Point Of View - Hailee Caribe Steinfeld
Manhattan; domingo - 09h46min AM
Suspiro pela centésima vez antes de tocar meus pés quentes no chão tão mais gelado que ao lado da cama desfeita, finalmente me desperta com o seu pequeno choque nas pontas delgadas dos meus dedos, causada pela mudança drástica de temperatura.
Sinto toda a minha anatomia em alerta, quando, após incontáveis segundos percebo onde realmente estou agora, sozinha. Não foi apenas um sonho, foi incrivelmente real.
Levanto meu corpo seminu da maciez do colchão e procuro minhas roupas pelo chão, mas nada encontro, motivo pelo qual pego uma blusa grande de mangas compridas em cima da pequena poltrona ao lado do abajur. Espero que Sr. Shawn não se incomode com todo o meu atrevimento.
Caminho até o banheiro e após todo o ritual de higiene matinal, voltei para o quarto.
Mordo meus lábios ao encarar a cama um pouco desalinhada e totalmente bagunçada pelos movimentos tanto da noite passada, como da madrugada bem proveitosa. Isso, em partes, me deixa eufórica.
Ajeito os lençóis e a cama, no final a alinhando perfeitamente na parede e sob os cobertores grossos. É um bom costume, não uma mania.
Junto os meus sentidos aguçados que foram deixados pelos quatro cantos do quarto e saiu do cômodo frio, seguindo para a provável cozinha; de onde um cheiro ótimo, que ativa toda a minha fome reprimida, invade as minhas narinas.
Ao atravessar a porta espaçosa, tenho o deleite de poder observar as costas desnudas e bem malhadas de Shawn. O seu o porte é refinado, me deixa quente.
— Bom dia. — Desejo e seguro a alta gargalhada que tenta se manifestar, quando Shawn se assusta com a minha repentina voz. — Desculpe-me pelo susto. — Me sento no banco e me apoio no balcão. — E pela blusa. — Sorrio incomodada por ter que recorrer a isso. Nunca gostei de pegar coisas de outras pessoas, muito menos sem pedir.
Shawn se vira em minha direção e é a primeira vez no dia que seus olhos percorrem o meu corpo. Ele me parece um outro Shawn, o antigo Shawn.
— Tudo bem. — Mistura algo na panela e logo coloca sobre o prato a minha frente. Sinto minha fome se sobressair em um ronco alto em minha barriga. — Isso é nostálgico, não acha? — Sei exatamente ao que se refere; O primeiro dia em que estive com ele, logo após cometer o ato mais vergonhoso da minha vida.
— Aquele dia nunca irá ser esquecido por mim, pode ter certeza.
— A qual parte se refere? — No mesmo instante que sua voz se alastra pelo ambiente de forma baixa e quase contida, volto a minha atenção para os seus olhos. Uou, é incrível a grande facilidade que ele tem em me deixar vermelha e ter quase que derretida entre seus dedos.
— A qual você quiser. — Seus lábios passam a ser minha pequena obsessão no momento, e sinto que todo o conjunto que forma o meu eu, quer que ele me beije, mas de qualquer forma, isso não acontece. Melancólico, admito.
Por poucos segundos, Shawn, me avalia e como se algo de importante brilhasse em sua mente incógnita, para mim, ele se levanta.
— Espero que não se importe em comer sozinha. Eu realmente preciso me arrumar. — Percorro seu corpo com os olhos e os paraliso em seu rosto; bem desenhado e imperfeitamente perfeito. Quantos pincéis foram usados paro o moldar?
Que? Pincéis? Sério, Hailee?
— Não, tudo bem. Irei comer rápido e já me visto também. — Ele concorda e sem repostas se retira, me deixando sozinha e mentalmente bolando mil planos e desculpas para fugir da conversa que sei que teremos. Não posso fazer o que quero: fugir e isso me incomoda.
Brooklyn - 11h28min AM
Dedilho com leveza e distração a minha coxa direita, quando, por medo, não encaro seus olhos. Sei o que vem pela frente.
O silêncio se expande no carro, à alguns passos da casa - bem mais atrativa que esta possível conversa, onde Chlöe mora.
Eu não temo que ele diga que foi um grande erro e também não espero que ele me peça em casamento. O seu veneno já foi respingado em mim, e ele queima, rói, por dentro.
Ele é maduro e eu também me considero da mesma forma. Mas por que temo tanto as suas palavras? Difícil entender.
— Ham… Tchau, Sr. Mendes. — Faço a menção de sair do carro sorrateiramente e no mesmo segundo que minha mão abre a porta, a sua se prende em meu pulso. Droga...
— Precisamos conversar, Hailee. — Suspiro com destreza e fecho a porta, me encostando no estofado caloroso do banco ao seu lado.
— Você não precisa se preocupar. — Antes de qualquer coisa, o dou a minha garantia. Sei me controlar, bem, eu espero.
— Com o quê exatamente? — Seus olhos me analisam por partes e logo se aconchegam na altura dos meus olhos.
— Eu não irei “abrir a minha boca” e jogar o que aconteceu aos quatro ventos, e também não sou nem um tipo de adolescente obsessiva ou iludida por algo que só durou uma noite. — Agora, com o alívio se alastrando por mim, me permito olhar em seus olhos da mesma maneira que ele. Eu espero tudo a partir de agora.
— Eu não tenho dúvidas sobre isso. — Ele acha que eu não notei os seus dedos em minha coxa? Bom, eu não irei reclamar. — E também não era sobre isso que queria conversar. — Os seus dedos acariciam “inocentes” a pele desnuda e aos poucos os arrepios me invadem mansos.
— Não?
— Não, Steinfeld. — Nega, esbanjando sua elegância em seus lábios curvados em um sorriso discreto. — Eu queria dizer que, independente de tudo, eu não me arrependo. — É, isso eu não esperava. — Eu fui homem o suficiente para te ter ontem e serei hoje para assumir os meus atos. Não sou mais um adolescente, tenho que responder pelos meus erros e acertos. — Pisco várias vezes, na tentativa de ter certeza de que tudo isso não é apenas um delírio meu. Quais foram as desvantagens de tudo isso? Eu simplesmente não consigo as achar. — E a noite passada não foi um erro, nem na minha visão e nem perante a da sociedade, mas será que podemos deixar assim? Entre nós? — Seu cenho se franziu e sem dúvidas concordo. Entendo que mesmo não sendo um erro registrado, os olhos ainda nos olharão com intolerância e com toda a repugnância ainda existente.
— Tudo bem. — Quebro o nosso contato visual, quando vou pegar minha bolsa, mas sou impedida por seus dedos que viram o meu rosto para a direção do seu.
Seus olhos analisando a minha boca, os meus dedos coçando para ter seus ralos fios entre eles e o desejo transparecendo entre ambos os corpos. Tudo isso me parece tão familiar agora.
— Você pode fazer isso. — Eu o encorajo a me beijar ou fazer o que tem em mente e logo ele faz; puxando a minha nuca para si e dominando os meus lábios com os seus, habilidosos e quentes.
O beijo banhado em desejo não dura muito e quando o tenho a centímetros de mim o ouço sussurrar:
— Eu adorei. — Sei ao que se refere e o sentimento é recíproco. Eu também adorei a noite passada.
— Tchau, Sr. Mendes. — Risonha me despeço e ajeito a mochila consideravelmente pesada em meu ombro.
— Até qualquer dia, Hailee.
— VOCÊS O QUÊ?! — Chlöe berra milésimos após eu contar o que me prendeu a noite toda e me privou de dar maiores explicações à loira.
— Sim, nós transamos e foi ótimo. — Sua boca se entreabre e seus olhos tão mais claros, se perdem pelo cômodo.
— Você é uma safada incurável, Hailee. — O som da minha risada é alto, e parece o suficiente para fazer com que ela “acordasse” dos seus devaneios. — Você tem ideia do quão mais velho que você ele é? — Sua atenção volta para mim e meu corpo treme diante do julgamento silencioso que seus olhos fazem.
— Não é como se ele tivesse 50 anos, Chlöe. Só transamos, não assinamos os papéis de um casamento. — Dou de ombros e me encolho ao seu lado na cama bagunçada. — Eu não me arrependo.
— É claro que não se arrepende, já parou pra observar aquele homem? Até eu não teria um pingo de remorso. — Sei que ela blefa, não se entregaria a alguém que não conhece a tempo o suficiente para que um sentimento considerável já habite seu coraçãozinho de ouro.
— Você não presta. — Nego e sua feição falsamente ofendida se sobressai de si.
— Não fui eu quem "deu" pro chefe, que acima de tudo, mal conhece. — Em tom sarcástico diz, se ajoelhando na cama e sendo atingida por seu travesseiro, que antes estava nos meus braços.
— Eu preciso que jure que nunca vai contar a ninguém e que me prometa a sua cumplicidade. — Me sento de frente à loira e logo o seu dedo mindinho se levanta e para a minha frente. Sério? Estamos no primário?
— Eu prometo.
[...]
Point Of View - Shawn Mendes
C.L.A Company - 12h00min PM
Saio do elevador que me trouxe até o décimo quinto andar da multinacional, na qual sou o presidente. O ramo de advocacia nunca me pareceu tão cansativo. As vezes sinto falta da emoção de defender algum caso, ganhando ou perdendo ele.
— Boa tarde, Sr. Shawn. — Uma loira da qual não sei o nome para em minha frente me impedindo de entrar em meu escritório e no mesmo me “afogar” nas imensas pilhas de papéis, que tenho certeza que apossam a minha mesa.
Analiso o andar a minha volta e vejo que a mesa da minha antiga secretária está com novos objetos. Secretária nova, espero que me livre de tantas complicações.
— Meu nome é Charlotte Sophia, sua nova secretária. — Sua mão se estende e a toco com a minha em um aperto formal, não deixando de reparar por poucos instantes em seu decote perceptível. Não sou de ferro.
— É um prazer conhecê-la. Espero que já esteja se adaptando a empresa. — Seu sorriso se tornar chamativo por seus lábios estarem banhados em um batom vermelho forte, que combina com ela e com a sua beleza natural.
— Sim, tomei a liberdade de organizar os papéis que o senhor tem que assinar e de passar para mim aqueles que não precisam necessariamente passar por você. — Suspiro em alívio e agradeço a qualquer força superior que possa me ouvir.
— Obrigado, é de grande ajuda. — Sorrio grato e me viro, pronto para adentrar após alguns passos em minha sala, mas antes que isso aconteça a loira volta a me chamar. Me viro para Charlotte e a observo totalmente sem graça e até um pouco vermelha.
— Eu só queria deixar claro que do escritório para dentro a única coisa que me interessa é o trabalho e que a sua vida pessoal não me desrespeita. — Concordo esperando que ela prossiga. — E muito menos a sua opção sexual, sei que pode parecer difícil se assumir, mas a sua felicidade é o que importa. — Meu cenho se franziu e minha expressão muda de entediado para curioso, até mesmo assustado. O que ela está tentando dizer?
— O quê?
— O Senhor Brian me disse sobre o relacionamento que você dois mantêm, e eu posso te garantir de que não sairá daqui. — Sinto vontade de rir agora, pela brincadeira de mal gosto que meu melhor e pior amigo sempre faz com os novos funcionários. Ele é péssimo.
— A claro, isso é ótimo. — Sorrio e logo volto a me virar e antes de adentrar a minha sala ouço ela pronunciar baixinho “que desperdício”.
O ar gelado da central me faz sentir calafrios ao entrar em minha sala gelada e clara, bem diferente do apartamento, no qual passei a noite com Hailee.
— Eu te odeio, Brian. — Sento em minha mesa e a risada vinda do sofá de couro abrange todo o espaço do meu escritório. — Isso é tão infantil. — Ligo o meu computador e nos momentos de espera até que o sistema se inicie eu volto a minha atenção para o homem deitado no estofado no canto direito da sala. — Você não deveria estar trabalhando, ao invés de ficar enchendo os funcionários e deitado em um sofá? — Questiono com todo o meu sarcasmo respingando no seu semblante humorado e também esbanjando uma curiosidade distinta.
— É, eu deveria. — Dá de ombros e eu nego. Preguiçoso. — Mas eu estava muito curioso e até assumo que preocupado. Você sumiu de repente.
— Eu estava resolvendo assuntos pessoais. — Minto descaradamente e sua feição entrega que ele não acreditou em uma palavra sequer.
— Lógico que estava, sábado é o seu dia, né?. — Se levanta com toda a sua ironia e caminha até a frente da minha mesa se sentando na cadeira que ali possui. — Você estava no apartamento “dos bons sonhos”, e não adianta negar eu liguei pra lá e eles me confirmaram. — Se a vida em advocacia não tivesse dado certo, ele poderia ser o novo Sherlock Holmes. — E não era com a Dobrev, nos sábados ela fica no escritório até tarde enquanto você nem dá as caras por aqui.
— Desde quando você virou uma garota ciumenta e possessiva, Brian? — Brinco, esquivando da conversa desconfortável e que geraria conflitos em nossa amizade de anos.
— Quem era a mulher? — Questiona entusiasmado. Droga, ele não irá desistir e eu não irei ceder, o que resultará em um grande massacre. — Estão saindo há quanto tempo?
— Não te devo satisfações de com quem eu transo ou não. — Sou rude, mas isso não parece o afetar, de qualquer modo.
— Você sempre me fala, por que desta vez é diferente, cara? — Franze o seu cenho e meu sangue drena quente em minhas veias, por segundos até pensei que podia o sentir deslizar por dentro de mim. — Foi com alguém que não deveria? — Engulo seco e desvio a minha atenção para a vidraçaria, que me dá uma ampla visão de boa parte de New York vista cima. — Droga, Shawn! Ela é casada? — Nego rapidamente, mas permaneço quieto.
— Não irei falar.
— Então terei que arrancar de você. — Afirma rápido e se levanta.
— Boa sorte. — Desejo ao ver seu corpo passar pela porta antes fechada. Brian precisa urgentemente de uma namorada ou algo do tipo. Cuidar da minha vida não é algo que me agrada nos outros.
Relevo toda essa situação e os meus pensamentos que ainda se mantêm na noite passada e começo o meu dia de trabalho. Tedioso, mas gratificante.
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