Cap-3 Prontos ou não, que comece o jogo pt.1
...
Os ouvidos de Yasmin ainda chiavam quando ela começou a vomitar. A cena que ela acabara de ver não sairia nunca de sua cabeça, aquela tinha sido a primeira e com certeza a pior explosão que ela vira em toda a sua vida. Após a explosão, pedaços de carne e cabelos se espalharam pela sala, impregnando um cheiro forte de sangue e fazendo até os estômagos mais resistentes vomitarem. Yasmin estava sentada muito próxima de onde sua colega deu o suspiro final, antes de ter a cabeça transformada em diversos pedaços do que parecia ser carne moída, o que fez vários desses pedaços pararem em cima de sua mesa. Mais próximo que ela só estava Solano, seu amigo que estava sentado à sua esquerda. Ao olhar o amigo ela viu que sua face não expressava pavor ou repulsa como os outros alunos, o rosto do colega estava preenchido da mais pura raiva que fazia seu rosto ficar mais vermelho que um pimentão. Yasmin sabia que o rosto de Solano ficava assim quando ele estava nervoso ou envergonhado, mas naquele momento não eram só os sentimentos que coloriam seu rosto, o sangue da falecida colega encharcava a face do garoto. Logo atrás de Solano estava Ricardo de joelhos no chão, com as mãos chamuscadas. Por algum motivo o menino tentara se aproximar da coleira de Vitória quando ela estava prestes a explodir. Yasmin sabia que Ricardo era um grande amigo de Vitória, porém, mesmo assim ela considerava suicídio se arriscar assim por alguém já fadado à morte.
O desespero havia sido imediato, todos ou caíram aos prantos, ou vomitaram após presenciar aquela cena horrível e nojenta. Mesmo cada um tendo um mini ataque de pânico, a sala como um todo continuou um tanto quanto silenciosa.
– Ooookay, fofuchos, o show acabou. Agora que vocês já sabem o que acontece com alunos mal criados, que tal eu começar a falar pra vocês sobre as regras?? – disse Joel em um tom nojentamente fofo e bem humorado.
– Por que você não cala a boca, desgraçado!! –Ricardo gritou à plenos pulmões, indignado – como pode ser tão frio, seu fantoche estúpido do governo??!!
Todos os alunos se assustaram.
– Ora, ora, calma, Ricardinho meu querido, eu não quero acabar matando todos vocês, – respondeu calmamente Joel -- a graça do jogo é vocês se matarem entre si, então fique quietinho para o professor não tomar nenhuma decisão precipitada, Okay?
Ricardo nunca havia falado daquela maneira antes, na verdade Ricardo mal falava com a turma, mas naquele momento sua fala foi o suficiente para encher os corações dos colegas de coragem e senso de justiça.
–Ora, seu babaca imoral, eu não devia estar ouvindo essas suas baboseiras. -- disse Solano se levantando e apertando os dedos contra as mãos de tanta raiva -- Eu devia é pegar esse monte de merda que você está falando e enfiar na sua garganta até você se afogar!!
Solano estava furioso. Joel havia submetido eles àquele jogo macabro, matado gente inocente e acabado com todas as esperanças dos alunos. Para Solano, aquele homem tinha mais era que morrer ali e agora. Solano começou a avançar rapidamente contra Joel, mesmo com todos os militares apontando os fuzis para ele. Para Solano, ele até poderia morrer, mas não faria isso antes de dar um soco na cara do maldito professor.
Yasmin sabia que aquilo não ia dar certo, Solano não era forte o suficiente para bater nem em um aluno do fundamental, imagina se seria para bater em um ex-militar protegido. Yasmin levantou-se e em um reflexo rápido, agarrou o garoto pelas costas e o puxou para trás.
-- Para seu idiota, eles vão acabar matando você! -- anunciou Yasmin.
-- Isso mesmo, queridinha, que bom que prestou atenção na aula... -- disse Joel tirando um revólver do bolso do terno -- alunos problemáticos tem mais é que morrer!
BANG
...
A cabeça de Sapi estava cheia de raiva. Não somente raiva, mas também de um ódio profundo de tudo que estava acontecendo ao seu redor. O seu professor foi assassinado e teve seu corpo exposto como troféu por um político idiota, o mesmo político idiota que envolvera toda sua turma em O Programa, que matara uma colega e grande amiga da Horst e que tinha acabado de dar um tiro no braço de seu amigo Solano. E mesmo com tudo acontecendo ao seu redor, Sapi estava ali, imóvel, chocado, pois não pensava em nada para se fazer.
--Veja só... -- disse Joel -- ou a minha mira está ficando enferrujada ou você tem muita sorte, meu garoto, hehehe. Mas pode ficar tranquilo que o próximo tiro não tem como eu errar!
Sapi odiava o modo como o desgraçado ria da situação do seu amigo que agonizava de dor no chão enquanto uma corrente de sangue saia de seu braço. Ele olhou para a mesa onde se encontrava o cadáver de seu professor, depois olhou para trás onde podia-se ver os pedaços do crânio de sua colega espalhados pelo chão e sentiu ódio, puro ódio.
Ele sabia que deveria fazer alguma coisa, falar alguma coisa, se não seu amigo acabaria morto. Reagir naquela situação podia ser considerado suicídio, mas Sapi não aguentava mais ver gente morrer na sua frente sem poder fazer nada para impedir. Sapi havia se decidido, mesmo que de um modo confuso e sem planejamento, ele se rebelaria, uniria seus colegas, daria um jeito de derrotar os babacas do exército e faria todos fugirem vivos e em segurança do lugar onde acontecia o jogo. Estava decidido, ele faria o que achava ser melhor por isso se levantou e ia começar a falar...
...quando de repente foi interrompido por Paris, que estava sentado logo à sua direita.
-- Então, meu caro professor... -- disse Paris enquanto se levantava e sentava em cima da própria mesa -- ...daqui você me vê melhor?
-- Ora, pirralho idiota, acha que pode me desafiar? -- disse Joel em um tom sério nunca visto antes pelos alunos da 21.
-- Não, não, professor, só quero contar uma coisinha pro senhor -- disse Paris com um sorriso no canto da boca -- qual vai ser a graça de você ficar nos matando como bem entender? Assim eu perco a oportunidade de matar meus coleguinhas!
-- Bwahahahahaha -- Joel riu escandalosamente -- é claro, é claro, você está muito certo meu jovem! É melhor eu deixar a diversão para vocês! -- exclamou Joel enquanto guardava o revólver no bolso do terno.
O que Paris tinha falado podia até soar como um atentado contra seus colegas, uma afirmação de que ele havia aceitado participar daquele jogo macabro, mas na verdade foi o único meio que ele achou para impedir que o professor matasse seu colega. Após a fala, Paris tornou a sentar sua cadeira, assim como Ricardo e Solano haviam feito.
-- Ok, crianças -- disse Joel enquanto os militares passavam distribuindo folhas em branco e canetas para os alunos -- para o prof ter total certeza de que vocês vão dar o seu melhor no jogo, quero que escrevam três vezes nessas folhas a frase" Eu vou matar"!! Aposto que isso irá encher o coração de vocês de confiança em si mesmos!
A situação já começara a se tornar humilhante, assinando aqueles papéis eles estariam concordando com a lógica bizarra daquele jogo. Alguns, por medo, escreveram logo o que o professor pediu, outros como Sapi e Paris não se submeteriam a humilhação e por isso escreveram coisas como "Eu vou salvar!", "Eu vou dar um belo soco na sua cara!" e "Eu vou vingar a Vitória!".
-- Lindo, lindo, maravilhoso...-- disse Joel chamando a atenção dos alunos que entregavam suas folhas para os militares -- ...espero que todos tenham escrito o que o prof. pediu, se não eu vou acabar ficando muito tristinho. Mas, bem, vamos voltar a explicação das regras desse incrível jogo que vocês jogarão! Homens, por favor.
Ao receber a ordem, um grupo de militares saiu da sala e outro começou a arrumar e ligar um projetor logo a frente da turma. A imagem que saia do projetor era o desenho do que parecia ser uma ilha dividida em diversos quadrantes, assim como são divididos os mapas em jogos de batalha naval. Depois de um tempo os militares que haviam saído da sala retornaram carregando diversas bolsas de mão pretas, todas iguais.
-- Bom... -- começou Joel -- cada um de vocês vai receber uma bolsa dessas. Todas as bolsas contém um kit para a sobrevivência de vocês. Dentro deles vocês encontrarão um pouco de água e comida, uma bússola, um mapa e um relógio e, obviamente, uma arma para que vocês possam lutar! Cada kit contém uma arma diferente que pode ser desde uma pistola, uma faca ou o que mais vocês puderem imaginar. Como as bolsas serão entregues aleatoriamente, mesmo os mais fracos podem ganhar armas fortes e acabar vencendo o jogo! Isso foi uma decisão do nosso Presidente visando que todos dêm o melhor de si no jogo!
Sapi não se importava com que arma receberia, tudo que ele queria era juntar seus colegas e dar um jeito de escapar desse jogo maldito. Ele sabia que haviam certos colegas que não eram muito confiáveis, quem sabe se algum deles não estaria concordando com tudo que Joel dizia? Era assustador pensar na possibilidade de um colega, um amigo, querer matá-lo.
-- Então vocês se perguntam, "onde será que estamos?", não é meus fofos? -- prosseguiu Joel -- Pois eu vou responder para vocês, estamos em uma ilha povoada que se eu contasse em qual oceano se localiza vocês se assustariam com a qualidade do sedativo dado a vocês. Bem, os moradores locais foram bem gentis em ceder suas residências para a realização de O Programa, os únicos seres humanos presentes na ilha somos nós do exército e vocês participantes dos jogos. As residências, lojas e postos médicos da ilha estão localizados nos mapas de vocês e podem ser utilizados como vocês bem entenderem.
O fato do jogo estar acontecendo em uma ilha poderia ser algo bom, pensou Sapi. Ele e seus colegas poderiam se reunir em alguma construção, bolar um plano e tentar escapar da ilha sem participar do jogo sanguinário de Joel.
-- Bom, eu tenho uma má notícia para os bobinhos que pensaram em fugir da ilha nadando. -- disse Joel com um largo sorriso no rosto -- Quem fizer isso vai ter o mesmo fim que sua colega Vitória, se nossos radares localizarem que suas coleiras se aproximaram demais da costa da ilha, elas serão explodidas imediatamente!
Isso dificultava muito o plano de Sapi. Antes para ele tentar roubar um barco do exército e sair da ilha pelo mar era uma boa ideia, agora não passava de uma ilusão distante e fantasiosa.
-- Hmm, já é quase meia-noite, hora de começar o jogo, então só vou explicar mais essa regrinha e já vou liberar vocês. -- disse Joel -- Bom, como vocês terão todas as construções dessa ilha a disposição de vocês, não acham que seria sensato se esconder em uma casa ou algo parecido e permanecer ali naquele lugar seguro?
Os olhos dos alunos brilharam, um feixe de esperança havia surgido para eles. Aquela tinha sido a primeira vez que a turma concordara com o professor, se esconder em um lugar seguro não era uma ideia nada ruim.
-- Pois é, nós sabíamos que vocês pensariam nisso, por isso criamos certas providências para impedir o acontecimento disso <3 -- disse Joel quebrando a ilusão dos alunos -- Nós cortamos o fornecimento de energia em toda a ilha, isso faz todos os equipamentos eletrônicos se tornarem inúteis, inclusive torres de celular. Outra coisa que fizemos foi dividir a ilha em quadrantes... Prestem atenção, pois isso é importante... Se vocês ficassem só escondidos, parados, não haveriam lutas e o jogo perderia a graça, não acham? Por isso a qualquer momento eu vou poder anunciar pelos alto falantes espalhados pela ilha que um quadrante se tornou proibido. Se você estiver no quadrante proibido é bom que fuja rapidamente dele pois a coleira de todos que estiverem no quadrante que se tornou proibido vai explodir! Para isso que vocês vão usar seus mapas, fiquem sempre atentos aos recados que eu anunciar e anotem todos os quadrantes que se tornaram proibidos se não quiserem explodir. E fiquem sabendo que 20 minutos depois de todos saírem, a área em que fica a escola que estamos vai se tornar proibida, então é melhor correrem.
Joel deu as costas à turma, estava prestes a anunciar o início do jogo quando lembrou-se de mais uma coisa...
-- Ah, é claro, quase esqueci de dizer. Se as coleiras de vocês indicarem que não houve morte em um período de 24 horas... Todas as coleiras explodem!
...
Gabrila estava apavorada. As regras daquele jogo eram tão simples porém não tinham nenhuma brecha, as únicas opções que ela tinha era matar ou morrer, simples assim! Não havia como fugir, como se esconder ou como confrontar os militares, aquelas malditas coleiras explosivas impediam ela de pensar em um meio de todos saírem vivos dali. E o pior, em um jogo de matar ou morrer entre uma turma onde ela era a única desconhecida o primeiro de quem desconfiariam e, em seguida matariam, seria ela. Gabrila não queria morrer.
-- Tuuudo bem meus queridos, agora é meia-noite, hora de começar o jogo, viva!! Dêm tudo de si para vencer o jogo e não se esqueçam de que o professor vai estar aqui o tempo todo torcendo por vocês e esperando ansioso para receber o grande vencedor! -- disse Joel muito animado -- Agora vamos entregar as bolsas aleatoriamente para vocês e liberar um a um, tendo um intervalo de dois minutos entre a saída de um aluno e de outro. Os primeiros a sair serão os alunos que não são da turma, logo depois sairão os alunos da turma 21 em ordem de chamada.
Gabrila seria uma das primeiras a sair, já que não era aluna da turma, e foi por isso que a dúvida começou a martelar em sua cabeça, será que valia mais correr para longe dos outros alunos, o que levantaria suspeitas, ou ficar na saída e tentar convencer os outros jovens a tentar achar uma saída da ilha, correndo o risco de desconfiarem dela? Ela estava tão nervosa que decidir seria difícil demais.
...
-- Vamos começar, então, aluno extra n°1, Carol Novaes, -- anunciou Joel -- venha até aqui pegar seu kit, venha!
Carol se levantou, a pressão e o nervosismo eram tão grandes que ela mal conseguia secar suas lágrimas e parar de soluçar. Fazer o caminho até o professor que segurava seu kit de sobrevivência era ainda mais assustador que ouvi-lo falar aquelas coisas horríveis. Carol pegou a bolsa com a cara baixa, sem expressão e evitando contato visual com o homem asqueroso que estava a sua frente...
-- Boa sorte, Carol!! -- exclamou Joel -- O professor está torcendo por você! Espero ver a matança começar assim que vocês saírem!!!
Mesmo sem olhar, Carol sabia que aquele homem estava dando um sorriso alegre falso e nojento naquele momento. Como ele podia achar que aquela cara faceira nos enganava e fazia-nos esquecer do fato de que devemos matar uns aos outros? Na verdade quem ele pensava ser para obrigá-la a matar alguém? Mesmo com muito medo Carol sabia que devia esperar os próximos alunos saírem e tentar permanecer junto deles afinal os outros alunos extras Isa, Lucas, Millene e Muniz eram todos seus amigos. A única pessoa estranha era a tal Gabrila, pensou Carol enquanto saía da sala e atravessava os corredores da escola indo em direção à saída.
Na rua, a Lua iluminava a noite calma e silenciosa, não havia nenhum sinal visível de vida, fora as luzes que vinham das janelas da escola em que a turma se encontrava. Ser a primeira a sair tinha suas vantagens, Carol tinha a opção de correr ou se esconder, mas ao invés disso ficou. Ela estava ansiosa, queria saber o que fazer, ter uma solução para aquela situação, mas nada vinha a sua cabeça. A ansiedade havia a deixado curiosa para saber qual arma havia ganhado, porém se ela pegasse a arma, estaria aceitando o jogo do governo e também faria com que os colegas pensassem que ela estava pronta para lutar. Era tudo tão confuso, tão difícil de raciocinar que, por não saber o que fazer, Carol jogou a bolsa na frente da porta por onde os outros alunos sairiam, sentou-se ao lado dela e esperou.
...
Gabrila ficava cada vez mais ansiosa a cada aluno que saía da sala, estava cada vez mais perto de sua vez de sair. Carol, Lucas, Isa e Millene já haviam saído e Muniz estava pegando seu kit, a próxima seria ela. Como agir com os outros?, o que dizer?, como não levantar suspeitas?, Gabrila não tinha certeza se poderia decidir o que fazer antes de ter de sair da sala.
-- Agora o próximo é... Oh, Gabrila! -- anunciou Joel -- A grande incógnita dessa edição! Vá lá e faça seu trabalho, Okay? <3
Agora que Gabrila não tinha mais esperanças. O modo com que Joel havia falado fazia parecer que ela estava inserida naquele meio para matar os outros, desse jeito ninguém confiaria nela e ela seria a primeira a ser morta. O sorriso que ele dava enquanto entregava o kit para ela fazia Gabrila ter vontade de socá-lo com toda a sua força. Porém ela não podia, tudo que restava a fazer era participar do jogo já que as regras eram perfeitamente feitas para acabar com quem o desertasse. Ela estava convicta, fugir era impossível, tudo o que restava era jogar, por isso logo que saísse da escola ela correria em direção oposta a que os alunos que saíram antes dela estavam. Quando o sol surgisse no horizonte na manhã seguinte ela pegaria sua arma e partiria para o ataque, aqueles jovens nem sequer eram seus colegas, o remorso não seria tão grande, seria? A cabeça de Gabrila estava confusa, ela só sabia que seria perigoso ficar junto dos desconhecidos.
Ao sair do lugar onde estava Joel e os outros alunos, Gabrila viu os outros cinco jovens que haviam saído antes dela reunidos em uma roda. As garotas estavam todas sentadas no chão chorando, com exceção de Millene, que olhava fixamente para o chão. Já Lucas estava de pé comendo um pedaço de pão que provavelmente tinha tirado de seu kit de sobrevivência, o que significava que ele havia mexido em seu kit ignorando a arma que estava nele. Aquelas pessoas não pareciam ameaçadoras, elas precisavam de ajuda tanto quanto Gabrila. Um repentino sentimento de culpa por ter cogitado participar do jogo a fez desistir da ideia de correr para longe dos outros participantes do jogo. Foi então que Lucas percebeu a presença dela ali e, em vez de ficar assustado como ela pensava que ele ficaria, ele não esboçou expressão nenhuma, somente fez um sinal a convidando para se juntar a eles.
Já sentada junto aos outros alunos e esperando que o próximo chegasse, Gabrila pode observá-los melhor. Millene estava com os olhos estáticos, provavelmente a garota estava em pânico, Isa, enquanto chorava, ficava repetindo freneticamente para si mesma a frase "eu não vou matar, eu não vou", já as outras duas garotas estavam chorando apoiadas nos ombros de Lucas, que agora estava sentado, porém com a mesma face pensativa de antes. Nenhum deles parecia preocupado com a presença dela ali. A porta da escola se abriu, era Ana, a primeira da chamada e que havia acabado de ser liberada para o jogo. Ana ignorou Gabrila e se juntou a roda, se sentou e se perdeu em meio ao choro e o abraço de Carol.
Foi então que Dessa saiu da porta da escola. Logo que olhou para Gabrila, a face de Dessa se preencheu de desespero.
-- Eu ouvi o que o professor disse pra você! -- anunciou Dessa enquanto pegava seu kit e começava a fuçar dentro dele -- Vocês estão juntos nessa, foi isso que ele disse!
-- Calma, Andressa, do que é que você tá falando? -- indagou Lucas.
Dessa tirou sua mão que agora segurava uma arma de dentro de sua bolsa de mão. Era uma Colt m1911, tipo antigo de pistola semi-automática, que Dessa agora segurava com suas mãos trêmulas . Ela apontou a arma em direção ao peito de Gabrila e começou a falar:
-- E-eu não quero fazer besteira, só saia daqui. N-não quero que você ainda esteja aqui quando minhas amigas chegarem, e-eu não confio em você. Deixe seu kit no chão e comece a correr assim que eu disser três... Por favor.
Ameaçar alguém daquele modo não era do feitio de Dessa, o nervosismo e o medo que o professor havia lhe causado somado a desconfiança que havia com aquela garota era o que a fazia Dessa agir de tal modo.
Gabrila não podia fazer o que estava sendo mandada, deixar sua arma ali em um jogo de vida ou morte seria o mesmo que assinar o próprio obituário, Gabrila precisava parar aquela garota de algum modo ou então ela acabaria morta.
-- Eu não vou. -- disse Gabrila em um tom sério e seguro -- Eu vou ficar aqui junto dos outros, se não gostar da ideia, abaixe essa arma e vá para longe daqui.
-- Que loucura, gente. -- disse Carol com seu sotaque único enquanto secava as lágrimas do rosto -- vocês não precisam fazer isso, parem por favor.
-- C-Carol, nós éramos colegas, você sabe que eu estou certa, não sabe? -- disse Dessa preocupada. -- Mande ela sair antes que...
Dessa parou de falar, Paris, seu grande amigo, havia saído de dentro da escola.
– Paris!! -- exclamou Dessa -- Diga pra eles o que o professor falou lá dentro! Diga que eu estou certa, que esta garota é perigosa!
-- Ei, ei, o que ta acontecendo aqui? -- perguntou Paris -- Você não sabe que é perigoso mexer com essas armas, Dessa??
– Ahn, n-não sei -- disse Dessa gaguejando ainda mais que antes – e-eu não confio nela, mande ela ir embora, me ajude, eu não sei o que fazer…
Paris deu as costas e se sentou.
– Espere. -- disse ele -- Abaixe a arma, esqueça essa garota por um momento e espere por alguém que saiba o que fazer.
Dessa sabia que podia confiar em seu amigo, mesmo sendo um tanto quanto desleixado ela vira ele ajudando os outros na sala, por isso parou de apontar a arma para Gabrila, se sentou e esperou.
Gabrila odiava como o metido a gostosão conseguia resolver qualquer problema.
...
Cecília saiu da escola e deu de cara com todos que haviam saído antes dela discutindo.
-- Como vocês podem duvidar? Só matando essa aí pra garantir que ela não vá fazer nada contra a gente! -- disse Scheid sendo escandalosa como sempre -- Por mim, a Dessa pode atirar logo.
-- Não meu...-- disse Brenda calmamente -- pensa bem Dessa, você só ta fazendo o que Joel quer que você fça se você matar ela!
Os burburinhos estavam altos demais, uns diziam que era melhor matar Gabrila e garantir que ela não faria mal nenhum a ninguém, outros achavam que ela podia ajudar e que seria errado fazer o que o governo queria.
– Me dá logo isso aqui se você não for atirar! -- disse Scheid -- Vai rápido Dessa, antes que ela fuja!
Dessa voltou a apontar a arma para o peito de Gabrila.
Gabrila estava tensa demais, ela sabia que iriam desconfiar dela, porém não queria acreditar que aquilo era real, ela não queria morrer, ela não iria morrer, foi o que ela pensou, não sem lutar. Gabrila se abaixou rapidamente, pegou seu kit e tirou o que era sua arma de dentro dele, uma machadina, mais especificamente, uma tomahawk.
TCHAF. Em um movimento rápido, forte e preciso, Gabrila cravou a machadinha na têmpora de Dessa, sem dar tempo para ela reagir, fazendo um líquido vermelho vívido começar a esguichar pelo corte feito pelo tomahawk. Aquele líquido se espalhando pelo chão era o sangue de uma jovem, que naquela situação, representava o início do conflito entre colegas, onde a amizade o amor e a alegria seriam substituídos pelo horror, pelo sofrimento e pela morte.
Uh-uaaaaahhh!!! Todos gritaram apavorados, uma colega havia sido morta na frente deles e não tinha sido o professor psicopata que a matara, mas sim uma jovem comum como eles. O medo e o horror tomaram conta de todos, não se podia confiar em mais ninguém, se Gabrila podia matar alguém, qualquer um podia, por isso todos os alunos que tinham saído da sala até aquele momento se separaram e correram sem olhar para trás.
Gabrila estava apavorada, matar alguém era totalmente diferente de como ela pensava ser. No instante em que ela cravou a machadinha na jovem que a ameaçava, uma onde de culpa tomou seu corpo. Porém ela não tinha tempo para arrependimentos, ficar ali naquele pátio aberto depois de matar alguém era suicídio, por isso Gabrila arrancou a machadinha da cabeça de Dessa, o que fez um grande volume de sangue escorrer, e correu em direção a mata fechada da ilha.
BANG, BANG, BANG. Paris rapidamente pegou a arma da mão morta de Dessa, destravou ela, puxou o ferrolho e atirou três vezes em direção a Gabrila. Um dos tiros acertou a perna da garota que, mancando, se enfiou mata a dentro. O sangue havia subido aos olhos de Paris, Dessa sempre fora uma grande amiga para ele e vê-la morrer em sua frente foi o suficiente para gerar um ódio mortal pela assassina. Ele queria poder enterrar o cadáver da amiga, fazer uma despedida digna, porém a situação exigia que ele corresse e se escondesse, cedo ou tarde alguém decidiria que matar os outros era uma boa ideia e ele seria alvo fácil naquele lugar. Paris pegou seu kit, o de Dessa e correu o mais rápido que pode para longe daquela cena apavorante.
RESTAM 32 ALUNOS.
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