– Tudo pronto? – Perguntei, e minha mãe assentiu colocando sua própria bolsa no ombro.
Fazia exatamente uma semana que tinha voltado do final de semana acompanhada da turma, e agora eu estava indo para Dawson visitar minha avó materna apenas com minha mãe sendo que meu pai não iria. A cidade ficava a 2 horas de Atlanta e Justin tinha permitido que eu utilizasse sua Ranger, já que o mesmo iria para Boston com seu pai para uma reunião de negócios.
– Vamos logo, antes que eu desista – Disse e trancou a porta.
– Estamos fazendo o certo, mãe. A essa altura ela já sabe que estou noiva. – Comentei entrando no carro e colocando o cinto corretamente.
– Espero que não. – Afirmou, soltando um suspiro em seguida. Liguei o carro e dirigi para fora da frente da casa, indo em direção à estrada.
Após duas horas e 20 minutos, estacionei o carro na frente da casa da minha avó. Minha mãe desceu primeiro e eu a segui. Tocamos a campainha e aguardei a senhora de 69 anos vir atender a porta.
– Sofia? Chloe? O que fazem aqui? – Vovó perguntou bastante surpresa, porém ainda assim feliz. Abracei-a sentindo seu perfume, que não mudou nos últimos 20 anos.
– Oi, vó – Cumprimentei-a, e deixei um beijo na sua bochecha antes de entrar na casa.
Vi minha mãe abraçar vovó e andei por um curto tempo dentro da casa, distraída.
– O que fazem aqui? – Ela nos olhou, fechando a porta.
– Viemos visitá-la – Minha mãe respondeu, me encarando.
– Não foi só por isso – Minha avó afirmou, desconfiada, e foi para sua cadeira de balanço.
– Mãe – Chamei a olhando, que retribuiu o olhar.
– Não foi só por isso – Minha mãe confessou e se sentou no sofá – Mas depois falamos disso.
– Sabia! O que trouxe vocês aqui? – Ela perguntou sem muita paciência. Essa era ela, sem paciência, odiava mentira e religiosa, que acreditava em sexo só depois do casamento e casamento por amor.
– Mãe, vamos conversar primeiro. – dona Sofia falou e vi minha vó revirar os olhos.
– Querida, o que foi? – Minha avó me encarou dessa vez, e eu deixei minha bolsa no sofá acomodando-me ao seu lado.
– Vó, a senhora sabe que te amamos e que respeitados muito a senhora, não é? – Comecei lentamente, e ela se ajeitou na cadeira apoiando seus próprios cotovelos nas pernas.
– O que vocês fizeram? - Indagou, intercalando o olhar entre nós duas.
– Mãe, calma – Pediu Sofia, mas minha avó se levantou impaciente.
– Você está noiva? – ela perguntou olhando para o meu dedo e eu fitei a aliança no meu dedo anelar. Levantei meus olhos para minha mãe e a mesma encarava-me brava. Eu já não me incomodava mais com o anel e me esquecia de que estava com ele.
– Sim e não. – Disse, me levantando – É um casamento falso. – Argumentei baixo e olhando para o chão.
– Falso? Como você deixou isso? - Ela olhou para dona Sofia.
– Foi minha ideia, mãe - Minha mãe disse fazendo com que minha avó ficasse com ainda mais raiva.
– Você está casando sua filha por quê? Dinheiro? Você sabe que um casamento não deve ser assim, Sofia. Não criei você assim – ela dizia tudo alto e gesticulando rapidamente. Eu abracei meu próprio corpo vendo que aquilo tinha sido uma péssima ideia àquela visita.
– Estou ajudando minha patroa e tentando ter uma casa própria, além de poder quitar sua dívida! – Minha mãe exclamou alto fazendo minha avó dar um passo para trás. Observei aquilo sem entender. De que dívida minha mãe estava falando?
– Chloe saia daqui – Vovó pediu e eu fui para a cozinha, mas escutando atrás da porta. – Como você sabe? – Dona Caille indagou, atordoada e baixo provavelmente para que eu não escutasse.
– Por favor, mãe. Não sou besta. Você tem essa dívida há 30 anos. É a conta do meu colégio, junto com aquele curso técnico. Por que acha que eu não fui para a faculdade? Porque não tínhamos dinheiro e eu sabia disso.
– Você não deveria ter mexido nas minhas coisas – Minha vó disse muito brava, e começou a andar pela a sala.
– Não precisei, liguei os pontos quando recebemos várias cartas do banco, do curso, do colégio. Você começou a trabalhar triplicado e então uma ligação do banco dizendo que iriam tirar a casa. Foi aí que eu comecei a trabalhar para ajudar à senhora.
– Sofia, eu não sei que eu faço com você – Vovó levou as mãos à cabeça e parou olhando minha mãe.
– Com o que gastou nosso dinheiro? Por que tínhamos dinheiro da morte do papai – Minha mãe perguntava com as mãos na cintura.
– A culpa é dele – Ela disse – Aquele canalha – Xingou, e suspirou – Seu pai era viciado em jogo, Sofia. Apostou tanto dinheiro que o que recebemos não acatou nem metade da dívida, com o resto do dinheiro paguei a mesma, e por isso devo a todo mundo, ou pagava a dívida do seu pai ou nossas contas.
– Você pagou a dívida dele? – Ela perguntou se sentando no sofá, minha mãe não esperava por essa resposta.
– Ainda não, usei o dinheiro que ganhei nos últimos anos e com a aposentadoria para pagar seu colégio.
– A quem ele devia? – Minha mãe perguntou, fitando o chão.
– Não importa – Minha avó disse, sentando-se na cadeira de balanço – Estou me resolvendo isso que importa
– Você sabe que não é assim, podem matá-la ou vir atrás de mim e da Chloe.
– Quanto você vai conseguir desse casamento? – Ela perguntou, mais calma agora.
– Bastante, são os Biebers, mãe. Chloe vai ficar com 30% do valor, deve dar um bocado. – Minha avó concordava com a cabeça.
– Quanto tempo para ter esse dinheiro? – Ela perguntou.
– Ela se casa no próximo mês, e então veremos o tempo para conseguir a herança e depois eles irão se divorciar. Pode ser que Patrícia queira dar 15% após conseguirem a herança e os outros 15% depois que finalizarem o divórcio.
– Ótimo, vou resolver tudo.
Suspirei, um pouco confusa com tanta informação e segui até a geladeira pegando algo para comer. Tudo estava mais tranquila e eu acompanhava minha avó em compras na feira. O que era engraçado já que suas amigas se espantavam com minha idade e como eu estava diferente.
– Há quanto tempo você não vem aqui? - ela perguntou e eu dei de ombros sem saber.
– Alguns anos, eu acho. No mínimo 4 anos.
– Esse é o resultado de não vir me visitar por 4 anos, ninguém te reconhece. – Sorri com seu jeito.
– Claro vó.
– Chloe? – Uma voz grave disse. Me virei vendo Alex, e sorri largamente ao ver meu primo.
– Alex, quanto tempo – Abracei o moreno na minha frente.
– Está perdida por aqui? – Ele perguntou me olhando de cima a baixo.
– Vim ver a vó e você? – Perguntei e ele se inclinou.
– Oi tia – Ele sorriu para ela. – Estou de férias e resolvi passar um tempo aqui.
– O que está fazendo da vida? – Perguntei e senti minha vó me cutucar.
– Vou indo para casa, pode ficar aqui. – Assenti e Alex me chamou.
– Que tal um café? – Ele sugeriu e eu sorri.
– Seria bom.
Seguimos até o outro lado da rua indo para a cafeteria. Nos sentamos à mesa e fizemos nossos pedidos.
– Terminei a faculdade de farmácia e estou em um laboratório em Miami.
– Miami? Uau. Parabéns – Sorri, e ele retribuiu.
– E você? – Ele perguntou, tomando um gole do seu café.
– Terminei agora a faculdade de administração e consegui um emprego na Forever 21 em Atlanta.
– E esse anel? – Ele perguntou apontando para minha aliança.
– O que acha? – Perguntei arqueando as duas sobrancelhas, e ele riu.
– Enfim aceitou o pedido do Nicolas? – Ele perguntou e eu senti um frio na espinha, mas disfarcei.
– Não, Nicolas ficou no passado. – Ele assentiu – Justin Bieber, conhece? – Ele negou.
– Bieber já ouvi falar, mas Justin não.
– O pai dele tem uma empresa de construção bem conhecida por esses lados.
– Onde o conheceu? – Alex perguntou olhando a rua.
– Na faculdade. Lembra-se da Felícia? Ela namorou o melhor amigo dele e aí com eles não deu outra coisa. – Ele assentiu me olhando.
– Linda história, porque ele não está aqui? – Ele arqueou uma sobrancelha me olhando de um jeito debochado.
– Está em Boston com meu sogro para uma reunião da empresa.
– Mas esse Justin existe mesmo? – Ele perguntou e eu ri, mordendo meu lábio inferior para conter o riso.
– Claro que existe, Alex. Só por isso vou te mandar o convite do casamento, que é mês que vem.
– Quero ver uma foto dele – Ele disse e eu revirei os olhos abrindo minha galeria de fotos no celular, óbvio que eu já esperava por esse tipo de pergunta e já tinha foto com Justin.
– Aqui está. – Disse mostrando a foto que tiramos antes de ir para a viagem.
– É bonito, tenho que conhecer ele para ver se aprovo. – Revirei os olhos.
– E você? Pegando quem dessa vez? – Perguntei com o mesmo tom debochado que ele usou há pouco tempo.
– Ninguém, estou quieto. Deixei esse meu lado pegador na faculdade, agora sou um cara sério. – Ele disse e eu o encarava segurando o riso.
– Acredito baby. – Ele revirou os olhos.
– Que tal darmos uma volta? – Ele perguntou se levantando e tirando a carteira do bolso.
Abri minha bolsa pegando minha carteira, mas ele puxou minha bolsa. – Nada disso, já paguei. – Ele disse e me puxou junto com a bolsa.
– Para onde vamos? – Perguntei ao estar do lado de fora do estabelecimento.
– Está de carro?
– Sim, está ali – Disse apontando para a Ranger.
Seguimos até o carro e ele ocupou o lugar do motorista. Logo ele deu partida e eu apenas liguei o radio observando o caminho que estávamos indo.
– Não acredito – Disse e sorrindo. Ele parou o carro e eu desci do mesmo sem esperá-lo. – Têm uns 10 anos que eu não venho aqui. – Disse olhando tudo em volta.
– Sabia, mas sabe por que trouxe você aqui? – Ele parou atrás de mim e eu me virei fitando seu rosto.
– Não faço nem ideia – Disse e ele sorriu de lado.
– Tivemos nosso primeiro beijo nesse lago – Ele apontou e virei parte do meu corpo para ver o lago, era verdade. Quando tinha oito anos estávamos com algumas outras crianças da rua da minha vó e acabamos nos beijando embaixo da cachoeira.
– Verdade, – Disse e olhei para ele. – O que espera com isso, Alex? – Dei um passo para trás.
– Nada, apenas relembrando os velhos tempos. – Ele me olhou e foi até perto do lago. – Não se preocupe não estou querendo acabar com seu noivado ou algo do tipo. É só que muitas coisas aconteceram aqui e eu gosto de lembrar
– Aqui tem cheiro de infância. – Ele riu fraco assentindo.
– Tem mesmo, não tem esse cheiro em nenhum outro lugar.
– Eu não fui a muitos lugares, mas acredito – Alex riu e eu me sentei perto do lado.
– É bom ficar em paz, Miami é tão agitado. Quero relaxar um pouco. – Ele disse se sentando do meu lado.
– Quem partiu seu coração? – Perguntei olhando para ele que sorriu olhando o chão.
– Como adivinhou? – Ele me olhou e eu pude ver seu olhar triste.
– Te conheço, Alex. Você é alegre, agitado, sempre odiou essa cidade porque não acontecia nada.
– Também te conheço e não ‘tô acreditando nesse seu casamento – Ele revidou e eu revirei os olhos.
– Não estamos falando nisso. Se não quer me contar, ok, mas não meta meu casamento no meio. – Ele levantou os braços em forma de rendição.
– Eu conto. – E então ele começou a me falar detalhadamente o que tinha acontecido.
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