A mais nova dos integrantes tinha um quarto no andar térreo do estúdio.Seu quarto era o mais vívido, durante as noites tomava uma cor alaranjada, graças à lâmpada fosforescente, e à uma outra comum amarelada.Seu Buda, sua bandeira japonesa e sua Les Paul continuavam ali, levemente desgastados, o suficiente para serem reais e seus.Mas naquele momento era muito tarde, tão longe da luz quanto da meia-luz confortável(noite), era a hora morta. Noodoru se debatia em sua cama, as cobertas correspondendo às dobraduras provocadas pelas suas juntas, que transpiravam. As sombras das cadeiras produziam criaturas noturnas e delgadas, cujos hábitos incluíam deslizar pelos corredores a procura de sucumbir a luz.Dentro dos sonhos da garotinha, monstros caíam aos pedaços e seus membros rolavam, Pazuzu adoraria poder arrancar dela traumas e temores maiores, mas tudo o que ele tinha para corroê-la era o subconsciente da mesma, infantil e com poucas coisas realmente pavorosas.
Ela despertou ofegando.Talvez uma feliz coincidência, mas Stu naquela noite havia sido incapaz de dormir, e como tantas outras vezes, optou por sanar sua ansiedade andando e falando sozinho através dos cômodos. 2D passou próximo ao quarto da menina e esfregando os olhos para se acostumar um pouco mais com a escuridão, percebeu que ela estava sentada na cabeceira muito assustada.
– Noods? – Chamou aproximando-se da porta.
– Toochie, cê tá aí? – Noodle perguntou, hasteando um pouco a cabeça.
– Sim.Por que está acordada? – Neste ponto, a voz de Stuart já a havia encontrado dentro quarto e se tornara nítida, confiável e reconhecível. – Já está muito tarde. – Sentou-se na cama, esperando por uma explicação.
– Tive um pesadelo, não consegui dormir de novo. – Respondeu, mordendo a ponta do edredom com tema de Pokémon.
– Nossa...com o quê você sonhou? – Quis saber 2D, indagando aquele questionamento como uma criança questiona a outra, bem de perto.
– Monstros.Eles me olharam nas sombras e depois se aproximaram, foi muito ruim. – A descrição dela fez o vocalista pensar em seus próprios maus sonhos, e em como era amparado pelos pais.Tinha de tentar.
– Bom, Noodle, coisas assustadoras são só coisas normais e familiares vistas de um ângulo diferente.
– Como assim?Tipo, acho que entendo um pouco.
– Só um pouco? – Perguntou ele rápido e com um sorriso pequeno, balançando uma vez com a cabeça.Ela fez o mesmo, só que várias vezes, o suficiente para confundir seu olhar. – Então...por exemplo, monstros são iguais a pessoas por dentro, eles só são diferentes por fora, e por serem tão diferentes, parecem estranhos no começo.Eles também não nos conhecem e nos acham estranhos, por isso fazem caretas, por medo.
– Sério?As caretas que eles fizeram não pareciam de medo... – Afirmou olhando pra baixo.
– Ah, é porque elas também são diferentes.Já pensou como nós somos esquisitos?Nós mostramos os dentes quando achamos alguma coisa engraçada!
– Haha, é verdade. – Falou Noodle rindo e se encolhendo nos lençóis.
– Se você os visse de novo, será que poderia conversar com eles?Preciso dizer algo para um monstro chamado Egberto.
– Uhum, eu tentaria.O que você vai dizer para ele?
– Ah, nada demais, eu só queria pedir meus dois dentes de volta, preciso voltar a sorrir. – Brincou ele, sorrindo com seus dois cumes-gengiva.
– Vou dizer para ele não te devolver. – Correspondeu Noodle, enquanto ia para debaixo da coberta e fingia ser alguma coisa gelatinosa.
– Que maldade!Por quê?
– Gosto das suas janelinhas, você pode brincar de lançar leite com chocolate por entre elas!
– Sim, não posso perder minhas habilidades mágicas.Boa noite, Macarrão. – Despediu-se tentando ir.
– Boa noite...dorme aqui? – Sugeriu ela se virando de volta para ele.
– Ahn...tem certeza? – Para ele, na mente dela obviamente não se passavam coisas más, mas algum tipo de trava o fazia se sentir inconscientemente errado, talvez não devesse fazer aquilo sendo somente um amigo e colega de banda.
– Sim, não preocupe, não vai ficar quente nem chato, eu fico bem longe.É que, talvez eu seja intolerante com eles, mas ainda tenho medo.
– Tudo bem, vou ficar aqui. – Concordou 2D afofando o lado próximo a ele da cama com as duas mãos e em seguida deitando para o lado oposto. – Até daqui a pouco. – Ela não respondeu, mas não tinha real importância, tinha dito aquilo com total intenção de que fosse uma retórica gentil, ou algo do gênero, mesmo se demorou um pouco.
O tempo continuava seco e frio, e ambos os dois exalavam um perfume cítrico de shampoo, dormiram.No dia que se seguiu, estava determinada a gravação do clipe de Rock The House, dirigido diretamente por Murdoc que havia adorado o single juntamente de Russel.Pela manhã, nem tão relutantemente Noodle esqueceu de seu Famicom e Game Boy, puxando uma banqueta na sala de estar para poder treinar melhor os acordes.Com um puxão, que fez um som engraçado de descompressão, ela retirou seu capacete e o deixou no chão.Os fiozinhos de um profundo negrume ficaram eriçados no topo de sua cabeça, voltando aos poucos – e aos movimentos circulares de cabeça frenéticos, mesclados de um sorriso – ao normal.Se manteve ali afinando a guitarra cor de palha e cantarolando a melodia.
Seriam horas bastante enfadonhas e repetitivas.Russel caminhava ao redor do prédio procurando pelas outras percussões fazendo prelúdios de baquetas, se é que isso existia, no meio de uma contagem.Durante, 2D também fazia seus exercícios vocais típicos, bebendo água e encarando o fundo do copo e do vidro, iguaizinhos e refletindo o mundo lá fora.O baixista estava fora de alcance, dentro de sua suíte no andar mais alto, o que possuía uma redoma.Tomava um banho quente, ele nunca fora de ensaiar coisa alguma, e enquanto tinha seus martírios neurais para praticar, ele apenas bebia um Whisky, de uma safra resignada e bem destilada.Havia feito uma merda.Uma merda bifurcada.Primeiramente, havia vendido a alma de outra pessoa, não apenas uma pessoa, mas de uma incapaz, e nem de longe apenas isso, a alma de Noodle.
Tomou um gole dos mais descuidados, e teve de lamber o líquido alaranjado que desaguou no seu maxilar alongado.Em segundo plano, um contrato não funciona se não for assinado com o próprio punho daquele que o assina.Murdoc era destro, mas assinara o contrato com a mão esquerda, isso era uma medida evasiva, e o melhor que ele poderia ter feito sem ter sido empalado, mas algo o dizia que não surtira nenhum efeito.Murdoc cambaleou até a sala de estar completamente bêbado e com o sabonete ainda impregnado na pele, resmungando palavrões.
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