Não estou arrependida ou magoada, só me sinto profundamente envergonhada pelo que fiz. Ele tem todos os motivos para estar furioso comigo, afinal, qual é o meu problema? Mas bem, foi recíproco.
Shawn apoia seu cotovelo na janela e aperta o volante com sua mão vaga, mantendo seu olhar fixado na estrada calma, à duas ruas da minha casa.
Ele estava sendo tão gentil comigo, e eu estraguei isso.
Acho que estou errada de me culpar tanto assim... Não se beija sozinho.
Me remexo no banco, agoniada com o silêncio vergonhoso, causado pelos meus impulsos pervertidos.
O carro espaçoso e exuberante, estaciona em frente à minha casa e tento abrir a porta, mas a mesma está tragicamente travada.
— Desculpe. — Pede e engulo seco, franzindo meu cenho em uma mútua confusão. Eu que deveria pedir. — A culpa não foi sua. — Pela primeira vez no nosso percurso, Shawn dirige seu olhar culpado para mim. — Eu só fiquei nervoso, sabe eu poderia ser o seu pai. — Não, ele não poderia. — Me perdoe. — Pede novamente em um suspiro e destranca a porta.
— Está tudo bem. — Sorrio sem mostrar os dentes, por puro nervosismo que o momento e os fatos me proporcionam. — Obrigado por tudo, tchau. — Tento novamente sair de seu carro, mas dessa vez é Shawn que me impede ao segurar meu pulso. Eu só quero me esconder pro resto da minha vida. Seria possível?
— O seu pagamento. — Solta o pouco aperto e pega sua carteira. É lógico, que seria meu pagamento... O que mais eu poderia esperar?
Shawn retira algumas notas altas, talvez em uma quantidade excessiva e me entrega.
— Acho que você me deu a mais. — Ele sorri de lado e nega.
— Pode ficar, você fez um bom trabalho, e ainda um extra na minha cozinha. — Meu rosto queima e aperto meus olhos, agora fechados, por alguns segundos. — Obrigado por isso também, mas acho que Beth não gostará de saber que alguém mexeu na cozinha dela. — Tenta descontrair o clima tenso, tristemente falhando.
— Peço desculpas por isso também. Eu não consigo controlar esse "tic" direito. — Bagunço meu cabelo e solto um suspiro frustrado.
— É uma boa qualidade, preserve-a em si. — Sorri e faço o mesmo, observando seu ato tão natural, mas de uma beleza descomunal. Foi a primeira vez que alguém não me chamou de louca por isso.
— Tchau, Sr. Mendes. — Me despeço novamente, mas não movimento um músculo do meu corpo para sair do seu carro.
Shawn se despede com um aceno e mesmo assim não me movo, continuando a observar seus contornos bem feitos.
— Hailee? — O homem me chama e eu pisco diversas vezes, saindo do meu transe. — Você está bem? — Coro e pego minha mochila.
— Estou, só gostaria de dizer, que quando achar necessário pode me ligar, eu realmente gostei muito do Johnny, adoraria cuidar dele mais vezes. — Sorrio e ele assente.
— Ligarei. — Se aproxima do meu rosto e congelo por instantes, até sentir os lábios macios de Shawn em minha bochecha, em um beijo casto. — Tchau. — Se afasta e com o rosto em chamas, saio do carro e fecho a porta com calma, correndo pelo gramado bem cuidado da minha casa. Quando fiquei tão envergonhada?
Pego minha chave e destranco a porta, passando pela mesma em seguida. Só quero minha cama e talvez eu não levante nunca mais.
— Finalmente querida, fiquei preocupado. — Meu pai se levanta de sua típica poltrona reclinável e meu irmão comete o mesmo ato do sofá mais próximo.
— Ah, me desculpe. Sr. Mendes me levou em uma lanchonete. Ele é um bom homem. — Sorrio e meu pai assente, passando por mim e beijando o topo da minha cabeça latejante. Nunca tive o que reclamar quando o assunto eram os meus familiares, somos pacíficos em relação aos aspectos da vida e sociedade. E além do mais, não faço o tipo de filha revoltada na puberdade.
Aaron enfia suas mãos nos bolsos e vem em minha direção. Lá vem...
— Eu gostaria de terminar a conversa de hoje mais cedo. — Passa a língua por seus lábios levemente rachados. — Eu fiquei curioso e... Por que sua boca está tão vermelha? — Muda de assunto repentinamente e levanta meu queixo analisando minha boca, enquanto arregalo meus olhos e mentalmente, crio mil desculpas para este fato. — Voltou com aquela mania estranha de ficar mordendo os lábios? — Afasta suas mãos de mim e suspiro aliviada.
— É. — Sorrio de lado e ele nega em reprovação. — Juro que dessa vez não irei cortar minha boca com os dentes. — Cruzo os dedos e ele sorri. Graças a Deus, não tenho um irmão maníaco perseguidor...
— Você e suas manias. - Bagunça meus cabelos e bato em sua mão, ajeitando os fios desalinhados. — Mas voltando ao assunto...
— Aaron, nós podemos falar sobre isso amanhã? — Quase imploro. — Eu estou tão cansada. Teremos o dia inteiro e o resto das nossas vidas para falarmos sobre as loucuras de uma adolescente, que no caso é minha amiga e muito afim de você. — Droga, falei demais.
Fecho meus olhos com a mesma força que aperto minhas mãos em punhos. Viro e dou de costas para o garoto atrás de mim, correndo até as escadas. Chlöe vai me matar!
— O QUE!? HAILEE! VOLTE AQUI! DROGA, NÃO ME DÊ AS COSTAS! — Grita e ouço a voz calma de mamãe o repreender da cozinha, enquanto continuo a subir os degraus. Parece uma jornada gigantesca, até meu quarto.
— BOA NOITE. — Grito para meus os familiares e sou respondida em coro pelos meus pais, enquanto Aaron responde apenas um "Teremos uma longa conversa amanhã!", quando finalmente bato a porta do meu quarto.
Que dia...
[...]
Solto um grito ao abrir meus olhos e ver Chlöe em cima de mim, com suas mãos em meu pescoço, apertando sem tanta força.
— EU VOU TE MATAR, STEINFELD! — Escandaliza e me balança, enquanto tento me soltar de seu aperto, que começa a me incomodar. — VOCÊ QUER ACABAR COM A MINHA VIDA!? — Esbraveja e pelo canto dos meus olhos vejo Aaron adentrar o meu quarto e a tirar de cima de mim. Mas... O quê?
— Qual é o seu problema? — Pergunto me sentando na cama. Ela suspira e me olha e depois volta a olhar para o meu irmão, a segurando e apenas com esse ato já sei que ela provavelmente quer uma conversa privada da presença do garoto atrás de si. — Aaron, pode nos deixar a sós? — Sou educada o suficiente para não exigir algo em explícito para ele, mas se o mesmo tiver um pingo de bom senso, sairá.
— Mas esse assunto me envolve. — Ergo minha sobrancelha como um estalo mental, entendo o assunto que seria provavelmente discutido. Será que é de família não conseguir manter a língua presa na boca?
— Por favor. — Peço e o mesmo com certa relutância cede ao meu pedido apelativo.
Ao ver a porta se fechar, Chlöe se senta ao meu lado na cama e suspira.
— Você disse pra ele. — Murmura e esfrego meus olhos sem exercer tanta força. — Não tinha este direito.
— Me perdoe, simplesmente saiu. — Bufo. — Sou uma péssima amiga. Droga! — Ela nega e logo sorri, minimamente, mas ainda sim um doce sorriso. Nunca falaria algo sobre si para machucá-la.
— Tudo bem. — Ajeita seus cabelos dourados, visivelmente macios e conserta sua postura ereta. — Não é como se isso de fato fosse mudar algo. — Dá de ombros e suspiro.
— Você é tão linda, dona de uma autoconfiança invejável, o que aconteceu com isso?
— Eu realmente gosto dele. — Se joga para trás e puxa minimamente os cabelos agora desarrumados. — É como se um muro estivesse separando em dois, o que eu sou ou o que eu era. — Quando abro minha boca para lhe dizer alguma das minhas diversas frases de apoio, meu celular vibra.
Me estico até o pequeno criado mudo e o recolho em mãos.
Número desconhecido?
Atendo a ligação e direciono o aparelho simples até a minha orelha.
— Hailee! Sou eu, o Johnny. — Sorrio instantaneamente ao ouvir a voz fofa e infantil do garotinho. Eu realmente gostei dele.
— Olá.
— Eu só queria saber se você já se esqueceu de mim? — Sua voz carrega uma forte desconfiança e uma certa dose de medo. Chega a ser fofo.
Creio que o garoto se apegue fácil as pessoas, ou alguma figura feminina, por ter crescido sem uma personalidade materna, ao seu lado.
— Nem se eu quisesse, Mendes. — Ouço sua risada fina e logo uma voz de fundo. Shawn. — Aproveitando seu final de semana? — Questiono por pura curiosidade e o garoto solta uma leve bufada.
— Não, Nina não me deixa em paz. Ela aperta de meia em meia hora as minhas bochechas. Estão doloridas. — Reclama e riu controladamente, mas mesmo assim chamando a atenção da garota aérea ao meu lado. Parece que Chlöe não é a única neste fã clube.
— Você deveria conhecer a minha amiga, ela é sobrinha da Nina e mora com ela. — Ele murmura algo surpreendido e Chlöe franze seu cenho.
— Como ela sobrevive? — Pergunta humorado. A inteligência deste garoto é demasiadamente elevada para alguém de sete anos. — Mas bem, quando poderá vir aqui? Eu tenho uma piscina enorme no jardim e acho que seria ótimo usá-la uma vez pelo menos neste ano. — Questiona animado e mordo levemente meus lábios secos. Eu estaria mentindo, se dissesse que não passou pela minha mente conturbada, de uma adolescente com hormônios a mil, que eu poderia novamente ver o pai do garoto.
— Assim que seu pai precisar dos meus serviços. — Chlöe se aproxima do aparelho e coloca sua orelha rente a sua parte traseira, na intenção de ouvir alguma parte da nossa conversa.
— Ele vai. — Assim que termino a frase, Johnny completa. — Amanhã! Pode ser?
Sorrio pela animação explícita, que aos poucos me contagia. Mas tenho plena certeza que não são pelos mesmos motivos.
— Por mim, tudo bem. — Dou de ombros e recebo uma cotovelada da loira ao meu lado, a qual ignoro. — Mas realmente acho que seu pai não irá precisar.
— Ele provavelmente passará o dia inteiro no escritório, como sempre. — Há desapontamento em seu timbre fino. — Ele nem vai se importar... Não é mesmo, papai? — Pergunta e engulo seco só de pensar no homem que possivelmente está próximo do garoto.
— Johnny, não chateie a garota, ela tem uma vida sabia? — Pronúncia uma voz de fundo que identifico ser de Shawn.
— Tudo bem, eu não tenho exatamente nada para fazer amanhã. — Sorrio, mesmo que ele não possa ver.
— HEY! — Me cutuca Chlöe, como se pedisse com seus olhos profundos que me lembrasse de sua presença. E no momento me recordo que havíamos marcado de ir ao cinema, ver um novo filme de uma das melhores trilogias do mundo. Em minha opinião.
— Sua amiga pode vir também. — Inclui o mais novo e arregalo um tanto meus olhos. Não sabia que ele poderia ouvi-la.
Chlöe faz um gesto de negação e suspiro. Realmente não seria a melhor opção.
— Não queremos incomodar. — Garanto.
— Eu adoraria conhecer a sobrinha de Nina. — Shawn se pronuncia. Calma ele está ouvindo tudo?
— Estamos no viva-voz? — Questiono, tentando camuflar o meu incômodo.
— Sim, na verdade é o meu número. — Me responde diretamente, pela primeira vez.
Meu rosto se esquenta e o cubro com a almofada mais próxima de cor clara e aveludada. Por que estou corada?!
— Não podemos, iremos ao cinema amanhã. — Chlöe responde por mim e retiro o objeto decorativo do meu rosto, a lançando um olhar um tanto misto. Nem eu sei identificá-lo.
— Legal, então bom passeio para vocês. — Deseja claramente tristonho e me sinto mal por isso. — Tchau meninas.
— Até mais, Johnny e Sr. Mendes. — Me despeço ouvindo um "Tchau" de Shawn que agora parece mais próximo.
Ao desligar a chamada, viro meu rosto para Chlöe que no momento cerra seus olhos em minha direção, em completa desconfiança.
— O que foi agora? — Reviro os meus sem tanta paciência para expandir pela camada incógnita do ambiente.
— O que exatamente rolou nesse "bico" de babá com o filho do chefe gato, que no caso todas as mulheres gostariam de ter? — Questiona, deixando esvair sua curiosidade em excesso. Engulo seco e mordo com certa força meus lábios ressecados. Deus! Oque responderei?
Reflito por alguns segundos e concluo que a melhor resposta seria...
— Nada. — Dou de ombros.
— Fala sério! Você deixou o chefe gostoso da minha tia passar? — Entreabro meus lábios realmente surpresa pelo dito.
— Deus! Chlöe! Tenha respeito, ele é bem mais velho que eu. — Mesmo que fato tenha acontecido algo momentâneo entre nós, me sinto até mesmo ofendida pelo comentário. Pensava não aparentar ser esse tipo de garota.
— Estou brincando, você não faria isso, digo isso porque nem eu teria tão baixo calão para isto. — Solto um sorriso forçado, que transborda nervosismo e vergonha. Sim, eu tenho...
— Claro.
[...]
— Mãe, mande Aaron nos deixar em paz. — Apelo para a força superior que se encontra mais próxima.
— Aaron, cale a boca e coma, sua comida irá esfriar. — Papai a repreende e em troca recebe um "obrigado"do primogênito da família. — Cale-se você também. — Papai solta uma risada nasal e foca sua atenção na comida. É clara a escala de poder nessa família.
— Eu só quero saber se a Chlöe...
— Chega! Podemos comer em silêncio? — Peço e Chlöe vermelha como um pimentão, bebe seu suco de laranja, quase que pela metade, demonstrando o quão nervosa está.
— Estava falando com ela, não com você. — Dá de ombros e o fuzilo mentalmente, me preparando para começar a terceira guerra mundial na nossa mesa de almoço.
— Depois de velhos começaram a se estranhar? Vocês nunca foram assim, não mudaram agora. Sem brigas! — Mamãe interrompe e pela primeira vez o silêncio predomina o ambiente da sala de estar. Ela tinha razão, nunca brigamos, na verdade sempre fomos unidos, não mudaremos isso agora.
— Me perdoem por ser o motivo da briga, Sr. e Sra. Steinfeld. — Pede Chlöe claramente incomodada.
— Que isso querida, a culpa não é sua, é da infantilidade juvenil de ambos. — Papai a conforta e em seguida intercala seu olha entre seus dois únicos filhos. Já sabemos o que fazer.
— Desculpa. — Pedimos ao mesmo tempo. Aaron sorri e aperta levemente minha bochecha.
— Tá desculpada, estranha. — Faço uma careta pelo apelido que nos acompanha desde pequenos. Eu realmente nem ligo mais.
— Não estraga. — Ouço a risada dos outros a nossa volta e não perco tempo para "devorar" a refeição em meu prato.
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