História The Past - 00. Prologue

​POINT OF VIEW — Debbie Voltter

December 20th, 2008 — ARIZONA, Oro Valley:. 01:23 PM

Acabará de adentrar em casa e a primeira coisa que noto é o móvel do Hall de entrada jogado no chão. Há estilhaços de vidros espalhados por conta dos portas-retratos que se quebraram com a queda do objeto.

Tem algo de muito errado acontecendo.

Caminho desesperadamente por todos os cômodos do primeiro andar, à procura da minha mãe. Ela ficou sozinha em casa para arrumar a decoração de natal, já que nossos familiares chegariam daqui alguns dias para as festas de final de ano. Enquanto eu e meu pai, saímos para fazer as compras.

A casa inteira está revirada, está tudo um caos, parece até que um furacão resolveu passar por aqui. Não sei por quê, mas ver essa bagunça toda, me deixa ainda mais nervosa e a minha mente não colabora em nada, só consigo pensar no pior. Por mais que eu tente afastar esses pensamentos negativos, eu não consigo, um desastre aconteceu aqui.

Sem nenhum sinal da minha mãe aqui em baixo, resolvo subir para o segundo andar.

Ele também se encontra no mesmo caos que o restante da casa, porém há marcas de sangue na parede e respingos no chão.

Sinto muito medo e acho que devo parar por aqui, voltar lá pra baixo e gritar pelo meu pai. Eu sou apenas uma garotinha. Só que há algo dentro de mim, uma voz que me encoraja a continuar.

Mesmo com medo, eu forço minhas pernas a correrem até o quarto dos meus pais. No qual, eu presumi ser o local que a minha mãe está. Passo pela porta e há vejo.

Pisco meus olhos várias vezes, para ter certeza do que estou vendo bem a minha frente e infelizmente não é um sonho.

Ela está caída em uma enorme poça de sangue na beira da sua cama, toda machucada. Não parece ela, pois seu rosto está todo marcado e não consigo vê-la direito, mas eu tenho certeza que é a minha mãe. Os seus cabelos loiros e a tatuagem com o meu nome em seu pulso, são inconfundíveis.

Meu Deus, minha doce mãe está morta.

Isso não pode ser real, precisa ser mais um daqueles pesadelos, que vejo um dos meus pais morrendo. Eu não quero acreditar nisso e estou em choque neste momento.

Não se passa muito tempo e sinto a presença do meu pai no quarto, ele solta um grito estrondoso e depois se vira para mim. Ele abraça meu corpo com força, ao mesmo tempo, que diz milhares de palavras de conforto em meu ouvido. Mas eu não presto atenção em seu consolo. A minha mente viajava neste momento para o mundo perfeito. Mundo esse que minha mãe ainda se encontra viva.

Eu nem consigo chorar, a dor é tão imensa que simples lágrimas não são o bastante. Permaneço parada, olhando para o corpo dela, até que tudo fica escuro.

Nine Years Later

​March 02th, 2017 — AZ, Oro Valley:. 05:02 PM

É uma linda e ensolarada tarde em Oro Valley. Estou sentada em um banco do parque nacional e observo as crianças brincando no parquinho com feições alegres, enquanto os seus pais os observam de longe. Não me lembro mais da última vez que sorri como esses pirralhos.

A vida tem sido dura comigo desde a morte da minha mãe. Seu assassinato ainda é um mistério, a polícia não chegou a nenhum lugar, eles não encontraram suspeitos e as poucas provas do crime, não foram suficientes para seguir com o caso. Por isso eles encerram as investigações a sete anos atrás. Eu jamais desisti de saber quem era o assassino da minha mãe, sempre procurei por conta própria, mas nunca cheguei muito longe. Quem quer que tenha feito isso a ela, soube muito bem se livrar de todas as pistas.

Estou aqui à espera da minha amiga, Roxie. Pedi a ela que conseguisse uma passagem para Nova York e alguns documentos que eu precisava para sair da cidade. Escolhi NY como minha rota de fuga, porque além de ser uma cidade magnífica com inúmeras oportunidades, poderei morar com a minha melhor amiga, Jody Miller, que vive lá a três anos.

Avisto a mulher de longos cabelos ruivos descendo da sua caminhonete. Assovio e levanto minha mão para que ela me aviste sentada no banco. Ela parece observar o local à minha procura e assim que me vê ela abre um pequeno sorriso.

— Desculpe a demora, você não imagina como foi difícil conseguir isso para você. — Ela diz ao se sentar ao meu lado e me entrega um envelope marrom.

Pego o pacote das suas mãos, abro e analiso o conteúdo para me certificar de que tudo o que eu precisava estava ali dentro.

— Não precisa se desculpar, o que importa é que tudo está aqui. — Sorri satisfeita e a contemplo abaixar a cabeça. Consigo notar sua expressão triste através de seus fios ruivos, que caem sob o seu rosto.

— Vou sentir a sua falta, não sei como vou sobreviver à tudo isso sem você aqui ao meu lado. — Me aproximo dela e envolvo o seu corpo com um forte abraço. 

Não sei o por quê estou fazendo isso, não costumo distribuir carinho desta forma, mas me parece ser o certo a fazer.

— Eu também vou... Mas é ir e viver, ou ficar e morrer. — Ela desfaz nosso abraço e toca meu rosto delicadamente, enquanto esboço um sorriso tímido.

— Sei disso, mas me promete uma coisa? — Ela me olha com um semblante sério e eu concordo com a cabeça, para que ela continue falando. — Promete que vai se cuidar, que não vai mais se envolver com nenhuma merda? Lembre-se, essa é a sua chance de ter uma vida normal, a vida que você tanto quis ter, durante toda a sua existência. 

— Eu prometo, pode ficar tranquila quanto a isso. — Ela sorri satisfeita. — Só mais uma coisa... Não conte nada ao Daniel, espere até eu ir embora, tudo bem?

Não que eu espere que ele me impeça de sair da cidade, nem nada, mas quanto menos pessoas souberem sobre isso, melhor será para mim.

Daniel costumava ser um pai amoroso, atencioso, dedicado e carinhoso. Ele era o meu melhor amigo e eu sempre fui uma menina diferente das demais, ao invés de me interessar por bonecas, eu preferia saber mais sobre carros, esportes e armas. Creio que essa minha personalidade veio dele. Nós dois fazíamos tudo juntos, até a terrível morte da minha mãe.

Ele jamais superou a perda dela e por algum motivo que eu desconheço, ele me culpa pelo que aconteceu a ela. Depois da sua morte, ele não parava mais em casa, então tive que aprender a me virar. Fui obrigada a virar mulher cedo demais e isso causou um grande impacto na minha vida. Não que a culpa das merdas que eu fiz até hoje, fosse única e exclusivamente do Daniel, mas posso dizer que ajudaram para que eu tomasse decisões equivocadas.

— Se prefere assim. — Ela fala dando de ombros. — Vamos... Nós temos uma longa viagem até Phoenix. O seu voo está agendado para as duas horas da tarde, então reservei um hotel para você passar a noite. Não se esqueça de me mandar notícias assim que chegar.

— Tá bom, mãe. — Brinco e ela me empurra levemente.

Roxie se levanta e caminha em direção à sua picape vermelha.

— Uma vida nova espera por você, Debbie, pegue essa chance e aproveite. — Digo à mim mesma.