Um apagão na minha mente, foi o que aconteceu. Não pensei ou sonhei com nada, era como a morte. Poderia ter morrido realmente, exceto pela voz que ainda insistia comigo. Uma voz não tão doce, porém me acalmava apesar de eu só conseguir respirar. Em certo momento, enquanto a voz conversava comigo, eu consegui me mexer um pouco. Meu dedo da mão esquerda, para ser exata. E enquanto a voz continuava, eu conseguia ter controle sobre meu corpo.
- Não me abandone. - consegui finalmente identificar a voz, era Audrey. Reconhecer sua voz foi como uma força, consegui abrir meus olhos. Ela estava sentada em uma cadeira, de cabeça baixa e segurando minha mão direita.
- Não vou. - ela levantou a cabeça aos poucos. Seu rosto estava inchado e seus olhos marejados. - Porque eu te amo!
- Meu Deus, você está bem! - um sorriso de orelha a orelha brotou em seu rosto e ela se esticou para me dar um beijo. Percebi uma certa dificuldade. - Pensei que tinha te perdido!
- Vai ter que me aturar por mais um tempo.
- Com muito prazer. - ela soltou um riso.
- Há quanto tempo estou aqui?
- Uma noite.
- Você está bem?
- Não se preocupe comigo, ok? - ela passou a mão em meu rosto.
- E minha mãe? Ela está bem? - fiz esforço para me sentar mas recuei pelas dores.
- Ei, ei, calma. Fica aí. Ela está bem, está no quarto da frente. - ela apontou.
Enquanto ela fazia cafuné em mim, estava me sentindo completamente segura e prestes a dormir, quando entrou um médico na sala. O mesmo da outra vez, quando fui atropelada.
- Parece que alguém chegou mais cedo.
- Pra ninguém implicar. - Audrey retrucou. Hã?
- Seu corpo gosta mesmo do hospital, hein? - ele deu uma risada sarcástica olhando para mim.
- Como se ela fizesse por querer. - Audrey revirou os olhos. Ele pareceu ignorar.
- Ou você está me perseguindo. - ele riu.
- Bom, você é uma menina de sorte. Bateu a cabeça muito forte e poderia ter perdido a memória. - ele deu uma pequena pausa enquanto folheava alguns relatos. - Sente dor na cabeça?
- Quase nada.
- Nas costas?
- Um pouco.
- Se sentir as dores, pode fazer compressa com água gelada pelos ferimentos ou tomar analgésicos. - assenti.
- Preciso ver minha mãe.
- Poderá vê-la em algumas horas. - ele nem olhou para mim.
- Por que não agora?
- Ela está se recuperando de uma cirurgia de última hora.
- Cirurgia?!
- Relaxa! - Audrey encostou na minha perna.
- Se tudo der certo, é capaz de você ser liberada ainda hoje. - ele fechou a pasta com os relatos. - Isso é tudo. Qualquer ajuda só chamar. - assenti com um sorriso e antes dele abrir a porta completou - Alison mandou um abraço.
Corei assim que escutei o nome e Audrey virou o rosto lentamente para mim. Ela pareceu ignorar, o que me fez suspirar de alívio.
Audrey acabou adormecendo, e eu também. Quando acordei, Audrey estava encostada no pequeno sofá mas ainda dormindo, e uma enfermeira estava mexendo nos aparelhos.
- Hora de ir garota. - ela disse tirando os úlimos fios de mim. - Seu pai trouxe uma roupa para você, pode se trocar.
- Obrigada. - eu disse saíndo da cama.
Fui ao banheiro e quando tirei aquela roupa horrível do hospital, me olhei no espelho e, com muito esforço, consegui ver a cicatriz nas minhas costas. Aquilo me fez pensar um pouco sobre tudo o que está acontecendo. Assim que terminei de colocar a roupa, lavei o rosto e prendi o cabelo. Senti algo estranho e olhei para minha mão direita. Havia um anel preto no meu dedo anular, soltei um riso e saí do banheiro. Audrey estava encostada na cama e me olhou de cima à baixo.
- O que é isso? - apontei para o anel.
- Isso se chama anel, e nossa, eu tenho um igual. Que coincidência!
- Bobona. - nós rimos.
A enfermeira já saiu, então aproveitei e me aproximei dela. Dando um beijo lento, minhas mãos correram livres pelo seu corpo. Quando as parei na sua barriga, ela recuou dando um leve gemido. Não parecia ser de prazer, e sim de dor.
- Audrey? - ela olhou para o chão. - O que ele fez?
- Nada.
- Audrey!
- Já falei que não precisa se preocupar comigo.
- Ok, mas eu me preocupo. O que foi? - ela levantou a blusa aos poucos. E havia um corte grande acima do umbigo. - Meu Deus, por que não fez um curativo?
- Não precisa. - ela logo abaixou a blusa e pegou suas coisas.
- É lógico que precisa!
Antes de continuar a falar, ouvimos gritaria no corredor e corremos para ver. Havia uma poça de sangue ao fim do corredor, fomos em direção devagar. A enfermeira, que estava no quarto a pouco tempo, estava no chão com um corte no pescoço, o qual não parava de sair sangue. E então, uma mensagem de número desconhecido chegou, para mim e Audrey. "Surpresa!".
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