[9 meses depois, Novembro de 2020]
ꟷHansung, se você sujar essa roupa você me paga! – Ouvi Jungkook gritar no quarto ao lado enquanto o vulto de um menino risonho passava rápido na frente da minha porta.
Sorri involuntariamente e terminei de prender os últimos fios de cabelo no coque que havia feito sobre minha cabeça. Ajeitei os colares em meu pescoço e sentei-me na cama para abotoar a sandália um pouco alta.
ꟷAigoo... – Meu marido entrou no cômodo e se jogou um pouco atrás de mim na cama. ꟷ Como você consegue controlar aquele garoto? – Tampou o rosto, cansado.
ꟷViu só?! – Ri voltando para frente do espelho e retoquei o gloss em meus lábios. ꟷ Depois você reclama quando eu digo que quero Jungah tão calma quanto eu. – Sorrio para ele que me observava atentamente através do reflexo.
ꟷTem uma grande diferença entre calma e preguiçosa! – Riu se sentando na cama. Limitei-me a revirar os olhos.
ꟷEle só está animado porque vai encontrar a Yura. – Volto minha atenção para o vidro, às vezes desviando o olhar para Jungkook que estava trocando de camisa por ter molhado a outra arrumando Hansung.
ꟷTenho medo que ele goste mais da Yura do que da irmã... – Falou, mesmo sabendo que não era verdade. Todos sabiam que quem mais esperava pelo nascimento da pequena Jungah era Hansung.
ꟷEla só tem três meses, Jungkook-ah! – Fui até ele e o ajudei a arrumar a gravata. ꟷ Qualquer um se encantaria com aquela bolinha branca! – Sorri e ele selou nossos lábios, rápido.
Realmente, a filha dos Min, como seria o sobrenome do Yoongi e da Sook a partir de hoje, era muito fofa. Tinha a pele tão clara quanto Suga e o cabelo também carregava a mesma cor dos fios do pai. Fora isso ela era uma copia de Sook, mas pode ser só impressão minha, pois todo bebê tem a mesma cara!
ꟷMal posso esperar pra ver o rosto da nossa bolinha... – Suspirou alto dando um sorriso largo.
ꟷBom... Isso, senhor Jeon, você vai ter que esperar até março. – Bati de leve em seu peito e me afastei indo pegar meu celular sobre a penteadeira do closet. ꟷ Veja se Hansung está arrumado, nós estamos meio atrasados... – Conferi as horas no aparelho.
ꟷSe ele tiver estragado aquele cabelo brincando com o Ice eu vou inaugurar meu cinto novo! – Resmungou, saindo do quarto.
ꟷEu ouvi isso! – Reprendi. Claro que era brincadeira, Jungkook batendo em Hansung? Ele nem levantava a mão, quem dirá desce-la.
Voltei para o espaço principal e guardei o celular na bolsa que peguei. Conferi uma ultima vez o vestido vermelho e solto que cobria meus braços até os pulsos e minhas coxas até a metade. Passei a mão por minha barriga, que já tinha um bom volume, e sorri. Jungah estava quieta ultimamente, provavelmente teria a minha “preguiça”.
Saí do quarto e fechei a porta trás de mim. Por alguns segundos minha visão se embaçou mas deveria ser por causa da virada brusca. Apoiei a mão na parece e respirei fundo como os médicos aconselhavam. Após recuperar o equilíbrio continuei caminhando pelo corredor indo em direção à escada, mas diminuí a velocidade sentido a minha, já conhecida, enxaqueca chegar. Justo agora?!
Permaneci andando, em passos lentos e respirando fundo a cada um que era dado, ao olhar para a sala sob mim minhas vistas escureceram e eu agarrei o corrimão branco ao meu lado. A dor de cabeça foi aumentando com uma voracidade que nunca senti. Minhas pernas estavam prestes a fraquejar e meu peito também doía. Por causa da dor de cabeça eu nem havia percebido que estava sem respirar.
ꟷJungkook-ah... – Procurei chamar o mais alto que consegui. Meus olhos já estariam lacrimejados por causa da dor se não fosse a atividade principal que eu tentava fazer: respirar.
ꟷ(S/N)-ssi...? – A voz pertencente a minha ajuda estava mais próxima, julguei que ele subia a escada.
A me ver, Jungkook arregalou os olhos e correu até mim segurando em minha cintura com uma mão e meu rosto com a outra. Percebendo que eu não conseguiria mais aguentar ficar consciente sem respirar, mas já estava em um lugar que caso caísse não machucaria Jungah, deixei a escuridão aliviar minha dor.
***
Minha cabeça estava leve assim como o restante do meu corpo, parecia que eu não tinha mais a gravidade que me prendia ao chão.
Abri meus olhos lentamente, procurando não ser afetada pela claridade do quarto. Era um ambiente claro e fresco, com paredes brancas e uma televisão do lado oposto a mim. Direcionei meu olhar para meu próprio corpo notando que um lençol branco cobria até a altura da minha cintura e eu já não usava o vestido vermelho, mas sim uma roupa hospitalar.
Levei minhas mãos para minha barriga e acariciei-a, estava tudo bem. Alguém havia tirado o esmalte preto que pintava minhas unhas e as mesmas estavam arroxeadas.
Virando minha cabeça para o lado, percebi que Jungkook estava sentado em um sofá não muito longe. Ele tinha a cabeça encostada nos joelhos e as mãos na nuca, pela forma como suas costas se moviam era notável que ele respirava calmamente.
Mordi meus lábios, que se encontravam secos, e respirei fundo encostando a cabeça no travesseiro.
Eu já havia sentido essa dor antes, mas não com tamanha intensidade. Jungkook estava na última turnê quando elas começaram, não quis informá-lo para que ele pudesse terminar esse momento sem preocupações. Afinal, o que é uma tonteira quando se está grávida?
–Você acordou! – Observei o mais velho levantar e vir até mim com um semblante aliviado e preocupado.
–Tá tudo bem, né? – Sorri fraco. Eu queria afirmar aquilo, mas o olhar que ele me dava impedia-me de ter total certeza.
–Pra ser sincero eu não sei... Mas você deve estar bem! – Sorriu, tentando me passar confiança. –Recolheram seu sangue pra fazer alguns exames, só que isso deve ser só a nossa pequena Jungah que tá animada demais! – Riu.
–É... – Sorri sem mostrar os dentes. A verdade era que não tinha como aquilo ser apenas a minha garotinha. – Você ligou pro Yoongi e pra Sook? E o Hansung? – Me ajeitei na cama para que ele pudesse se sentar ao meu lado.
–Sim eu liguei. Disse que você estava cansada e indisposta, mas que desejava tudo de bom pra eles. – Assenti concordando e pedindo para continuar. – Já Hansung, Jimin veio buscá-lo.
–Como ele estava? – Mordi os lábios, receosa. Hansung era muito escandaloso quando via alguém passando mal, com certeza sua reação não foi a melhor a me ver desmaiada.
–Ficou assustado, mas eu disse que você estava dormindo e não queria te acordar. – Segurou minha mão e ficou brincando com meus dedos e a aliança colocada no anelar.
–Com licença, – Uma enfermeira entrou no quarto após bater na porta e parou um pouco distante. Meu marido e eu mantínhamos olhares curiosos na mulher. – o doutor Lee já tem os resultados dos exames. Ele pediu para que eu os acompanhasse até a sala dele.
–Claro! – Afirmei sem questionar e me pus de pé rapidamente.
–Vou esperar lá fora. – A moça de roupa branca sorriu docemente e saiu, fechando a porta atrás de si.
Jungkook me ajudou a trocar aquele tecido azul do hospital pelo meu vestido vermelho novamente. O coque que havia feito estava mais bagunçado do que devia estar, mesmo assim calcei os saltos e saí do quarto junto com o outro.
A enfermeira nos guiou até um corredor não muito longe de onde estávamos e pediu para que esperássemos até ela nos anunciar.
Vendo minha frustração e nervosismo, Jungkook tomou minha mão com a sua e a beijou enquanto repetia que tudo estava bem. Sorri e concordei apenas para deixá-lo pensar que eu estava acreditando em suas palavras. Porque mesmo o amando e confiando em seus dizeres, eu sabia que o meu corpo estava diferente. E não era apenas pela gravidez.
ꟷBoa noite. – O médico se levantou e nos cumprimentou quando entramos em sua sala. ꟷ Fiquem a vontade. – Indicou as cadeiras na frente de sua mesa.
ꟷEstá tudo bem? – Jungkook perguntou sem nem se sentar direito, tirando um riso baixo do outro homem presente.
ꟷCreio que com a criança esteja tudo bem, os exames não mostraram nenhum problema com a gestação. – Deixei meus ombros caírem relaxados ao ouvir que Jungah estava bem e pude ver pelo canto dos olhos que meu esposo fez o mesmo. ꟷ Você percebeu que tiramos seu esmalte, (S/N)-ssi? – Minha atenção saiu do médico que estava sério e foi para minhas unhas.
ꟷSim, não entendi o porquê disso. – Confessei, acompanhando o olhar do mais velho sobe os papeis em sua mesa.
ꟷA senhorita chegou aqui desmaiada e com o pulso fraco, tudo indicava uma parada cardíaca. Por isso tiramos o esmalte, o primeiro sinal além da dor é a coloração das unhas que se tornam arroxeadas quando uma pessoa está com os batimentos cardíacos fracos ou acelerados demais...
Virei um pouco o rosto para ver Jungkook, ele escutava tudo atentamente e acariciava a palma de minha mão ao mesmo tempo.
ꟷDeve saber que durante o parto não se pode usar esmaltes nas unhas. – Assenti freneticamente. Onde ele queria chegar? ꟷ Pois bem, alguma outra vez suas unhas ficaram da cor que estão agora e com as mesmas dores que sentiu antes de desmaiar?
ꟷAcho que sim... – Franzi o cenho, olhando para minhas mãos novamente. ꟷ Mas nunca doeu dessa forma, sempre era a dor de cabeça. Eu tenho enxaqueca.
Foi notável o olhar confuso de Jungkook quando eu disse que sentia dores frequentes. Provavelmente eu terei de dar uma ótima explicação mais tarde.
ꟷEntendo. – O doutor Lee suspirou e trocou as ordens das folhas em sua mesa. ꟷ Vendo os sintomas que a senhorita chegou e aqueles que seu esposo descreveu, eu tomei a liberdade de pedir uma tomada de exames mais específicos. – Ele mordeu os lábios, e leu o que estava escrito no que julgo serem os resultados.
Nesse pequeno tempo, Jungkook já havia entrelaçado nossos dedos e mordia os próprios lábios com força.
ꟷBom, nos resultados apareceram características de Cardiopatia congênita. – Percebendo que nenhum de nós sabia o que era aquilo ele continuou. ꟷ Cardiopatia congênita é uma alteração na estrutura do coração, alteração que acontece antes mesmo do nascimento. Na maioria dos casos é identificada quando a criança ainda é um bebê. Claro que existem exceções, como ocorreu com a senhorita, onde os sintomas aparecem quando adulto. Olhando o histórico de sua família aqui no hospital notei que seus avós faleceram por problemas cardíacos, tudo indica que o seu seja hereditário.
ꟷMas eu nunca havia sentido uma dor tão forte quanto essa. Só minha cabeça que sempre doeu assim! – Arrumei a postura na cadeira, aquilo não estava me trazendo bons pressentimentos.
ꟷA dor de cabeça é indicada por alguns estudos como um dos sintomas dessa má formação. Mas as pesquisas ainda não foram concluídas, é só uma hipótese. – Ele folheou mais uma vez os papeis. ꟷ Os sintomas já comprovados são a falta de ar, pele arroxeada, inchaço, tonturas e desmaios, cansaço depois de algum exercício e entre outros. – Apoiou as mãos na mesa e voltou a nos olhar. ꟷ Provavelmente, dessa vez ocorreu uma parada de sangue em seu coração para ter feito doer tanto. Esta é uma das consequências, o sangue pode parar se a má formação for às válvulas, ele pode voltar ou o sangue oxigenado pode passar para o lado do sangue não oxigenado e vice-versa. – Explicava, desenhando em uma figura de um coração.
ꟷQual o tratamento para isso? – Jungkook se pronunciou depois de um tempo encarando o desenho. Ele apertava tanto minha mão que não parecia mais circular sangue pelos meus dedos.
ꟷPor ela ter dado um inicio de parada cardíaca eu acho que o mais apropriado seria uma cirurgia de cateter ou de peito aberto, isso depende da gravidade. Mas com a gestação é um caso mais arriscado. – Voltou a encostar as costas na cadeira. ꟷ Apenas os medicamentos não vão adiantar e até mesmo estes são perigosos para a criança.
ꟷNão tem outro jeito sem ser a cirurgia? – Mordo os lábios, pedindo a Deus para dar outra escolha.
ꟷDo jeito que está não. Se tivesse sido identificado há alguns anos era possível resolver ou apenas controlar com medicamentos. Não sei como a senhorita passou a primeira gestação tão bem! – Sorriu.
ꟷComo assim? – Jungkook soltou minha mão e agora ele apertava as próprias mãos.
ꟷA gravidez faz com que aumente o gasto de energia, pois ela respira por dois, bombeia sangue por dois até certo momento e entre outras coisas. É normal que o coração fique fraco ou sobrecarregado nesse período. Quem tem problema na formação desse órgão perde duas vezes mais a força.
Um arrepio percorreu minha espinha e engoli em seco. Não tive grandes problemas enquanto Hansung ainda estava em meu ventre, foram nove meses “tranquilos”.
ꟷQuais são as chances da cirurgia dar certo? – Olhei para Jungkook com os olhos arregalados. Ele estava pensando mesmo na possibilidade de abrirem meu peito e cortarem meu coração enquanto eu carregava Jungah?!
ꟷToda cirurgia tem riscos, senhor Jeon. – O médico suspirou e apoiou os cotovelos sobre a mesa. ꟷ Acontece que uma cirurgia cardíaca não é 100% segura e ainda mais em uma gestante. Os meses mais perigosos de uma gravidez são os de inicio e final, mas isso não significa que ela não corre riscos de sofrer um aborto ou outra coisa durante o procedimento.
ꟷMas tem que haver uma forma! – O mais novo subiu o tom de voz, ele estava irritado. ꟷ Quer que eu faça o que?! Fique observando minha esposa definhando com o passar do tempo até completar os malditos nove meses?! E se ela não durar até lá, o que eu faço?!
ꟷJungkook-ah, para! – Segurei seu pulso que estava sobre a perna. Ele mantinha o punho fechado e o olhar cheio de ódio para o homem a nossa frente. ꟷ Eu vou ficar bem! – Sorri, tentando acalmá-lo. O olhar de ódio se voltou para mim em forma de ternura e compreensão, mas eu ainda via o medo em suas orbes.
ꟷO que posso fazer é pedir mais uma rodada de exames para passar alguns remédios e vitaminas que ajudem o coração a não diminuir o ritmo e impedir que o sangue volte. Isso até a criança nascer. – Olhou para minha ficha e ficou algum tempo em silêncio. ꟷ O parto está marcado para março, podemos adiantá-lo para fevereiro caso necessário e logo após já fazer a cirurgia, aproveitando a sedação.
ꟷTem certeza que ela aguenta até lá? – Jungkook perguntou já mais calmo e com a voz baixa.
ꟷCerteza eu não tenho de nada, meu jovem. Mas posso te garantir que faremos o possível. – Sorriu, enquanto anotava os novos exames que eu deveria fazer.
Dessa vez fui eu quem apertou a mão do outro. Eu estava com medo, não por mim, mas por minha filha e por Hansung. Se eles ficassem bem eu estaria bem. Jungkook precisaria se manter forte caso eu caísse, afinal, eu tenho literalmente um coração fraco.
***
ꟷNão entendo isso! – Falei, após chegarmos em casa. Era madrugada então Hansung ficaria com Jimin e Giovanna até o dia seguinte. ꟷ Eu nunca tive sintomas de problemas cardíacos, nem quando fazia os exames para saber se estava tudo bem com Hansung. – Sento-me no sofá e abaixo a cabeça.
ꟷNão fica assim, não pode ficar nervosa. – Jungkook deixou as chaves e os pedidos de exames sobre a mesa, depois vindo até mim e se sentando ao meu lado. ꟷ Vai dar tudo certo, você é forte! – Sorriu e beijou minha cabeça, passando o braço ao redor da minha cintura.
ꟷMas agora eu preciso ser mais forte... – Choraminguei, olhando em seus olhos. Jungkook era bom em esconder o que sentia, mas não conseguia para mim. Ele também estava assustado.
ꟷEu vou ser forte com você! – Segurou meu rosto entre suas mãos e selou os lábios em minha testa. ꟷ Prometi que cuidaria de você, e é isso que vou fazer!
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