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História The One - Hold on


Escrita por: miedoaperderte

Notas do Autor


Oi, como vocês estão?

Só tenho duas coisas a dizer:
1- Ouçam a musica Hold On do Chord Overstreet!
2- O choro é livre!

BOA LEITURAAAAA!!!

Capítulo 26 - Hold on


Karol Sevilla

Acordei e me mexi na cama. Estranhei um vazio ao meu lado. Procurei pelo celular e percebi que tinha despertado apenas de um pequeno cochilo e não de uma longa noite de sono.

Sono. Isso é o que mais ando tendo ultimamente. Encosto-me em qualquer lugar e minhas pálpebras já pesam num claro sinal de aviso de que o maior sintoma que estou tendo até agora é a incontrolável vontade de dormir. Hoje cheguei do trabalho e quando dei por mim, já estava deitada pronta para dormir.

Encontrei um bilhetinho em cima do travesseiro de Rugge. “Eu e Matteo fomos buscar uma pizza para alimentar a mamãe e o bebe, voltamos logo” dizia um post-it com uma cor chamativa.

Apenas o tempo de que eu fosse até o banheiro foi necessário para ouvir as chaves na porta e sentir o incrível aroma de massa italiana com queijo no ar. Tirei o jaleco branco e sujo de giz, nem troquei de roupa quando cheguei, e coloquei um vestido soltinho, dos que costumo usar em casa.

- Estava bom o cochilo, dorminhoca? – Rugge me deu um beijo rápido.

- Ótimo. Nosso feijãozinho também adorou. – estava apenas com sete semanas, e o bebe ainda era pequeno demais, então demos esse apelido a ele.

- E será que esse feijãozinho gostaria de ter um sapato? – tirou uma pequena caixinha do bolso e abriu. Ela continha um par de minusculos sapatinhos brancos

- Ai... Rugge... – peguei as peças de tricô com cuidado – É tão pequeno.

- São de recém nascido, o pezinho dele vai ser desse tamanho. – sorriu bobo.

- Que coisa mais linda meu amor. – dei um beijo rápido nele e me afastei de leve.

A grande verdade é que sinto mudanças no meu corpo. Os hormônios agem de forma cruel e meus seios pareceram dobrar de tamanho e adquirir uma hipersensibilidade, o que não significa que eu e Rugge estejamos transando loucamente. Perguntei a minha médica e ela disse que é absolutamente normal eu não sentir a menor vontade nessa fase. Ter um marido compreensivo é a melhor coisa, Rugge está me mimando e me enchendo de carinhos e coisas fofas.

- Sabia que o coraçãozinho dele começa a se formar agora? – levei as mãos até a barriga.

- Sabia que você fica a coisa mais linda com os olhinhos brilhando ao falar do bebe? – se abaixou na altura do meu ventre e deu alguns beijos por cima do vestido – Parece que tudo está passando tão rápido. Descobrimos há alguns dias e ele já tem um coraçãozinho.

- Acho que vou chorar. – dei um leve sorriso e senti os olhos aguarem.

- Essas alterações de humor repentinas. – abraçou-me.

- São os hormônios, amor. – fiz biquinho encostando a cabeça em seu peito.

- Eu sei, linda. – fechei os olhos aproveitando o cafuné que ele fazia nos meus cabelos – Matteo está estranhando toda essa atenção que estou dando a você, acho melhor contarmos a ele logo.

- O que acha de aproveitarmos essa pizza em família para dar essa notícia ao nosso pequeno? – levantei minha cabeça olhando em seus olhos e ele roçou nossos narizes em resposta afirmativa.

- Vamos lá então que ele deve estar devorando tudo sozinho. – entrelaçou nossas mãos e caminhamos até o andar de baixo.

Matteo dividia a atenção entre a televisão e dois pedaços de pizza, que pela maneira que estão, foram cortados por ele.

- E para a mamãe não sobra nem um pedacinho? – sentei ao seu lado.

- Claro que sobra. Quer? – colocou o prato na minha direção.

- Obrigada, meu amor. Seu pai vai trazer para mim. – beijei o topo de sua cabeça.

Passei o jantar inteiro nervosa por como Matteo reagiria a notícia. Por mais amoroso e entusiasmado com quase tudo que ele seja, é apenas uma criança e pode não lidar muito bem no inicio com a vinda de um bebe. Ele brincava no tapete da sala com sua coleção de dinossauro, quando Rugge resolveu que seria o momento de ter a nossa conversa.

- Filho, senta um pouquinho aqui com o papai e a mamãe. – ele pegou o dinossauro na mão e veio até nós.

- O que foi? – parou na nossa frente.

- Vem aqui no colo do papai. – Rugge deu duas batidas no joelho e ele se sentou, sem entender muito bem a situação.

- Temos algo muito importante para te dizer. – acariciei sua bochecha com o polegar.

- Vocês estão estranhos.

- É que temos um presente para você. – Rugge mexeu em seu cabelo e ele sorriu animado.

- Que presente? – uma onda de empolgação pareceu passar por ele.

- Antes de dizer qual é o presente, precisamos que você prometa que será responsável e que vai cuidar muito bem dele. – comecei.

- Eu prometo mãe. O que é? O que é? – olhou para todos os lados a procura de algum indicativo do que estávamos falando.

- O que você quer muito, muito, muito ganhar? – Rugge continuou.

- Um vídeo game? – negou – Já sei, uma coleção de carrinhos!

- Também não. Pensa bem.

- Dinossauros novos? – pensou – Se bem que eu já tenho muitos. Uma piscina igual a da casa da vovó?

- Não é nenhuma dessas coisas, filho.

- É que eu quero muitas coisas, mãe.

- Mas o que você mais queria ter e ainda não tem? – Rugge o encarou com um sorriso sugestivo.

- Um irmão? – disse receoso depois das várias tentativas falhas de acertar e meus olhos cristalizaram de emoção – Eu vou ganhar um irmão? – virou para o pai com alegria estampada no rosto.

- Ele já está na barriga da mamãe. – sorriu apontando.

- Tem um bebe na sua barriga mãe? – olhou curioso.

- Tem sim, meu amor.

- E como ele cabe ai dentro? – a hora das perguntas é a melhor.

- Ele ainda é bem pequeno. Vai crescer e demorar alguns meses para sair daqui. – Matteo não teve contato próximo com nenhuma grávida, então isso é muito novo para ele.

- E é menino ou menina?

- Ainda não dá para saber. – Ruggero ria alto das perguntas dele – Como sua mãe falou, ele ainda é bem pequenininho.

- E quando vamos saber? Vai demorar? Não gosto de esperar. – suspirou, levantando e abaixando os ombros.

- Daqui algum tempinho mamãe vai fazer um exame que vai dizer isso.

- Então quero que seja logo. Amanhã no colégio vou dizer para todo mundo que vou ter um irmão.

- Sobre isso, precisamos conversar. – Rugge ajeitou ele em seu colo – Essa é uma notícia muito nova, só nós três sabemos. Você vai ter que esperar um pouco mais para dizer aos seus amigos. Consegue fazer isso?

- Claro, pai.

- E também vai ter que ficar de olho nessa moça por mim. – apontou para mim – Ela não pode correr, nem carregar peso e nem pensar em se jogar na grama para brincar com as crianças.

- Pode deixar pai, vou vigiar ela e meu irmãozinho! – falou sorridente, mas de uma hora para outra sua expressão mudou.

- O que foi filho?

- Vocês vão me esquecer quando o bebe chegar?

- De onde tirou uma bobagem dessas?

- É que ele vai ser filho de vocês dois e eu não sou. – abaixou a cabeça – Aconteceu isso com o meu amigo quando os pais dele casaram de novo.

- E quem disse que somos como os pais do seu amigo? – levantei sua cabeça com as mãos – Você pode não ter saído aqui da barriga da mamãe, mas eu te amo demais, filho. Você chegou na minha vida e me tornou sua mãe, e isso nunca vai mudar.

- Campeão, você vai ser sempre nosso cupido. Ou esqueceu que sem sua ajuda papai não teria conseguido conquistar a mamãe? – Rugge fez cócegas na barriga dele e uma gargalhada gostosa foi ouvida.

- É verdade. Seu irmão só está aqui dentro porque você com esse seu jeitinho sapeca nos juntou. – pisquei e coloquei minha mão em meu ventre.

- Eu posso colocar a mão também?

- É claro que pode. Vem cá. – peguei suas mãos e coloquei em cima da minha – Ainda não dá para sentir, mas quando começar a crescer, você vai poder sentir seu irmão se mexer. – sorri.

- Mal posso esperar para isso então.

 

Na décima primeira semana fiz meu primeiro ultrassom. Não contive minhas emoções ao ouvir pela primeira vez o coraçãozinho do meu bebe batendo. Ruggero também estava a emoção em pessoa, arrisco dizer até que ele estava um pouco mais nervoso que eu, e bem, depois de tudo que aconteceu é um pouco compreensível.

É bem difícil fazer esse exame. O médico nos avisou que poderíamos ter algumas surpresas quanto a doenças e isso aflige qualquer pessoa. Mas nosso bebe maravilhosamente bem, crescendo como deveria e se formando no tempo correto.

Não me contive e tive que contar aos meus pais e aos pais de Rugge antes de vir fazer o exame. Queria compartilhar essa alegria com eles e foi a coisa mais linda vê-los tão bobos com a notícia de que vão ser avós. Leonardo também pirou, é bem provável que ele seja grudado nesse pequeno como é em Matteo.

A ideia original era imprimir cópias do ultrassom e entregar a eles em um jantar lá em casa, mas como uma boa grávida com oscilações de humor, tive que contar antes e emocionar a todos.

Agora, das pessoas mais próximas, faltam apenas o nosso casal de melhores amigos e futuros padrinhos do nosso filhote. E tivemos uma ótima ideia para contar aquele par de malucos que seriam tios.

- Se eu passar mal, vocês vão pagar meus remédios. – Victória disse assim que coloquei os pratos tampados em cima da mesa.

- Eu não queria ser indelicado, mas é sério Ka, você cozinha mal. – Agustín também não estava muito seguro.

- Eu juro para vocês que dessa vez vão adorar o que ela fez, eu provei e ficou ótimo. – Rugge terminou de colocar tudo na mesa e se sentou ao meu lado.

- Tem certeza? Conheço ela há vários anos e isso nunca aconteceu. – Vic repetiu, levando um gole de vinho a boca.

- Não estão levando fé em mim mesmo? Poxa, eu me esforço, faço tudo com muito carinho e vocês nem para apreciarem.

- Ka, todo mundo sabe que quem cozinha bem nessa casa é o Ruggero.

- Confiem em mim, você vão amar. – entrelaçamos nossas mãos por baixo da mesa – Podem tirar a tampa e descobrir o que é.

Ambos foram ao mesmo tempo e suas bocas se abriram em surpresa. Encontraram em cada prato um par de sapatinhos e a fofíssima frase “prepare o colo madrinha/padrinho, estou chegando”.

- AAAAAAAAAAAAAAA! – Vic gritou balançando as mãos para cima.

- Se isso for uma brincadeira, saibam que sou cardíaco. – eu quase podia ver uma lágrima caindo do olho de Agus.

- Não tem brincadeira nenhuma aqui. Vamos ter um filho. – Rugge deu um beijo nas costas da minha mão esquerda.

- Amiga! – ela levantou e veio até o outro lado da mesa – É seu sonho! AI MEU SENHOR, VOU SER TIA! – gritou novamente, me abraçando.

- Cara, eu não estou bem, não mesmo. Como vocês me contam isso sem preparar uma água com açúcar? – Agus fez sua cena de sempre e puxou Rugge para um abraço – Mais um, irmão.

- Mais um. – vi o sorriso de Rugge e meu coração de encheu. Ele não podia estar mais feliz coma vinda desse bebe.

- Ok. Eu vou ser a madrinha. Certo. Preciso pensar em todo o enxoval. – ela terminou de tomar todo vinho de uma vez só e virou para Rugge – Você engravidou minha melhor amiga, precisamos ter uma conversa! – os dois se abraçaram e riram.

- O mesmo serve para você. Está carregando meu afilhado dona Karol, vamos vigiar você a todo momento. – nos abraçamos também

- Muito obrigada por vocês namorarem. – falei depois de servir o real jantar, feito por Ruggero, é claro – Facilitou muito a nossa vida.

- Seria ruim escolher um padrinho aqui e outro ali, vocês serem um casal caiu perfeitamente.

- Não venham querer desconversar não. Planejaram o bebe ou não? – nos olhamos e só rimos.

- Eu sabia! – Agus exclamou – O sementinha certeira essa sua Ruggero, não erra o alvo nem querendo.

- Sou bom no que faço. – piscou para mim e retribui dando de língua.

Esse com toda certeza era o Ruggero de verdade. O cara que eu conheci três anos atrás era só uma fantasia, uma armadura. Todas aquelas barreiras prendiam ele e era difícil contagiar ele com alguma coisa ou fazer brincadeiras como essa. Agora é tudo mais fácil, mais leve e tão mais gostoso.

 

E falado em gostoso, minha libido está voltando. E como. Na décima quinta semana eu estava subindo pelas paredes.

Rugge já tinha se acostumando com a seca nesse iniciozinho, onde toda prioridade é a gravidez e a mulher nem lembra direito que tem um marido. Mas agora a reviravolta de hormônios no meu corpo está novamente causando interesse por um contato mais intimo.

- Tá tudo bem, Ka? – Rugge perguntou enquanto o olhava terminar de guardar as coisas do almoço. Matteo está na escola. Eu tive o dia livre e ele escapou do trabalho para ficar comigo.

- Tá. Tudo ótimo. – mordi meus lábios vendo os músculos do seu braços – Andou malhando, amor?

- Já estou fazendo isso há algumas semanas. Agora que percebeu? – perguntou sem virar de frente para mim.

- Você parece estar muito mais forte que antes. – continuei percorrendo o corpo dele com o olhar. Nunca estive com tanto fogo como agora.

- Fico feliz com o elogio. – terminou de arrumar tudo e se virou – Tá tudo bem mesmo, Karol?

- Já disse que está! – respondi dando um sorriso de lado e seus olhos focalizaram dois velhos e agora imensos conhecidos meus.

- Não tinha visto que estava com essa blusa por baixo. – desde que ele chegou do trabalho eu já estava com um casaco por cima da blusa de alcinha e só agora, tinha o deixado de lado – Desculpa dizer desse modo chulo, mas você esta gostosa pra cacete amor. – já faz alguns dias que temos nos aproximado mais, tenho dado mais abertura e ele tem me dito o quanto ganhei lindas curvas, ainda sem minha barriga aparente, e feito caricias um pouco mais ousadas – O que eu não daria para... – disse baixo e sacudiu a cabeça suspirando.

- Vamos lá então.

- O que?

- Fazer sexo, Ruggero. – soltei as palavras e ele se assustou – É. É isso. Quero transar.

- Tem certeza? E toda aquela coisa de não sentir vontade?

- Se lembra que a doutora Júlia disse que iria passar algum dia, não se lembra?  -  assentiu vindo até mim – Pois então, passou. E se a gente não for pra uma cama agora eu juro que vou colocar fogo nessa casa. – brinquei, nesses últimos dias ando menos irritada que antes, mas uma boa grávida sempre sabe como se impor.

- Você não sabe o quanto esperei esse dia chegar! – passou um dos braços pelos meus joelhos e o outro pela minha cintura, e caminhou comigo escada acima.

O fato dele já ter passado por isso ajudou muito nesse momento. Ele não tinha medo e sabia exatamente como agir e as posições certas para não me deixar desconfortável. Fazendo um grande resumo da obra, saciei minha vontade de fazer amor e foi maravilhosamente bom.

 

Na vigésima semana eu estava eufórica. Minha barriga já tinha crescido um pouquinho e eu definitivamente me senti grávida. Todos ao meu redor começam a me tratar de modo diferente com as mudanças do meu corpo, passei de não ter nenhum privilégio, a ter privilégios de grávida, ainda que apenas um pequeno morrinho tenha se formado no meu abdome.

Estamos com os olhos fixos na tela do computador enquanto a medica desliza o aparelho com gel na minha barriga. Podemos ver o bebe se mexendo e até conseguimos ver seu rostinho. Também vamos descobrir o sexo e confesso que não dormi na noite anterior de tanta ansiedade.

- Estão prontos? – ela perguntou com um sorriso cúmplice.

- Estamos. – nossas mãos entrelaçadas continham um pouco do nervosismo um do outro.

Ela deslizou o aparelho um pouco mais e parou, apertando com cuidado.

- Conseguem ver? – apontou.

- Acho que sim. – olhei para Rugge e ele assentiu que tinha entendido o mesmo que eu.

- Podem preparar a coleção de vestidinhos porque quem está vindo ai é uma menina.

- É uma menina, meu amor. – falei com a voz quebrada e ele parecia não acreditar. Ruggero encarou a tela por alguns segundos deixando as lágrimas caírem livres por seu rosto.

- É a nossa princesa. – encostou a cabeça na minha sem controlar a emoção. Esperamos muito por esse dia e acho que no fundo, os dois estavam desejando que fosse uma menina e que pudéssemos ter um casalzinho – Certo, vou comprar as armas agora mesmo.

- Amor! – o repreendi.

- Estou brincando, linda. – beijou minhas mãos – Está tudo bem com elas doutora? Tudo certinho? Precisamos nos preocupar com algo?

- Tudo melhor que nunca, Ruggero. Sua mulher e sua filha estão perfeitamente bem. Sua mulher tem uma gravidez saudável e extremamente calma. Tudo indica que essa garota vai ser tão tranquila quanto a mãe. – sorriu – Mas isso só está sendo possível porque você se cuida e toma todas as vitaminas, além de seguir a dieta na nutricionista e os conselhos do fisioterapeuta, Karol. Continue assim e a pequena...?

- Ainda não pensamos em nomes. – disse ainda encantada com a revelação do sexo.

- Bem, a pequena vai nascer saudável e cheia da energia.

Saímos do consultório imersos em um mundo de princesa. Eu carrego uma menininha. Uma princesa que foi fruto do meu amor por Ruggero e isso é incrível. Sinto-me tão próxima a ela e ela nem tem um nome. Mas é estranhamente incrível como um serzinho tão pequeno desses possa gerar tanto amor.

 

A entrada da vigésima terceira semana veio com tudo. Os primeiros chutes foram um momento de alegria geral. Todo mundo queria colocar a mão na minha barriga e sentir nossa pequena sem nome chutar. Eu sempre pensei em dar um nome apenas após ver o rostinho do bebe. Não quero que ela não goste do próprio nome e por isso, em consenso decidimos esperar até a hora do nascimento.

 - Olha, mexeu de novo. – Matteo estava deitado junto a mim e a Rugge em uma tarde chuvosa de domingo – Você viu pai? – eu usava só um top na parte de cima, deixando os dois conversarem com a barriga.

- Vi sim filho. Sua irmã é tão elétrica quanto você. – nisso ele tinha completa razão. Ela só parava de chutar depois de pegar no sono.

- Quando você vai sair daí? Quero te apresentar meus dinossauros. – encarou a barriga e disse de modo firme. Ele adorou o fato de ser uma menina. Vamos ser sinceros, ele não estava nem um pouco a fim de ter competição com mais um Pasquarelli correndo pela casa.

- Pergunta para ela se ela está confortável. – Rugge disse e riu da minha careta de dor – Ei, pequena princesa, não acha que está na hora de deixar a mamãe descansar um pouco?

Tinha coisa mais linda que ele com o cabelo cheio de cachos e barba comprida, conversando com a minha barriga?

- Você tem que obedecer ao papai, irmã.

- Isso mesmo, Matteo.

- Ih, acho que ela não está com muita vontade de fazer isso não. Acabou de dar mais um chute. – passei a mão no local – Filha, papai tem razão. Eu preciso de um pouco de descanso. – esperei alguns instantes e sorri ao sentir ela se ajeitar dentro de mim e se acalmar.

- Como faz isso? – Matteo ficava surpreso – Porque papai e eu nunca conseguimos?

- Bebes tem uma ligação maior com a mãe, meu amor. Isso é normal.

- Amanhã vou tentar de novo! – ele estava a dias na tentativa de conseguir deixar a irmã calma.

- Antes de você dormir, minha pequena. Papai só quer dizer que te ama muito. – ele beijou minha barriga mais uma vez e deitou ao meu lado.

 

Na vigésima sétima semana, apesar de quase tudo em mim estar inchado e do peso na barriga já estar incomodando, as coisas eram só alegrias. A menos quando a pequena resolvia acordar durante a noite e me chutar. Isso não é nem um pouco legal.

Minha relação com Rugge está numa fase incrível. Ele está comigo a todo tempo e faz de tudo para saciar todos os meus desejos. Além de claro, ser um ótimo massageador de pés.

- Isso amor, bem nesse ponto. – não se engane, não é o que está pensando.

- Você está dizendo isso há cinco minutos. – riu e continuou a massagem.

- Talvez tenha mais de um ponto. – também ri – Viu, agora mudou.

- Tenho mais habilidades com as mãos do que pode imaginar. – me mandou um sorriso safado.

- Espero que suas habilidades também incluam carregar minha mala de maternidade e a mala da bebe. Além de segurar Matteo e os documentos na mão quando a hora chegar.

- Vamos ter sorte se eu conseguir pronunciar alguma palavra com o nervosismo.

- A mala é importante. Já vamos deixar dentro do carro para não ter nenhum problema. Também tem que deixar o bebe conforto também. E não dá para esquecer de todas as orientações da doutora Júlia.

- Exatamente. Respirar e se acalmar porque de qualquer jeito o bebe vai nascer. – ele riu, mas no fundo eu estava começando a ver seus medos se aflorarem mais uma vez.

- Acho que alguém ouviu que estamos falando dela. – senti pequenas pontadas incomodas na barriga.

- Mas não são nem três da manhã ainda. – riu e se aproximou da barriga – Mocinha, essa é a hora da massagem, você deveria estar dormindo.

- Acho que ela não gostou muito das suas habilidades com as mãos. – sugeri – Ai filha, essa doeu.

- Papai vai contar uma história para você dormir. – acariciou minha pele de leve - Num reino muito distante havia um rei, solitário e triste após uma grande perda. Esse rei estava quase deixando o castelo nas mãos de desconhecidos, porque ninguém era capaz de fazê-lo feliz além do príncipe. Mas um dia, ele conheceu uma linda moça e se apaixonou por ela. Essa moça se tornou a rainha desse reino e todo povo no palácio se alegrou com a chegada dela. Um tempo depois, eles estavam celebrando a chegada de uma linda princesa, que viria para alegrar ainda mais os dias do nosso personagem principal, que é o rei.

Ele continuou conversando com a barriga e eu me limitei a apenas observar o quanto ele era a melhor pessoa do mundo.

 

Trigésima segunda semana e aparentemente está tudo bem. Mas venho notando que ele tem tido pesadelos. Já não consigo dormir direito, o peso na barriga e o desconforto são imensos, então chego a passar noites em claro e percebi a agitação dele como há alguns anos, quando tinha seus pesadelos diários. Eles chegariam. Eu sei que chegariam. A mente dele está programada para avisar que quanto mais perto da hora do parto, mais perto do momento onde ele tem a possibilidade de me perder.

Isso não vai acontecer. Nós dois sabemos disso. Na verdade nós dois esperamos isso. Agora é um momento delicado, conversei com a médica e com outras mulheres e elas me disseram que a partir de agora é normal que eu tenha medo de que algo aconteça. O bebe é a coisa mais importante para mim e é um pouco apavorante que em pouco tempo ele saia daqui de dentro e venha ao mundo. O medo pode ser tanto de perder o bebe, quanto de que algo aconteça comigo.

- Não, por favor, não quero sair, não. Bianca, Bianca. – Rugge dizia alto, se remexendo na cama com aflição – Meu amor, não, Bianca não.

- Rugge. – cutuquei-o – Meu amor é só um pesadelo. – mas uma vez eu falhei – Ruggero eu estou aqui.

- Bianca? Meu amor? – ele pareceu estar acordando e deu um leve sorriso.

- Estou aqui, está tudo bem. – acariciei seu rosto – Está tudo bem.

- Ka? – abriu os olhos com certa dificuldade – Meu amor. – com cuidado me abraçou e beijou meus lábios. Precisava sentir que eu estava bem.

- Estava chamando por Bianca. Quer me contar? – negou.

- Foi horrível. E não, não quero que a imagem que tive fique na sua cabeça também. Você está aqui e está tudo bem. – acariciou minha barriga com cuidado.

- Tem certeza? Estou sentindo contrações e vou demorar a dormir.

- Foi só um pesadelo. Não é real e não vai acontecer de novo. – ele repetia como se precisasse acreditar naquilo. E ele precisava, precisava muito.

- Rugge, eu estou com medo. – confessei – Você vai estar lá?

- É claro que vou.

- Você vai conseguir? Vai encarar estar numa sala apenas comigo e com os médicos? – ele fechou os olhos e tenho certeza que as mesmas imagens de sempre atormentaram seus pensamentos.

- Eu vou estar lá. Mesmo que o medo me possua por inteiro não vou te deixar sozinha, Karol. Isso seria minha ruína. Nem que eu tenha que estar a base de remédios, estarei segurando a sua mão até ouvir o choro da nossa filha e só soltarei para que você possa pegá-la no colo. – sua voz saiu cortada – Eu preciso que a pegue no colo, que a sinta, que ela saiba que tem uma mãe.

Ficamos em um total silêncio até que mais uma das minhas contrações veio e me fez agarrar o lençol com força, tentando espalhar para longe todo o medo que começou a me rodear. O grande dia estava cada vez mais perto.

 

Faltam apenas algumas semanas. Essa é a trigésima quinta e eu estou caminhando com certa dificuldade já. A grande realidade é que o bebe pode nascer a qualquer momento.

Matteo está no quarto assistindo desenho e Ruggero foi à farmácia comprar um remédio para dor de cabeça. O pequeno está tão ansioso quanto nós, e isso gerou uma série de dores de cabeça na ultima semana, e o remédio acabou.

Tive a impressão de ter perdido o papel com todos os detalhes do que o plano de saúde cobre e com cuidado decidi procurar por ele no escritório. Uma caixa estava em cima da mesa e pensei que procurar ali seria o mais lógico. Talvez Rugge tenha colocado as coisas ali para não se confundir.

Abri a caixa e senti um choque. Encontrei cartas destinadas a Bianca. Dez, para ser mais precisa. Pensei muito antes de mexer, mas algo me dizia que por algum motivo ele tinha esquecido aquela caixa ali.

Abri o primeiro envelope com cuidado e não precisei terminar de ler para sentir um aperto no coração. Li as outras cartas em meio a soluços e lágrimas insistentes. Um enorme nó se formou na minha garganta quando li a penúltima.

Ele relatou toda gravidez, detalhe por detalhe, através de cartas e pretendia que ela pudesse ler como ele a viu durante esse tempo, depois que Matteo nascesse.

O último envelope tinha a primeira carta que ele escreveu a ela depois que ela partiu. E foi a coisa mais forte e triste que já li na minha vida. Coloquei as duas mãos no peito, sentindo uma angústia inexplicável ao ler o relato de um Ruggero de recentes dezoito anos, destruído, devastado, perdido e com o coração em migalhas, apenas algumas horas depois de tê-la perdido.

 

“Bianca,

Por que? Apenas por que?

Não posso e nem quero compreender porque você me deixou. Não. Não é real. Não pode ser real. Quero acordar e ver que isso não passou de um pesadelo. Que você está linda, como no dia que te conheci, brincando com uma mecha dos seus cabelos castanhos.

Você levou consigo a minha vida, Bianca. Toda e qualquer esperança que eu tinha de um mundo melhor foi enterrado junto as flores e ao seu corpo. Todas as cores perderam brilho, nenhum som tem mais sentido e as comidas não apresentam nenhum gosto. Você levou tudo.

Não te culpo. Você não tem culpa de que eu tenha te abandonado no momento mais delicado. Você não tem culpa da minha falta de coragem, do meu egoísmo, das minhas atitudes erradas. Você não tem culpa, meu amor. Eu fui fraco, eu não fui capaz, eu te deixei sozinha nas mãos de completos desconhecidos. Eu. E você tinha todo direito de não lutar depois que te abandonei.

Minha família me diz que já se passaram algumas horas, mas não tenho a menor noção de tempo. Pedem que eu pelo menos tente me acalmar, mas o que eles querem? Que eu me perdoe? Que eu fique bem depois de ver a pessoa que mais amei na vida sendo enterrada? Ou talvez eles queiram que eu simplesmente esqueça que por um ato falho meu, você se foi.

Mas não vou esquecer. Não vou te esquecer.

Eu daria qualquer coisa para que você estivesse aqui agora segurando minha mão. Eu daria tudo para voltar algumas horas e segurar forte sua mão, sem deixar que nada nos separasse.

Mas não sou capaz de fazer isso.

Estou olhando as gotas de chuva caírem. O mundo está chorando. As nuvens são uma metáfora de como está meu coração agora. Partido, quebrado, caindo aos pedaços.

Minhas mãos estão roxas pelos socos que dei na parede, na tentativa de acordar desse grande pesadelo e outra vez eu te digo: ainda estou esperando que alguém me acorde. Que me acorde e me diga que vamos para casa, juntos, construir nosso futuro como planejamos durante esses nove meses.

Volte. Por favor, volte para mim.

Volte e aguente firme. Volte para que eu possa lhe dar seu anel de noivado. Para que eu possa lhe entregar todas as flores que reservei, para que eu lhe diga meu discurso e te peça em casamento como planejei.

Nós ainda tínhamos uma vida pela frente, minha pequena. Tínhamos o mundo para conhecer e todas as experiências para viver. E infelizmente, com toda a dor do mundo, eu tenho plena consciência de que você não pode voltar.

Mas suas memórias vão estar comigo eternamente. Você vai estar. Você vai estar em cada coisa que eu olhe. Cada detalhe vai me lembrar você, minha princesa. Do nascer do sol até o simples balançar de uma folha. Tudo. Exatamente tudo. Porque você se foi, mas meu amor por você nunca morrerá.

Dorme em paz, meu amor.

Eu não sei quando voltarei a dormir.

Amo você.

Ruggero.”

 

Minhas mãos tremiam.  É obvio que minhas emoções estão à flor da pele. Mas qualquer um estaria assim no meu lugar. A letra tremida e as marcas das lágrimas borrando algumas coisas são como facadas no meu peito. Eu estava sentindo a dor dele.

Com certa dificuldade tentei guardar as cartas da maneira como as encontrei, mas acabei encontrando mais coisas. Mais cartas. Cartas para mim.

Não sei se estava pronta para ler. No estado em que estou não posso estar me emocionando desse jeito. Não deveria estar aqui mexendo nas coisas de Ruggero e me deparando com toda sua fragilidade e sensibilidade expostas nessas folhas de papel.

Mas foi meu instinto que sempre me moveu. Todas as grandes coisas da minha vida chegaram através dele e minha voz interior insiste para que eu abra o imenso envelope com meu nome no verso e leia tudo o que ele tem a dizer.

 

“Primeiro mês

Karol,

Minha pequena, doce e amável Karol.

Estou escrevendo apenas algumas horas depois de saber que você está grávida. Confesso que papel e caneta me chamam muito a atenção em momentos importantes, e esse com toda certeza é um desses dias onde eu preciso relatar através da escrita o que se passa em minha mente.

Medo, pavor, um sentimento de impotência, me tomaram ao receber a noticia de que teria que passar por aquilo outra vez. Felicidade, êxtase, uma das melhores sensações do mundo, encobriram os três primeiros assim que meu cérebro se deu conta da real situação: você, o meu raio de sol, a flor mais bela do meu jardim, minha jóia mais preciosa, está carregando no seu ventre um fruto do nosso amor. Um fruto da sua coragem, da sua insistência, da sua valentia em lutar por mim.

Acho que a vida nos mandou um presente para recordar o quanto nos amamos.

 

Segundo mês

Tive algumas duvidas sobre escrever cartas semanais ou mensais e optei pela segunda opção. Porém achei que seria interessante elas estarem compactas em um só envelope, desse modo não corro risco de perdê-las e nem de tira-las da ordem.

Esse mês foi totalmente nosso. Os dois curtindo a novidade, bobos com cada coisa sobre bebes que víamos por ai, olhando cada criança e pensando que em breve tocaríamos pela primeira vez as mãozinhas do nosso feijiãozinho, como apelidamos carinhosamente essa coisinha pequena que você carrega.

Todos os dias quando saio da empresa para almoçar, passo em frente a uma loja de artigos para bebes e meu olhar sempre repousa sobre as novidades da vitrine. Um par de sapatinhos brancos, com a indicação recém-nascidos foi a causa da minha entrada em um dia qualquer nesta mesma loja. Fui casualmente perguntar e preço e assim que a vendedora colocou os pequenos sapatos de tricô na minha mão, fechei os olhos e imaginei como eles seriam úteis para aquecer os pezinhos do bebe quando ele nascesse. Não resisti e tive que comprar.

Contamos a Matteo sobre a novidade e também te entreguei os sapatinhos. As duas coisas saíram como o planejado e agora já estou pronto para os próximos passo.

 

Terceiro mês

Você fica cada dia mais linda e radiante. Fizemos o primeiro exame e está tudo bem com nosso filhote. Nossos pais são os avós mais babões que existem e nossos amigos vão querer te colocar em uma redoma. Por mim, você estaria dentro de uma desde o dia que descobriu. Meu tesouro mais precioso está guardado em você e não fico tranquilo em te deixar andando pra lá e para cá, correndo com seus alunos e fazendo tudo o que você costuma fazer.

Não sei se repara nessas coisas, mas eu passo grande parte do meu tempo te admirando. Olhando para você feito um bobo, só pelo fato de te olhar mesmo. Não sem nem o que é, acontece sem que eu perceba. Estou prestando atenção em qualquer outra coisa e quando me dou conta, meus olhos estão novamente fixos em você e estou perdido admirando cada um dos seus detalhes.

 

Quarto mês

Sou um cara romântico e tudo mais, mas nesse mês eu olhei para você e só consegui ver peitos e curvas. Seu corpo começou a mudar. Sua cintura adotou um formato incrivelmente lindo, mas ainda não conseguimos ver sua barriguinha. Seu cabelo está brilhante e você não precisou fazer nada mais para deixá-lo bonito. O humor mudou. As oscilações diminuíram e você foi só alegria com todo mundo. E bem, seus peitos médios viraram gigantes e chamativos. Tentei manter meus pensamentos coerentes e lembrar a cada momento as palavras da sua médica “pode ser que ela perca um pouco do interesse no inicio, mas é normal, vai voltar e a relação de vocês seguirá como sempre”. Aos poucos você começou a se deixar ser tocada novamente, e ao contrário do que pode pensar, isso só piorou minha situação.

Bendito foi o dia que eu resolvi pedir ao meu pai que deixasse a tarde livre para ficar com você. Fui ao céu e voltei naquela tarde. É obvio que um pouquinho de cuidado a mais era preciso, mas estava com tantas saudades de você que para mim foi tão intenso quanto sempre é.

Ah, nesse mês também contamos a mais pessoas que seriamos pais. Seus aluninhos fizerem um cartaz dizendo parabéns e você chorou quando eles deixaram as marcas das mãos com tinta guache na sua barriga.

 

Quinto mês

Tomei três calmantes antes de te acompanhar no exame. Eu sentia que era menina, eu queria que fosse menina, você queria que fosse menina, tinha uma campanha de todos ao nosso redor pela vinda de uma menina. E quando a doutora mexeu o aparelho e parou a imagem, tive a sensação de sentir meu estômago saindo e voltando. É uma menina.

Uma garotinha. Uma pequena princesa para adoçar e colorir esse mundo tão de meninos dos Pasquarelli.

É uma sensação incrível. Totalmente diferente de todas as coisas que já passei. Pensei estar preparado, mas agora que é real, não faço a menor ideia de como lidarei com uma menininha toda delicadinha. O que sei é que se ela for tão linda e doce quanto a mãe, vou ser apaixonado por ela assim como sou por você.

Como bom italiano que sou, já estou imaginando nossa pequena com seus vários looks, eu olhando idiotamente e pensando: fui eu que fiz, estou orgulhoso de mim.

 

Sexto mês

Estou um pouco enciumado. Com a sua barriga começando a crescer, as pessoas querem ficar tocando e passando a mão. Não gosto muito disso não, minhas meninas, quero vocês em segurança e não com cada pessoa que passa colocando a mão para sentir.

Ela mexeu pela primeira vez.

Pela primeira vez sentimos a nossa menininha, ainda sem nome, se remexer e chutar. Se tem uma palavra que define o que eu me tornei com a sua gravidez, é bobo. Cada mínimo detalhe me deixa apaixonado e vidrado em você e nas suas mudanças.

E como é lindo acompanhar as mudanças do seu corpo. E amor, preciso de dizer, você é uma grávida muito sexy.

E a festa que Matteo está fazendo? Só faltou escrever na testa e sair correndo no meio da rua dizendo para todo mundo que tinha sentido a irmã chutar. As vezes penso que ele está tão bobo e apaixonado quanto eu.

Mas quem não estaria?

 

Sétimo mês

Voltei com as consultas semanais na psicóloga. Por mais que grande parte dos meus traumas tenha ficado para trás, o momento está se aproximando e minha mente projeta imagens ruins, momentos ruins, pensamentos ruins.

Tentei ao máximo não te deixar preocupada. Mas te conheço, sei que está reparando em mim a todo tempo, assim como eu reparo em você.

A grande verdade é que não posso esconder que estou tremendo de medo de que algo aconteça com você ou com a nossa filha. Estou cuidando de você porque isso é a única coisa que me deixa mais seguro. Não sair do seu lado me da a sensação de que vamos passar por isso e que cada um dos meus traumas será curado.

Porém meu cérebro não deixa de me alertar que a qualquer momento eu posso te perder e a cada vez que penso isso coração sente a ponta de uma flecha sendo enfiada nele devagar e cruelmente.

 

Oitavo mês

Pesadelos, pesadelos e mais pesadelos.

Sua imagem, a imagem de Bianca, sangue, gritos, infinitos corredores brancos com médicos, Matteo chorando, pessoas de luto, eu com dezoito anos, eu nos dias de hoje. Estes são os horrores quem atacaram minha mente nesse mês e se você está lendo esta carta, meu amor, não sabe o quanto me faz feliz saber que tudo não passou de um trauma e que não vai se repetir.

Precisei do colo da minha mãe. Não aguentei tudo isso e tive que desabafar com ela. Te deixei com seus pais e corri para a casa dos meus, onde ela me esperava no jardim, com uma xícara de chá, como sempre.

Mostrei a ela as várias fotos que tirei de você, o quão linda você está, as imagens do ultimo ultrassom e despejei meus medos um a um. Ela me acalmou como pode, mães sempre conseguem fazer o melhor, mas os pesadelos continuaram acontecendo e você passou a escutá-los.

Não desejo para ninguém a sensação de impotência que estou sentindo. Eu deveria estar te dando todo apoio e te acalmando nesses últimos momentos, onde você também está cheia de medos e duvidas.

Fiz o que pude, meu amor. Perdão por falhar mais uma vez.”

 

Faltava o nono mês e o final da carta.

Mas eu estava aos prantos. Com todos os sentimentos misturados e com a cabeça girando.

Segurei na cadeira quando tive a impressão de que iria cair. Tudo parecia girar ao meu redor.

Não tenho palavras para descrever isso. Ninguém pode entender o que estou sentindo. Ninguém pode.

Pressionei a carta com força no peito, cuidando para não rasgar as delicadas folhas, agora ainda mais delicadas, molhadas com cada uma das minhas lágrimas.

Respirei com dificuldade. Eu precisava saber o final dessa carta. Eu tinha que saber.

“Fiz o que pude, meu amor. Perdão por falhar mais uma vez.”

Tentei ignorar as ultimas orações da carta. Tentei não pensar na cena de Ruggero chorando por mim e falando isso. Apenas tentei. Por mais forte e positiva que eu fosse, eu não consegui.

- Amor? – me chamou – Karol o que houve? Está sentindo alguma coisa? – correu até mim assim que entrou no escritório – Amor, fala comigo. – eu não conseguia dizer nada, só respirar rápido – Vou te levar para o hospital.

- Eu te amo. – segurei suas mãos – Você é a coisa mais importante do meu mundo.

- Eu também te amo. – seu nervosismo estava aparente – E você não está bem, precisamos de um médico.

Levantei a carta e os olhos dele paralisaram.

- Você não falhou comigo, meu amor. Em nenhum momento você falhou.

- O que? C-como?

- Vim procurar um documento e achei. Li tudo. – olhei para a caixa – Li suas cartas para Bianca e também a que escreveu para mim.

- Karol você não podia. Seu... Seu estado, não pode se emocionar e nem se abalar com nada. Era para isso estar guardado. Você só leria depois. Não pensei que você viria até aqui e deixei a caixa ai porque não iria demorar. – senti meus olhos aguarem de novo e ele se aproximou me abraçando – Vai ficar tudo bem. – beijou o topo da minha cabeça e acariciou meus cabelos até que eu pegasse no sono.

 

Trigésima oitava semana. A previsão era para que o bebe nascesse daqui a cinco dias, mas senti uma dor insuportável e as contrações começaram a persistir.

- Vai nascer, amor. – falei assim que ele entrou no carro para irmos para o hospital.

- Mas ainda faltam alguns dias.

- Essas dores não são normais, Ruggero.  – respirei como havia aprendido nos cursos para gestante – Ela vai nascer.

- Certo. Direto para a maternidade então? – minha resposta veio como um grito alto pela dor da contração e ele me olhou com desespero – Seu rosto está branco amor. – acelerou, mas nada muito rude.

- Rugge, por favor, independente do que aconteça, aguente firme. – tirei uma das mãos da barriga e levei até sua mão que não estava no volante – Aguente firme, meu amor.

- Aguente firme, meu amor. Por favor, aguente firme. – segurou minha mão com força.

A hora chegou.


Notas Finais


É UMA MENINA!
Aliás, alguém ai em condições de comentar?
Antes que eu chore mais uma vez, só queria agradecer por cada comentário, favorito, indicação, mensagem, por cada coisinha que me mandam. The One é um projeto que vai ficar marcado no meu coração para sempre!
Como sempre, comentem e deixem a opinião de vocês ♥
Os comentários dos capítulos anteriores eu vou responder agora!
Os capitulos com cartas do Ruggero são muito fortes para mim, é difícil escrever literalmente como ele e dou o meu melhor. Espero que chegue até vocês tudo que nosso protagonista sentiu ♥♥♥♥

Nos vemos aqui em baixo e lá no twitter @aboutlutteo
Bjsssss


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