História The Planets Between Us (Bellarke) - Second Day

A primeira noite na Terra tinha sido horrível. Minhas mãos estavam encharcadas de sangue dos feridos que salvei, quer dizer, dos que consegui salvar, já que muitos tinham morrido, não só na aterrisagem ou com o fogo, mas em minhas mãos.

Os gritos e os terríveis ferimentos dos delinquentes perturbavam meus pensamentos. Eu nunca tinha feito algo assim, nem mesmo com minha mãe e agora, sozinha, me sentia um monstro. Tantos depositaram suas vidas em minhas mãos hoje e eu não pude salvá-los, e o que mais me deixava triste, era a situação de Raven e Finn, provavelmente porque me identifiquei bastante com os dois. Ela tinha passado a noite inteira ao lado dele, segurando sua mão, enquanto ele agoniava em dor e eu tentei salvá-lo, mas era impossível que ele sobrevivesse ao ferimento. Teve momentos que tive vontade de correr até minha mochila e dar todos os remédios de dor para ele, mas não podia. Decidi que os guardaria para quem podia ser salvo e pouparia o máximo possível, porque podemos ser pegos pela radiação a qualquer momento, e então precisaríamos mais deles do que agora.

Estava exausta, meu corpo doía implorando por descanso e meu cérebro latejava pedindo por paz.

As barracas estavam todas montadas e mesmo que a maioria delas estivessem silenciosas e escuras com os sobreviventes dormido, foi fácil encontrar a minha, já que era uma das únicas clareadas pela luz de uma lanterna.

Bellamy estava acordado, esperando por mim.

-Você devia estar dormindo. -falo, entrando na barraca.

-Não consigo dormir sem seu boa noite. -ele brinca, abrindo os braços para me oferecer seu peito como travesseiro.

Rio de sua brincadeira e lhe dou um beijo rápido antes de deitar sobre ele.

-Estou tão cansada. –murmuro, enquanto esfrego o rosto com minhas mãos.

Bellamy me olha com aquele seu olhar cheio de tensão e me arrependo de ter falado aquilo. Não queria deixa-lo mais preocupado comigo do que ele já estava.

-Você salvou muitos nesta noite, Clarke. –ele fala, passando a mão pelo meu cabelo.

-Mas não o suficiente. –falo, enquanto sinto um aperto em meu coração.

-Não fale isso. –ele fala com a voz calma, agora passando a mão pelo meu rosto. -Você é uma heroína.

-Nós somos heróis, Bellamy. –corrigo. –Se não tivesse saído para caçar, todos nós teríamos morrido de fome.

-Fizemos o que era certo.–ele fala, me aconchegando em seus braços. –Acho que no fim das contas, você estava certa. –finaliza, antes de fechar os olhos com força.

Analiso a expressão em seu rosto e percebo que em nenhum momento desde que chegamos ele tinha contemplado a beleza da Terra.

-Você já viu como a Terra é linda? –pergunto, ao olhar o amanhecer em cima de nós.

-Não tive tempo de fazer isto ainda. – ele responde, frustrado.

-Temos tempo agora. – sussurro em seu ouvido, antes de levantar.

-Você precisa dormir. –ele fala, sem levantar. –Precisa descansar.

-Isto pode esperar, Bell. –falo, abrindo a barraca. –Venha.

Ofereço minha mão e para minha sorte, ele aceita. Há alguns metros havia uma grande árvore e Bellamy finalmente sorri quando eu sugiro que sentássemos em seu maior tronco para observar sol nascer.

Ele me ajuda a subir e por alguns longos minutos ficamos apenas parados, observado o nascer do sol, algo que sempre sonhamos em ver, e estarmos juntos naquele momento só tornou tudo aquilo mais especial.

-É tudo tão lindo, mesmo. –ele fala, em meio a um suspiro, antes de me puxar para perto de si.

Sorrio com suas palavras e deito-me em seu ombro para observar a paisagem.

-Tudo que mais quero neste mundo é passar o resto dos dias vendo o amanhecer ao seu lado. –sussurro, antes de beijar seu ombro.

Bellamy me envolve em um abraço e fecho os olhos para sentir seu beijo, mas somos interrompidos por um grito.

-Clarke, por favor! -grita alguém saindo das sombras. -Ele está morrendo, socorro! -grita a pessoa, desesperada, que quando se aproxima de minha barraca, vejo que é Raven.

Bellamy me ajuda a descer e eu tento correr até ela o mais rápido possível, mas ela já está dentro de minha barraca.

-Raven, sinto muito... -falo ofegante, pronta para lamentar a morte de seu namorado, mas a cena com que me deparo me silencia.

Ela está mexendo em minha mochila, e eu me aproximo para tentar explicar, mas antes que eu pudesse abrir a boca, a mão de Raven vem até meu rosto mais rápido que uma estrela cadente, me fazendo cair no chão enquanto sentia meu rosto queimar de dor.

-Que diabos você está fazendo? -ouço a voz de Bellamy, enquanto sinto outro soco em meu rosto, mas ele a tira de cima de mim rapidamente.

-Sua vadia! –Raven grita, tentando se soltar dos braços de Bellamy.

Ele a leva para fora e eu limpo o sangue em meu rosto antes de ir também. Muitos agora estavam acordados, fora de suas barracas, formando um círculo em volta de minha barraca.

-O que está acontecendo? -pergunta alguém surgindo em meio à multidão, e eu reconheço seu rosto. -Clarke?

Olho para ele. Wells Jaha, filho do ex-Chanceler e meu ex-namorado. O segundo dia na Terra já estava sendo arruinado.

-O que faz aqui? -pergunta ele se aproximando, mas eu me afasto, o que faz ele parar e Bellamy olhar confuso para nós.

Os sobreviventes ficam parados, apenas olhando a situação, mas Raven finalmente se solta de Bellamy, que está distraído diante daquela situação e abre a boca para falar:

-Clarke tem uma quantidade gigante de remédios na mochila!  -ela grita, para que todos ouçam. -E ela não dividiu com nenhum de nós, nem mesmo com meu namorado que está sofrendo e morrendo. -finaliza, olhando para a multidão.

Todos começam a conversar entre si, provavelmente me xingado ou chocados com a situação. Olho para Bellamy, em busca de ajuda, mas ele está tão assustado quanto eu.

-Ela é a privilegiada! -grita alguém. -Não devíamos ter confiado nela!

-Ela deve ser punida! -grita outro e os gritos vão aumentando.

-Esperem! -Wells fala, fazendo os delinquentes irritados se calarem. -Não temos provas. Raven, mostre-nos a mochila.  -pede ele.

Bellamy tenta impedi-la, mas é interrompido por alguns garotos que o seguram com força.

Fico imóvel, olhando para o chão, sem saber o que fazer.

-Aqui. –Raven fala, saindo da barraca e jogando os remédios no chão. -Ela tem que pagar por isto.

Ouço as vozes bravas dos delinquentes, e não sei qual das sugestões é pior. Definitivamente, o método da Arca de matar seria melhor neste momento.

Enquanto todos discutem entre si sobre o que fazer comigo, voltam a olhar para nós quando Bellamy dá um passo à frente.

-Fui eu, Raven! –Bellamy grita, se soltando. -Aquela mochila é minha. –ele mente.

O que eu mais temia estava acontecendo: Bellamy estava lá, em frente a mim, como um escudo que não cairia até me ver salva, mesmo que isso o destruísse.

BELLAMY

Olho para Clarke, que parecia estar prestes a desmaiar e sussurro um "está tudo bem", mas ela me da uma expressão de pavor como resposta e luto contra a vontade de ir abraçá-la.

-O que vamos fazer com ele, então? -pergunta um garoto, impaciente

-Devíamos matá-lo. -sugere alguém e todos concordam.

-Ei! -grita alguém saindo do meio da multidão. Era Murphy.  -Aqui em baixo fazemos as coisas diferentes da Arca, ou querem se tornar que nem eles? Nós estamos livres, sem aquelas leis estúpidas para nos prender e se o matarmos, estaremos fazendo exatamente o que gostariam que fizéssemos!

Depois de alguns minutos em silêncio, os delinquentes vão aos poucos concordando com Murphy e ele pisca para mim antes de olhar para as pessoas, esperando que aquilo fosse o suficiente para acalmá-los e fazê-los mudar de ideia definitivamente.

-Devíamos baní-lo. -sugere Wells Jaha, olhando para Clarke.

Todos concordam e ele se direciona a mim.

-Então, está decidido. Blake, você está banido do acampamento. -ele fala, se aproximando. -Arrume suas coisas e vá.

O encaro com raiva antes de entrar na barraca, e por sorte, ouço passos das pessoas indo embora, não estava mais aguentando aquela situação.

-Você é igual ao seu pai, não é? -ouço a voz de Clarke fora da barraca e noto sua silhueta conversando com alguém.

-Você está com o filho de Marcus Kane, Clarke! -a pessoa responde, irritada, e reconheço ser Wells. -Não seja tão hipócrita.

-Vá embora. -ela grita, e a silhueta de Wells some após alguns segundos a encarando.

Ela entra na barraca sem olhar para mim, pega sua mochila, agora vazia, e a enche com suas coisas.

-O que você está fazendo? -pergunto, com medo de sua resposta.

-O que você acha, Bellamy?  -ela pergunta, agora olhando para mim, e lágrimas molham seu rosto sujo de sangue.

-Não, Clarke. -falo, me aproximando dela. -Você não pode fazer isto, não posso permitir que venha comigo. –falo, tentando fazê-la mudar de ideia.

-Você não pode me impedir. –ela fala, antes de fechar a mochila. -Era eu quem devia partir, não você! -ela limpa as lágrimas enquanto fala e eu tento toca-la, mas ela se afasta.

-Clarke...-a chamo, quase sem forças para falar de tanto que me doía vê-la tão frustrada. -Eu fiz aquilo para te salvar.

Ela se vira e olha para mim por alguns instantes, antes de abrir a boca:

-Estarei te esperando lá fora, Bell. –ela fala, ignorando minhas palavras. -Você mesmo disse que não iria a lugar nenhum sem mim.