O vento era tão sereno. Acariciava as folhas das árvores que cercavam o conjunto de edifícios de forma suave, dando um ar natural e sossegado àquela extensão de terra e fazendo um par perfeito com o sol.
Uma mulher, de longos cabelos tingidos em negro e loiro, com uma bandeja nas mãos, dirigia-se ao único quarto ocupado daquele lugar - além de seu próprio, carregando alguns biscoitos, uma xícara e um bule de café com leite com bastante açúcar pelo longo corredor, do jeito que Gahyeon gostava. Crianças adoram coisas doces, mas espero que minha pequena não exagere e acabe pegando cáries, pensou.
Abriu a porta com sutileza, deixando um sorriso moldar seus lábios ao ver a garota adormecida na cama. Sentou-se à beirada, pondo a bandeja cuidadosamente no criado-mudo que ficava ao lado. Aproveitou aquele momento para admirar - como fazia todos os dias - os traços da menina que dormia. Acabou por deixar-se levar, acariciando o rosto dela delicadamente com a costa de sua destra; era tão bonita.
— Gahyeon-ah, já fazem dias que você dorme... Eu sinto falta de quando conversávamos, você se lembra? — fez uma pausa, levantando-se e despejando o líquido bege do bule na xícara de porcelana, observando atentamente o café com leite moldar-se ao formato da chávena — Lembra como brincávamos no gramado e cuidávamos do jardim, quando éramos só eu e você?
A voz da mulher ecoava melancólica pelo quarto. As janelas abertas recebiam a luz do sol com o maior prazer, iluminando aquele comodo mórbido e o corpo pálido e sem vida sobre a cama. As flores murchas que alguns amigos e familiares haviam deixado para Gahyeon enfeitavam seu leito de morte, deixando tudo ainda mais lúgubre. Handong já estava acostumada a ver aquela cena todos os dias, mas não conseguia aceitar, jamais, o fato de ter perdido a única pessoa que tinha para um coma. Era Gahyeon naquela cama, ela ainda sentia a presença dela ali, e continuava cuidando dela ainda que soubesse que a menina não voltaria à vida, segundo o homem que havia as refugiado lá.
Trouxe vagarosamente a xícara de café aos lábios, provando do sabor excessivamente melado antes de afastar a boca e soltar um longo suspiro — Desde que você adormeceu, eu tenho comido toda a sua comida... Mas esses dias receberemos amigas novas, Gahyeonnie! Elas virão para cá em breve. Mas, não se preocupe... Eu não deixarei elas comerem da sua inocência e nem provarem da nossa juventude... — murmurou mais para si do que para o cadáver, pegando uma mão cheia das margaridas ao redor da cama e trazendo-as à boca, iniciando uma mastigação lenta antes de engolir as pétalas brancas que guardavam o sabor nu e cru da morte.
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