Lavezzi’s POV
Estava por mais ou menos uns 3 minutos parado na frente da casa de Zlatan, depois do beijo que Sasha me deu na hora de se despedir. Já tinha me surpreendido em chamar para nos vermos e termos ido ao Arc de Triomphe, não esperava aquilo vindo logo dela.
Obviamente, a minha vontade era de tê-la beijado em várias oportunidades naquela noite. Porém, eu sabia que todo movimento que eu fizesse devia ser friamente calculado para não correr o risco de perde-la. Sasha fazia o tipo imprevisível, o que não me ajudava muito.
Como um cara que só sabia conquistar uma mulher com meu charme que durava no máximo um mês, eu me complicava quando se tratava dela. E o pior, não podia contar com os amigos mais próximos de Sah, ou corria o risco de levar alguns sermões. A única coisa que Ibra que avisara foi: ela não gosta de clichês. Por sorte, como um bom jogador de futebol, eu curtia um bom desafio.
Quando me dei conta, percebi que ainda estava estagnado lá. Torcia para que ela não tivesse olhado pela janela nos últimos 5 minutos ou nesse momento estaria rindo de mim pensando ‘’provavelmente aquele bobo está apaixonado. ’’
Balancei a cabeça retomando minha consciência e peguei o caminho em direção à minha casa, enquanto o barulho da rádio tocava ao fundo até que eu chegasse.
Ao entrar no meu quarto, vi que Tomás dormia pacificamente em minha cama. Sabia que quando fazia isso, era com medo de não me ver saindo antes de viajar; já havia criado o hábito.
- Tomi, vamos para seu quarto, meu amor.
Peguei o pequeno no colo e o deitei em sua própria cama, o vendo abrir ligeiramente seus olhos em minha direção.
- Papi, promete me acordar antes de ir embora? – ele me questionou com voz de sono.
- Eu sempre o faço, meu filho. Papi nunca vai sair sem te avisar, ok?
Ele afirmou com a cabeça e coçou os olhos com as costas da mão.
- Agora vá dormir, tenha bons sonhos. – beijei sua testa e voltei para minha suíte.
Era difícil dividir guarda tendo uma profissão que prende tanto de você e de seu tempo, mas a mãe dele e eu sempre dávamos nossos jeitos. No momento, por exemplo, ele passaria todo aquele ano escolar em Paris comigo. Seria bom para o garoto.
Fiquei arrumando meus objetos para viajem até que caísse no sono.
Na manhã seguinte, acordei assustado com o barulho irritante do despertador.
- Droga, toda vez esqueço de trocar esse toque. – praguejei para mim mesmo.
Quando fui desbloquear a tela do celular, vi que tinha uma mensagem de Sasha.
‘’Como estou indo para a aula, já vou te desejar uma boa viagem. Traga os três pontos para o Paris. Te vejo em breve.’’
Foi inevitável não sorrir. Na verdade, eu abri um sorriso gigante. Era bom se sentir realmente querido por alguém.
Respondi no mesmo instante.
‘’Obrigado, Sah. Boa aula para você também. Vê se não some. E espero que o mais breve possível.’’
Coloquei meu smartphone de lado e fui tomar banho. Vesti meu uniforme de viagem e antes de poder seguir direto para o clube, já que naquela ocasião nosso café da manhã seria servido diretamente no avião, passei no quarto do mini Lavezzi.
Tomás dormia tão serenamente que me parecia um crime acordá-lo. Mas com certeza, ele consideraria um não o fazê-lo.
- Tomi, o Papá já vai. – falei baixinho ao agachar perto dele.
- Está bem, papi. Até depois. Te quiero.
- Te quiero más. – o beijei e lutei para sair. O coração sempre ficava pequeno nessas horas, era impossível se acostumar. Mas pelo menos ficava tranquilo em saber que daquela vez o deixaria com minha mãe e não apenas com sua babá.
Ao chegar no centro de treinamento, o ônibus do time já estava preparado para nos receber e fui direto para lá.
- Bom dia, Pocho. – Trapp foi o primeiro a me cumprimentar.
- Dormiu bem, princesa? – o perguntei e o alemão fez um coração com as mãos em resposta.
Me sentei na fileira a frente dele, que foi completada com Zlatan.
- Acho que você sabe por que estou sentado aqui. – ele me disse quando o ônibus deu partida.
- Hã..Hum... não sei, Ibra. – respondi sentindo um frio percorrer minha espinha.
Zlatan Ibrahimovic sabia sobre seu poder nas pessoas, e não deixava de usar isso a seu favor.
Cocei a cabeça quando ele me olhou torto.
- Sasha. – disse, finalmente.
- O que tem ela? – minha voz saiu afetada.
- Só quero saber se você tem noção aonde está se metendo. – aquilo já estava me assustando.
- Zlatan, fale na língua dos plebeus.
- Todos vocês sabem que tenho Sasha como uma irmã menor ou até mesmo uma filha para mim. E jamais eu, como também Xavi e o resto, esperávamos que ela fosse se relacionar com alguém desse nosso meio. Era um medo nosso.
Concordei com a cabeça para que ele prosseguisse.
- E até o momento, ela nunca o fez. Mas pelo visto acabou escolhendo você para isso. E tire esse sorriso do rosto. – ele disse bravo a última frase.
- Foi mal, não deu para segurar.
- Não vou ficar me intrometendo porque a vida é dela, e ela tem trabalhado comigo sobre o machismo e isso é a última coisa que quero cultivar. E acho que você já tem a consciência de que se algo acontecer com minha garota... Ah, Lavezzi! – exclamou – você é um homem morto.
Aquilo todo mundo que convivia com Zlatan já sabia. O cara sabia quem ele era e não sabia – nem queria – usar da humildade. E ele era quem era por isso.
- Pode ficar tranquilo que sei aonde estou me metendo. – respondi e deitei a cabeça na poltrona. Notei que o aeroporto estava próximo.
A viagem foi tranquila, tirando a parte em que Ibra insistia em me mandar olhares duvidosos e ameaçadores, mesmo depois da conversa. Sorri internamente ao pensar que Sasha com certeza o repreendia toda santa vez em que ele fosse machista, e que óbvio que ele estava lutando contra si naquele momento.
Enquanto ia pegar minha bagagem, resolvi manda-la uma mensagem.
‘’Estamos em Lyon. Espero que esteja bem.’’
Como não obtive resposta alguma, segui meus companheiros até o ônibus que nos levaria ao hotel. Daquela vez, estava para dividir o quarto com Di María. Era bom estar com um compatriota, nós tínhamos assuntos em comum – apesar dele ser do estilo ‘’caladão’’.
Me joguei na cama de solteiro e soltei o ar pela boca ao ver que continuava sem resposta. Tentei ligar no facetime do ipad de Tomi e nada também.
- Provavelmente é o sinal daqui, Pocho. Desliga e liga o telefone que deve voltar ao normal em um tempo. – ouvi Ángel dizer ao ver o que se passava comigo.
- É, deve ser. – falei, mesmo sem achar que era aquilo. Odiava não ficar sem notícias das pessoas, me deixava nervoso e no pico da ansiedade. O que era Brasil x Argentina perto do que se passava dentro de mim nessas ocasiões? Nada.
Bufei e resolvi ir almoçar de uma vez. A programação do restante do dia era almoço, pequeno descanso, ida ao Parc Olympique Lyonnais e aeroporto novamente. Nada fora do normal.
Desci e no lobby alguns fãs do PSG me pararam para fotos e autógrafos, o que esvaziou um pouco minha mente. Além de ter dado tempo o suficiente para que desse o horário combinado do almoço do time.
O dia parecia não passar. Já tinha viajado, almoçado, descansado, e chegado ao estádio para iniciar o pré jogo.
- Lavezzi, foco! – escutei Emery chamar minha atenção e jogar uma toalha em minha direção.
- Foi mal, professor. – respondi e fui trocar de roupa.
Tomei todo o tempo necessário, e mais um pouco, para calçar minhas chuteiras. No fundo, sabia que Tomi estava bem, já que ele e minha mãe não sairiam de casa aquele dia – até porque eu mesmo tinha deixado o garoto faltar a escola por insistência dele.
E se tivesse acontecido algo com Sah, Zlatan já teria recebido qualquer notícia, claro.
Respirei fundo e fui para o campo.
Logo que entrei, vi alguns dos meus companheiros olhando para mim e dando um sorriso malicioso.
- O que está acontecendo? – perguntei a Verratti.
- Não viu ainda?
- Fala logo, moleque.
Sem se pronunciar, ele apenas apontou o indicador em direção a um dos camarotes.
Vi Sasha com uma das mãos segurando Tomi, e os dois acenando para mim.
- Eu não acredito. – disse, negando com a cabeça ao colocar as mãos sobre a boca, surpreso.
Balbuciei as palavras você é louca para ela na esperança que a leitura labial fosse um sucesso.
E a gargalhada que ela deu foi um provável sim.
Vi ela fazendo o mesmo comigo e consegui ler um ‘’depois conversamos, vá jogar’’, ou algo do tipo.
Acenei para minha mãe que também estava presente, provavelmente obrigada por Sah pois ela não era fã de estádios, e ela sorriu de volta para mim.
Era todo o suporte que eu precisava.
A partida terminou em 3 x 0, para o Paris; gols de Cavani, Di María e um contra do zagueiro do Lyon.
Quando voltei ao vestiário, tinha um bilhete pregado no armário que eu usava.
Dizia apenas ‘’estamos te esperando do lado de fora.’’
Eu provavelmente tinha batido o recorde de banho e troca de roupa mais rápidos do mundo, caso isso existisse. Saí do vestiário antes mesmo que Emery viesse falar sobre o jogo. E minha primeira visão foi Sasha e Tomás gargalhando sobre o que estavam jogando no ipad.
- Pelo visto você ganhou mais um fã. – eu falei para ela, me referindo ao meu filho.
- O mini Lavezzi é ainda mais divertido que o maior. Acho que preferi esse aqui. – ela disse apontando para ele. O garoto abriu um sorriso tão grande como o meu ao ver aquela cena.
- E você gostou dela, Tomi?
- Muito, papá. Ela joga melhor que você. – ele disse virando a tela do tablet para mim, mostrando que os dois jogaram fifa e ela estava ganhando dele.
Todos nós rimos daquilo.
- Vocês conseguiram me enganar. – falei para minha mãe.
- Invenção dela. – apontou para Sah. – mas gostei. Foi mais legal do que quando tenho que vir com WAGs ou com babás de jogadores. – revirou os olhos.
- Papi, a Sah pode ir lá em casa? – Tomi me perguntou.
- Desse jeito vou perder minha vez para ela. – fiz voz de ofendido.
- Aceita que dói menos, Pocho. – ela respondeu rindo.
Pisquei para minha mãe e ela entendeu o recado, e puxou discretamente Tomás para sair dali.
Envolvi Sasha num abraço.
- Obrigado. Mesmo tendo me dado um susto por sumir, obrigado. Você não sabe o que significa tê-los num jogo comigo. – disse me referindo a meu filho e mãe. – e agora você também.
Ela desfez o abraço sem tirar as mãos de volta de mim.
- Eu que tenho que agradecer. Sei que não foi a melhor maneira ter conhecido Tomi e sua mãe assim, talvez você nem queria, mas já estou encantada por ele. É um menino incrível.
A beijei antes que ela continuasse a falar. Finalmente, um beijo mais íntimo. Ah, como senti falta daquilo. Sentir sua boca, seus quadris entre minhas mãos, seu peito contra o meu, seu calor se misturando com o meu.
Nos separamos ao ouvir risadas e algumas piadinhas de alguns dos jogadores que saíam do vestiário e passavam por ali. Ela riu tímida e colocou a cabeça na curva do meu pescoço enquanto eles não saíssem.
- Pode voltar ao normal, milady. – disse a ela quando voltamos a ficar sozinhos.
- Ás vezes eu desconfio que eles têm uns 12 anos.
- Só ás vezes? Eu nem acho mais, já tenho essa certeza.
Ela sorriu e eu deixei alguns selinhos em seus lábios.
- Eca! – ouvimos Tomi gritar e nos viramos para ele, rindo ao ver que o garoto fingia vômito.
- Dramático igual ao pai. – Sasha disse e eu fiz algumas cócegas em sua costela, e ela se contorceu se batendo contra mim.
- Papi, você vai voltar con nosotros? – ele me perguntou ao se enroscar em Sasha.
Aquilo ainda parecia surreal para mim.
- Não posso, mi hijo. – ele fez biquinho. – mas você vai se divertir com a abuela e a Sah. E em casa não vou largar de você!
Ele sorriu satisfeito.
- Ok, eu gostei dela. Te vejo em casa, papá. – ele disse rápido e a puxou para irem embora.
Mandei um beijo no ar para eles e fui me encontrar com o resto do time, com um sorriso nos lábios que nada poderia tirar.
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