MALUMA
_Maluma, não fique me olhando como se eu fosse um fantasma, sou apenas eu, sente-se para que possamos conversar – diz Daniela.
Meus olhos não conseguem fazer meu cérebro acreditar no que eu estou vendo. Lá está Daniela, sentada em minha poltrona, saída do céu direto para o meu inferno. O que diabos estava acontecendo? Que tipo de pesadelo estava acontecendo? O que significava tudo aquilo?
Abro minha boca um par de vezes tentando encontrar as palavras certas, as perguntas certas e obtenho um exato nada, que já está me enlouquecendo. São tantas coisas que eu quero saber, existem tantos sentimentos embargando-me neste exato momento. Raiva. Solidão. Amor. Tristeza. Como ela pode ter mentido pra mim? Fingido sua própria morte. Me deixado à beira de uma loucura. Como ela entre todas as pessoas em que eu...
_Maluma.
Daniela não tinha o direito de fazer isso comigo ela simp...
_Maluma – sussurra Daniela próxima a meu rosto.
Sua mão esquerda apoia-se em meu peito enquanto a direita segura meu rosto. Meus olhos abaixam-se para encontrar os seus e me vejo perdido em seu mundo. Por um único momento, eu esqueço meus problemas, a bagunça que é a minha vida, o fardo deixado por meu pai. Por um momento, a sensação de ser apenas ela e eu me mantem amarrado firmemente na tranquilidade, até que me vejo trocando, os profundos olhos verdes por outro par mais escuro.
Amanda.
Sinto meu corpo se afastar de Daniela e volto a ver seus olhos verdes, agora, em uma expressão triste e desamparada, como se eu a tivesse ferido. Eu devo ter dito seu nome em voz alta.
_Sei que não tenho o direito de perguntar isso – ouço-a dizer – Mas, quem é aquela garota? É Amanda seu nome? Eu sei que fiquei longe por muito tempo, eu posso esclarecer tudo o que aconteceu Maluma, talvez você já tenha me esquecido, mas meus sentimentos não mudaram. Eu amo você.
Eu amo você, ecoa sua voz em minha cabeça.
Lembro-me perfeitamente de quando escutei pela primeira vez a mesma frase, há tanto tempo atrás. Eu era apenas um menino perdido em uma rebeldia comigo mesmo, tentando sustentar minha irmã e afasta-la de meu próprio mundo caótico.
Daniela era a única pessoa que me mantinha firme, que fazia a realidade ser suportável, que mantinha o animal selvagem em mim tranquilo. Ela era a luz que iluminava a minha escuridão. Quando ela me disse que me amava eu me senti o cara mais feliz do mundo, eu tinha sorte, eu tinha tudo se eu estivesse com ela. E então, após sua morte, tudo tornou-se cinza, escuro, sem vida, o caos era pior do que antes, e então, Amanda chegou. E agora, aqui estava Daniela novamente.
_Juan – viro-me em direção á porta e encontro Diogo olhando para mim assustado – Nã-ão tive como impedi-los de vir aqui, a E-e-lite está na sa-sala.
_Carajo! – xingo e vejo pelo canto do olho Daniela saltar para longe, assustada com meu temperamento – Nós precisamos conversar, mas vai ter que ser em uma outra hora.
_Eu sei esperar – diz Daniela sorrindo tristemente para mim.
Vejo-a sentar-se novamente na poltrona e fico encarando-a por um momento. Nossos olhos se encontram por um momento e a vontade que tive de correr até ela, abraça-la e implorar que ela não desaparecesse quando eu saísse daquela sala foi muito intensa.
_Maluma – insiste Diogo, visivelmente nervoso com alguma situação.
_Certo, estou indo.
_Maluma – chama-me Daniela quando estou saindo pela enorme porta dupla de madeira. Meu corpo para estático, esperando escutar mais de sua voz – Quanto à pergunta que lhe fiz?
Ainda de costas, respondo sem hesitar. _Ela é a mãe do meu filho.
Quando o silêncio atrás de mim não foi resposta o suficiente, viro-me para encarar o rosto assustado de Daniela, uma lagrima escorre por sua face o que me causa dor.
_Vou demorar, se precisar de alguma coisa, chame Diogo – declaro ganhando o corredor.
Diogo caminha a meu lado pelo corredor sem dizer uma palavra. Não posso dizer se seu nervosismo é porque estou tenso feito uma pedra ou pelo motivo que trouxe a Elite em minha casa – contra minhas ordens, relembro-me – ia ser uma longa manhã.
_Tarde – corrigi-me Diogo.
E mais uma vez, eu percebo que estou falando alto sobre meus próprios pensamentos. A hora tinha passado rápido demais, e o que eu estive fazendo? Caminhando sem parar de um lado para o outro como um completo idiota – esclarece meu cérebro.
Quando entro na sala, a primeira coisa que vejo é Charles, arremessando-me uma faca que passa de raspão por minha bochecha.
_Ups, errei – diz ele em tom de brincadeira.
_Uma longa tarde - murmuro entredentes – Que eu bem me lembre, deixei claro que não queria nenhum de vocês bastardos em minha casa.
_Isso foi antes de duas pequenas coisas acontecerem – cospe Brean – Meu irmão, aparentemente morto estar em sua casa e a base da Elite ser invadida pelo o que chamamos de Escobar.
_Escobar, Escobar? – comento surpreso, sentando-me em minha poltrona ficando de frente para os seis membros da Elite – Esse homem já morreu há muito tempo e com ele seu legado.
_Na-na verdade- comenta Diogo engolindo em seco quando todos na sala viram-se para encara-lo – Quando Escobar morreu e seu comercio na Colômbia foi dividido, sua mulher casou-se com seu amigo, que guiou o comercio até que seu filho mais velho tomou o poder da região. Eles se mudaram da Colômbia, estabelecendo seu comercio apenas em Miami, mas ao parecer, eles voltaram e querem a parte do comercio que seu pai pegou.
_Então fomos levados como trouxas para Cuba, enquanto Enzo e Marcelo que deveriam estar na base foram levados para Santa Marta – tagarela Charles – E então Bum! Quando chegamos tudo tinha sido destruído e pichado com as siglas do Escobar e sob a mesa da cozinha...
_O único objeto intacto na casa – comenta Henrie desinteressado girando uma faca com os dedos.
_Havia um pacote cheio de fotos de Bryan com Amanda e de sua família - sorri Charles deixando-me ainda mais irritado.
_E já que você co-participou dessa palhaçada de me deixar em luto – burlou-se Brean sarcástico e com um profundo rancor em sua voz – Tomei a liberdade de ler o seu bilhete.
_Não me diga – respondo no mesmo tom cruzando minhas pernas – E o que o bilhete dizia?
_ 12 10 20 17 14 34 07 – repete Brean.
_E isso deveria ser esclarecedor? – digo a Brean que joga um pacote em minhas mãos.
_Talvez as fotos sejam mais esclarecedoras – cospe Brean deixando a sala.
Escuto Enzo soltar um assobio quando abro o pacote alaranjado sem hesitar. Há muitas fotos dentro dele, estas, de minha Tia Yudy, meus sobrinhos, Amanda, minhas. Mas o que me deixou mais apreensivo e enraivecido – devo confessar – foi à marcação vermelha em cada foto.
Nos rostos de cada um deles havia um circulo vermelho cortado por um X e uma pequena observação vinha escrito em cada uma delas.
Morte.
_Quero toda minha família nesta casa – grito arremessando o pacote para longe – Agora!
_Tomamos a liberdade de buscar Yudy e os garotos – sorri Charles animado - Jhonas chegará com ele em alguns minutos.
_Você vai ter que falar com Brean, ele está com uma dor na bunda com isso do Bryan – diz Marcelo ao esticar sua coluna.
_Isso é um problema dos dois, ele encontrará Bryan por aqui, ele está vigiando Amanda – digo a eles ao pegar uma garrafa de vodka.
_Bom, tomei a liberdade de vasculhar todos os andares quando cheguei aqui e sua princesa Amanda e Bryan não estão em canto nenhum – diz Charles cantarolando, divertindo-se com a situação.
Meus ombros ficam tensos, meu coração explode em meus próprios ouvidos. Tudo em minha volta parece ter um ritmo lento e mortal. Sinto minha cara trancar-se e meus músculos tencionarem conforme encaro Charles, o filho da puta parecia saber alguma coisa que eu não sabia ainda, mas sei claramente que ele ficará felicíssimo em me contar.
Estico minha mão para pegar meu celular quando o riso de Charles me faz tremer de raiva e parar. Seus olhos exibem uma diversão diabólica e seu sorriso maroto um dia me faria mata-lo.
_Não adianta ligar para nenhum deles, nosso lindo menino Diogo já fez isso e eles estão fora do radar – conta-me Charles.
_Quero Amanda e Bryan aqui imediatamente – praticamente rosno as palavras.
A garrafa de Vodka em minha mão trinca-se com a força que a mantenho pressionada. O sangue escorre por minha mão e minha visão tinge-se de vermelho. Se alguma coisa acontecesse com Amanda e o bebe, eu nunca me perdoaria. Se alguma coisa acontecesse com Amanda, Brean teria verdadeiramente seu luto.
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