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História The Nurse - Remember


Escrita por: VenturineEmy

Capítulo 3 - Remember


Vancouver, CAN; 09:00

Justin Bieber narrando

Sei que deveria estar no trabalho às sete, mas o relógio marcava nove. Duas horas de atraso.

Isso nunca aconteceu antes, e eu já trabalho fazem dois anos naquele hospital.

Acontece que eu já deveria ter aprendido que quando se completam dois anos trabalhando em uma empresa, é como estar em um casamento desgastado mas que você ainda ama o seu companheiro. 

Acorda com ela, toma café com ela, sai, trabalha, volta, janta, e depois dorme novamente. 

Uma entediante rotina que se repete todos os dias. Você quer mudar, quer acabar com isso, mas você ainda ama a sua esposa, sente que ela já faz parte de você e não sabe como iria recomeçar sem ela.

E é exatamente assim que eu me sinto trabalhando ali. 

Ainda não inclui a parte em que se você demorar duas horas para chegar em casa, sua esposa irá pensar que você estava na farra ou até mesmo com outra mulher, quando na verdade você estava apenas no trânsito. 

E é exatamente assim que eu me encontro agora. 

Frank, o diretor do hospital, me olhava feio através da janela de sua sala. 

Com certeza em toda essa minha metáfora ele era a esposa. Só que na tpm.

— Olá, Justin. Pensei que não iria aparecer hoje. A farra ontem foi boa? — Nikki apareceu ao meu lado, segurando a sua prancheta. 

— Não foi boa. — Sorri para ela. — Acho que porque não existiu. 

— Ah, qual é Justin. Nenhum drinkzinho? — Sacudi positivamente a cabeça para ela. — Então o que te fez atrasar?

— O trânsito infernal na pista principal? — Perguntei como se fosse óbvio. 

— Aaah, entendi agora. Foi um acidente  dos feios. Está uma bagunça na pista, como não percebeu? 

Parece que não foi só a bagunça da pista que eu não percebi. Não percebi também a bagunça que estava naquele hospital.

O clima era daqueles de quando acontecia um acidente bem grave e o acidentado vinha para cá. 

Isso porque temos uma política de bom atendimento que consiste em cada um de nós enfermeiros ficar responsável por um caso. Se qualquer coisa acontecer com essa pessoa, como uma parada cardio-respiratória, é culpa do enfermeiro responsável que não estava lá para ligar os aparelhos e salvar a vida dessa pessoa.

Então quando alguém em estado muito grave vinha para cá, o clima ruim se instalava porque ninguém queria assumir o caso e correr o risco de ser demitido.

Bom, depois desse grande atraso eu já corro o risco de ser demitido. Não sou nem louco de arranjar mais um motivo para isso acontecer. 

Minha mãe ainda precisa de mim, e o tratamento dela precisa do meu dinheiro.

— E qual é o estado do paciente? — Perguntei em tom profissional, e isso fez com que Nikki revirasse os olhos.

— Da paciente, é o que você quis dizer não é? — Cruzei o cenho para ela, então era mulher. Faz tempo que não recebemos mulheres por acidentes no trânsito. — Está muito mal. E quando eu digo mal, é mal mesmo. 

Fiz uma careta afetada. Eu tenho essa mania de me importar demais com os pacientes, seus familiares, namorado, marido, ou seja lá quem o acompanhe. 

— E os familiares?

— Ninguém apareceu. — Passo a mão na testa. 

Merda. Não se importe, Justin. Não se importe. Você não pode ser demitido. 

Ouço a voz de Frank atrás de mim e suspiro. Merda. 

 — Bieber, quero você na minha sala agora. — Nikki olhou para mim de olhos arregalados e em seguida se afastou.

Legal, Nicole. 

Bufo e caminho até a sala do diretor. Por um momento me senti novamente no colegial, quando eu ia umas cinco vezes na semana para sala do diretor, porque eu era sempre pêgo cantando pelos corredores da escola. 

Me sentei na cadeira de frente para Frank e o encarei, sério, porém cético. 

— Estou muito decepcionado com você, Justin. — Ele me disse sério. 

— Mas a culpa não foi minha, Senhor. O trânsito estava infernal por causa do tal acidente. — Eu tentei me explicar, mas ele continuava carrancudo.

— Para mim, trânsito não é desculpa. Também pego a pista principal, e olha, eu estou aqui. — Sorriu cínico. — Justin, o acidente estava anunciado em todos os jornais e rádios da cidade. Avisaram que a pista principal estava interditada. Se você estivesse comprometido com o trabalho, ficaria vinte e quatro horas buscando por novidades do hospital, assim como eu.  

— O que? Eu tenho uma vida fora daqui. — Falei indignado. 

— TE PEGUEI! Então você estava realmente na farra. 

— Não, não. — Bufo. Seria inútil argumentar.

— Ok, chega dessa conversa. Se isso acontecer de novo, dê adeus para essa Instituição, Bieber. 

Umedeci os lábios, levantei a cabeça e assenti. 

— Sim, senhor. Isso não vai acontecer novamente. — Falei firme e já iria me levantar para sair dali. 

— Espere,  Justin.  — Olhei para ele, cruzando o cenho de curiosidade. — Sei um jeito perfeito para eu esquecer desse seu atraso. Assuma o caso da nova moça. Não seja fraco pelo menos uma vez nessa sua vida.

Travei o maxilar e fechei minhas mãos em punho.

Tudo pela minha mãe. 

Tudo pela saúde dela. 

Fechei os olhos, respirei fundo e me virei para ele. 

Eu não sou um idiota. Eu sei que tudo isso é proposital. 

Não daria o prazer de vê-lo “ganhar” de mim. Sou muito mais capaz do que pensam. 

E foda-se se eu não conseguir dirigir o caso. 

Estou cansado. Simplesmente cansado de escutar me dizerem que eu não sou forte o suficiente, ou competente o suficiente. 

Quero que vejam que eu sou muito mais do que bom o suficiente.

Quero fazer a diferença. Sempre quis. E talvez eu já faça. 

— Frank, eu sei que me odeia e esse acidente tão grave caiu de paraquedas na sua vida para que finalmente consiga que eu seja demitido. Quero que saiba que não vou dar esse prazer para você e para o resto das pessoas que querem me derrubar aqui. Onde estão os papéis?

 

      *               *               * 

 

Finalmente fui até o quarto da garota. Depois de sair da sala do Frank, fui estudar a ficha dela e já sabia tudo que eu deveria saber dela de cor. 

Scarley Mendler. 24 anos. Advogada renomada. Rica. Noiva. Colidiu-se com um caminhão de quatro toneladas ás 7 da manhã. Sofreu grandes estragos. E grandes mesmo. 

Encarei a garota, Jesus. Ela está horrível. 

Levei meus olhos até uma pequena foto na sua prancheta. Meu Deus.

Na foto ela estava, digamos que… linda. Olhos azuis contrastados, bocas vermelhas e de tamanho proporcional, pele branca, porém bronzeada ao natural. Cabelos loiros tão brilhantes... e grandes... e lindos. 

Porra, quanta diferença. Sua pele agora estava branca e sem vida. Seus lábios pálidos e secos. Seus olhos... bom, os olhos dela agora eram um azul triste e confuso.

Eu pensei que ela demoraria mais tempo para acordar. Me enganei.  

Me aproximei da sua maca e ela me olhou com um misto de raiva e complexidade. 

— Não encosta! — Ela gritou e eu parei no meio do caminho sem me movimentar, mas aí a mulher começou a se debater. Vai me dar mais trabalho do que eu pensei. — Eu vou sair dessa merda aqui agora, onde está o filho da puta do Dylan? Diz pra ele que eu vou acabar com a vida dele e da Beatrice. 

Era atormentador ver aquilo. Uma mulher tão machucada se debatendo e dizendo que iria acabar com a vida de alguém assim. 

Me aproximei de novo e peguei rapidamente a seringa. Tentei não olhar muito para ela enquanto colocava o medicamento dentro do compartimento. Arrumei a agulha no bico e dei um jeito de segura-la enquanto apertava o êmbolo, o líquido do interior do corpo da seringa se deslocava até sua corrente sanguínea e a Srt. Mendler já começava a se acalmar, o corpo ficar parado, os olhos e boca entre aberta sussurrando coisas sem sentido. 

Consegui entender algumas dessas coisas.

— Ele está dormindo com ela. Beatrice é uma vadia falsa .— Ela falou e em seguida o efeito do remédio se fez presente e ela dormiu.

Suspirei e descartei o objeto perfurocortante no seu devido lugar. 

Encarei a mulher. 

Já presenciei várias reações de pacientes ao acordarem e nenhuma delas incluía raiva ou ódio. Essa tal Scarley superou as minhas expectativas mas não de um jeito positivo. 

Saí da sala para procurar alguma novidade sobre os familiares da paciente. Não é possível que mesmo estando em todos os jornais e rádios da cidade ninguém tenha vindo saber como ela está.

Assim que cheguei na sala de espera, uma mulher que aparentava ter a mesma idade da minha mãe, chorava e gritava nos braços de Nikki. 

Senti pena. Eu sei como me senti quando descobri a doença da minha mãe. Foi devastador. 

 

Flashback - 4 anos antes.

 

Havia acabado de chegar depois de ter cantado em um barzinho. Nunca quero me esquecer do quanto é bom cantar para as pessoas e ver suas reações. Mesmo sendo um barzinho bem mequetrefe e que corria o risco de fechar à qualquer momento, a sensação era mágica para mim.

Tomei um banho e sentei-me na cama olhando a minha carteira e contando os míseros trinta reais que faturei hoje. Acho que dá para sobreviver até o próximo fim de semana. 

Me deitei e fechei os olhos, apesar de tudo, eu sorria. Tinha esperanças de que um dia tudo isso iria melhorar e que esses trinta reais se multiplicariam.

Levantei em um sobressalto ao escutar o barulho de um corpo se chocando ao chão no quarto da minha mãe. 

Corri até o quarto dela, e merda, a porta estava trancada.

Se a minha mãe fosse o tipo de mulher que trazia homens para casa, em partes, eu não me preocuparia. Mas ela nunca foi desse tipo.

Gritei e bati desesperadamente na porta do seu quarto, os estrondos eram altos. Não demorou nada para que Ryan e Caitlin, meus amigos desde criança, entrassem no meu apartamento às pressas. 

Não tive tempo de me questionar como eles entraram.

Ryan entrelaçou meus braços e gritou no meu ouvido. 

— Justin você está surtando? Calma, porra. 

— Minha mãe, Ryan. Ela caiu, eu ouvi. — Eu olhei para ele ,desesperado, e me debati para que ele me soltasse, eu sempre fui mais forte que ele, e isso me ajudou.

Ela não respondeu depois de toda essa gritaria, certamente algo está acontecendo. Não perdi mais tempo e chutei com força a porta, ela caiu ao chão e eu tive a visão da minha mãe se contorcendo nele.  Os olhos dela estavam vazios e piscavam repetidas vezes. Da sua boca saia saliva e sua cabeça batia contra o piso.

Minha única reação foi gritar e chorar. Eu não sabia o que estava acontecendo. 

Caitlin foi a única a entender tudo e se aproximar colocando- a de lado com uma almofada embaixo da sua cabeça. 

— Mais o que ta acontecendo? — Eu ajoelhei do lado dela segurando sua mão que apertava a minha involuntariamente. 

— Ryan, chama a ambulância. — Caitlin gritou para ele, também chorando desesperada. 

Ryan pegou trêmulo o celular e discou o número de emergência. Ele explicou tudo.

Aquele momento horrível se arrastou por mais cinco minutos, quando eu escutei o barulho da sirene. Alguns segundos depois escutei ela ser estacionada e Ryan abrindo a porta, logo depois os enfermeiros vieram prestando socorro.

— Você precisa se afastar. — Um homem disse para mim. Sacudi inúmeras vezes a cabeça em negação.

— Eu não vou sair daqui. P-por favor faça isso parar. — Eu o olhei suplicando pela saúde dela. 

— Precisamos que se afaste para gente fazer nosso trabalho. — Eu continuei negando, eu não queria me afastar. Ryan me segurou por trás e me arrastou.

Me debati, e mesmo eu sendo mais forte que ele, naquele momento eu era mais fraco e todo meu esforço foi em vão. 

— Ry, por favor.  — Eu gritei me debatendo e chorando desesperado. — Eu tenho que ficar com ela. Por favor. 

— Justin, olha pra mim, porra. — Ele me virou e segurou meu rosto, fazendo com que eu o encarasse. — Você não vai conseguir ajudá-la desse jeito. Deixa quem é especializado fazer isso. Porra, ela vai ficar bem. — Ele falou e engoliu o seco.  Eu pude notar que ele estava tão triste quanto eu. 

Eu o abracei e em seguida Caitlin se juntou a nós. 

Essas crises se repetiram por diversas vezes, era insuportavel não poder estar ao lado dela. Não havia um único médico que conseguisse descobrir o que ela tinha. Vários diagnósticos, e até que uma consulta, mudou tudo.  Tumor cerebral. Eu me senti devastado. Quis matar todos aqueles médicos, tentei me convencer que eles estavam mentindo. Mas não estavam. 

Ela é minha mãe. Ela prometeu cuidar de mim sempre, e agora, era ela quem dependia de mim. 

A medicação era cara. De um para o outro, os trinta reais por semana já não eram mais suficientes para nós dois. 

E ai eu tive que crescer, eu já tinha dezoito anos, teria que assumir a responsabilidade da maioridade. Finalmente percebi que não iria poder viver de música.

Eu trabalhei tanto. Não negava nenhum trabalho. Um dia eu acordei e me encarei no espelho, já não era mais aquele frangote magrelo e sem músculos. A força do trabalho havia me feito crescer, tanto física como mentalmente. 

Naquele mesmo dia, uma grande oportunidade bateu à minha porta. O dono de um hospital em que eu ajudava na construção, conheceu a minha história e me ofereceu uma bolsa para a faculdade. 

Eu pude escolher qualquer área. 

Mas eu escolhi enfermagem. 

Finalmente eu não iria mais passar por toda aquela agonia que era ver a minha mãe tendo crises, vendo-a sentindo dores e sentindo-me impotente por não poder ajudá-la.  

Dali para frente era eu quem pagaria seus medicamentos. Seria eu quem iria mandar todos se afastarem. E seria eu a primeira pessoa que ela veria quando acordasse.

 

 



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