Me juntei a elas no sofá.
-- Como foi seu dia ?
-- Foi bom eu acho.
O tédio exalava na sala, joguei minha mochila no quarto. E me deitei. Tendo um intenso flashback da minha vida. A dor foi tanta que peguei no sono rápidamente. Minha mente parecia aliviada, meu corpo relaxado. O que atrapalhou meu descanso foram as batidas na minha porta.
-- Carly, vem jantar.
-- Já vou.
Joguei uma água no rosto, e desci para o jantar, que estava maravilhoso.
-- Carly tenho uma boa notícia para você. -- Falou Helena.
-- O que é ?
-- Eu arrumei um emprego para você.
Fiquei feliz de imediato.
-- Sério?
Mishael foi mais rápido.
-- Ela não vai trabalhar em lugar nenhum. -- Ele sempre estraga tudo.
-- O quê? Como é? -- Perguntei
-- Qual o problema Mishael ? -- Disse Helena.
-- Não quero ela fora de casa exceto na escola.
A raiva de sempre me subiu. Que ódio. Ele não pode fazer isso comigo. Mereço liberdade! Bati a mão com força na mesa, e chutei a cadeira brutalmente para trás, indo para o meu quarto.
-- Escuta aqui moçinha, quem você acha que é ? -- Mishael veio para cima de mim e me empurrou de modo que quase caí no chão. Respirei fundo, engoli o choro e aí, então começei!
-- Só por que sua vida foi uma desgraça não significa que a minha tem que ser. Se minha mãe te abandonou eu não preciso pagar por isso. E sorte a dela de ter se livrado de você!
-- Você é uma vadia igual a sua mãe.
-- Não fale assim da minha mãe! -- Gritei e então ele me deu um tapa na cara.
Naquele momento desejei que coisas muito ruins acontecesse a ele. Fiquei calada, e me tranquei em meu quarto. E como de se esperar ele ficou gritando e murmurando, e para não ouvir os berros dele coloquei o fone e aumentei até o último volume. Já era de se esperar, coisas boas para mim, é passageiro a ponto de nem acontecer. Comecei a ficar ansiosa. Frustada, confusa, e sozinha. Minhas pernas não paravam de balançar. Meu corpo ansiava por algo. Mutilação! Ele precisa disso. Fiz todo o processo no banheiro em regiões onde ninguém pode ver, e cortes superficiais. Me deitei na cama, pensei, pensei e pensei. Então descobri. Eu não me corto por vício, nem prazer. E sim por raiva. Eu sinto tanta raiva do meu pai, das atitudes dele, que eu me corto só de raiva. Por que eu não posso -- consigo -- controlar a situação. Não posso machuca-ló. Então eu me machuco como se eu tivesse machucando ele. É o mesmo que eu esmurrar a parede sabendo que o efeito só vai se retornar para mim. Me cortei, descobri por que eu me corto, descontei minha raiva. Mas ainda estou ansiosa, meu corpo ainda está elétrico. O que me falta? Fui perdendo o ar. Eu preciso sair daqui. Agora!
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