História The pianist - Estranho

Acordei assustada, e num pulo. Já era de manhã, e eu dormira ali no sofá. Minha mãe estava tomando café na cozinha quando eu levantei.
- Bom dia, mãe.
- Bom dia, filha.
- Mãe, por quê você não me acordou quando chegou?
- Eu tentei, mas você não acordou, querida. Agora, coma alguma coisa. Você deve estar com fome.
- Não, tudo bem, eu como no Le Cafee aqui em baixo. O Pierre faz um café ótimo.
Sem perceber, eu já tinha feito amizade com o cara do café.
- Tudo bem, mas não se atrase.
Fui escovar os dentes e me arrumar. Peguei minha mochila e me despedi de minha mãe. Ainda era cedo.
- Tchau, mãe!
- Espere, Rihanna.
Opa. Ela descobriu.
- Sim? – perguntei me virando para ela.
- Quando cheguei ontem a noite, tinha um CD dos Pistols rodando no rádio. Onde você o conseguiu?
- Ah, com uma amiga. Eu conheci uma garota aqui no prédio. O nome dela é Katy, 7º andar, 742. Ela toca piano, e é inglesa – quando eu conhecia alguém eu tinha que dar todos os detalhes para minha mãe.
- Que bom. Acho que você precisa fazer amigos aqui também, filha. Mas, devolva o CD, está bem?
- Está bem, mãe... – disse com desânimo.
- Boa aula.
Abri a porta e disparei para o saguão de entrada. Paul estava lá.
- A senhorita já vai para a escola? Quer que eu chame um táxi, ou mande o Max levá-la?
- Não, obrigada Paul. A pé é mais legal.
Max era o ajudante atrapalhado de Paul, ele dirigia. Um cara legal, mas criança demais.
Olhei para o lado e meu coração quase disparou ao ver alguém que eu conhecia.
- Katheryn!
- Oi, Rihanna!
- Que coincidência... Você também está indo para a escola?
- Sim, e você?
- Também. Mas, você não quer ir comigo ao Le Cafee antes?
- Na verdade, eu estou atrasada. Você gostou do CD?
- Amei! Mas vou ter que devolver. Minha mãe não gosta que eu ouça essas coisas.
- Ah, sim... Eu escuto escondido da minha!
Nós duas rimos.
- Mas agora eu tenho que ir... – ela olhou no relógio.
- Ah, tudo bem.
- Não se esqueça de hoje à tarde, hein!
- Não esquecerei!
Ficamos nos olhando por um tempo, paradas e sorrindo.
- Então... Tchau!
- É, tchau!
Abrimos o portão e cada uma foi para um lado. Chegando ao Le Cafee, sentei-me no balcão. Pierre me atendeu com um sorriso.
- Olá, senhorita Rihanna. O que deseja?
- Que todo mundo pare de me tratar assim, como seu eu fosse a primeira dama.
Ele riu.
- Me desculpe. Força do hábito.
- Mas, voltando ao assunto, o de sempre, por favor.
- Do jeito que a senhorita gosta.
O dia passou tão rápido que eu nem vi. Cheguei em casa e almocei, como sempre. Tomei um banho, e recebi um telefonema de Cara, uma garota da minha classe, perguntando qual era a matéria da prova de filosofia.
Esperei ansiosa chegar o momento exato para eu ir ao apartamento de Katy.
Afobada, saí correndo e toquei a campainha arfando. Eu estava com o meu violino e o CD. Ela me atendeu.
- Demorou, hein?
- Preferia que eu chegasse mais cedo?
- Não, está bom assim – ela respondeu sorrindo.
Fomos até a sala escura onde estava o piano. Dessa vez ela acendeu a luz. Eu entreguei o CD a ela.
- Mas, por que quando você estava tocando sozinha estava escuro?
- Eu prefiro o escuro. Me concentro mais.
Eu assenti. Às vezes comigo era assim.
- Então, o que vamos tocar?
- Não sei. Você escolhe.
- Que tal a Dança Das 24 Horas?
Eu a olhei confusa.
- É brincadeira! Algo mais simples? Que tal Parabéns Pra Você?
Eu ri.
- Vamos tocar então a 4ª sinfonia de Beethoven? – sugeri.
- Tudo bem. vamos lá.
Lembrei do tempo que demorei para aprender a tocar essa música.
Começamos a tocar e enquanto tacávamos, nossa sintonia era incrível. Eu tentei não olhar para ela, pois me perderia nas notas. Ela era tão linda, tão perfeita... Senti meu coração pulando descompassadamente em meu peito, talvez pela música, talvez por ela. Sem contar que ela tocava muito bem, nem usava partitura!
De repente, ela parou de tocar. Saiu correndo e foi para o banheiro. Fechou a porta e eu perguntei:
- Katheryn, está tudo bem?
Ela não respondeu. Só a ouvia tossir no banheiro.
- Katy?
- Acho melhor você voltar amanhã, Rihanna.
Achei meio estranho, mas peguei meu violino e fui para meu apartamento, desconfiada.