Saio do carro, posicionando minha mochila em meus ombros e um tanto envergonhada ando pelo meu jardim de forma rápida. Ainda tenho vestígios do calor de Shawn em meu corpo.
Olho para trás ao alcançar a maçaneta e vejo o carro silencioso ser ligado, acendendo seus faróis auxiliares.
Destranco a porta e assim que a abro dou de cara com mamãe, com seu semblante preocupado.
— Boa noite. — Desejo aos meus familiares que agora se concentram na sala.
— Boa noite, querida. Por que demorou tanto? Algum problema? — Questiona assim que Aaron e papai me respondem no mesmo tom monótono de todas as noites.
— Não, o Sr. Mendes se atrasou um pouco. Não foi por querer. — Defendo, e mais calma a mesma assente. Nunca a dei motivos para desconfiança.
Mas com certeza se soubesse do que aconteceu à minutos atrás ela teria, e muitos. — Meu subconsciente ataca novamente.
— Tudo bem. Está com fome? — Sorri amorosa e nego.
— Dona Beth, cozinheira da casa, me fez comer até não aguentar mais. — Comento, piscando de forma lenta e a cada vez que minhas pálpebras se fecham, me lembro dos toques anteriores. Isso impregnou minha mente.
— Ah sim, então suba e tome um banho. Está tarde. — E de fato está. Normalmente todos estariam em suas respectivas camas, mas provavelmente devido à preocupação, isso não aconteceu. — Sonhe com os anjos, querida. — Beija minha testa e se afasta.
— Com toda certeza. — Se os anjos se chamarem Shawn Mendes.
[...]
Uma semana depois
Ao adentrar no corredor extenso do colégio, vejo ao lado do meu armário Chlöe e Aaron conversarem sobre algo que não sei distinguir pela distância. Ambos sorrindo, mas com sorrisos diferente: Aaron galanteador e Chlöe admirada, como sempre.
Após dar 17 passos contados diariamente na direção do meu armário, o abro, sem fazer com que os dois percam o contato visual que me parece tão precioso para ambos no memento. Com toda certeza nem ao menos me notaram.
— Então, eu te busco às cinco. Boa aula. — Deseja ao depositar um beijo casto na bochecha corada da loira. É isso mesmo? Eles irão sair juntos?
Poderia dançar sapateado com a inspetora Carmem, que como todos os dias passa pelos corredores com sua carranca de puro mal humor. O que sempre causa fortes risadas nos muitos alunos, que julgam isso como uma grande falta de sexo. Tenho que concordar...
Aaron saiu andando pelos corredores após bagunçar meus cabelos e Chlöe dá pulinhos de alegria. Seria cômico, se não fosse adorável.
— Já devo lhe chamar de cunhada? — Questiono com certa dose de humor e fecho o armário ao pegar os livros com conteúdo de sociologia.
— Eu acho que posso enfartar a qualquer momento, meu coração está a mil! — Rodopia e sorrio contente. A alegria dela é de certo modo a minha também.
— Quase posso o escutar daqui. — Exagero em grande escala e lado a lado começamos a caminhar até a primeira aula do dia que teríamos juntas.
Ao chegarmos em nossos lugares - como sempre com Chlöe a minha frente - me encosto na cadeira, logo sentindo cutucões em meu braço direito e uma voz fina chamar por meu nome. Samantha.
— Oi? — Pronuncio ao virar minha cabeça alguns centímetros e encarar a ruiva sorridente. Nunca tive problemas com a "alta sociedade" da escola.
— Você e a Chlöe estão convidadas para a festa do Luke nesse sábado, os pais dele viajaram. — Típico. É o que penso. — Levem seus biquínis. — Não consigo calcular as inúmeras virgindades que serão deixadas nesta festa.
— Ok. — Assinto, mesmo sem a intenção de ir a tal festa. Me ajeito na cadeira ao notar a presença do professor e volto minha concentração para a aula, que prossegue chata e tediosa.
[...]
— Você irá a festa do Luke? — Pergunta Chlöe assim que nos sentamos na mesma mesa de sempre. Mas dessa vez, sem o risco de morrermos intoxicada por uma refeição.
— Não. — Respondo simples e sincera e a loira assente.
— Eu também não, sabe, gosto de manter a minha virgindade. — Caçoa e abre a embalagem de seu lanche.
— Por pouco tempo, garota do Steinfeld. — A chamo do apelido dado a mesma mais cedo por Eliot, o goleiro do time da escola.
— Vamos com calma, ok? Mesmo que eu esteja surtando internamente.
— Você não está se guardando especialmente para o meu irmão? — Questiono baixo. Ninguém mais precisa saber.
— Sim. — Me olha humorada e ergue uma de suas sobrancelhas. — Já você, Steinfeld, não pensou duas vezes em abrir as pernas para o bonitinho do Logan. — Joga uma de suas batatas em mim e a olho envergonhada.
— Céus, poderíamos esquecer isso? Você mais que todos, sabe que não me importo e nunca me importei com uma merda de hímen. — Reviro meus olhos e Chlöe dá de ombros.
— Eu me importo. É um grande passo para uma garota.
— Para mim, foi um grande desastre e não mudou exatamente nada na minha vida. — Tomo o meu suco de pêssego e Chlöe me encara ainda com traços de humor.
— Insensível.
[...]
— Não sei se devo usar, me ajude, o azul ou o preto? — Lisa, uma das várias amigas de Samantha, bufa em confusão. Com certeza essa será uma das mais importantes decisões que ela já fez até agora. A cor de um maldito biquíni.
— Use o azul. — Tento ajuda-la, mesmo que a minha vontade seja de malignamente enfiar todos aqueles tecidos em sua boca tagarela.
— Não, o da Sam é azul. — Franzo meu cenho e a mesma joga a peça minúscula em uma das funcionárias da loja, voltando ao provador. Por qual razão ela me perguntou, afinal?
— Desculpe-a, ela está meio eufórica. — Dou um meio sorriso a morena assustada, que murmura um "isso sempre acontece".
Que péssimo lugar para se trabalhar aqui se torna, quando este tipo de cliente aparece. — Penso.
Depois de centenas de biquínis provados, Elisabeth se atraca ao segundo provado. Céus! Por que eu resolvi aceitar vir "as compras" com ela?
Cobrarei Chlöe pelo abandono mais tarde.
— E você flor, não vai experimentar nada? — Com uma intimidade que não sei quando a concedi, a atendente me pergunta.
— Não preciso de um biquíni e muito menos de uma lingerie. — Não sou rude, até mesmo sorrio.
— Aí que você se engana, querida. Uma mulher sempre precisa de uma lingerie. — Me puxa dentre as Milhares de peças, jogando muitas delas em uma cesta. Droga, mais horas perdidas...
Depois de praticamente ser forçada a comprar peças que certamente nunca terei a ousadia de usar, saio da loja juntamente com Lisa, que carrega três vezes mais números de sacolas que eu.
— Ok, estou com fome. — Ela sorri ao dizer. — Mrs Burger's? — Sugere. Finalmente algo que concordo com ela.
— Com certeza.
Após alguns poucos minutos prosseguimos a minha idealização de caminho da felicidade.
Ao entrarmos no estabelecimento quase vazio, nos direciono para uma das mesas afastadas, que é selada na parede listrada, com bancos altos que mais pareciam sofás de couro. O tradicional restaurante americano.
— Eu poderia comer um boi. — Comento e Lisa quase que perplexa entreabre seus lábios largos.
— Sua assassina de animais. Eu sou vegetariana! — Ergo minhas sobrancelhas e deixo as sacolas no chão. Serei apedrejada agora.
Mas afinal, quem chamaria alguém para o Mrs. Burger's sendo vegetariana?!
— Estou brincando, boba. — Sorri, e antes que eu possa contra-atacar com algo totalmente grosseiro a garota se levanta. — Droga! Eu marquei de almoçar com a Sam no Ciganas. — Recolhe todas as suas compras e antes de sair com toda sua pressa, Lisa me encara como se assim pedisse minha permissão para o ato.
— Tudo bem. — Realmente estava, não me importo de comer sozinha. — Até logo. — Elisabeth deposita um beijo rápido em minha bochecha e saí às pressas do local.
Após quinze minutos esperando o meu pedido o mesmo é posto em cima da mesa na qual me localizo. A rapidez é uma das milhões de qualidades que aqui encontro.
Agradeço a única garçonete do local e sem delongas a mesma se afasta, voltando a limpar algumas mesas do outro lado.
Antes que eu possa figurativamente me acabar naquele amontoado de gordura, um corpo se senta ao meu lado, o qual nem havia percebido estar tão próximo.
— Olá, Hailee. — Viro meu rosto de imediato após reconhecer o seu timbre levemente grave.
— Oi, Logan. — O moreno bebe o líquido escuro e visivelmente gaseificado, enquanto me observa meticulosamente.
— Você já se apaixonou por mim? — Pergunta tranquilo, me fazendo engasgar com a minha própria saliva que por minha garganta desce rasgando.
— O quê? — Mesmo tendo total consciência do dito, questiono.
— Quando eu disse que não queria uma garota apaixonada por mim, e que te daria no máximo três dias até seu coração ser meu, você me disse que ligaria se caso um dia acontecesse. — Dá de ombros em sua posição descontraída.
— Por esse exato motivo não liguei. — Como uma das minhas batatas. Ele pode esperar deitado por esse telefonema.
— Doeu. — Faz uma careta que só me causa risos que são interrompidos pela vibração ritmada do meu celular no bolso de trás do meu jeans, denunciando a mensagem recebida.
Recolho o objeto em mãos e me surpreendo ao ver que o autor era Sr. Mendes.
"– Estará ocupada sábado? –"
Trato logo de responder, o que de certo é mais um dia de serviço de babá.
"– Não, precisa dos meus serviços? –"
E segundos depois o SMS é respondido.
"– Sim, te pego as oito. –"
Sr. Shawn é de fato bem direto em seus assuntos.
Respondo sua mensagem com um "ok" e não obtenho nenhuma resposta vinda do outro lado.
— Você não acha que isso é muito pequeno? — Tiro meu foco do aparelho agora em cima da mesa e a volto para Logan, logo abrindo meus olhos ao máximo.
— Droga. — Pego a peça de baixo da lingerie e a jogo em máxima velocidade de volta ao lugar de onde não deveria ter saído. Me sinto tão envergonhada agora. — Deixe de ser enxerido!
— Não sabia que você se tornou alguém tão ousada assim. — Ergue suas sobrancelhas e, mesmo que poucos centímetros, ele se aproxima. — Poderia usa-la para mim, não é mesmo? — Morde seus lábios, agora avermelhados. Quando lhe dei tanta liberdade?
No mesmo dia que o cedeu sua virgindade, Hailee...
— Não, não poderia. — Pego outra das diversas batatas no intocado prato e tento deslocar toda a minha atenção para os movimentos que minha boca fechada faz ao mastiga-la. — Você poderia me deixar comer em paz?
— Estou te impedindo? — Não foi algo rude e sim humorado. Ele sempre levou tudo na esportiva. — Qual é, Hailee! A gente se divertia.
— É, mas não é como se eu...
— Não estou pedindo para voltarmos com sei lá o que tínhamos. — Me impedi de dar continuidade e por fim sinto meu corpo relaxar. Seria um grande desastre voltar com aquele amontoado de descobertas corporais e aprendizados sexuais. — Mas sinto saudades do seu corpo. — Beija meu ombro desnudo. Céus, acabei de me rebaixar para brinquedo sexual?
— Você pode se retirar? — Peço com o pingo de educação que me resta.
— Ok. — Dá de ombros, e antes de se levantar e prosseguir para algum lugar que não me interessa, Logan parece ter se lembrado de algo. — Você irá a festa no sábado? — Questiona radiando curiosidade através dos seus olhos verdes.
— Não, não a nada que me interesse lá. E também tenho que trabalhar. — Recolho o lanche em mãos e finalmente o provo, como estava ansiando a horas. Nada se compara ao prazer que sinto agora. Bom, talvez exista algo...
— Que sorte te ter como babá, Haiz. — Sorri malicioso ao mesmo tempo que engulo o alimento.
Logan se aproxima e sem que antes eu possa o impedir o mesmo me rouba um selinho rápido.
— Ainda estou esperando sua ligação, bae. — Se levanta e ignorando por completo meus praguejos injuriados.
Esse garoto é um grande problema ambulante.
[...]
— Foi incrível. — Comemora Chlöe no instante em que me sento na cama organizada, após um relaxante e extremamente necessário banho. Dias quentes me incomodam.
— Seu sorriso enorme, não me deixa dúvidas. — Penteio os longos fios escuros e molhados dos meus cabelos, enquanto vago meus pensamentos até o dia em que por pura luxúria me deixei levar pelos toques de Shawn em minha pele. É impossível não me lembrar disso a cada vez que minhas pálpebras se juntam.
— Ele disse que existem galáxias nos meus olhos, e que isso o encanta. — Suspira abobalhada e sinto uma grande vontade de bater palmas para esse lado romântico de Aaron. É surpreendente. — Eu poderia morrer agora mesmo. — Repouso a escova ao meu lado e de forma brincalhona a repreendo. — Por causas naturais; o amor.
— Uou, e eu poderia morrer de diabetes agora. — Ironizo. — Estou muito feliz por vocês. — A loira me abraça e em total conforto retribuo. E fascinante presenciar na terceira pessoa o primeiro amor.
— Finalmente está tudo dando certo, me parece um sonho Hollywoodiano que eu nunca mais quero acordar.
— E não precisa, apenas aproveite.
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