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História The Right Error - Some Things are Meant to be


Escrita por: AnnaWrou

Notas do Autor


💠💠Título do capítulo: Algumas coisas são destinadas a serem assim.💠💠

Boa leitura <3

Capítulo 18 - Some Things are Meant to be


Fanfic / Fanfiction The Right Error - Some Things are Meant to be

 

A pessoa que eu menos queria ouvir era a que estava dizendo com perfeição como seria a minha vida a partir da minha escolha. O que ele não sabia e nem saberá foi que eu fiz aquela escolha por ela. Não importava se eu não tivesse mais paz em minha vida, desde que ela tivesse um pouco que fosse. Nem que isso significasse não me ter na vida dela. Nem eu mesmo sabia, mas agora eu via o que era realmente esse tal de amor. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu não pensei duas vezes em colocar alguém na minha frente. Pela primeira vez eu desisti de sorrir para que pudesse olhar, mesmo que de longe, o sorriso que me dava razão. E isso foi por um motivo nobre que chamamos de amor.

- Harry! – Foi então que escutei meu pai se aproximando de mim e me pegando para me levar de volta para o hospital. E foi a última coisa que me recordo antes de desmaiar.

 

 

 

Ashley

 

- Bom dia, meu amor – disse Marcel ao me acordar com um beijo na testa.

- Bom dia – respondi ainda de olhos fechados, quase como se não tivesse acordado completamente.

- Hoje eu não vou poder tomar café com você, pois estou muito atrasado. Mas já tem coisas feitas lá em baixo – abri os olhos e vi que ele já que ele estava vestido para sair.

- Onde você vai? – Perguntei meio tonta e levantando o dorso apoiada nos cotovelos.

- Tenho uns pacientes importantes hoje de manhã. Tiveram recaída e estão solicitando a mim com urgência – ele respondeu entrando no closet.

Tudo bem, né. Respondi só em pensamento enquanto tentava me levantar.

Não sabia que horas eram aquelas e tenho dúvidas que se me perguntassem o dia, eu também não saberia. Lembrei de quando grávidas iam até o Centro de Atendimento à Saúde da faculdade precisando de suporte. Eram verdadeiras máquinas de contar horas e semanas, de tamanha ansiedade para conhecerem o seu filho. Já eu não sabia mais nem que ano estamos... mas eu estava ansiosa para ver o meu bebê, claro! Porém parecia ainda estar desprendida da realidade desse mundo novo que estou tendo ou como ele estava seguindo. A única certeza que tinha é que o tão esperado dia viria, sem dúvidas. Então por que ficar me preocupando tanto? Isso tudo parecia um monte de baboseira só para eu fugir do meu problema real que era: não estar feliz com a vida que estava levando.

- Eu te amo – Marcel saiu do closet usando um blazer marrom, calça e sapatos sociais.

- Também – isso era o máximo que eu conseguia respondê-lo.

Eu sabia que ele notava isso. Sempre após dizermos isso ele fazia uma expressão inquieta, mas sempre deixava para lá. Talvez fosse bom ele não deixar para lá. Quem sabe brigar comigo, me forçar a algo. Ter pulso. Quem sabe assim eu me movimentasse a mudar por ele, quem sabe assim eu me sentiria sufocada a amá-lo; mas não. Ele me deixava livre, assim como eu estava. Porém, não tinha nada de bom nisso. Não sou um monstro insensível que consegue olhar dentro dos olhos da pessoa que mais fez maravilhas em sua vida e ver que está fazendo ele infeliz. Isso não era um peso fácil de carregar. Mas era assim que eu sobrevivendo. É assim que eu sobrevivi esses dois meses desde que quase perdi meu filho naquele hospital.

Ah, devo parar de chama-lo de filho. Vai que é uma menina, não é, garotinha?! Massageei a barriga levemente, que já estava até mais grandinha. Ou, pelo menos, notável. E isso me assustava um pouco.

Com o tempo, descendo e subindo aquelas escadas, aprendi a odiá-las. E cada vez que a barriga crescia, mais ainda o meu ódio por elas. Mas precisava descer.

Lá em baixo, na cozinha, tinha um belo café da manhã para mim. Logo descobri o motivo de Marcel estar atrasado. Ele poderia sair o horário que fosse, mas sempre deixava o café pronto para mim. Isso era uma faca de dois gumes: por um lado eu amava ser amada por ele; já pelo outro, isso era como uma faca entrando em mim, pois não conseguia devolver a mesma intensidade seu carinho e sua atenção. E era exatamente o tamanho da diferença entre nossos sentimentos que era o tamanho da faca ao entrar no meu peito cada vez que ele fazia uma coisa fofa para mim.

Sentei-me para comer. Como sempre, tudo estava muito bom. Dei uma olhada para trás com a sensação de estar sendo observada enquanto eu me deliciava com umas panquecas. Não havia ninguém. Talvez fosse esse o problema: ficar sozinha. Odiava. Mas não tinha muitos cantos para ir com aquela barriga crescendo a não ser ao médico. De vez em quando Marcel queria me tirar de casa para comermos fora ou um programa mais light. Mas sempre me canso rápido.

Mas a quem eu quero enganar? Evito sair de casa apenas para não poder ver Harry na rua. Enquanto um pedaço de mim grita exatamente para isso... para vê-lo!

Desde aquele dia no hospital, quando contei a ele sobre o nosso filho, eu não o vi, não fiquei sabendo sobre e nem nada. Anne tentou entrar em contato comigo depois que saiu do hospital. Graças a Deus ela conseguiu ficar boa, apesar de até hoje ter algumas sequelas. Ela me contou tudo sobre seu processo, mas quando começou a falar de Harry, eu e nosso filho, pedi por Deus que ela me desse um tempo e não falasse sobre isso. Tentei contar que agora estava com Marcel e vivia minha vida com ele. Disse que Harry não fazia questão de ter um filho, que apesar dela ser uma boa pessoa, conseguiu mimar o seu filho mais do que educá-lo. Ela até concordou, mas senti um pouco de rancor em sua fala. Talvez seja melhor assim, cada um no seu lugar, agora. Seja por bem, seja por dor...

E assim eu vivo... assim vivi... sozinha, me escondendo de meus sentimentos, que estão trancados exatamente onde oferecem maior perigo se caso explodirem.

 

 

 

Harry

 

- Bom dia, Sr. Styles.

- Bom dia, Sr. Colling – ele era um velho com um bigode maior do que sua boca. Acho que era fã do Nietzsche.

Aquela seria mais uma aula chata de Ética e Disciplina que eu tinha que fazer. Tá, ela não era tão chata como antes. Parecia que algo no que ele dizia, agora, fazia mais sentido. Mas ainda me pegava sorrindo às vezes quando imaginava como era melhor quando era a Ashley me ensinando.

- Algum problema, Sr. Styles? – Sr. Colling foi irônico ao me ver sorrindo.

- Não! Nenhum – tentei conter o riso – me desculpe.

Esse era como os raros momentos que eu lembrava com alegria da Ashley. Não é que todos os momentos tenham sido ruins. Não. Pelo contrário, todos pareciam ter sido os melhores momentos da minha vida. É exatamente por isso que todos os momentos lembrados me geram tristeza. Porque passaram.

Quando a aula acabava, eu tentava correr para casa para ajudar a minha mãe com algumas coisas. Meu pai tinha me devolvido as minhas coisas e ele parecia um pouco... como eu posso dizer... atencioso para o meu lado. Ele estava até querendo viajar comigo quando minha mãe ficasse boa. Era estranho, mas confesso que era algo bom.

- Hey, Harry! – A voz era irreconhecível.

- Oi, Agatha – disse ao virar-me para ela.

- Como você está? Não te vejo mais – ela perguntou me olhando dos pés à cabeça.

- Deve ser porque agora eu vivo dentro da sala de aula – virei-me para ir embora, mas ela me puxou pelo ombro.

- Tem alguma coisa acontecendo? – Agatha me olhou como quem olha um alienígena na sua frente.

- Não, nenhum – disse ao tentar me sair.

- Claro que tem. Você está assistindo aula há... quanto tempo mesmo que a gente não se vê? – Ela buscou em sua mente.

- Dois meses, Agatha – respondi para ela – e se eu fosse você, eu também procuraria entrar mais na sala. Já que não assiste aula há um mês – tentei colocar um pouco de consciência nela.

Deus, o que estava acontecendo comigo? Eu, colocando juízo em alguém? Talvez o mundo estivesse acabando mesmo.

- Na aula eu acho difícil a gente se ver, mas... – Agatha se aproximou de mim – mas aquela velha e boa trepada? – Ela sabia como ser sexy. E confesso... era difícil para mim resistir.

- Quem sabe um dia desses – santa Mãe, só ela para me fazer resistir.

- Um dia desses?! – Acho que ela se sentiu ofendida com a minha renuncia momentânea.

- Sim, um dia desses. Não posso agora, foi mal.

- Tudo bem... eu vou aguardar esse “dia desses” – ela fez um sinal com os dedos simbolizando as aspas.

- Então tchau – disse ao lhe dá um sorrisinho.

- Tchau... – o olhar dela não estava normal. Era aquele olhar de quando ela ia fazer alguma coisa. E eu teria que me preparar, mas não estava com cabeça para isso. Não agora.

Quando estava indo em direção ao estacionamento, vi uma garota de costas. Seu cabelo era de um loiro do mesmo tom de Ashley. Claro que mesmo parecido, eu não confundi. Ashley parecia ser a única pessoa do mundo que jamais confundiria. Pois percebê-la ia para além de cheiro, olhar ou até tocar. Havia o fator coração. Ele alarmava quando ela estava perto. E mesmo meu coração ter ido até a boca e depois voltado ao lugar, eu sabia que não era ela. Eu sabia. E o meu coração só acelerou porque naquela pequena fração de segundos, eu acreditei ser ela. E se fosse ela... talvez eu tivesse morrido ali mesmo.

Abaixei a cabeça e evitei olhá-la. Ela me lembrava Ashley e lembrar dela era uma coisa que estava realmente me machucando.

Em meus pensamentos eu imaginava logo ela lá, feliz com aquele cara. Como estaria a gravidez? Nosso filho? Ela? Será que ela ainda pensa em mim? Essas perguntas, talvez, eu nunca soubesse as respostas. Era por isso que eu as evitava em minha cabeça, pois só serviam para lembrar que eu a perdi e que não a teria de volta. Eu, idiota, deixei escapar. Seria melhor deixá-la guardada no baú das lembranças extraordinárias que só acontecem uma vez na vida.

Ainda bem que deu tempo chegar até o carro antes que a primeira lágrima descesse. Isso estava virando rotina já. Não me orgulhava de estar chorando, mas também não me sentia tão ruim em chorar como me sentia antes. Chorar era coisa de fraco, pensava. Mas talvez ter medo de chorar também fosse... E agora eu sabia que não era tão forte assim. Forte era o amor que eu tinha. E logo, era fraco ao ceder para ele.

Limpei um pouco meus olhos para poder dirigir.

O caminho até em casa foi bastante calmo. A cidade estava no seu devido lugar, como sempre. Pessoas indo para lá e para cá, com seus rumos e seus deveres. Lembrei que tudo que eu não era, era uma pessoa assim. Regrada. Só que agora, eu vejo que uma pessoa que insiste em fugir da regra é uma que acredita mais nela do que os outros. Vivemos parados, inertes as coisas de trabalho, estudos, imagem e esquecemos de respirar. Eu queria fugir da regra. Eu sabia que ela existia e fugia dela, mas de uma forma errada. Foi como eu sempre fiz a minha vida inteira. Fugi de quem simbolizava uma regra para mim. Agora eu vejo isso. Meu pai, minha mãe, Ashley...

 

 

 

Ashley

 

Estava preparando-me para subir até o meu quarto e descansar mais um pouco. Estava sentindo um cansaço maior do que nos outros dias. Era tanto que até demorei um pouco lá em baixo para decidir subir. Já era de tarde quando decidi subir. Claro que eu não fiquei sem fazer nada, eu estava muito impaciente. Mas, para a minha sorte, consegui tirar um cochilo. Foi então que a campainha tocou e eu fui ver quem era.

- Carla?! – Tomei um susto quando a vi. Ela nunca mais tinha ido até a republica desde que me mudei.

- Ashley! Como você está linda! – Ela disse colocando a mão na boca tentando conter o choro.

- Ah, não vai chorar, para – sorri envergonhada.

- E que barrigão lindo – ela esticou a mão para pegar na minha barriga, mas parou no meio do caminho – posso? – Pediu, completando.

- Claro que sim – deixei que ela pegasse e assim ela fez.

- Nossa, amiga, parece que você está bem feliz, hein – disse ela, com alegria nos olhos por mim.

- Ah, estou sim, amiga... – respondi tentando ser o máximo possível sincera.

- Que bom... – acho que ela percebeu que isso não era de toda verdade.

- Bom, entre! Vamos colocar as conversas em dia! – A convidei para entrar.

- Tudo bem! – Ela aceitou e entrou.

- Conte-me, o que anda fazendo? – Perguntei para ela assim que fiz um sinal para que ela sentasse no sofá.

- Eu terminei com Fred – um pesar bateu em seu olhar – mas estou bem melhor, já faz um tempinho isso...

- Nossa, amiga. Nem sei o que dizer – na verdade eu entendia bem o que ela estava passando. Mas nunca fui muito boa com palavras. E tentando dizer que eu entendia o que ela estava passando eu ia mexer no que estava intocável dentro de mim.

- Tudo bem, Ash. Mas me conta, como estão as novidades?

- Está indo tudo muito bem. O bebê está saudável, Marcel é um amor e me dá tudo que eu preciso.

- Dá tudo que precisa mesmo? – Após a pergunta dela um silêncio frio tomou conta da sala. O mesmo silêncio respondera antes de mim.

- Si-sim, claro – tentei me redimir. Mentindo.

- Está certo... – ela olhou de canto de olho para mim e depois olhou em volta da casa – essa casa é bem bonita. Marcel deve ter muito dinheiro.

- Os pais dele tem muito dinheiro. Ele ganha bem também, mas não é isso que me interessa.

- Claro que é, amiga. Quero dizer, não só isso, claro. Mas isso é fundamental agora que está vindo uma Ashleyzinha aí.

- É verdade... – na verdade, talvez, fosse apenas por isso que estivesse com Marcel. E que ele também por que ele me ajudaria a criar a criança. Ou talvez não. Essa resposta eu realmente não tinha...

- Desculpa perguntar, amiga... mas você ainda tem saudades do Harry...? – Ela tentou não ser indelicada, mas como não ficar incomodada com isso sendo perguntado dentro da casa do homem com quem eu estava agora? E outra, o tanto que eu estava fugindo disso para não pensar, ela fez ressurgir.

- Claro que não – claro que sim! O tempo todo, todo o tempo.

- Ah, sei. É porque você parecia gostar tanto dele. Mesmo depois de vocês terem se conhecido de maneira tão louca – Ela começou a rir.

- De fato, foi bem incomum mesmo – um sorriso surgiu em meu rosto. Eu realmente sorri lembrando daquele momento?

- Vocês ficaram drogados e... – Ela olhou para a minha barriga.

- Eu nem me lembro como aconteceu – levantei-me e fiquei de costas para ela – aquele momento foi o declínio da minha vida.

- Mas fez você se aproximar de Harry e ter seu bebê – sim, esses eram dois motivos maravilhosos que tinham o poder de fazer tudo de ruim sumir. Mas não era tão simples assim assumir.

- Eu amarei meu filho ou filha independente de tudo. Mas, com certeza, seria melhor não ter conhecido Harry. Não posso culpar meu filho, ele é inocente. Mas eu e ele somos culpados de tudo.

- Você pode até ter razão, mas você o ama e ele parece te amar também... – assim que ela disse isso, as poucas forças das minhas pernas cessaram e eu sentei no sofá quase por cair.

- O que quer dizer com isso?! – Um frio excruciante se alojou em meu peito.

- Há dois meses ele vive de cabeça baixa na faculdade, nem parece mais aquele Harry Styles locão, bossal, popular e festeiro. Acredita que dizem que ele até está indo para todas as aulas agora? Acho que o pai dele deve está dando uma bela prensa nele. Ele até está estudando ética com Sr. Colling... – Ela começou a dizer mais e mais coisas sobre ele, mas confesso que não consegui mais escutar nada em diante.

Abaixei a cabeça e olhei para o sofá enquanto eu ouvia sua voz ao longe, nada compreensível. Era como se eu estivesse longe dali e indo cada vez mais para longe. Meu corpo ficou dormente e meus olhos pareciam estar olhando para imagens que eu nem lembrava mais que tinha em minha mente. Eram imagens que meus olhos não tinham visto antes, pois parecia que eu estava revivendo todas elas como um filme, assistindo de fora. E lá estava ele, triste, cabisbaixo e até chorando. Uma parte de mim dizia que era apenas imaginação da minha cabeça pelo que Carla estava me dizendo. Mas outra dizia que era verdade, que o amor era poderoso e que eu podia, sim, sentir o que ele sente. Das duas opções eu estava louca. Mas louca doente ou louca de amor? Faz diferença?

- A mãe dele se acidentou, ele deve estar preocupado, nada mais – Eu disse.

- Oh, amiga. Até parece que não sabemos diferenciar quando alguém sofre por amor, né! – Ela parecia estar complicando mais ainda as coisas falando dele. Não era fácil para mim escutar aquelas coisas, por mais que uma parte minha, a maior, gostasse de saber que ele ainda pensava em mim. E a outra parte ficasse muito mal por ele estar sofrendo. Mas tinha outra ainda, a parte da razão, de que acabou, ele escolheu assim e agora eu já tinha dado um novo rumo para a minha vida.

- Carla, acho melhor você ir agora. Estou começando a ficar cansada e meu médico indicou que eu repousasse completamente quando isso acontecesse – Tive que ser indelicada, não podia mais ficar conversando sobre Harry assim. Estava mesmo me fazendo mal...

- Poxa, amiga, me desculpa. Vou sim – Ela levantou-se.

- Outra hora você pode aparecer. Eu adorei te ver – Lhe dei um abraço. Apesar do que ela falou ter me feito mal, claro que eu adorei vê-la novamente. Ela era a minha melhor amiga.

- Pode deixar, eu aparecerei com certeza – Ela disse ao me devolver o abraço e ir em direção a porta.

- Tchau, Ca – Disse ao abrir a porta para ela.

- Tchau, Ash – Ela me respondeu indo embora me fazendo um sinal com as mãos.

Assim que fechei a porta, era como se aquela fosse a única coisa que pudesse me proteger do que estava lá fora. Harry estava lá fora. Mas isso era apenas uma doce ilusão. Ele estava dentro de mim, toda aquela angustia e dor parecia se remexer dentro de mim. Aos poucos eu fui descendo, escorada na porta, até sentar-me no chão. Conforme eu ia descendo, lágrimas em meu rosto também iam. Eu sofria por não tê-lo, sofria por lembrar nas palavras que ele me disse naquele dia no hospital, sofria por ele estar triste, sofria por não conseguir amar Marcel, sofria pelo rumo que nossas vidas estavam tomando...

 

 

 

Harry

 

Já tinha chegado em casa e ajudado minha mãe com algumas coisas. Meu pai ainda não tinha chegado, isso não mudou...

Minha mãe ficou com problemas para andar direito, por causa de sequelas na bacia e para mover uma das mãos. Ela nunca ficava só. Em casa tinha vários empregados, inclusive duas enfermeiras que ficavam direto com ela. Elas também lembravam Ashley. A pergunta era: o que não a lembrava? Talvez nem fosse essa a pergunta. Já que em momento algum eu esquecia dela para ter que lembrar.

No entanto, eu fazia tudo o que podia para a minha mãe. Ia buscar suas coisas, ajudava a comer, a se limpar. Era o mínimo que eu poderia fazer por ela. Minha mãe daria a vida por mim e eu quase a perdi sem dizer que a amava. Então, tudo que eu fizesse dali para frente era pouco ainda. Esse era o único – e pouco – momento de paz que eu conseguia arrumar enquanto tentava sobreviver.

Era ficar com a minha mãe...

Logo quando ela recobrou a consciência, depois daquela cirurgia que quase nos matou de aflição, a primeira coisa que ela disse foi que se precisasse de alguém para ficar em casa, pediria para a Ashley. Só que as coisas não foram e nem seriam assim.

- Querido... – Disse minha mãe.

Não sabia quantas vezes ela já tinha me chamado. Quando eu a olhei, ela estava com um sorriso no rosto, como se estivesse rindo de mim.

- Oi, mãe! – Respondi pegando em sua mão. Eu estava sentado, ao lado de sua cama.

- Em que estava pensando? – Ela me pergunta.

- Nada, mãe. Só problemas da faculdade – Menti.

- Quem diria, você pensando nos problemas da faculdade. Há males que vem para bens – Parece que mesmo passando por tudo que passou, sofrendo até agora com aquele acidente horrível, ela sentia, conseguia ver que isso tudo valeria a pena só por ter colocado um pouco de juízo em minha cabeça.

Eu a beijei na testa.

- A senhora está bem? – Perguntei.

- Claro que não – Meus olhos saltaram.

- O que está sentindo?! – Perguntei meio assustado, procurando algo por seu corpo.

- Estou com vontade de comer Donuts – Nossa, que alívio.

- Mãe! Não faz assim – Rimos.

- Mas eu estou com vontade!

- Logo a senhora que estava de regime – Ironizei.

- Eu quase morri, Harry. Que se exploda o regime, quero ser feliz!

- A senhora falando palavrão? – Ironizei novamente e ela me olhou confusa.

- Desde quando ‘‘exploda’’ é palavrão?

- Para senhora sempre foi. – Disse e ela me deu um apertão na barriga.

- Vá logo comprar os meus donuts! – Ela mandou, brincando.

- Tô indo, mãe – E fui mesmo. Dei-lhe um beijo na testa e logo em seguida peguei as chaves do carro para sair para comprar os donuts do desejo dela.

E lá estava eu, buscando um canto para comprar esses donuts. Estava olhando em volta, dirigindo vagarosamente tentando me lembrar onde vendia. Foi quando algo me atravessou como uma flecha inesperada. Meu pé foi rapidamente ao freio e meu coração acelerou. Que ironia.

Minhas mãos estavam apertadas fortemente no volante. Eu sentia o suor entre minhas mãos e ele. O ar parecia insuficiente dentro do carro. Meus olhos estavam fechados, mas fui abrindo-os aos poucos. Olhei para o lado e lá estava. Foi a mesma lanchonete que levei, pela primeira vez, Ashley para sair.

Desci do carro e fui andando lentamente para lá. Sei que isso parece contraditório. Ao mesmo tempo que aquilo me martirizava, eu queria mais do que tudo estar ali. Era como se ele me fizesse ficar mais perto dela. E quando dei por mim, já estava lá dentro:

- Posso ajudá-lo, senhor? – Eu estava na frente do balcão e um rapaz falava comigo.

- Não, eu... eu... – Não sabia o que dizer.

- Pode ficar à vontade – Ele disse enquanto eu olhava para trás e via a mesma mesa na qual nós tínhamos sentado naquela noite.

Churros com maionese, pensei alto começando a rir do pedido dela. Agora eu entendo. Foi um desejo de grávida. Só podia, quem comeria algo assim?

- Como, senhor?! – O garoto pareceu que não tinha entendido algo – O senhor deseja churros com maionese?! – Na verdade ele não tinha entendido, ele tinha escutado o meu pensamento e estava chocado.

- Não, eu... – Já estava me preparando para negar, mas... resolvi pedir – Traga isso para mim – Não estava nem aí se eu passaria vergonha ou se era estranho. Ou se vomitaria comendo aquilo. Eu só queria ficar mais perto dela.

- Tudo bem – Ele fez o pedido mesmo parecendo meio confuso.

- Espere, vocês têm donuts também? – Perguntei.

- Temos sim – Ele respondeu.

- Ótimo, me dê cinco. Para viagem – Pedi enquanto tirava o cartão da carteira.

Ele me disse o preço e eu paguei logo em seguida.

Sentei-me na mesma mesa que sentamos. Era estranho. Se eu não pensasse em nada, e deixasse tudo aquilo em volta suspenso, eu quase conseguia vê-la ali na minha frente comendo aquilo como se fosse a maior maravilha do mundo. Poderia sentir até o seu calor.

- Aqui está, senhor – O garoto trouxe o churros com maionese.

- Obrigado – Agradeci enquanto caía em uma gargalhada rápida.

O garoto começou a rir comigo, mas acho que ele não me entendeu. Talvez ele achasse que fosse apenas uma aposta e estava rindo da minha cara por estar comendo aquilo. Não o culpo, eu também riria. Eu ri da Ashley...

Foi então que decidi comer. Dei uma primeira mordida e aquilo era extremamente horrível. Enquanto eu fazia uma careta e colocava para fora o churros com maionese, em um guardanapo, eu sorria desenfreadamente, lembrando. O garoto parou de rir e ficou a me olhar, agora, como se eu fosse um doido. E eu estava realmente agindo como um.

- Obrigado! – Agradeci ao garoto ao respirar. Limpei-me com um guardanapo e levantei-me deixando metade do churros ali, na mesa.

Foi como eu pensei. O churros com maionese era horrível. Não sei como Ashley conseguiu comer. Pelo menos nosso bebê não nascerá com cara de churros com maionese. Nosso, isso me fez refletir e toda aquela felicidade por me sentir mais perto dela foi cedendo lugar para aquela sensação fria e horrível de estar sozinho. Não só sozinho sem ela... mas sem eles.


Notas Finais


Demorei, mas voltei.
Me digam o que acharam do capítulo e até o próximo ❤️


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