História The Sound Of Silence (Inacabada) - Tatto

Sophie POV

“Era um lugar escuro e molhado, alguém arrastava um corpo imóvel até um carro, ouvi barulhos de fios, de roupas sendo rasgadas, de eletricidade. O corpo se mexeu com o choque, e o silêncio se rompeu com um suspiro comprido e desesperado.
Era Isaac.
Ele tentou se levantar e a segunda pessoa o mandou ficar quieto, o pegando pelos ombros, era uma mulher.
-O que houve? Onde eu estou? –disse Isaac.
-Só fique quieto.
-Eu não me lembro de nada.
-É, eles devem ter tirado sua memória, agora anda, e não importa o que aconteça, segure firme.
Eles montaram em uma moto, era como se eu estivesse ali, flutuando ao lado deles, o cenário mudou rápido e eu vi uma pessoa correr atrás dele, não, eram duas. Eu não conseguia ver seus rostos, apenas os olhos que brilhavam em um vermelho vivo. Eles atacaram os dois, a moto atravessou um vidro, mas a garota perdeu o equilíbrio e caiu. Depois disso tudo ficou escuro novamente, e a única coisa que ouvi foi um rugido assustador”

Acordei assustada e olhei em volta, estava no meu sofá e meu celular tocava, ótimo, outra visão. Suspirei e me levantei agarrando o aparelho.
-Stiles, eu já te disse que não vou ir com vocês!
-Ah, qual é Soph, eu não gosto de agulhas, temos que apoiar Scott na suas decisões idiotas!
-Eu ouvi isso –resmungou Scott ao fundo.
Eu bufei e revirei os olhos.
-Tudo bem, mas eu não vou dirigir, venha me buscar.
-É pra já madame.
Desliguei o telefone e olhei em volta, pegando meus tênis e os calçando, em poucos minutos ouvi uma buzina e saí da casa, trancando a porta e indo até o jipe.
-Ele te convenceu –disse Scott, sorrindo.
-Cale a boca McCall, eu queria estar dormindo neste instante.
-É a única coisa que fez todos esses meses de férias Soph –disse Stiles –Além é claro de dar alguns beijinhos no Derek.
Bati em seu braço e ele fez uma careta.
-Só pra sua informação, eu não o vejo há algum tempo –suspirei.
-Ele ainda está procurando por Erica e Boyd, não está?
-Sim, está. Mas não conseguiu nada por enquanto. Pelo menos nada que tenha me contado.
Stiles parou em frente do estúdio e eu desci olhando o lugar, era pequeno, mas servia.
-Ótimo, vamos lá! –disse Scott.
Ri de sua animação e entramos, as paredes eram cobertas por desenhos, assim como o tatuador, que nos olhava de um canto.
-Ei, o que vão querer hoje?
-Ele vai querer –apontei Scott.
-Ahn, gostaria deste desenho aqui –ele estendeu uma folha para o homem.
Eu observei o desenho, assim como Stiles.
-Ah, ótimo, ainda bem que desenhou, se não ele nunca iria conseguir fazer.
Eu ri baixinho e me sentei em uma das cadeiras.
-Que saudade disso –apontei para as agulhas em um canto.
-Saudade? Você tem tatuagens? –indagou Stiles.
Eu sorri e ergui minha blusa, em minhas costelas tinha uma frase escrita com uma letra fina e delicada: “Forever Is Our Today”
-“Para sempre é nosso hoje” –Scott sorriu –De onde tirou isso?
-Do ilustre Freddy Mercury –sorri – É da minha música favorita do Queen. E também tenho essa.
No canto do meu tornozelo havia o símbolo das relíquias da morte.
-AH, SABIA QUE ERA FÃ DE HARRY POTTER! –gritou Stiles apontando o dedo pra mim.
Eu e Scott rimos alto e ele se sentou na cadeira
-Ei Scott, que tal essa –Stiles ergueu o desenho de um lagarto gigante e nós fizemos uma careta –Muito cedo? Tudo bem.
O tatuador começou o desenho e Stiles olhou as agulhas.
-Ah, eu odeio isso...
Ele  caiu no chão e eu comecei a rir.
-ótima amiga você Soph, me ajuda logo. -ele estendeu a mão para o alto, balançando-a.

Depois de algum tempo saímos do local, Scott grunhindo de dor, e Stiles com um saco de gelo na cabeça.
-Vocês são dramáticos.
-Mas tá doendo –disse Scott.
-Claro, você levou mais de 100 mil agulhadas na pele –comentou Stiles.
-Não, realmente não era pra estar assim –ele pulou no banco –Ah, tira isso de mim!
Eu puxei a bandagem e a tatuagem estava vermelha, e começou a se curar.
-Ah, não, não NÃO! –disse Scott.
Assim que o ferimento se fechou ficamos em silêncio.
-Curou –fiz uma careta e olhei Scott.
-Ainda bem –disse Stiles –eu odiei.
Scott e eu o olhamos e ele abriu a boca.
-Desculpe –ele suspirou e ligou o jipe novamente.
Continuamos papeando até pararmos em um sinal vermelho, eu observei o carro ao lado pela janela e me espantei ao ver quem estava nele, eram Lydia e Allison.
-Ai Deus –fechei os olhos, sabendo que aquilo seria constrangedor.
-O que foi? –perguntou Scott.
Ele mirou a janela assim como eu, e quando viu Allison ele ficou parado com a boca aberta, assim que ela o viu ele se abaixou no banco.
-Ai meu Deus, eu não posso vê-la agora, acelera isso Stiles!
-O sinal –resmunguei.
-Devíamos falar com elas.
-Não, não deveríamos –eu disse.
Stiles abaixou o vidro nos ignorando e sorriu
-Oi!
O carro de Lydia saiu em disparada em seguida
-Elas provavelmente não nos viram –ele disse.
Stiles seguiu logo atrás das duas, assim que o sinal ficou verde.
-Cara, o que tá fazendo?! –comentou Scott.
-Como assim o que estou fazendo? Estou seguindo a estrada, é uma reta Scott.
Ele bufou.
-Vão achar que estamos seguindo elas.
-O quê eu faço então?
-Sei lá, qualquer coisa!
Stiles pisou no freio e eu agarrei o banco para não voar para frente.
-Cacete –eu murmurei.
Elas também pararam e nos olhamos curiosos, sem entender o que estava acontecendo. Em uma fração de segundos ouvimos vidro se quebrando e as duas gritando, desesperadas, pulamos do carro e corremos até elas.
-Você está bem? –perguntou Scott para Allison.
-Ele veio para cima de nós! –disse Lydia para Stiles –Ele apareceu do nada!
-Você está bem? –repetiu Scott.
-Estou bem –disse Allison.
-Eu não estou nada bem! –disse Lydia –como ele foi bater em nós!
Eu caminhei até a frente do carro e observei o animal, era um cervo grande, sangue escorria dos cacos em seu pescoço, que ficara preso no para-brisa.
-Vi os olhos dele antes de bater me nós –comentou a ruiva –era como se estivesse alucinado.
-Não –eu olhei o bicho novamente –estava com medo –eu encostei nele e suspirei- Na verdade, aterrorizado.
Olhei para o final da estrada escura, mas não havia nada lá. Pelo menos nada que eu pudesse ver.

Acordei no dia seguinte com meu despertador tocando alto uma música de rock, me culpei mentalmente por ter deixado Stiles mexer nele e me levantei, jogando meu travesseiro no aparelho, que parou de tocar. Tomei uma ducha e me vesti, as aulas haviam voltado, e tudo estava normal novamente, pelo menos superficialmente. Derek ainda estava atrás de seus dois Betas e não teve sucesso com a busca. Calcei meus coturnos com saltos e peguei meu material, puxando as chaves do carro de cima da mesa e saindo de casa.
Assim que estacionei na escola vi Scott descer de sua moto, fui até ele que sorriu, mas fechou a cara ao olhar para o lado e ver duas motos gigantes e novas.
-Não ria Sophie.
-Não estou rindo –eu tentei segurar, mas acabei gargalhando, fazendo Scott revirar os olhos.
Entramos na escola e Stiles estava no portão nos esperando.
-Primeiro dia novamente –eu suspirei –e o tédio continua aqui.
-Ah vamos Soph, se anime –disse Stiles.
-Estou tentando –ri de lado.
-Ei Soph, quanto tempo faz que não vê o Derek? –perguntou Scott
-Umas duas semanas, por que? –o olhei
-Preciso da ajuda dele.
-Não vai me dizer que é pra tatuagem feia –disse Stiles.
-Ele tem um trinskele tatuado nas costas, deve saber como funciona.
-Pode tentar –suspirei –Mas ele está um pouco ocupado –apontei os cartazes de desaparecidos de Erica e Boyd que pendiam em um quadro na parede.
Saí andando em seguida e encontrei Allison e Lydia conversando.
-Soph! –Allison me abraçou e sorriu –Nem tivemos tempo para conversar noite passada.
-Verdade, tinha um cervo gigante querendo entrar no meu carro –disse Lydia me abraçando também –como vai?
-Bem, mas essa vida pacata está me deixando com tédio.
-Nem me fale –resmungou Allison.
-Ah, os novatos –disse Lydia observando o corredor –Um monte de novatos.
-Lydia, eles tem 14 anos –a olhei sorrindo.
-Mas alguns são mais maduros que outros –ela suspirou –e eu não quero um namorado, quero uma distração.
Ela encarou o final do corredor e eu fiz o mesmo, dois garotos caminhavam em nossa direção, ambos com jaquetas de couro, coturnos e capacetes em mãos.
-Irmãos? –disse Allison.
-Gêmeos –sorriu Lydia.
Eu os encarei com curiosidade, mas não por serem bonitos, e sim porque eram diferentes de algum modo e eu não sabia dizer qual.
Durante estes quatro meses eu tentei aperfeiçoar meus poderes, descobri que podia sentir certas coisas, como seres sobrenaturais e acontecimentos de um local sem ter visões, como os lobisomens fazem com o cheiro ou com a audição. Também não precisava mais me esforçar tanto para ativar a telecinésia, que era controlada com mais facilidade agora.
Fomos para nossa primeira aula do dia, eu me sentei atrás de Stiles e o único lugar que sobrou para Allison foi na frente de Scott, eles se olharam e Scott se atrapalhou todo, como se fosse a primeira vez que falava com ela, tive que me segurar para não rir da situação. Nossos telefones começaram a tocar e eu encarei o aparelho curiosa.
-“O mar estava ofuscado por nuvens negras e o canal  tranquilo levando aos confins da Terra fluía sombrio, debaixo de céus encobertos e parecia levar ao coração da imensa escuridão.” Essa é a última frase do livro que vamos ler, é também a última mensagem que vão receber nesta aula. Desliguem os aparelhos por favor.
Eu encarei a mulher à minha frente, provavelmente era nossa nova professora de literatura, desliguei meu celular e o coloquei em cima da mesa, me concentrando na aula.
Enquanto copiávamos algumas coisas Srta. Blake chamou Scott, ele pegou suas coisas e saiu da sala apressado, ela voltou logo em seguida e continuou a escrever, olhei Stiles mas ele deu de ombros.
-Não faço a mínima ideia do que é –ele cochichou.
-Talvez não seja nada –eu suspirei.
-Talvez –ele disse -O que houve com sua perna? –apontou Stiles.
-Um gato me arranhou hoje de manhã, acho que eu tropecei nele enquanto corria, atrasada.
-Que estranho...os animais estão estranhos, percebeu isso? Primeiro o cervo, esse gato.
-O que você dizia mesmo, sobre três vezes? Uma vez, duas vezes...
Algo se chocou contra a janela e eu pulei assustada, era um pássaro. Sangue escorria do vidro, olhei com mais atenção e outro fez a mesma coisa, e outro, e outro, até milhares de pássaros se chocarem contra o vidro, o quebrando, caí no chão assustada e Stiles me abraçou nos arrastando para baixo de uma das mesas, os corvos nos bicavam e logo em seguida batiam com força ou na parede, ou em alguma outra coisa, e caíam no chão, mortos. Sentia meus braços arderem conforme tentava espantar os pássaros. Quando o último deles caiu morto nós nos levantamos assustados, fui até Allison.
-Você está bem?
Ela assentiu e eu fui ajudar outros alunos, que estavam mais machucados que eu.

Derek POV
Adentrei o hospital farejando qualquer rastro diferente de doenças e pessoas comuns, demorei alguns minutos para reconhecer o cheiro de Isaac e de Scott, fui até o elevador, o cheiro vinha de lá, aumentei minha audição e consegui perceber alguns rugidos e coisas se quebrando, preparei minhas garras.
-Não percebe com o quê está lidando? –disse o homem –Eu sou um Alpha.
A porta se abriu e eu cravei minhas garras nas costas do homem.
-Eu também sou.
Eu o arremessei pelo corredor, ele caiu e grunhiu de dor, nos observando antes das portas se fecharem novamente. Olhei Scott e sorri de leve.
-Você não devia estar na escola?
Ele me olhou e estendi minha mão para ele para que se levantasse.
-Precisamos tirar Isaac daqui.
-E pra onde vamos? –ele perguntou.
-Para minha antiga casa.

Abri a porta e carreguei Isaac até uma mesa, o colocando lá em cima, ouvi o celular de Scott tocar e ele suspirou assim que o desligou.
-Quem era?
-Stiles, parece que tiveram um problema na aula da Srta. Blake, disse para ele e Sophie virem para cá.
Deixei um sorriso escapar por meus lábios ao ouvir o nome dela, fazia algum tempo que não à via, com toda esta confusão de Erica e Boyd, eu nem havia ligado para saber como ela estava, e se ela estivesse brava comigo?
-Derek? –eu olhei Scott –No que está pensando?
-Nada –eu fui até uma cadeira e me sentei na mesma.
-É a Soph né?
Eu o olhei franzindo a testa.
-O quê?
-Ah, qual é, Stiles me contou. Estão namorando?
Eu revirei os olhos.
-Cale a boca.
Ele riu baixinho e eu bufei.
-Você não vive mais aqui não é?
-Não, é da prefeitura agora, mas tem algo aqui que preciso. Para curar a ferida de um Alpha.
Remexi em algumas madeiras no chão e Scott observou Isaac.
-Mas já curou.
-Não internamente.
Ele suspirou e olhou para mim, sério.
-Ei, você vai me dizer quem ele era? Aquele Alpha.
-Uma pack rival –eu suspirei –É um problema meu. Sei que quer ajudar, e ajudou, eu te devo uma, agora vá para casa.
Peguei alguns ramos no chão e me levantei indo até Isaac.
-Ei Derek –eu o olhei –Se quiser pagar aquele favor, tem algo que pode fazer por mim.
Logo ouvi um carro do lado de fora e alguém bateu na porta, era Stiles, ele entrou me olhando um pouco sério, logo atrás dele veio Sophie, caminhando devagar.
-Você precisa arranjar uma outra Bat caverna, esse lugar é horrível para se andar com saltos.
Eu ri e ela veio até mim, ficou na ponta dos pés e me deu um beijo demorado, eu senti falta daqueles lábios. Quando nos separamos Stiles e Scott nos encaravam.
-Nunca vou me acostumar –comentou Stiles.
-Nem eu –disse Scott.
-Calem essa boca –ela caminhou até eles e bateu na cabeça dos dois, me fazendo segurar a risada.
Fui até Scott e observei seu braço com meus olhos vermelhos.
-Duas faixas não é? –ele assentiu –estou vendo, bem aqui -Passei o dedo onde estavam as linhas –O que significa?
-Não sei –Scott suspirou –É algo que desenhei com meus dedos. Sabe o que a palavra tatuagem significa?
-Marcar alguma coisa –comentou Stiles.
-Eu taitiano sim –comentou Soph –Em samoano, significa “ferida aberta”.
Scott assentiu.
-Eu queria fazer uma tatuagem quando fizesse 18, decidi fazer agora como uma recompensa.
-Pelo o quê? –perguntei.
-Por não ter mandando mensagens ou ligado para Allison o verão todo. Mesmo quando eu queria muito, quatro meses depois e ainda dói.
-Como uma ferida aberta –comentei.
Ele assentiu e abaixou a cabeça. Eu ergui o maçarico e o olhei.
-Faça –ele suspirou.
-Isso vai ser um horror –comentou Soph –vou dar uma olhada em Isaac.
Ela saiu e Stiles suspirou.
-Eu também vou.
-Não, não. Você fica, vai ter que segurá-lo.
Ele bufou e revirou os olhos, indo até Scott. Acendi a chama e apontei para seu braço, ele gritou e seus olhos brilharam em amarelo, ele gritou e gritou até acabar desmaiando, assim que acabei a tatuagem ele despertou, olhou o braço e sorriu.
-Funcionou.
Sophie veio até nós sorrindo.
-Parece bem permanente agora –ela sorriu para Scott.
-É, eu precisava de algo permanente, tudo que acontece com a gente, tudo muda tão rápido. Tudo é tão...efêmero.
Ela o encarou e sorriu de canto.
-Está estudando para os testes?
-Sim -ele respondeu
Scott abriu a porta, mas parou em seguida  e a analisou.
-Você pintou a porta –ele comentou –Por quê?
-Vá para casa Scott –eu suspirei.
Scott me encarou e começou a arranhar a porta com suas garras, eu fui até ele para impedir, mas a tinta havia saído quase por completo, cruzei os braços e abaixei a cabeça.
-O cervo na estrada, os pássaros na escola...assim como eu fui atropelado por cervos quando fui mordido pelo Alpha.
-Quantos são? –perguntou Soph, me olhando séria.
Eu suspirei e os olhei.
-Uma pack. Uma Alpha pack.
-Todos eles? Como pode ser? –disse Stiles.
-Ouvi dizer que há um líder, ele se chama Deucalion. Sabemos que estão com Boyd e Erica. Peter, eu e Isaac estamos procurando por eles há quatro meses.
-Digamos que os encontre –disse Soph –Como vai lidar com uma Alpha pack?
-Com toda ajuda que puder encontrar- Olhei Scott com o canto dos olhos.
-Onde ela está?
Olhamos para trás e Isaac estava sentado na mesa nos observando.
-Onde está a garota?
-Que garota? –perguntei.
Ele nos olhou cabisbaixo.
-A que me salvou, ela estava no hospital.
Olhei Sophie e os outros suspirando, algo estava pior do que eu imaginava.