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História The Rainbow Angel - The White Feather


Escrita por: moonshadowelf

Notas do Autor


(。’▽’。)♡ Boa noite, gente linda (‘∀’●)♡

Peço MIL DESCULPAS pelo atraso desta semana, mas tem um motivo muito forte (e horrível): meu MELHOR AMIGO foi exposto na internet como autor de um crime hediondo (mesmo sem ter cometido) e a postagem se tornou viral! Eu precisei passar o fim de semana com ele cancelando cadeiras, impedindo que ele tentasse algo contra a vida dele, fazendo ele comer e etc. As providências legais estão sendo tomadas e, se o universo quiser, tudo dará certo e justiça será feita! Peço a força e a compreensão de vocês nesse momento!

Por isso, trouxe este capítulo cheio de novas tretas e dramas! Minha carinha quando falam em tretas: (。♥‿♥。)
Pra quem está achando meio parado, meio dramático: Gente, pega na minha mão e confia! A história é grande, então é natural que alguns capítulos tenham momentos diferentes dos outros! A vida da moça é feita de altos e baixos! HEHEHEHHEHEHE

Nos vemos nas notas finais!
(^_^) (^ω^)V (^O^)/ \(^.^)/ (^▽^)

Capítulo 23 - The White Feather


Fanfic / Fanfiction The Rainbow Angel - The White Feather

        Owen ficou parado – como se petrificado – por um longo momento, enquanto minha mente pulava cordas de expectativa. Inesperadamente, ele me abraçou de modo grosseiro e me apertou forte, afundando seu rosto no meu ombro. Fechei os braços em torno dele gentilmente e o corpo todo dele sacolejava: ele estava chorando. Senti as lágrimas dele escorrerem quentes na minha pele. Ele chorava como eu: de forma feia e desesperada.

            – Calma, criança – eu disse, sem saber o que mais dizer – Calma, vai ficar tudo bem.

      Aparentemente aquela fora a coisa errada a dizer. Owen me soltou de repente, a cara desfigurada do choro, o olhar completamente perdido de quem anseia por se encontrar.

            – Calma? – ele berrou, entre soluços – Calma?! Como você pode me pedir que... Como é que você pode dizer que... Assim, sem mais nem menos... que tudo vai ficar bem...

              – Owen, eu... – comecei, mas fui interrompida.

            – Se nada nunca esteve bem, como é que agora vai ficar? – ele puxava os cabelos com ambas as mãos, como se os fosse arrancar da cabeça – Agora que ela se foi... E o pai... Agora que eu estou... Sozinho.

            Owen pôs a cabeça entre as pernas, visivelmente tentando conter o choro, sem sucesso.

            – Owen, eu... – ensaiei colocar a mão em suas costas, mas me contive – Você não precisa estar sozinho. Estou aqui para você, se você quiser.

            De supetão, Owen se levantou espalhando areia para todos os lados. Continuei sentada enquanto ele levantava um dedo acusador para mim.

            – Você? – ele gritou, depois soltou uma risada sarcástica que certamente havia herdado do lado Jonathan da família – Você está aqui pra mim? Jura? Você quer que eu te dê louros ou algo assim? Era isso que achava que iria acontecer? Meus parabéns!

            – Não, realmente eu não... – comecei, tentando entender como lidar com ele.

            – “Eu estou aqui para você blá blá blá Tudo vai ficar bem” – ele disse, numa péssima e anedótica imitação de mim. Confesso que aquilo magoou um pouco os meus sentimentos. Ele virou-se de costas, cerrando os punhos.

            – Owen, eu realmente...

            – Onde? – ele perguntou, com um rosnado baixo.

            – O quê? – perguntei, hesitante, tentando deixar a voz o mais doce possível.

            – Onde é que você estava? – ele disse, no mesmo tom de antes – Onde é que estava quando precisamos de você? Onde é que estava quando Oriana precisou de você?!

            – Aqui – eu disse, simplesmente.

            – Não é onde deveria estar – ele disse, cortante.

            – Owen, eu gostaria de... – comecei, mas fui novamente interrompida.

            – Não. É. Onde. Você. Deveria. Estar – ele rosnou.

            – Eu sei... Sei disso – eu disse, cabisbaixa.

            – Nós precisamos de você – ele disse, com o tom de voz aumentando a cada palavra – Nós precisamos de você, Oriana e eu. Eu... eu precisei de você! Tantos anos... Tanta dor... Nós... Você não estava lá, você não...

            – Eu sei... – eu disse, apenas para ele saber que ainda estava escutando.

            – Isso – ele disse, tentando conter a raiva – é alguma coisa de anjos? Talvez você não pudesse... É por que... nós não éramos... anjos...

            – Owen – eu disse, levantando-me, ainda com medo de me aproximar – Não é nada disso...

            – Fique você sabendo – ele disse, balançando a cabeça como quem quer se livrar das lágrimas – que nós teríamos sido ótimos. Oriana... Oriana era incrível. Esperta, perspicaz. Não deixava nada passar, era forte e determinada. Ela sabia... sabia se orientar pelas estrelas, sabia as propriedades das plantas só de olhar pra elas e conseguia fazer as pedrinhas quicarem cinco vezes na água. Cinco! Eu sou um bom guerreiro. Sei manejar qualquer arma que coloquem na minha mão, qualquer uma. O pai dizia que eu ainda tinha muito para melhorar, mas eu melhoraria... Eu melhoraria... Talvez eu não viesse a ser tão bom quanto Oriana poderia ter sido, caso ela pudesse... Caso pudesse... E agora ela está morta! Está morta e eu não...

            Abracei Owen por trás, deitando o rosto em suas costas. Ele não retribuiu, mas também não me repeliu.

            – Nós teríamos obedecido... – ele disse, quase ininteligivelmente devido ao choro – Nós teríamos sido bonzinhos...

            Apertei-o com mais força e ele cedeu, caindo de joelhos no chão comigo ainda agarrada nele, aparentemente sem mais lágrimas para chorar.

            – Só me diga – ele implorou – por que você não a salvou?

            – Como eles morreram? – perguntei.

            – Me diga por que...! – ele começou, mas o interrompi.

            – Como eles morreram, Owen? – perguntei de forma incisiva.

            – Uma legião de dragões na Cornualha – ele disse, cedendo – Estávamos em missão, soubemos de um núcleo de nephilins na região. Os demônios souberam antes, estavam estraçalhando todos quando chegamos ao vilarejo. Pedi que ela se escondesse enquanto nós auxiliávamos, mas ela... ela nunca ouvia! Atirou-se no meio da multidão, eu só vi quando um deles abriu a bocarra em cima dela. O pai tentou impedir, mas foi impossível. Ele morreu na hora, pois foi atingido pela maior quantidade de presas. Oriana faleceu uns dias depois, devido ao veneno. Só deu tempo de... só de...

            – Sinto muito, Owen – eu disse, apertando-o contra mim – Sinto de verdade. Ela foi muito corajosa.

            – Você pode me contar? – ele pediu – Por favor, eu preciso...

            – Talvez... Owen... – eu disse, passando a mão em seus cabelos – Talvez seja melhor não macular essa memória de seu pai. Talvez seja...

            – Por favor – ele disse, quase inaudivelmente – Por favor, eu preciso saber. Eu não aguento mais viver assim, uma vida toda de mentiras. Quando eles estavam aqui eu podia suportar, mas agora... Agora eu só...

            – Talvez eu prefira não contar – eu disse, suspirando.

            – Por quê?! – ele exclamou.

            – Prefiro você odiando a mim do que à memória de um pai que se sacrificou por você – eu confessei. Jonathan. Por mais mal que Jonathan tivesse causado a mim ou aos nossos filhos, ele ainda havia escolhido dar a sua vida por um deles. Por pior que ele tivesse agido conosco, Jonathan havia sido um bom pai no que esteve ao alcance do seu coração ferido, assim como o meu próprio pai.

            – Não é sua decisão para tomar – ele disse – Eu estou tão cansado de tantas decisões serem feitas por mim. Eu não pedi para ser um nephilin, não pedi para receber o legado do anjo, não pedi para liderar tropas... não pedi nada disso!

            Ele soava desesperado. Eu conhecia bem esse sentimento. A vontade de viver estava se esvaindo aos poucos. Ele tinha razão, não era minha decisão. Era a vida dele e ele deveria poder decidir o que fazer, coisa que eu também nunca pude fazer. Se eu podia dar essa dádiva e essa responsabilidade a ele, eu daria. Era meu dever de mãe. O único que ainda podia exercer.

            – Eu conto, criança – eu disse, afangando-lhe os cabelos – É uma longa história.

            – Não estou indo a lugar nenhum – ele disse, aconchegando-se a mim, sem jeito.

            Apoiei meu queixo no topo da sua cabeça, então eu contei. Conte a ele sobre o que eu sabia sobre a minha origem mais remota, contei a ele sobre o meu chalé no Inferno, sobre papai e tio Mody. Falei sobre a expectativa de conhecer uma mãe da qual não sabia nem o nome, sobre ficar presa nessa ilha por milênios e milênios sem fim. Contei sobre minha transformação em arcanjo, sobre ter que matar meu próprio pai, contei sobre tentar tirar a minha própria vida milhares de vezes, sem nunca obter sucesso. Ele me ouvia sem dizer palavra. Contei então sobre o dia, inesperado e fatídico, em que conheci Jonathan e David e todas as aventuras que se sucederam depois disso. Chorei quando, por fim, contei sobre o dia em que em que ele e a irmã foram tirados de mim, sobre como eu vivi sofregamente nos anos que se seguiram. Contei a ele exatamente tudo que contei a vocês agora, tirando os detalhes sórdidos, é claro. Horas se passaram.

            – Se você precisar odiar alguém, Owen – eu disse, sem saber como ele se sentiria com todas aquelas informações – odeie a mim. Eu nunca lutei por vocês.

            – Você não teve a chance – ele me disse, com a voz rascante de quem passou longos períodos sem falar.

            – Não – eu confirmei, com ele ainda aconchegado a mim, o que logo mudou. Ele se afastou devagar, depois levantou-se.

            – Eu acho – ele disse – que é melhor eu voltar. Dormir um pouco. São... Muitas informações.

            – O que for melhor para você – eu disse, com os olhos baixos, me levantando em seguida.

            – Bem – ele disse – Boa noite... o que resta dela, pelo menos.

            – Boa noite – eu disse e, quando ele já estava dando um passo em direção ao acampamento, tomei coragem.

            – Owen! – chamei.

            – Sim? – ele virou-se ligeiramente.

            – David – eu indaguei – O que aconteceu a ele?

            – David, o Silencioso? – ele perguntou – É o líder dos Irmãos do Silêncio desde que eu me lembro.

            – Irmãos... do Silêncio?

            – Sim – ele respondeu – É uma irmandade de Caçadores de Sombras destinada à cura e à pesquisa. É formada por aqueles que escolhem trocar sua voz e... outros atributos em troca de aumentar o seu poder e conhecimento. É uma prática um tanto... singular.

            – Singular? – eu perguntei, sem entender.

            – Da última vez em que o vi – Owen comentou, desconcertado – Ele não tinha olhos – Ao meu olhar de espanto, Owen acrescentou – Viu e falou coisas demais, suponho.

            Com esta fala, Owen seguiu seu caminho em direção ao acampamento, onde certamente era esperado.

–––

            Viu e falou coisas demais, Owen supunha. Em todos esses anos, nunca eu havia me perguntado como Jonathan ficara sabendo da minha ascendência e agora imaginava se não havia sido David. A visão do anjo Raziel que guiava à Terra Prometida, um anjo bobo preso em uma ilha, como resolver o impasse? Teria Jonathan ficado impaciente, talvez angustiado? Um deslize, uma palavra, PIMBA, contou. Teria sido esse o caso? De qualquer forma, Owen estava ali. Não queria pensar em David ou em Jonathan. Pensar em um ou no outro me trazia um sentimento ruim na boca do estomago, e eu estava cansada de me sentir mal. Sentada na balaustrada, olhei para o céu noturno, perguntando sonhadoramente se o futuro me reservava algo bom.

            Abigail abraçou-me por trás e levei um pequeno susto.

            – Imersa em pensamentos? – ela perguntou, gentilmente. Assenti com a cabeça.

            – E nem vi você chegar – respondi.

            – Eu percebi – ela disse, rindo de leve e beijando meu ombro descoberto de forma casta – Eu queria conversar com você.

            – Aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupada, já me virando para olhá-la nos olhos.

            – Não, não – ela disse, fazendo com que eu me virasse de volta, de modo que ambas fitássemos o céu – Você... Soube de David?

            Assenti em silêncio.

            – Fiquei curiosa a respeito da natureza dos Irmãos do Silêncio – ela disse – Seus poderes.

            – Está interessada? – perguntei.

            – Curiosa – ela respondeu, hesitante.

            – David perdeu os olhos – eu disse, como se isso encerrasse a questão.

            – Muito mais, se o que me contam for verdade – ela disse, mexendo as mãos, nervosa. Eu achava absolutamente encantador como aquela mulher guerreira e forte ainda agia como uma jovem apaixonada perto de mim. Apaixonada, sorri de lado pensando nesta palavra. Abigail não pareceu notar.

            – O que contam? – perguntei.

            – Bem... – ela começou, mas a interrompi.

            – Não diga, não importa – falei, taxativa – Está no passado. O passado deve ficar para trás.

            – Certo – ela disse, visivelmente querendo continuar falando sobre o assunto.

            – O que é? – perguntei, gentil – Pode falar.

            – Bem, as histórias... – ela disse, me olhando como se pedisse permissão para continuar – David virou David, o Silencioso logo após chegarem à terra de Raziel, que eles chamam de Idris. Seu primeiro ato foi romper o laço parabatai com Jonathan. Castor me disse que foi extremamente aterrador. Todos pensaram que Jonathan iria morrer.

            Depois de uma pequena pausa, Abigail acrescentou, um tom de voz mais baixa.

            – Castor diz que era frequente Jonathan ter pesadelos. Acordar gritando desesperadamente no meio da noite, da mesma forma que fez quando o laço foi rompido. Ele viu acontecer. Pólux tem problemas para dormir até hoje por conta disso. Fecha os olhos e... ouve os gritos.

            Não sabia como me sentir sobre isso. Como eu não falei mais nada, ela continuou.

            – Jonathan... ficou completamente sozinho. Não vá pensar que o defendo ou algo do tipo...

            – Jamais pensaria isso – a tranquilizei.

            – É só... – ela disse, contendo uma lágrima – Difícil de acreditar, difícil de pensar sobre, é difícil...

            – Difícil odiá-lo? – perguntei.

            – Sim – ela confessou, me olhando de esguelha.

            – Eu ainda consigo – disse, sem nem saber o porquê de o fazer. Apenas queria dizer. Fiz menção de me levantar, pois queria sair dali. Só sair. Abigail tocou-me gentilmente o braço.

            – Espera – ela disse – Tem... Mais uma coisa. Você tem ido à biblioteca?

            – Não – respondi – Não desde que eles partiram. Por quê?

            – Quando ouvi essa história, eu... Não sei. Tive um pressentimento, talvez. Desci até lá e corri os olhos pelas prateleiras.

            – Abigail...

            – Sei que não devia ir até lá – ela disse, sacudindo a cabeça, como quem diz “tem mais caroço nesse mingau” – O que tem lá não é para os meus olhos, sei disso. Só que...

            – Que...? – incentivei-a a falar.

            – Dois volume estavam faltando – ela despejou.

–––

            Corri até a biblioteca com Abigail no meu encalço. Não poderia ser verdade, não poderia ser verdade!

            Era.

            – Ali – disse Abigail – É dali que foram tirados, não é?

            Passei por prateleiras de pergaminhos e papiros enrolados, quase derrubei uma ou outra tabuleta de argila e cheguei àquela que comportava A História dos Caídos, que papai escreveu. De tempos em tempos, um novo livro simplesmente aparecia ali, bem como no restante da biblioteca. Acima d’A História, estava uma fileira de livros prateados. Claramente, dois volumes estavam faltando. Eu nunca realmente havia prestado atenção a eles, pois já conhecia o conteúdo de cor. Fiquei parada em frente à estante por alguns instantes.

            – São... – começou Abigail – livros valiosos?

            – Muito – respondi.

            – Eles falam sobre o quê? – ela perguntou, curiosa.

            – Angélico – eu respondi, sem expressão – A língua secreta dos anjos.

–––

            Eu sabia que as marcas nos corpos dos Caçadores de Sombras eram angélico, mas acreditei ter sido Raziel a fonte deste conhecimento. Saber que eu mesma havia fornecido este material a eles... E David havia utilizado esse poder para aumentar seus conhecimentos. Sendo ele um humano – nephilin, claro, mas ainda assim humano – o conhecimento pediu seu preço em sangue.

            Não, eu não queria pensar nisso naquele momento. Havia ainda tanto a se fazer. Owen. O enterro de Oriana. Owen.

            – Você falou com ele? – a voz perguntou.

            Dei um pulo na cama, me desequilibrei e caí batendo a cabeça no chão. O susto foi forte.

            – Que susto, Lívia! – eu disse – Quer me matar?

            – Não conseguiria mesmo se quisesse – ela disse, rindo e mordendo uma maçã vermelha e suculenta.

            – Não foi isso que eu perguntei – respondi carrancuda, levanto-me e sentando na cama novamente. Acariciei minha cabeça com uma das mãos.

            – E daí? – ela disse, falando enquanto comia – Também fiz uma pergunta e não foi respondida.

            – Fala de boca fechada, menina! – eu disse, irritada.

            – Como é que eu vou falar com a boca fechada? – ela me olhou com uma careta – Com a força do meu pensamento?

            – Mastiga! – falei – Mastiga de boca fechada!

            – Você não gosta de maçã amassadinha? – ela disse, abrindo o bocão e me mostrando todo aquele misto de maça triturada com saliva. ECA!

            – Pare com isso, mocinha! – eu disse, em tom de repreensão. Ela começou a rir, engoliu tudo e depois continuou falando.

            – Desculpa – ela pediu – Só queria te animar!

            – Maçã com saliva era exatamente o que eu estaca precisando – eu disse – Obrigada!

            Ela riu e me passou uma maçã verde. Meu tipo preferido de maçã.

            – Obrigada – respondi, dando uma dentada generosa na fruta.

            – Então... – ela disse.

            – Então o quê? – respondi.

            – Então... – ela disse, mexendo a cabeça e tentando me fazer entender sem o auxílio de palavras. Mal sabia ela o quanto eu sou tonta, mas vocês já sabem disso, né?

            – Já agradeci – eu disse, balançando a maçã mordida.

            – Eu sei – ela disse, revirando os olhos – Quero saber sobre o Owen.

            – O que você quer saber? – perguntei.

            – Se você já falou com ele! – ela exclamou, impaciente.

            – Sim – eu disse.

            – E aí? – ela perguntou, com outra mordida.

            – E aí o quê? – rebati.

            – Ele é um bobão? – ela questionou.

            – Não! – eu respondi, indignada.

            – Então ele gostou de você – ela disse, mastigando e engolindo para depois continuar – Né?

            – Acho que sim – respondi, com um sorrisinho escapando na lateral do rosto.

            – Isso é bom – ela disse, segurando o caroço da maçã já comida numa das mãos – Afinal, o enterro está marcado para hoje ao meio-dia. Falta pouco.

            Olhei imediatamente para a janela e percebi que o sol brilhava forte no céu azul. Horas haviam se passado.

            – É – eu respondi – Falta.

            – Sim – ela disse – e depois eles vão todos embora.

            – Como é? – perguntei, surpresa.

            – Ouvi aquele guarda-costas dele falando para Abigail que eles iriam embora assim que acabasse o funeral da moça.

            Fiquei sem palavras por um momento – que provavelmente foi um momento bastante longo. Nem percebi quando Lívia saiu do quarto. Não me preocupei com ela ficar braba comigo por ignorá-la ou algo do tipo. Ela estava tão acostumada a uma eu vegetativa que deve ter até apreciado o fato de eu a ter respondido por uma quantidade considerável de tempo. Nesse momento, fiquei pensando sobre o que eu deveria fazer, ou melhor, o que eu poderia fazer para amenizar o sofrimento do meu pequeno de cabelos brancos. Ele iria embora tão rápido. Será que existiria algo ao meu alcance?

–––

            Talvez. Talvez algo estivesse ao meu alcance. Caminhei pela praia de pés descalços, apreciando a sensação dos meus pés afundando na areia. Passei pelas barracas dos Caçadores de Sombras, vendo apenas de relance as muitas cabeças que se voltavam para me ver passar, tendo apenas Owen em meus pensamentos. Owen e a possibilidade de ele ter algo que eu não havia tido: conclusão. Sem perceber, causei um pequeno alvoroço no acampamento, composto apenas de homens. Aqui e ali vi uma das minhas meninas se escondendo dentro das tendas e homens correndo para se cobrir e ficar em posição do lado de fora. Sufoquei o riso. Ah, ser jovem era maravilhoso. As possibilidades, os sonhos, a esperança. Suspirei.

            No centro do acampamento alguns homens estavam sentados no chão, em círculo, entre eles Pólux e Castor. Levantaram-se quando me viram e pedi que se sentassem novamente.

            – Olá, Castor. Olá, Pólux – eu disse, sorrindo.

            – Olá – responderam em uníssono, sérios. Pólux lustrava uma adaga curta.

            – Onde está Owen? – perguntei, mantendo o tom gentil.

            – No mar – respondeu Castor – Ele gosta muito de água.

            – Entendo – respondi, vendo de relance ao longe um brilho que só poderia ser o sol refletindo naquela cabeleira branco-leite – Gostaria de falar com ele quando voltar – completei, virando-me para encontrar um lugar no qual pudesse esperar por ele.

            – Ele vai voltar – disse Pólux, com uma voz forte. Virei-me de volta – Conosco. Ele vai voltar conosco.

            Olhei-o com a minha melhor cara de paisagem e todos à volta pareciam tensos, como se todos tivessem prendido a respiração ao mesmo tempo.

            – Ele não vai ficar – Pólux continuou, como se tivesse tomado coragem e não pudesse parar – Não vai conseguir fazê-lo ficar. O lugar dele é com o povo dele.

            – Por que eu tentaria fazê-lo ficar, Pólux? – perguntei, ainda gentil.

            Ele não respondeu imediatamente, mas sustentou o meu olhar.

            – Eu pensei que... – ele começou.

            – Que eu tentaria mantê-lo preso aqui? – completei – De onde surgiu essa ideia?

            – Jonathan disse – Pólux falou, com o tom de voz acentuado – que você o persuadiu a ficar aqui em vez de voltar para o mundo lá fora. Que você o enfeitiçou para que fizesse aquilo que você queria em detrimento das necessidades do seu próprio povo. Ele disse que somente Raziel o fez ver a luz.

            – Jonathan também disse – eu falei, tentando não me alterar com todas as aleivosias que Jonathan havia espalhado de mim – que Raziel é o único e verdadeiro anjo. Aqui estou, para provar o contrário.

            Pólux soltou um som de descrença com a boca, tipo um “Aham, sei” dos nossos dias.

            – Ele também disse que você não é um anjo – ele me olhou, com desdém – e sim um demônio. Dos piores. Só estamos aqui por que Owen é o líder e ele quis estar, mas foi contra os nossos conselhos.

            – Você já matou um demônio, Castor? – perguntei, direcionando-me ao outro irmão.

            – Bem, eu...

            – E você, Pólux? – perguntei e ele apenas me encarou de olhos semicerrados – Algum de vocês? – perguntei me dirigindo aos demais.

            – Jonathan os matava – um dos Caçadores de Sombras respondeu timidamente, deveria ter a idade de Owen – e agora Owen o faz. Ele tem o tridente.

            – Exato – respondi – Mas vocês já viram o que acontece quando uma lâmina celestial rasga a pele de um demônio?

            – Ele sangra – outro dos jovens respondeu – Sangue negro demoníaco.

            – Precisamente – respondi, satisfeita. Estendi a mão à frente, teatralmente, e fiz minha arma, antes em formato de anel, se transformar em uma pequena adaga de adamas. Todos os rostos se voltaram a mim num misto de expectativa e descrença, inclusive alguns que olhavam de longe o burburinho. Ergui o outro braço, fechei a mão sobre a lâmina e, com a outra mão, puxei fazendo um talho meio profundo. Mantive o braço no alto ignorando a dor, já minha velha conhecida. O sangue dourado dos anjos escorria pelo meu braço rapidamente, brilhando com o sol. Quando senti que as primeiras gotas tocavam meu ombro, abaixei o braço e o chão aos meus pés se cobriu de dourado – Vocês sabem o que é isso?

            – Icor – Castor respondeu – O sangue dourado dos anjos.

            – O que uma pessoa precisa ser para ter icor correndo nas veias? – perguntei, como uma professora do jardim de infância falando com uma criança particularmente complicada.

            – Anjo – o primeiro jovem que falou comigo respondeu – Precisa ser um anjo.

            – Isso é precisamente o que eu sou – respondi, segura e séria – Eu sou um arcanjo guardião com um propósito bem definido. Podem ter certeza que ele não inclui interferir na vida finita de simples mortais – eu disse, dona de mim, falando o que eu sentia que queria dizer, ainda que eu sentisse não saber quem eu própria era – Owen é sua própria pessoa. Livre para fazer suas próprias escolhas. Se bem que... – eu disse, dando uma breve pausa - ... um líder nunca seja uma pessoa livre.

            Todos ainda me olhavam embasbacados. Tenho certeza que passei a ideia de força e segurança, mesmo que essa ideia não rondasse a minha mente tanto quanto eu gostaria que o fizesse. Felizmente, Owen se aproximava da margem, fazendo com que fosse desnecessário que eu quebrasse a tensão do momento.

            Ele vinha correndo mar afora, completamente molhado, cada centímetro seu era um misto de Jonathan e eu. Sua pele cor de caramelo, como a minha, contrastava com o branco dos cabelos. Todo ele era a beleza e a força de Jonathan, com a minha graça angelical. Por um momento me peguei pensando em como ainda Owen não havia sido fisgado por alguma moça e percebi que não sabia se havia sido ou não. Eu não sabia nada sobre ele.

            Quando me viu, ele sorriu. O sorriso de lado era o mesmo que o do pai, mas o carinho era meu, era nosso. Ele seguiu em linha reta até mim, cumprimentando os Caçadores de Sombras ali presentes com um aceno de cabeça. A água escorria por todo seu corpo e ele sacudiu a cabeça para secar os cabelos, molhando-me.

            – Desculpe – ele disse, sorrindo.

            – Não foi nada – respondi.

            – Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou, olhando de mim para o icor que secava em meu braço.

            – Ah, isso? – perguntei, dando de ombros – Não foi nada! Gostaria de conversar com você sobre algo. Podemos?

            – Claro – ele respondeu.

            Owen deu algumas instruções rápidas para Castor e seguiu comigo. Caminhamos em silêncio pela beira-mar, com as ondas lambendo nossos pés, até chegarmos a uma parte onde não era mais possível sermos vistos, muito menos ouvidos.

            Contei a ele sobre o meu plano – na verdade, sobre a possibilidade de um plano. Não falei com certeza, pois não queria criar falsas esperanças.

            – Você acha que vai dar certo? – ele perguntou, num tom que emanava esperança e curiosidade.

            – Talvez – respondi – Você quer tentar?

            – Se não der certo, talvez eu... – ele respondeu, inseguro.

            – Olha – eu disse – O não nós já temos, certo? Se não tentarmos, é não. Se tentarmos e der errado, também é não. Se vier o sim, é lucro, não é?

            – Acho que sim – ele respondeu – Oriana que era a positiva da família.

            – É? – eu perguntei, sempre ávida por detalhes da minha pequena.

            – Sim – ele disse, depois riu – Vejo de quem ela puxou.

            Sorri, tanto com a boca quanto com os olhos. Ele mal sabia o quanto aquela simples frase havia me deixado feliz. Ela puxou a mim, pensei contente.

            – Pronto? – perguntei.

            – Sim – ele respondeu, inseguro. Depois acrescentou – Sim, estou pronto.

            Coloquei meus cabelos para a frente, catando a madeixa onde as penas de papai estavam trançadas. Mesmo depois de tantos anos, elas ainda brilhavam como no dia em que ele as arrancou. Owen me olhava com um misto de apreensão e curiosidade conforme eu ia soltando a pena branca.

            – Vai usar a branca? – ele perguntou – Porquê?

            – Esta pena pertence às asas do portador da Luz – eu disse – Acredito que poderão servir ao nosso propósito.

            Ele assentiu, respirando fundo. Segurei a pena entre os dedos, sentindo sua leveza. Ajoelhei-me na areia e Owen me seguiu. Apertei forte a pena e fechei os olhos.

            Papai?, pensei, mas não parecia o mais correto.

        Luz? Eu nunca realmente pensei sobre você, não assim. Sem você, há apenas Trevas. Talvez você me culpe pelo que aconteceu entre você e o meu pai, eu sei que eu me culpo todo os dias. Talvez você sinta falta de ser portada por ele? Eu não sei mesmo como fazer isso, mas... Estou aqui para pedir um favor. Eu sei que não estou em posição de pedir nada, mas não é para mim. Eu estou na minha própria luta entre você e as Trevas e eu posso me virar. Eu peço por outra pessoa. Eu consigo ver nos olhos dele que as Trevas estão vencendo. Eu preciso trazê-lo para mais perto de você. Você pode nos ajudar? Eu ofereço essa pena, se não for uma oferenda pouca. Por favor... Eu não sei mais o que fazer... Se você não me ajudar, se não houver Luz... não haverá mais nada...

            – Oriana – ouvi Owen suspirar ao meu lado. Isso, pensei. Pense nela, pode ajudar. De repente, ouvi-o gritar – Oriana!

            Quando abri os olhos, uma moça sorria para nós há poucos metros de distância. Ela tinha longos cabelos negros, que caíam em cachos grossos até o meio das costas. Seus olhos eram profundamente prateados e combinavam perfeitamente com o azul claríssimo da túnica que ela usava. Ela abriu os braços e Owen levantou-se correndo e atirou-se neles. Ela o enlaçou no pescoço e foi levantada e girada no ar, em meio a risos e beijos fraternos.

            Era ela? Seria mesmo ela? Levantei-me meio perdida. Mal tive tempo de processar o que havia acabado de acontecer, quando uma voz conhecida falou às minhas costas.

            – Há quanto tempo, meu amor – disse Jonathan.


Notas Finais


(^з^) (♥_♥) E aí, o que acharam? (*^.^) (^_^)

Pros fãs de TMI: estou conseguindo casar direitinho a minha história com a formação inicial dos Caçadores de Sombras?
Pra todos vocês do meu coração: o que estão achando? Gente, eu PRECISO saber, para poder sempre melhorar! Está LIBERADÍSSIMO fazer críticas construtivas aqui! Algo que você sinta falta, que queria ver mais, algo que não está compreendendo, conta tudo pra tia Anny!

E pro Jonathan é 凸(`з´) ou (#^.^#)? O QUE É QUE SERÁ QUE SERIA QUE VAI ACONTECER AQUI, MEUS SEM ORES E SEM HORAS?!

Eu AMO vocês e saber que eu escrevo pra VOCÊS tem me feito um bem danado na vida!
Vou tomar um chá e esperar as reações de vocês! PUFAVÔ, reajam!

.........•ƸӜƷ•.........
(¯`'•.¸ /(◕‿◕)\¸.•'´¯)


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