História Servant - Uchiha Itachi

- Itachi, olhe pra mim. - As palavras de Shisui tentavam me alcançar, mas eu estava paralisado por uma intensa dor que se alastrava por meu peito, como uma praga que se espalha rapidamente, sem poder ser contida. - Itachi!

Meu olhar se focava no nada, enquanto minha mente se dispunha a descobrir como Sasuke se transformou em um homem, outrora honrado e que me orgulhava mais que tudo, agora tão pateticamente vazio e decepcionante. O que mais me doía era ter de admitir que meu irmãozinho, que eu gostava de proteger à qualquer custo, havia me desapontado de uma maneira que eu nunca, em toda minha vida, poderia imaginar que viria acontecer.

Suas ações se tornavam ainda mais implausíveis ao me lembrar de ter presenciado o crescimento daquele amor protetor, inocente e puramente verdadeiro, que salvara, de certo modo, a vida de ambos. As promessas mútuas de uma eternidade juntos, as tardes que Sasuke passava comigo, simplesmente debatendo sobre as facetas do loiro, seus olhos azuis que mudavam de cor sob a luz do sol, seu coração demasiado machucado que merecia mais cuidado do que o mais frágil objeto existente em todo o universo e além.

Eu precisava abrir seus olhos, mostrá-lo como poderia ser feliz sem um maldito clã nas costas, fazê-lo correr atrás de sua chance de ser feliz ao lado daquele que ama, de se desculpar e implorar pelo perdão, manter sua promessa de proteger um loiro sensível com todo seu amor e determinação. Mas não pegaria leve com ele, mesmo sendo irmãos, a confiança que antes lhe era depositada por mim jamais seria restaurada por completo.

- Desculpe-me, Sui... Precisei de um tempo para me decidir e acordar do choque - respondi ao homem, meu "companheiro". - Bem, acho que temos uma evidência para encontrar e uma rosada para encurralar, correto?

- Acredito que sim, Itachi. - Shisui parecia um tanto perturbado, assim como eu, mas se mantinha racional. Essa era uma das coisas que eu apreciava em sua personalidade centrada. - Antes, diga-me uma coisa: Esta busca deve ser mantida entre nós?

- Amo quando entende meus pensamentos sem que eu tenha a necessidade de explicitá-los. - O conselheiro sorriu de canto com minha frase um tanto quanto clichê. - Acho uma boa ideia que isso seja mantido em sigilo por enquanto para que não haja falsos alertas ou precipitações por parte dos guardas e do povo.

- Bem, ficarás, então, aqui no quarto esperando que eu volte com a evidência. - Antes que ele pudesse reclamar, eu o corto - Apenas para que os guardas não suspeitem muito de minha ausência. Além do mais, preciso me concentrar em algo para esquecer este estresse, e nada melhor do que achar a arma de um "quase crime" escondida em uma cozinha com outras milhares de "facas nobres". E você, querido, precisa descansar.

- Se é assim que desejas...

Fui então até a cozinha, seguindo meu caminho e dando início à missão. Talvez achar a faca fosse bem demorado, o que me proporcionaria um bom passatempo para esquecer as angústias de ser um rei, irmão, e a única família restante de um certo garotinho loiro sofredor. Se bem que eram pesos que valiam a pena ser carregados em meus ombros. E nessa perspectiva, Shisui seria uma das pilastras centrais que me sustenta e me alivia quando estou sobrecarregado, e a pessoa que me apoia em todas as decisões.

Ao contrário do que imaginava, a busca havia sido um tanto rápida, e, para a minha extrema surpresa, o esconderijo era ridiculamente óbvio para qualquer um que tivesse um par de olhos funcionando. A tolice da rosada ao esconder a arma embaixo de um pano com as iniciais H.S, excluindo o fato de que todas as facas grandes deveriam ficar à vista, era de uma proporção enorme. Não havia imaginado que esta tarefa seria tão fácil, dada a engenhosidade da mulher em disfarçar suas reais intenções.

Decidi, então, voltar ao quarto e contar à Shisui minha mais nova descoberta. Fiz o tão conhecido caminho de volta aos meus aposentos, pesando as consequências que essa descoberta teria em minha vida e na de meu irmão. Talvez ele nunca se perdoe pelo que anda fazendo, por não acreditar na única pessoa que merece sua confiança incondicional. Talvez me odeie por acabar com seus sonhos de reerguer o clã. 

Mas tudo vale para fazê-lo enxergar quão ridículo e cego está sendo ao expulsar Naruto de sua vida e manter aquela víbora ao seu lado.