História The present-Imagine Jungkook (em revisão) - "See You Again"

   Tempo é aquele que não para. E diferente dele um coração sim. E o meu estava parando. Não, eu ainda não estava morta e nem internada em um hospital. Mas não precisa disso e muito menos de um médico para dizer o que acontecia comigo, eu mesma conseguia ver que a cada segundo uma parte morria enquanto outra crescia em meu ventre.

    Faltava apenas mais um mês para o nascimento de Jungah. O doutor Lee insistiu que o parto fosse feito antes, no entanto me neguei a tal ato. Aguentaria o máximo que conseguisse, pois apenas uma de nós tinha que ficar bem.

    Jungkook tentava disfarçar, porem era visível que ele também definhava a me ver perdendo as forças em sua frente. O sorriso do moreno não tinha mais a mesma intensidade e muitas vezes eu o pegava encarando o nada com um olhar perdido, triste. E mesmo assim era incrível a forma como dávamos suporte um ao outro.

    As piadas sem graças me faziam rir até doer à boca, sua respiração em minha pele quando eu acariciava seus fios castanhos durante as noites me faziam sentir viva. Assim como ele parecia vivo ao me ajudar nas tarefas mais simples ou em apenas poder dormir com o rosto afundado em meu cabelo compartilhando do mesmo calor que eu.

    Eram esses momentos que me faziam sorrir sozinha e às vezes deixar algumas lágrimas caírem. Não era por querer mudar de ideia e escolher minha vida a da minha filha. Era porque eu tinha medo daquilo ser esquecido por mim seja lá para onde vou, aquelas eram lembranças que eu gostaria de carregar para sempre.

    “Nem tudo precisa ser eterno, apenas guardado na memoria para provar que realmente existiu.”

    ꟷNamjoon e Jimin disseram que virão te ver hoje. – Meu esposo se sentou na cama, após terminar de se arrumar para sair.

    ꟷVai sair de novo? – Deitei a cabeça e abracei o travesseiro em meu colo. Ignorando o que disse antes.

    ꟷVou... – Suspirou. ꟷ Mas não vou demorar! – Se pôs de pé novamente e selou minha testa. ꟷ Eu te amo. – Acariciou meu rosto.

    ꟷTambém te amo. – Sorri fraco, o vendo sair e me deitei novamente.

    Sempre era bom receber visitas. Principalmente, quando era de algum dos meninos; eles sempre me faziam rir. Sun-Hi e Hoseok já tinham vindo outras vezes. Suga também já apareceu, trazendo consigo a esposa e a filha. Jin foi enviado à base de treinamento no inicio do mês, então eu não o vi mais.

    Haneul e Min-Jee também já vieram me ver a algum tempo atrás, mas elas estavam muito ocupadas com o trabalho. Inclusive Haneul com seu namoro a distância com Mark, o amigo de Nova York do Jungkook.

    Fiquei mais um tempo deitada e encarando o nada até ouvir uma batida fraca na porta e logo a cabeleira platinada do Namjoon ser posta para dentro do quarto.

    Sorri, indicando que entrasse e assim ele fez. Depois Jimin e Giovanna também entraram e cada um me cumprimentou com um abraço, se acomodando nas partes da cama.

    ꟷComo se sente? – Namjoon, que estava sentado ao meu lado, colocou a mão em minha cabeça e sorriu fraco.

    ꟷBem, na medida do possível... – Acompanhei seu sorriso e suspirei. ꟷ Já estou cansada de responder essa pergunta. – Diminuo o riso e mordo os lábios.

    ꟷO que o doutor disse? – Foi a vez de Giovanna perguntar. Eu não havia falado muito com ela nesses últimos dois meses, talvez fosse o medo que a impedia e eu só tinha de respeitar o tempo dela.

    ꟷDisse para eu parar de tomar os remédios, já que posso passar mal a qualquer momento e ter que fazer o parto as pressas... – Abaixo a cabeça, brincando com meus dedos.

    ꟷAh, mas você é forte! – Jimin sorriu, fazendo seus olhos sumirem e deixarem apenas dois riscos pretos. ꟷ Vai conseguir passar por isso de boa!

    ꟷÉ! – Concordei, com um sorriso falso que havia aprendido a fazer parecer verdadeiro. ꟷ Preciso estar bem para o casamento de vocês! – Brinquei, vendo Giovanna revirar os olhos e Jimin rir baixo.

    ꟷEntão você ainda vai durar por muitos anos! – A morena rebateu.

    ꟷYah! – Jimin contestou. ꟷ Você disse que nos casaríamos antes de eu ter que me alistar!

    ꟷE eu mantenho minha palavra! – Ela apertou as bochechas do moreno. ꟷ Mas posso mudar de ideia...

    ꟷIsso vai demorar... – Namjoon suspirou e deitou a cabeça sobre a minha. ꟷ Jungkook disse que você não está comendo direito.

    ꟷSó um pouco. – Olhei para minhas mãos pálidas e com as unhas arroxeadas. ꟷ Fico enjoada com a maioria das coisas, talvez sejam os remédios.

    ꟷMesmo assim precisa tomar pelo menos alguma vitamina. – Respirou fundo e colocou uma das mãos sobre minha barriga. ꟷ Nós todos precisamos que vocês duas fiquem bem!

    ꟷEu sei... – Suspirei e olhei para o mais velho. ꟷ Onde está o Taehyung? Ele me disse que já chegou de Daegu, só que não apareceu ainda.

    ꟷSim, ele já voltou. – Sorriu fraco e se escorou na cabeceira. ꟷ Porem disse que virá sozinho.

    ꟷEle está bem? – Também me escoro. ꟷ Às vezes tenho medo do que ele pode estar sentindo.

    ꟷNão se preocupe, – Sorriu de lado. ꟷ ele é mais forte do que aparenta.

                            ***

    Passado um tempo, nos servimos com os bolinhos e o chá que a senhora Jeon havia trazido. Obriguei-me a comer pelo menos um pouco para amenizar a preocupação de todos. Mesmo sabendo que tudo aquilo voltaria mais cedo ou mais tarde.

    Jimin e Giovanna eram as piadas do dia; eles passavam a maior parte do tempo com discussões bobas e sem fundamento. Mas no fim alguém sedia e tudo voltava à paz inicial. Rap Monster apenas olhava para toda a situação e sorria, achando graça da cara dos dois.

    ꟷQuando Jungkook volta? – Jimin perguntou, colocando mais um bolinho na boca.

    ꟷEle disse que não iria demorar, então deve que logo. – Sorri, procurando meu celular entre os lençóis para ver as horas.

    ꟷOnde Hansung está? – Giovanna se ajeitou sobre a cama, cruzando as pernas sobre a mesma.

    ꟷJungkook o mandou para a casa do tio em Busan. – Suspirei, mordendo os lábios. ꟷ Ele disse que seria melhor para ele brincar um pouco com o primo e se afastar de toda essa bagunça.

    ꟷÉ difícil ficar longe dele, né? – Sorriu fraco e acariciou meu rosto.

    ꟷDemais... – Funguei, limpando o canto dos olhos que já se encontravam molhados. Tinha tanto tempo que não passava o dia todo com aquela criança que doía mais do que perder a respiração e os batimentos do meu coração diminuírem.

    ꟷLogo vocês vão poder passar dias e noites juntos, e ainda terá mais uma! – Namjoon reconfortou. ꟷ Agora, todos nós teremos mais tempo para viajar.

    ꟷNem me fale... – Jimin riu baixo. ꟷ Mal posso esperar para viajar para a Irlanda!

    ꟷIrlanda? – Ri do sorriso fofo que ele estampava.

    ꟷSim, lá é bem calmo e cheio de campos gramados... – Suspirou abobado.

    ꟷCalmo só se for para dormir, né?! – Giovanna se virou para ele. ꟷ Nós temos que ir para um lugar agitado! Cheio de prédios, lojas e luzes! – Discordou da vontade do outro.

    ꟷVai sonhando! – Ele soltou um riso nasalado.

    ꟷVão começar de novo... – Namjoon esfregou as têmporas e respirou fundo, me tirando uma risada baixa da sua impaciência. 

                       ***

    Com um sorriso no rosto eu me despedia deles e recebia abraços calorosos de volta, junto com a promessa de que retornariam logo.

    ꟷEu sei que você gosta de ler, então da próxima vez trarei um dos meus livros favoritos! – O mais velho ali, beijou minhas mãos e sorriu calmo.

    ꟷEu deveria dizer que não precisa, mas não vou rejeitar! – Ri e ele me acompanhou. ꟷ Adorei Demian e todos os outros que me indicou! Será promovido ao meu bibliotecário pessoal!

    ꟷIsso será uma honra! – Soltou minhas mãos lentamente e diminuiu o sorriso. – Tchau, (S/N)-ssi... – Acenou com a mão.

    ꟷTchau, Monnie-Oppa... – Também acenei, vendo-o passar pela porta.

    ꟷAposto que depois disso tudo você também vai querer descansar! – Jimin se sentou na beirada da cama e sorriu. ꟷ Então você convence sua amiga, eu convenço Jungkook e vamos todos para a Irlanda!

    ꟷClaro! – Assenti. ꟷ quem sabe depois à Holanda! – Sugeri e ele afirmou com a cabeça.

    ꟷAcho que achei minha colega de viagens tranquilas! – Beijou minha testa e sorriu. ꟷ Fique bem para podermos arrumar tudo!

    ꟷPode deixar... – Sorri o vendo levantar e dar espaço para Giovanna.

    ꟷFique saudável e eu viajo até o inferno com vocês! – Ela sorriu e se sentou onde o namorado estava.

    ꟷNão faça essa promessa! – Provoquei. Mas ela não pareceu se importar, pois prendeu o lábio entre os dentes e abaixou a cabeça.

    ꟷDesculpe por não ter ficado sempre aqui com você... – Fungou baixo. ꟷ Eu não conseguia acreditar que está assim.

    ꟷTá tudo bem. – Sorri fraco e segurei nos ombros trêmulos dela. ꟷ Eu vou ficar bem, de alguma forma...

    ꟷSim! – Assentiu, voltando a sorrir e limpando o rosto. ꟷ Eu preciso de você no meu casamento para ser minha madrinha, babá dos meus filhos assim como fui de Hansung! – Riu, repeti seu ato. ꟷ Preciso de você na minha vida...

    ꟷE eu vou estar! – Falei após alguns segundos, puxando-a para um abraço firme. ꟷ Eu sempre estarei com todos vocês...

                                                                ***

    Mais algumas semanas haviam passado, levando com elas outra grande parte de mim. Eu só queria fazer tudo acontecer mais rápido, seria menos doloroso para todos. Ou então por um ponto final nisso, parar o tempo para que a dor também parasse.

    Faltava pouco para Jungah nascer e alegrar a todos que estivessem ao redor da pequena que ultimamente estava mais agitada. Principalmente quando Jungkook estava conosco, parecia que ela conseguia sentir a mesma felicidade que eu ao compartilharmos do mesmo momento. E óbvio que ele adorava saber como a menina ficava agitada ao ouvir a voz dele, a voz que eu amava e que ela aprendeu a amar.

    ꟷTenho uma surpresa pra você... – Meu marido entrou no quarto e escorou a porta, vindo até mim.

    ꟷO que é? – Arqueei uma sobrancelha vendo-o sorrir e selar minha testa.

    ꟷEle vai cuidar de você enquanto eu termino de arrumar as coisas sobre a escola do Hansung. – Se levantou e foi até a porta, saindo pela mesma. ꟷ Confio em você. – Disse para alguém antes de sumir.

    Franzi o cenho, encarando o espaço vazio na entrada do quarto. Um suspiro conhecido foi dado atrás da parede e eu abri um pequeno sorriso.

    ꟷTaehyung-Oppa? – Perguntei, deitando a cabeça para ver melhor.

    ꟷAnnyeong! – O rapaz de cabelo castanho surgiu na porta e abriu um sorriso quadrado.

    ꟷOppa!- Imitei seu sorriso e me endireitei sobre a cama. Se conseguisse correr, provavelmente, correria até ele. ꟷ Pensei que tinha me esquecido!

    ꟷClaro que não! – Deixou a mochila em suas costas no chão e sentou-se ao meu lado. ꟷ Impossível te esquecer... – Abraçou meu corpo, retribuí o carinho.

    ꟷPor que demorou então? – Fiz bico e me afastei, cruzando os braços.

    ꟷPorque eu estava arrumando isso! – Pegou a mochila e a abriu, tirando de lá alguns DVD’s.

    ꟷA não! – Exclamei, vendo como primeiro filme “O Bom Dinossauro”.

    ꟷA sim! – Riu. ꟷ Nós vamos assistir todos os filmes que já vimos juntos e aqueles que não assistimos! – Sorriu fraco.

    ꟷPara que isso?! – Revirei os olhos, suspirando.

    ꟷPorque eu quero ver você chorando de novo enquanto se entope de chocolate... – Bagunçou meu cabelo. ꟷ E para tornar esses momentos mais memoráveis e fixos nas nossas memórias. – Disse com os olhos marejados.

    ꟷOppa... – Tentei argumentar, mas ele me impediu.

    ꟷNão! – Enxugou os olhos. ꟷ Vamos guardar as lágrimas para os filmes. – Se levantou e foi arrumar os aparelhos de vídeo da televisão. ꟷ Eu ainda terei muitos anos para te enjoar! – Sorriu de lado, me olhando de soslaio.

                             ***

    Com toda certeza aquelas não eram lágrimas por causa das cenas tristes que passavam no televisor. Mas sim por causa das lembranças que elas nos traziam e do medo de não sermos mais capazes de ver aquilo outra vez.

    O choro dele se juntava ao meu quando suas lágrimas quentes pingavam em minhas bochechas vermelhas e escorriam com mais velocidade ao se juntarem com minhas lágrimas que não paravam. Era uma dor silenciosa, contudo era cortante.

    O braço do garoto circulava minhas costas e apertava-as com pouca força, já sua outra mão amassava o pacote de salgadinhos vazio. Eu tinha uma das mãos apertando o forro da cama e a outra em minha própria boca, abafando os soluços que queriam sair. Minha vontade era de abraça-lo até toda aquela dor sair por meio das lágrimas, mas isso me gastaria o restante da vida; era uma dor que não acabava.

    ꟷYah! – Ele se mexeu, me fazendo tirar a cabeça de seu ombro. Vi Taehyung limpar o rosto e pausar o filme. Segurou meu rosto ente suas mãos gélidas me obrigando a olhar para os olhos vermelhos e inchados que ele aparentava. ꟷ Jungkook não me pediu para te fazer chorar... Pelo contrario!

    ꟷDesculpe... – Fechei os olhos, sentindo mais lágrimas escorrerem. Meu rosto já queimava por conta do choro incessante.

    ꟷNão deve pedir desculpas, ninguém deve! – Voltei a encara-lo e mordi os lábios. ꟷ Eu sou um hipócrita por estar agindo assim com você; canto músicas sobre viver intensamente sem se importar com nada, mas peço que você seja cuidadosa! Que tenha medo do que possa acontecer e ao invés de te ajudar a superar esse medo, de fazer com que viva sem ele eu estou aqui te relembrando dos momentos felizes como se fossem os últimos!

    ꟷVocê não está agindo errado! – Também segurei seu rosto. ꟷ Todos estão cuidando de mim! Um cuidado necessário para que eu aguente mais e mais... O medo de hoje vai me deixar viva amanhã!

    ꟷMas eu não quero que tenha medo... Quero que seja feliz! Não importa por quanto tempo dure, mas sim como dure! – Respirou fundo. ꟷ Eu já disse que te amo e continuarei assim até o resto da minha vida, não me arrependo de nada do que fiz incluindo ter aberto mão de você, pois agora eu vejo como você fica melhor ao lado do Jungkook. Só que quando eu fiz isso, disse que ficaria feliz se te visse feliz...

    ꟷN-não se preocupe... – Sem hesitar, o puxei para um abraço e apoiei meu queixo em seu ombro. ꟷ Eu vou ficar feliz continuando assim, e você também vai...

    ꟷTem certeza? – Nos afastou para olhar em meus olhos.

    ꟷSim! – Assenti sorrindo. ꟷ Eu serei feliz, assim como você e todos os outros!

                 [Duas semanas depois]

    ꟷOmma! – Hansung entrou no meu quarto correndo com um sorriso no rosto e pulou sobre a cama.

    ꟷO que foi? – Passei a mão na cabeça do menor e sorri boba. Tinha tanto tempo que eu não o via.

    ꟷQuando a gente vai ao parque de novo?! – Perguntou, com os olhinhos brilhando. ꟷ Já tem tanto tempo que não vamos lá...

    ꟷTem mesmo. – Suspirei e diminui o sorriso. ꟷ Prometo que logo vamos lá, Ok?! – Acariciei seu rosto.

    ꟷTá bom! – Assentiu freneticamente. ꟷ E quando a Jungah vai nascer? – Deitou a cabeça sobre minha barriga tentando escutar a irmã.

    ꟷNão vai demorar. – Sorrio com aquela cena e passo os dedos entre os fios lisos do garoto. ꟷ Preciso que me prometa algo!

    ꟷO que? – Ergueu o rosto e me olhou esperançoso. Ele adora promessas.

    ꟷPrometa que vai ajudar seu appa a cuidar da sua irmã pra mim. – Passei a mão sobre minha barriga, sentindo Jungah se remexer.

    ꟷPrometo... – Franziu o cenho. ꟷ A gente vai cuidar dela enquanto a senhora arruma a casa? – Sorriu inocente.

    ꟷÉ... Quase isso. – Abaixei a cabeça e respirei fundo. ꟷ Prometa também que será um bom filho para seu appa e um bom irmão para sua irmã, sim?

    ꟷTá bom! – Sentou-se mais confortável ao meu lado e suspirou. ꟷ Omma, quando vamos pra Disney?

    ꟷVocê só quer saber de sair? – Ri e ele desviou o olhar, envergonhado. ꟷ Não sei, peça ao seu appa.

    ꟷAigo! Tudo é com ele?! – Emburrou a cara.

    ꟷYah! – Repreendi. ꟷ Não reclame assim comigo! E sim, tudo é com ele!

    ꟷE se continuar falando assim com a sua omma não vai nem mais para Busan... – Jungkook, que até aquele momento se encontrava escorado batente da porta, entrou no quarto e se sentou ao lado de Hansung.

    ꟷDesculpa... – Abaixou a cabeça, arrependido. Sorri para Jungkook que havia desmanchado a expressão brava e também sorria.

    ꟷAcho que tá na hora de alguém ir dormir! – O mais velho pegou o garotinho nos braços e o ergueu fazendo-o gritar.

    ꟷMe diga tchau! – Falo chorosa.

    ꟷTchau, Omma! – Ele correu sobre a cama e deixou um beijo estalado em minha bochecha. ꟷ Tchau, Jungah! – Passou a mão na minha barriga. ꟷ Sai daí logo! – Mandou antes de correr de volta para Jungkook.

    ꟷDaqui a pouco venho te ajudar. – Jungkook pegou o outro nos braços e saiu do quarto. Deixando-me a só com a pequena em meu ventre.

                              ***

    ꟷEle foi dormir falando sobre querer voltar lá naquele parque. – Jungkook sorriu enquanto me ajudava a sentar novamente na cama após tomar banho.

    ꟷSim, ele me disse que está com saudade de lá... – Me aconcheguei sob as cobertas e virei o rosto para Jungkook. ꟷ Me promete que vai leva-lo lá? – Ele respirou fundo e desviou os olhos. ꟷ Ei, promete? – Ergui seu rosto assim como das tantas vezes que ele fez comigo.

    ꟷNão, não prometo! – Bufou, me deixando confusa. ꟷ Não posso prometer algo que você é quem vai cumprir! – Fechou os olhos demorando um tempo para reabri-los.

    ꟷEu sei... Sei que parece difícil de prometer. – Sorri fraco. ꟷ Mas caso eu não cumpra, você tem que cumprir. – Colocou minha mão em sua bochecha e ele fechou os olhos, abaixando a cabeça. ꟷ Quero que me prometa que cuidará deles, levará os dois à escola, ao parque à Disney! Caso eu não esteja aqui... – Suspirei.

     ꟷTá... – Suspirou e se deitou. ꟷ Vamos dormir agora... – Me arrumou ao seu lado e de costas para o mesmo.

    ꟷJungkook-ah... – Chamei depois de alguns minutos. Ele respondeu com um murmúrio. ꟷ Canta pra mim? – Pedi encarando a parede, já que não conseguia olha-lo. ꟷ Tem tanto tempo que não o faz...

    ꟷTudo bem... – Suspirou e se ajeitou atrás de mim.

    Esperei até que sua voz doce fosse audível e sorri quando isso aconteceu. Ele cantarolava baixo no pé do meu ouvido e mexia em meu cabelo ao mesmo tempo. Logo reconheci a melodia que cantava e prendi a respiração com isso.

Oh

How could we not talk about family

When family's all that we got?

Everything I went through

You were standing there by my side

And now you gonna be with me for the last ride

It's been a long day, without you my friend

And I'll tell you all about it when I see you again

We've come a long way from where we began

Oh I'll tell you all about it when I see you again

When I see you again

(Tradução)

Oh

Como podemos não falar sobre família

Quando família é tudo que temos?

Tudo que passei

Você estava lá ao meu lado

E agora você estará comigo para um último passeio

Tem sido um longo dia sem você meu amigo

E lhe direi tudo quando vê-lo novamente

Fizemos um longo caminho desde onde começamos

Corrigir

Oh, lhe direi tudo quando vê-lo novamente

Quando vê-lo novamente

    Fiquei esperando que ele continuasse, mesmo sabendo que aquilo não era apenas ele cantando e sim um desabafo, só que o mesmo não o fez.

    ꟷKookie-ha? – Chamei receosa e me virei para ele.

    ꟷPor quê? – Perguntou ainda com a voz baixa. ꟷ Por que eu sempre te perco? – Jungkook ergueu a cabeça, seus olhos cheios de lágrimas cortavam meu peito. ꟷ Quando não é para as pessoas é para o tempo! – As bochechas dele se encontravam vermelhas e molhadas. Minha mão foi para seu ombro que subia e descia de forma desregulada. ꟷ Eu tento te manter comigo! Proteger-te! Mas te segurar é como pegar areia, você sempre cai por entre meus dedos!

    ꟷJungkook-ah... – Engoli em seco, deixando algumas lágrimas caírem. O puxei para meus braços e o mesmo aceitou o abraço com vontade. ꟷ Por mais que você me perca, assim como a areia que caiu que deixa grãos em suas mãos, eu também estarei contigo. De alguma forma você sempre me terá... Seja fisicamente ou não. – Acariciei os fios da nuca de Jungkook.

    ꟷE-eu tenho medo... – Choramingou, ainda com as lágrimas escorrendo pelo rosto e molhando meu ombro. Eu o entendia, também estava com medo. Mas agora quem parecia mais assustado não era eu. Jungkook sempre esteve disposto a me ajudar, a me manter firme e era isso que eu precisava fazer por ele agora.

    ꟷEu também estou... – Suspirei e afastei meu rosto para poder olhar o dele. ꟷ Mas tudo vai ficar bem, confie em mim! – Sorri fraco e passei as mãos no rosto dele par secar as lágrimas.

    ꟷDesculpe por não conseguir cantar. – Riu fraco e beijou minha testa.

    ꟷTudo bem. – Neguei com a cabeça. ꟷ Eu ainda terei muito tempo para ouvir sua voz...

                    ***

    Sufocada; era assim que eu me sentia.

    Uma dor forte invadia e se espalhava por meu organismo, isso me fez acordar assustada. Eu não conseguia respirar, mas não tinha nenhuma almofada em meu rosto ou mãos em meu pescoço. Estava acontecendo de novo.

    Do nada uma pontada forte em meu ventre me fez gemer baixo de dor. Abri a boca procurando por ar, mas eu não conseguia puxa-lo para meus pulmões. Desci a mão para minha barriga e mordi os lábios com força ao sentir algo úmido e viscoso. O quarto estava escuro então não consegui ver o que era, mas o pouco do que consegui inspirar daquilo me deixou mais desesperada; era sangue.

    Remexi-me para chamar Jungkook só que ele estava virado para o outro lado e a dor só aumentava conforme eu me mexia. Fechei os olhos com força percebendo as lágrimas escorrerem silenciosas pelos cantos dos olhos.

    ꟷJung... Jungkook... – Sussurrei colocando um dos braços sobre as costas dele.

    Assim ele não me ouviria nunca. Tentei empurra-lo com a mão, mas não tinha forças para tal ato. Juntando toda a energia que me restava e com a dor de algo cortando meu ventre, deixei meu braço cair com força sobre ele e um grito me escapar dos lábios.

    O corpo ao meu lado se ergueu assustado e ao ver minha falta de ar arregalou os olhos. Jungkook se levantou rápido e ligou a luz do quarto. Seus olhos quase saíram das orbitas ao passar os olhos para minhas pernas. Eu não conseguia ver o que ele viu, não apenas por não conseguir me mexer, mas também porque minha visão começava a embaçar.

    Jungkook correu para dentro do closet, onde deixava a chave do carro, e gritou pela mãe que apareceu há alguns segundos depois.

    ꟷOmo! – Ela cobriu a boca com as mãos e arregalou os olhos. As orbes escurar da mulher se encontraram com as minhas e um olhar de pena foi lançado para mim. ꟷ Rápido! – Disse, segurando os braços do filho por alguns segundos antes dele vir até mim.

    ꟷSó fique acordada... – Jungkook me pegou com cuidado e pressa ao mesmo tempo. Fiz uma careta ao sentir as dores novamente e me contorci no colo do outro. ꟷ Vai dar tudo certo! – Incentivou, colocando-me deitada no banco de trás do carro.

    Assenti porem não obedeci. A dor de não conseguir ar e aquela dentro do meu ventre me chamavam para fechar os olhos e deixar que elas guiassem meu corpo. Digamos que era um meio termo entre consciente e inconsciente, pois consegui ouvir Jungkook falando no telefone com alguém. Mas não sei quem ou sobre o que.

    Depois de mais alguns instantes foi cada vez mais difícil pensar ou raciocinar. O meu único pensamento era o de que eu estava perdendo Jungah e perdendo a mim mesma. Eu focaria tudo que me restava naquela menina; ela tinha que sobrevier nem que custe o meu ultimo suspiro.

                             ***

    Vultos de luzes passavam diante do meu rosto como flashes e eu sentia minha consciência voltando. Já que as dores voltavam junto. Uma picada rápida foi dada em meu braço e os sons ao redor também se tornavam perceptíveis.

    Tentei abrir um pouco os olhos vendo um teto branco correr sobre mim e uma máscara de oxigênio tampava parte do meu rosto. Busquei identificar quem eram aqueles ao meu redor, todavia ainda estava com uma visão desfocada e zonza.

    ꟷEla perdeu muito sangue! – Uma voz autoritária me fez tentar enxergar de novo. ꟷ Apliquem a anestesia e liguem os aparelhos deixando tudo preparado para a cirurgia! – Era o doutor Lee. Seria ele que faria a cirurgia assim que o obstetra terminasse o parto.

    Passei a língua nos lábios sentindo a boca seca. Moveram-me para a cama do quarto e outra agulha foi enfiada contra minha pele. Dessa vez na coluna, o que doeu mais. Os aparelhos foram ligados em meu peito, pulsos e braços. Logo o único som era o dos utensílios metálicos que seriam usados e o do aparelho que marcava meus batimentos.

    ꟷMenina, – Uma mão foi posta em minha testa e eu forcei os olhos para ver quem era; se tratava do doutor Kim, ele faria o parto. ꟷ precisa ficar acordada! – Tentei assentir e ele suspirou. ꟷ Tragam o garoto para cá e diga para ele mantê-la acordada! – Ordenou.

    Vi pela visão periférica Jungkook se aproximar rápido. Ele apoiou os cotovelos na cama um de cada lado da minha cabeça e segurou meu rosto com as mãos suadas e frias.

    ꟷV-você consegue... – Beijou minha testa e logo suas lágrimas começaram a escorrer por meu rosto. Ele chorava baixo, com a testa encostada na minha e acariciando meu rosto com os polegares.

    Eu já não sentia muita coisa, apenas o contato entre nossas peles e às vezes alguma coisa que os médicos faziam. Minha mente estava voltada em orações para que Jungah ficasse bem, pois eu mesma era questão de milagre.

                        ***

    Não sei quanto tempo se passou, nem quantas vezes rezei a mesma oração ou ouvi Jungkook clamar por ajuda. Mas tinha se passado tempo, pois senti um vazio dentro de mim, literalmente, e segundos depois um choro agudo e fino se espalhou pelo vácuo de minha cabeça.

    Mordi os lábios e tentei mover a cabeça para olhar de onde o choro vinha. Ao fazer isso Jungkook pareceu acordar dos seus pensamentos e ergueu rapidamente o rosto. Um sorriso aliviado rasgou o rosto dele e mais lágrimas voltaram a cair. Sorri minimamente ao ver as enfermeiras empacotarem um bebê com um manto azul. Ela era tão pequena entre aqueles panos, mas parecia tão forte por ter aguentado tanto tempo.

    ꟷEu disse... – Jungkook voltou-se para meu rosto e sorriu. ꟷ Você conseguiu! – Beijou minha testa devagar e acariciou meu rosto. ꟷ Eu te amo! – Sussurrou contra minha pele.

    Eu queria responder a sua declaração, queria levantar dali e abraça-lo, abraçar Jungah. Só que me faltava forças, mais do que antes. Aos poucos eu não sentia mais nenhum toque que era feito nos meus braços ou pernas. Mesmo com o ar sendo enviado eu não o inalava.

    Ergui o olhar para Jungkook, ele encarava Jungah com um sorriso nos lábios e parecia a pessoa mais feliz do mundo. Pela primeira vez senti raiva de tudo aquilo. Não era arrependimento por ter escolhido a vida da minha filha a minha. Mas era algo que me fazia odiar o destino; já que agora tudo estava certo, eu sentia minha vida acabar.

    Fechei os olhos contra minha vontade e ouvi o “pi” do aparelho se tornar cada vez mais constante. Meu nome foi gritado algumas vezes, contudo chegavam aos meus ouvidos meros sussurros. As mãos frias de Jungkook se tornaram quentes comparadas ao frio que eu sentia.

    De repente tudo parou. Eu não sentia, não ouvia, não via. Era apenas o escuro e o vazio que me fizeram perder os toques desesperados, a fisionomia aflita e os gritos descontrolado de Jungkook.