História The Red Castle - Tocando Piano

Yoongi POV

Não poderia ser melhor, na verdade poderia. Meu corpo estava relaxado, mesmo com a visita dos lobos nessa noite, fiz o que eu melhor fazia: ignorei-os. Porém, não consegui ignorar Seokjin! Eu ouvi ele levantar, eu ouvi seus passos descalços pelos corredores até abrir a porta do quarto vermelho, da sala de música. Eu ouvi ele arfar quando ouviu a música começar a tocar e seu coração quando viu o enorme lobo que também o olhava. Depois disso o levei para o meu quarto, era mais seguro se ele ficasse comigo, para esconder seu cheiro humano, do que no outro quarto, onde seu cheiro era forte. Foi estranho o que aconteceu:

— Nós vamos dormir juntos? — ele havia perguntado. Confirmei. E expliquei que não era seguro ele dormir no outro quarto com os lobos por perto. Ele perguntou o motivo, mas eu não dei. Eu deixei ele dormir primeiro e fiquei espreitando na janela. — Yoongi-chi? Você toca piano?

— Toco, mas já faz um tempo. — Respondi.

— Você poderia tocar de novo. — Ele falou. O olhei, ele estava encolhido num lado da cama, fazendo sobrar o grande espaço.

— Você toca algum instrumento, Jinnie?

— É a segunda vez que você me chama assim. — Ele notou.

— Não gosta? — perguntei sentindo minha mão suar.

— Gosto. Meu irmão já me chamou assim. — Ele sorriu. — Faz muito tempo. E não, eu não toco nenhum instrumento. Você sabe tocar outro?

— Não, só piano. — Disse sem tirar os olhos dele. Ele se sentou.

— Por que você não vem deitar?

— Porque... —, procurei as palavras certas. — Não vai ser meio desconfortável?

— Não, se você disse que é seguro dormimos juntos, temos que dormir, certo? Não vou conseguir dormir com você fazendo vigília. Daqui a pouco amanhece e você tem que trabalhar.

Ele tinha razão. Mas eu não iria conseguir dormir com ele sem camisa! Seu corpo era másculo e isso estava me deixando louco. Fui ao banheiro e tomei um gole de sangue, depois voltei para o quarto e deitei na cama. Com o gosto de sangue nos lábios, eu deixaria minha atenção completamente fora de Seokjin. Eu esperava.

O sol entrava distraidamente pela janela, tocava o rosto de Jin o que o fez se mover. Passamos a noite inteira nos movendo, só nos aquietamos quando paramos frente a frente, comigo abaixo do seu queixo e sua mão em minha cintura. Porém eu acordei primeiro, sai dessa posição para poder ver melhor seu rosto. E agora ele estava vindo em minha direção devagar, a medida que fugia do Sol em seu rosto. Pus a mão acima se seu rosto, tampando o sol.

Eu não sabia que isso podia ser tão estranho.

Ele voltou a se mexer e eu fiz o mesmo, como se tivesse acabado de acordar.

— Bom dia, Jinnie.

— Bom dia, Yoongi-chi —, respondeu ele sorrindo.

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Os lobos estavam nos rodeando a dias, era a terceira noite com eles ali. E isso estava me preocupando. Há duas noites Jin havia dormido comigo e isso foi tratado com normalidade por mim e por ele, e por Namjoon que ficou imensamente surpreso, mas feliz. Na noite passada, Jin ficou em seu quarto, mas a todo momento íamos nos visitar para ver se estava tudo bem, acabei chamando-o de novo para ficar no meu quarto, ele apenas concordou, conversamos até dormir.

Nesse instante, estava esperando por ele. O meu quarto havia precauções para os lobos, mas ele não sabia, como as estacas de prata na janela e em parte das paredes ao redor. Em toda a casa havia, mas ali era reforçado. Eu tinha que me precaver deles. Eu não sabia o que estavam querendo e não queria saber.

— Yoongi-chi, eu vou comer alguma coisa. Você quer? — Jin apareceu na porta que eu havia deixado aberta. Sorri para ele.

— Não, mas eu vou ficar lá embaixo com você.

Descemos as escadas juntos e eu me sentei na mesa da cozinha enquanto ele pegava algumas frutas e começava a cortar. Fiquei notando seus movimentos com os olhos e procurando os lobos com os ouvidos. Eles estavam rodeando a casa, eram dois, mas pelos passos eles já estavam se afastando. Eu esperava que eles fossem e não voltassem. Namjoon estava bem, disso eu sabia. Estava lendo alguma coisa e bebendo também, ele não sabia porque os lobos estavam ali, mas como sempre, disse para não se preocupar, se fosse alguma coisa importante eles viriam de dia e falariam conosco.

Um cheiro tomou minhas narinas. Um cheiro de sangue. Minha boca doeu com as pressas descendo. Isso não ocorria! Eu sabia me controlar completamente! Mas o cheiro...

— Aish! — Jin praguejou e se virou em minha direção com um dedo na boca. — Faz tempo que isso não acontece.

Fiquei estático esperando que ele não olhasse para mim. Tentei não sentir esse cheiro. O cheiro do sangue dele, este que me fez perder o controle por míseros segundos.

— Você está bem? — Perguntei sem sair do lugar.

— Sim, foi apenas um corte. — Ele sorriu e lavou as mãos e voltou a cortar as frutas.

Passei a observá-lo com todos meus sentidos, levantei-me indo para o seu lado, percebi que sua face mudou.

— Está ardendo? Quer que eu termine? — Perguntei me oferecendo para tirar a faca de suas mãos.

— Não, estou bem. — Ele disse sorrindo.

— Então por que está assim? — perguntei.

— Assim como? — perguntou de volta.

— Pensativo, agora. — Respondi pousando a mão em seu ombro. — Em que você está pensando?

— De verdade? — Ele perguntou, assenti. — Lembra-se que naquela no... Não, é loucura da minha cabeça.

— Não deve ser. Pode falar, Jin. Eu já disse que confio em você. Confie em mim também. — Ele me olhou por alguns instantes e assim que sorrimos um para o outro, ele colocou as frutas numa vasilha e arrumou o lugar. Sem olhar para mim e sem dizer nada. — Você não vai me contar, Jinnie?

Ele soltou um suspiro e me olhou.

— O cheiro, o cheiro que eu sempre sinto em você, o cheiro que esconde em seus perfumes —, ele disse se virando para mim segurando um garfo. — O sangue me lembrou ele. É loucura, eu sei.

O encarei parecendo um idiota. Jin não é burro, mas não adivinhei que ele iria ver que os cheiros se pareciam! Soltei uma gargalhada forçada e o olhei, que estava comendo.

— É realmente loucura. — Disse sabendo que naquela noite não tomaria sangue, mas roubaria algumas frutas de Seokjin.

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Mais dias se passaram e os lobos apareciam vez ou outra. Namjoon havia viajado e estávamos eu e Jin sozinhos faziam dois dias. Também completava um mês e meio que Jin estava em casa. E quase dois meses que eu o conhecia, poucos dias que eu tive certeza que estava amando-o. Também sentia medo. O que estava acontecendo ninguém sabia, nem eu e nem ele.

— Você ainda não tocou piano para mim. — Jin disse enquanto ia para o seu quarto com o olhar para o quarto vermelho.

— Você quer que eu toque? — perguntei o olhando. Ele assentiu e isso me aqueceu.

Voltamos para a sala principal, sentei-me em frente ao piano e ele ficou em pé ao meu lado.

— Tem alguma música na cabeça? — Perguntei. Ele balbuciou alguma coisa negando. — Eu sei que você tem alguma coisa, Jin!

— Não tenho não, só toque, Yoongi.

Eu o olhei sorrindo e deixei meus dedos se moverem. Alternando-se entre as teclas num ritmo calmo, fazia um tempo que eu não tocava e sempre que o fazia as emoções vinham toda para a minha garganta. Logo o ritmo mudou e meus dedos ágeis seguiram as batidas do meu coração, a emoção fluindo em música, como sempre acontecia. Entrando em transe, em ondas de sentimentos. Nas ondas musicais que já me acalentou e já me destruiu.

Senti Jin sentar ao meu lado e tocar no meu rosto.

— Você toca bem, Yoongi-chi. — Parei de tocar e o olhei.

— Não lembro de ter lhe dito, mas gosto de quando me chama assim. — sorri para ele. Por alguns minutos eu pensei que ele sentia o mesmo que eu sentia por ele.

Pensando sobre, era meio impossível. Nem eu sei como eu estava aceitando tão bem! Contudo, eu não podia negar o que eu sabia que iria acontecer. Eu iria me apaixonar, pessoas como eu se apaixonam pelo cheiro em segundos, o amor ocorre da mesma forma. Um coração puxa o outro, é uma força inexplicável que realmente existe e eu estava vivenciando. Eu acredito que já sabia que me apaixonaria por um garoto, meus antepassados afirmaram que eu me apaixonaria, casaria, mas ninguém teria o meu sangue. O que faz total sentindo.

— Jin... Você já se apaixonou? — perguntei curioso. Ele me olhou nervoso.

— Por que a pergunta? — questionou-me.

— Curiosidade. Um príncipe não deve se casar cedo, ou sei lá? — Falei a primeira coisa que me veio a cabeça.

— Não necessariamente, eu deveria escolher uma princesa por esses meses. Meu irmão deve estar fazendo isso. — Ele disse e vi a dor da saudade transparecer em seus olhos. — Mas... Não. — Ele pausou, demorando um pouco para responder. — Talvez eu não saiba o que é isso. — Fez outra pausa, nós nos encarando. — E você?

— Eu o que? — Perguntei tirando os olhos dele e voltando a olhar para o piano, tocar esse era fácil, o da sala de música, não tanto. Assim mesmo, porém, eu demorava a tocar, eu tinha a eternidade pela frente e usava o agora para trabalhar.

— Você já deve ter se apaixonado durante suas viagens. — Ele sorriu e tocou em algumas teclas brancas. Apertei nas mesmas teclas só para sentir seus dedos de alguma forma.

— Eu estou apaixonado. — Falei e por alguma razão senti que ele não havia gostado disso. Olhei para ele que estava com uma careta na face. — Você já foi beijado, Jin? — Seus olhos se arregalaram para mim e suas bochechas ficaram coradas. Soltei uma gargalhada. — Eu nunca fui. — Falei, não sei o motivo. Por que minha boca continuava a abrir? — Eu acho melhor irmos para cama.

Nos levantamos e seguimos para as escadas.

— Os lobos estão por aqui? — Jin perguntou.

— Não. — Respondi tentando ouvi-los, porém não ouvi nenhum lobo sequer. Mas ouvi os batimentos cardíacos de Jin. — Quer dizer, eu não ouvi seus uivos, então acho que não. — Fiz uma pausa. — Você não precisa dormir comigo hoje. Não sabemos se eles vão aparecer durante a noite, porém.

— Se eu ouvir, invado seu quarto. — Ele sorriu e eu segurei o ar. Ele parou em frente ao seu quarto e sorriu um pouco contido. — O que você falou é verdade?

— O que eu falei? — Perguntei tentando ter certeza do que ele estava falando.

— Sobre... — Ele fez uma pausa. — Sobre beijo.

Essa foi a minha vez de ficar corado. Por que eu falei aquilo?

— É sim. — Disse com um sorriso envergonhado.

Ele deu um passo para frente.

— Você tem curiosidade para saber como é?

— Eu prefiro não responder essa pergunta. — Respondi olhando para sua face.

— Eu tenho. — Ele tocou meu rosto e por instinto me aproximei.

Eu não sei o que estava acontecendo com ele, porque comigo eu sabia. Eu me apaixonei por ele e não foi com laço de sangue, foi pelo cheiro e pelos mesmos motivos que pessoas comum se apaixonam. Claro que comigo é diferente, não precisamos de anos de afeto para descobrir o que é o amor, míseros minutos são o suficiente. Só precisamos do olhar, de um toque, mesmo que seja como aperto de mão, e do cheiro. Nesse último, somos como os animais.

— Posso acabar com isso? — Ele só perguntou e eu assenti inebriado pela aproximação.

Nossos corpos foram de encontro um com o outro. Nossos lábios se tocaram. E um beijo lento começou, um beijo lento que mesmo sem sabermos como fazer, movimentou nossos lábios e todo nossos corpos. Eu pude sentir. Minha mão foi em direção ao seu maxilar e sua mão estava em minha nuca, depois desceu para cintura. Nossos corpos estavam colocados de uma forma desajeitada e pura. Senti seu coração bater por nós dois e a frustração por precisarmos nos afastar apareceu. Nossas respirações descompassadas em ritmo acelerado.

— Ainda bem que você é curioso. — Consegui dizer. Ele estava vermelho.

— Boa noite, Yoongi-chi. — Entrou no quarto e fechou a porta. E por algum motivo, sabia que nossos pensamentos estariam interligados nessa noite.

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— Os navios vão chegar daqui duas semanas. — Disse Namjoon lendo uma carta em suas mãos. — Eu vou preparar algumas coisas e vocês preparem suas tralhas, hyungs.

— Isso é maneira de se falar, Namjoon? — perguntou Jin para o mais novo fingindo irritação.

— Desculpe. — Ele pediu. — Mas você já viu como o Yoongi viaja? Ele carrega muitas tralhas.

— Namjoon! — fiz cara feia, mas acabei rindo. — Fazer o que se você está certo.

Fazia apenas algumas horas que Jin e eu havíamos nos beijado e eu ainda sentia o gosto doce de seus lábios nos meus. Nem bebi hoje para não tirar tal gosto de mim. Eu precisava fazer isso de novo.

— Vamos organizar a viagem para amanhã. Você vai? — Perguntei ao mais novo. — Se você for ficar, chamarei o Jimin para ficar com você.

— Quem é Jimin? — Perguntou Jin nos olhando.

— É do nosso clã. — Falei sem pensar.

— Clã? — Jin estava confuso e eu não pude descontariar a cara feia que Namjoon me fez. Eu me sentia tão calmo com Jin que achava que ele sabia de tudo em minha vida.

— Sim, clã de infância. Ele é mais novo que o Namjoon e nós meio que cuidamos dele durante algum tempo. Ele gostava de se referir a clã. — Inventei tal história baseando na verdade.

— Hm. — Jin fez nos estudando.

— Hyung. — Namjoon me olhou sorrindo. — Não vamos precisar chamá-los.

Apurei meus ouvidos para não ouvir apenas as batidas do coração de Jin, mas tudo ao redor.

— Hoseok e Jimin. — Sorri largo saindo do escritório sendo acompanhado pelos outros dois. Não achei estranho o cheiro de sangue que vinha deles. Mas assim que os vi, fiquei preocupado. — O que aconteceu com vocês?

Ambos estavam passando pelo portal. Suas roupas estavam rasgadas e sujas de sangue.

— Estamos com problemas, muitos problemas. — Hoseok falou sem esforço, eles já não estavam machucados, pois já haviam se curado.

— O outro clã, digamos que eles querem nos matar. — Jimin resumiu.