História The Last Train Trip - Oneshot - Capítulo único

Eu estava no colegial.

Já você eu não fazia ideia, mas de qualquer jeito você sempre estava naquele trem.

Você sempre estava lá, sentado no mesmo lugar de sempre, e sozinho como sempre também.

Quando eu entrava no trem para ir a escola, você não tirava os olhos de mim.

Eu, a excluída, a rejeitada pela sociedade, o que exatamente você via em mim?

Eu não sei, não consigo entender.

Mas, de qualquer maneira você continuava lá, sem expressão alguma, sem brilho nos olhos, sem vida alguma. Eu amava isso.

Meses se passaram e você não mudou nada, seu cabelo não cresceu, suas unhas não mudavam de comprimento, sua roupa continuava às mesmas de sempre, mas, mesmo assim continuava com seu cheiro incrivelmente doce que invadia a cabine inteira.

Mesmo depois de conseguir inutilmente a carteira de motorista, e comprar meu maldito carro, eu continuava andando de trem, só pra sentir seu olhar frio sobre mim, seu cheiro doce, e observar sua beleza.

Mas com o tempo, isso já não era mais o suficiente.

Da forma mais suave possível, eu me aproximei de você, até hoje eu penso se realmente deveria ter feito isso.

Mesmo que você não falace muito, ficar ao seu lado pelos 20 minutos que aquele trem demorava para cumprir seu percurso, era tudo pra mim.

Mesmo quando eu estava no meu extremo, a beira de um penhasco, você continuava silênciosamente ao meu lado, o único que permanecia ali era você.

Você me mantinha presa na quele trem.

Você, você, você!

Você não saia da minha cabeça, era tudo você, tudo me lembrava você, tudo me leváva a você.

Eu não tinha como fugir da sua amarga doçura.

Mas um dia, você desapareceu.

Sem mais, nem menos.

Ninguém sabia sobre você, ninguém havia te visto.

Eu fiquei dias esperando por você naquela estação, e mais vários dias andando no mesmo trem em que andávamos todo dia, esperando ansiosamente a sua volta.

Eu ansiava por você.

24 horas por dia.

Mas, mesmo assim você não voltou pra mim.

Os dias se tornaram semanas, as semanas se tornaram meses, e os meses se tornaram anos.

Eu já estava adulta, minha carreira de arquiteta formada, ia a grandes festas, trabalhava em uma grande empresa, ganhava muito dinheiro, casas, carros, roupas e sapatos de grife era o que eu tinha de sobra. Mas, também eram as únicas coisas que eu tinha.

Eu estava sozinha de qualquer jeito, só você assombrava a minha mente ainda.

Tinha tentado de mil e uma formas esquecer você, o doce garoto do trem, mas todas as tentativas eram falhas.

Não importa a quantos psicólogos eu fosse, ou distrações que eu tentava criar para minha mente perturbada, era tudo em vão, eu estava a beira de um precipício.

E foi aos meu 24 anos, quando o meu mundo desabou.

Minha vida de sucesso foi as ruínas por causa da depressão que sua doçura inesquecível me trouxe.

Só ai, que eu consegui admitir que estava presa a você pra sempre.

Foi só uma questão de tempo para tudo ir de mal, a pior.

Você não saia da minha cabeça, não importa quantos antidepressivos ou calmantes que eu tomasse, você tirava os efeitos de qualquer remédio do meu corpo.

Eu ainda podia escutar você, as suas poucas palavras eram a pior droga que eu poderia experimentar.

Em uma noite qualquer, tomada pelo caos e pelo desespero, tomar todos os remédios que haviam em minha casa, não parecia uma má ideia.

E foi isso que fiz, também tomei algumas garrafas de bebida para complementar a desgraça, por que não acabar com todo esse sofrimento de uma vez? Eu me livraria de você e você de mim, ambos estaríamos livres. Para sempre.

Depois de tomar todos esses remédios e álcool, eu sabia que essas seriam minhas últimas horas.

Meu último desejo...

...Eu queria voltar ao lugar aonde tudo isso começou, Voltar a um lugar que nós dois conhecíamos muito bem, o trem.

Mesmo dopada e bêbeda, eu fui de algum modo até o trem e sentei no lugar onde sempre sentava para te observar, a esquerda da porta de entrada.

E quando por um momento fechei os olhos, você apareceu, sorrindo como nunca, olhando para mim, você estava tão feliz, tão calmo, você sabia que eu estava morrendo, não sabia?

Eu que estava mais pálida do que nunca, mais desleixada do que um mendigo, te observava como se você fosse minha salvação, a salvação para toda essa loucura.

Nós ficamos assim todo o tempo, nos encarando, você com um sorriso bobo e acolhedor, e eu com os olhos mergulhados em lágrimas de dor e sofrimento.

Nós ficamos assim até o trem subitamente parar, você se dirigiu a porta com um olhar sem brilho que me chamava para ir com você, e eu, com toda a minha vulnerabilidade do momento, te segui para fora, para fora do trem.

Andando pela cidade indo cada vez mais longe da civilização, toda esse álcool começava a fazer efeito.

Te segui por ruas e mais ruas até você estrar em uma floresta fechada, ignorei as placas de avisos que estavam penduradas em uma cerca, e te segui para dentro da floresta como se minha vida dependesse disso.

Você andava cada vez mais rápido, a escuridão da floresta me deixava cada vez mais perdida, e o álcool junto aos remédios me deixavam cada vez mais tonta e fraca.

Quando cheguei ao final da floresta, mal podia andar, minha respiração escassa me deixava cada vez mais debilitada.

E lá estava você, andando sobre a luz da lua até uma lápide, você parecia um anjo sereno sobre a noite, eu tentei te chamar e a única coisa que você fez foi se virar e sorrir.

Com as minhas últimas forças eu me movi até a lapide, e vi a verdade.

Você tinha morrido a mais de 30 anos.

Você sempre esteve morto, e eu sempre fui doente, doente por você.

E agora, nos meus últimos momentos, você estava ao meu lado, você me estendia a mão para mim ir para a eternidade junto a você.

Peguei sua mão e dei meu último suspiro até minha visão escurecer e eu cair por completo.

Até mesmo quando eu morri, você foi como ninguém, você sempre esteve ao meu lado, até mesmo em minha morte.

Eu te amo.