C*
A multidão me aplaudia efervescida. Pessoas gritavam meu nome, imploravam por autógrafos e jogavam presentes inusitados no palco. Eu apenas sorria, com a excitação aflorando-se em minha garganta. Estava com medo, mas incrivelmente feliz. Sai do palco acenando para todos, e uma voz me chamou sem delongas.
-Camila! Camila!
-Hmmmmm...Obri-gada pessoal... –Resmunguei.
-Vamos, filha! Acorde logo! –A voz continuava insistente.
Meus olhos se abriram devagar. Olhei para o despertador ao meu lado que já apitava 6:50. Tinha menos de dez minutos para me arrumar.
-Eu já te disse para não ficar ensaiando até tarde! É isso que dá. Agora, vai se atrasar para a escola novamente! –Mamãe gritava.
Me levantei da cama de soslaio. Tentava minimizar a situação, pedindo para que minha mãe ficasse calma.
-Mamãe, acalme-se...Eu sempre fui bem no colégio, um atraso não diminuirá meus pontos com a diretora Francesca.
-Um atraso a cada vez na semana você quer dizer, não é, Camila?
Fui ao banheiro, e após minha higiene matinal, me troquei, vestindo um jeans básico (como os outros poucos que eu tinha) e o uniforme do colégio; fiz um coque solto e desci para o café da manhã.
Papai e Brad, meu irmão caçula, já me esperavam na mesa, exceto mamãe que ainda fritava os ovos.
-Bom dia pai, bom dia pirralho. –Cumprimentei-os, dando um croque na cabeça de Brad.
Durante o café da manhã, mamãe tocou em um assunto que me fez engolir em seco. A Seleção.
Como eu havia feito 17 anos há menos de um mês, já era de se esperar que me chamassem. Torcia todos os dias para que o pessoal do palácio simplesmente pulasse a minha casa, ou que eu não houvesse sido registrada na maternidade de Carolina, sei lá, mas não queria de jeito nenhum ir para aquele lugar e competir pela mão de um príncipe que eu sequer sabia quem era.
-Então filha...Como você já sabe, os guardas reais vieram entregar na manhã de ontem, enquanto você estava na escola, a ficha de inscrição para participar da Seleção.
-E você resolveu adiar essa conversa para hoje na esperança de que alguma fada madrinha viesse me fazer mudar de ideia durante a noite?
-Camila, olhe os modos...-Meu pai interferiu.
-Não, pai! Eu venho dizendo que não quero ir para essa porcaria de Seleção desde os meus 13 anos.
Minha mãe bateu com as mãos na mesa.
-Talvez se você soubesse olhar para a sua família além de olhar apenas para o próprio mundinho que você criou na ilusão de ser uma cantora famosa, saberia que precisamos realmente do dinheiro que “essa porcaria” pode lhe oferecer.
-Acontece, mamãe, que fomos condenados a ser Cinco. E a única forma de talvez mudar isso, é trabalhando; coisa que eu faço desde que me entendo por gente, por meio da minha música! E se eu for mudar de vida algum dia, continuará sendo por meio dela.
Levantei-me, peguei minha mochila e fui para o colégio, batendo a porta atrás de mim.
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