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História The Scientist - Capítulo XXV


Escrita por: euannesier

Notas do Autor


ALÔ, ALÔ, QUEM SOU? ATUALIZEI, GRAZADEUS!
Boa leitura, môpovo!!!

Capítulo 25 - Capítulo XXV


POV Lauren.

Esperança. Será ela mesmo a última a morrer? Recordo-me de visitar uma clínica que tratava de pessoas com câncer. Era um trabalho de campo da faculdade, e todos nós estávamos sempre reclusos em laboratórios e salas de aula. Então, ter contato com essas pessoas foi, de alguma forma, interessante. Tudo estava indo bem, até que eu entrei no quarto de uma mulher que aparentava estar no auge dos seus setenta anos. Eu perguntei se ela confiava na ciência, e ela respondeu: “sem querer ofender, minha jovem, mas a esperança é obsoleta”. Não demorei muito para entender que ela quis dizer que a esperança encontra-se em desuso. Repetimos tanto esse ditado de que “a esperança é a última que morre” sem nos darmos conta que frases como essa não são definitivas. Digo, esperança não transforma o mundo, ela apenas nos proporciona um breve conforto, um estado de ilusão de que tudo ficará bem através de pensamentos positivos. Não me entendam mal, mas, quando temos esperança, tudo o que fazemos é sentar e aguardar. 

No entanto, quando a esperança se vai, a gente vira a página, troca de capítulo, escolhe outro livro, permitindo-nos embarcar em uma leitura completamente diferente. Um ser humano que cansa de esperar se torna até mais produtivo, já que as desistências podem ser o combustível para alguma coisa nova. O meu ponto dessa vez é que nem tudo nessa vida nasceu para dar certo. E ficar paralisado, esperando, diante de uma coisa que não mudará, é estratégia de preguiçoso. Diante daquilo que não vai mudar, aqui vai um conselho: não espere; mude a si mesmo! Não estou sendo radical. Ter esperanças é bom, sim, desde que ela tenha um prazo de validade. Por favor, não a transforme numa acomodação vitalícia. O desejo de agir enquanto há tempo é que deve ser o último a morrer, não a atitude de esperar por milagres.

Depois de tudo o que tinha acontecido comigo, agora as meninas me checavam um dia sim e um dia não, o que era, sinceramente, um saco. Estávamos na casa de Kimberly, e Brianna observava tudo o que Normani fazia comigo do outro lado sala.

​— O exame de sangue está animador, Laur, mas lhe recomendo uma ressonância. Assim, só por precaução.

​— O tratamento com a ajuda de Charlotte está funcionando? — Brianna perguntou, de repente.

​— Bom, é possivelmente eficaz, mas...

​— As pessoas têm recaídas o tempo todo e sempre há a possibilidade de eu morrer, tipo, amanhã — completei, revirando os olhos — Já sei disso.

​— Ignorando a vontade de socar a sua cara — Mani falou, antes de limpar a garganta e me encarar — O Dr. Frank quer falar com você. Eu sei que ele não é confiável, mas eu ainda trabalho naquele laboratório, e o cara é extremamente competente. Diria até que é um geneticista brilhante.

​— Camila quem mandou você dizer isso?

​— Ele quer encontrar com você esta tarde — ela diz, ignorando a minha pergunta que, a esta altura, não precisava mais ser respondida.

​— Você vai, Lauren? — Brianna questiona, agora com total atenção na gente — Digo, porque eu posso levar minha arma e...

​— Não se preocupe, Bri. Além do mais, eu não pretendo ir. Quero tirar o dia para descansar.

​— Ótimo! — ela exclama e vem em minha direção — Fique com um desses — estende um telefone novo, e eu o pego — Novo dia, novos celulares, baby. Agora, dê-me o antigo.

​Devolvi o antigo celular sem contestar. Eu sabia que essa era uma das medidas de segurança de Brianna e não estava disposta a fazer perguntas.

​— Aonde você vai? — perguntei enquanto a observava pegando sua bolsa e caminhando para a porta.

​— Resolver umas coisas. Volto mais tarde. Charlotte está lá em cima brincando com as bugigangas que a sua namoradinha deu para ela.

​— Qualquer coisa, liga pro meu celular novo — ironizei, e ela riu.

​— Gostou da cor? Azul: a cor do céu lésbico.

​Eu já estava prestes a perguntar qual tipo de droga ela tinha consumido, mas ela foi mais rápida e saiu antes que eu abrisse a boca.

​Normani riu, mas voltou a atenção ao seu celular, que eu nem tinha visto na mão dela.

​— Está conversando com a crush número dezoito?

​— Eu te digo quem é a sortuda da vez quando você me contar quantos orgasmos teve ontem... — ela me olhou sugestivamente.

​— Como você sabe? — questionei e arqueei as sobrancelhas, um pouco surpresa.

​— Já vi essa expressão tantas vezes na vida que já sei até o significado.

​— Ok, ok — respirei fundo após uma longa gargalhada — Foram vários. Agora, quem é a número dezoito?

​— Dinah Jane — ela responde com descaso.

​— DJ? A garota das armas? — espero a sua resposta, mas tudo o que recebo é uma piscada de olhos — Normani!

​— O que?

​— Desde quando? Como? Meu Deus! — eu realmente não conseguia entender.

​— Bom, encontramos-nos na entrada do IBCA. Ela estava procurando por Brianna, e eu estava indo para casa. Acabou que eu disse não conhecer a cidade, e ela, gentilmente, marcou de fazermos um tour.

​— Quando? — perguntei, animada por saber que não foi uma crush de vinte e quatro horas.

​— Hoje. Mas, não se anime, não quero mais do que uns bons pegas.

​— Claro. Só toma cuidado, viu? A moça gosta de brincar com armas — ela revira os olhos, seguindo de uma boa gargalhada.

 

***

 

​Ela estava no estacionamento; mais uma vez esqueceu onde deixou o carro. Seus olhos perpassavam por todo o ambiente. Aquela blusa social branca, em contraste com aquela saia preta colada, sobressaía perfeitamente naquele corpo estonteante. De repente, aqueles lindos olhos castanhos estavam assustados. Os passos de Camila eram cada vez mais rápidos e firmes, como se estivesse fugindo de algo ou alguém. 

​Ela diminuiu as pisadas e permaneceu de costas por alguns segundos. Ela largou a sua bolsa no chão e virou-se lentamente.

​— O que vai fazer? — ela perguntou, mas não parecia surpresa. Era como se ela conhecesse a pessoa à qual aquela sombra pertencia.

​Em uma fração de segundos, o projétil foi de encontro ao seu corpo, perfurando-a. O tecido branco o qual ela trajava recebeu uma pequena poça de sangue que a cada segundo aumentava. Camila pôs as mãos na barriga, como se aquele ato pudesse, de alguma forma, ajudá-la. Ela encarou a pessoa a sua frente, como um pedido mudo de ajuda. Como se a mesma pessoa que queria tirar a sua vida, pudesse salvá-la. 

​Gotas de suor escorriam em sua testa enquanto o som de passos ecoando tornavam-se cada vez mais distantes. Ela estava sozinha. Sangrando.

Por favor, não feche os olhos.

​Não se vá.

​Não.

​— Tia Lolo!!! — ouço uma voz doce enquanto sinto fortes cutucadas — Tia Lauren, não tem graça fingir que está morta de verdade!

​Abri lentamente os olhos enquanto Charlotte me observava, esperando por uma resposta.

​— Oi, meu amor! 

​— Poxa, tia Lolo! Faz tempo que eu tento te acordar. Eu não sou uma médica-cientista ainda, como poderia te salvar?

​— Está tudo bem — sentei-me na cama, escorando na cabeceira — Foi só um sonho ruim.

​— Sonhos ruins não fazem a gente gritar em vez de fingir estar morto? — ela pergunta e senta ao meu lado, imitando a minha posição.

​— Eu não estava fingindo que estava morta, meu amor — solto uma risada preguiçosa.

​— Então, você estava morta de verdade?

​— Não. Eu estava dormindo profundamente enquanto tinha um sonho ruim — ela encara os meus olhos curiosamente, e eu sabia que viriam mais perguntas — Mas, então, o que foi?

​— Ah! Pode ler uma história para mim? — pede e estende um livro.

​— Claro que sim!

​Charlotte aninhou-se em meu corpo enquanto ouvia atentamente a história de princesa que trouxe. Eu tentava dar uma entonação diferente para cada personagem que surgia na história, e isso a divertia. Apesar de sentir-me estranha com o pesadelo que tive, estava sentindo uma sensação de paz tendo aquele momento com a minha pequena.

​— E, então, viveram felizes para sempre! — eu disse, fechando o livro e encarando a sua expressão pensante.

​— Para sempre não é muito tempo?

​— É, sim. 

​— Então quer dizer que, quando essa situação chata acabar, e você e a mamãe vencerem o mal, vamos viver felizes para sempre? Sem termos que ficar fugindo?

​— Exatamente! — Charlotte era apenas uma criança, eu não queria ter que lhe dizer o quão cruel é o mundo agora. Eu queria preservar a inocência dela até quando eu pudesse.

​— E, quando isso acontecer, eu vou ganhar priminhos?

​— Mas você já tem priminhos. Tia Kim tem filhos, esqueceu?

​— Eu queria ter priminhos filhos de você.

​Os olhos de Charlotte brilhavam com tanta intensidade e, embora aquilo tivesse me machucado, eu sorri para ela. Ela não podia imaginar que a minha doença praticamente me deixou estéril. Na verdade, ela nem sabe o que “estéril” quer dizer.

​— Vamos pensar nisso quando tudo isso acabar, ok? — perguntei retoricamente, dando um beijo doce em seus cabelos.

​— Está bem — Charlotte pegou o livro de minhas mãos e começou a folhear — Tia Lolo?

​— Huh?

​— Eu já vi você beijando a tia Camila... na boca! — ela sussurra as duas últimas palavras, o que me faz gargalhar.

​— Sim, meu bem. Eu e a tia Camila somos namoradas.

​— Mas por que só têm príncipes e princesas nas histórias, e não princesas e princesas?

​Fiquei me perguntando se essa era hora de enrolá-la, mas, bem... Ela era a Charlotte.

​— Ahn... Então, a maioria — pensei bem antes de proferir mais palavras — Uma quantidade enorme de pessoas não aceitam que homens namorem homens e mulheres namorem mulheres. 

​— Por quê?

​— Porque casais héteros, ou seja, homens com mulheres, são estereótipos.

​— Esteótipo?

​— Estereótipos, meu amor, termo que as pessoas usam para limitar outras pessoas ou um grupo de pessoas.

​— Isso acontece por quê?

​Eu sabia da complexidade do assunto. Sabia também que ela era apenas uma criança que necessitava de uma resposta plausível, não de um discurso ético, moral ou algo do tipo.

— Lembra da história de Adão e Eva? — ela balança a cabeça positivamente — Então, por acreditarem cegamente nessa história, as pessoas pensam que o correto é homem com mulher, já que Deus não criou duas Eva’s para ficarem juntas, tão pouco dois Adão’s.

— Deus também não criou clones.

— Bom, nunca pensei por esse lado. Mas, seguindo por essa sua linha de raciocínio, o que eu quero dizer é: muitas coisas que não estão escritas em textos bíblicos existem no mundo, e as pessoas não condenam uma boa parte dessas coisas. O mundo, muitas vezes, usa a religião da forma que lhe convém. Entendeu?

— Que feio isso, tia Lolo! — ela me olha assustada.

— Existem muitas coisas feias por aí, meu bem, por isso que temos que cultivar o belo.

— Isso é tipo uma matéfora?

— Metáfora — corrijo-a depois de soltar uma risada — Sim, é. Você é uma garotinha muito inteligente, sabia?

— Sabia.

— Convencida também! — empurro-a levemente com os ombros.

— Está no meu DNA, tia. A sua inteligência e a convencidão da mamãe.

— Convencimento. 

— Isso aí mesmo — ela desce da cama e pega outro livro do chão — Pode ler outra história para mim?

— Uhum! O que temos aí? — observo-a mostrar a capa e sorrio — Uau! “A Ilha do Dr. Moreau”.

— É sobre um homem que cria monstros.

— É, eu sei. Eu adoro esse livro.

— Talvez Deus tenha criado alguns.

— Monstros? — vejo-a acenando a cabeça — É, talvez. 

— Esse livro é especial. — Charlotte diz e sorri, o que me faz retribuir genuinamente.

Abri a primeira página e encontrei rabiscos entre as linhas da história. O mesmo acontecia com as cinco primeiras páginas.

— Onde você conseguiu este livro?

— O professor Connor me deu de presente quando eu estava presa naquele quarto. Aquele mesmo que você me ensinou ciência uma vez, sabe?

— Sei... — respondi, sem conseguir conter a minha ansiedade.

A cada página que eu passava, meu coração acelerava. Além de anotações, tinha muitos desenhos conhecido por mim. Parecia mais um quebra-cabeça.

— Tia Lolo, você precisa ler pra mim para que eu descubra porque esse livro é especial.

​— Eu já sei, Charlotte.

— Sabe? — ela indaga em expectativa.

— Esse livro é especial porque possui a chave das sequências que desvenda a cifra do professor Connor.

​— Que cifra? — ela pergunta, inocentemente.

​— A única capaz de salvar a minha vida.

​Um dos meus paradoxos preferidos é aquele em que diz que “o jogo só acaba quando termina”, e nunca fez tanto sentido na minha vida como agora.

Sinceramente, não é nada saudável sentarmos e esperarmos por um milagre, porque isso é completamente diferente de confiarmos em prognósticos, mas não há mal algum em acreditar que o amanhã será melhor do que hoje. 

Porque, sim, ele pode ser. Até que o juiz apite nos quarenta e cinco do segundo tempo, ele pode ser. Mas não espere pela prorrogação. 

Prepare-se para outra partida.


Notas Finais


Twitter: @heycincoaga
Wattpad: @euannesier


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