História The Stairway (Cancelada) - Rock The House - Part. 2

   2D seguiu Murdoc até a entrada do local, sem saber ao certo seus objetivos.Parte sua o dizia que precisava ter uma branda – E que ecoasse, uma muralha na cabeça do baixista – conversa, outra sussurrava-lhe que estava apenas à deriva, como sempre, inerciado.Talvez não fosse tão mal estar parado aspirando a brisa; Talvez ele devesse enrijecer-se e girar o mastro em direção a outra milha.Não dependia apenas dele.O diretor chegou, se dirigiu a todos com cautela rebuscada, e gravou o clipe em diversos takes cansativos.As estocadas feitas por Murdoc usando o culhão enfeitado de estrelas e cores da bandeira norte-americana, EUA, eram bem grosseiras e sem sentido na visão dos outros integrantes, mas lá jaziam, e os dois "comandantes" pareciam ter se agradado delas.

   Stuart sentia agonia e angústia.Disseram diversas vezes a si mesmos que aquilo não podia ser um trabalho, afinal, passavam o tempo todo compondo e jogando conversa fora, o típico trabalho dos sonhos de uma criança inquieta e criativa, daquelas que não dão a mínima para as convenções do que os outros pensam ser inteligência e disciplina.Retirados os figurinos e trocados pelas calças jeans azul-índigo e blusas regatas recortadas, eles se dirigiram à gravadora e se sentaram no chão estofado de cor vinho, que juntava uma poeira negra, de gênero da qual se pode fungar e esperar a morte.

 – Precisávamos mesmo ter nos machucado...?  – Questionou 2D mantendo distância do homem verde.

 – Hah!  – Forçou um riso o satanista, censurando com a cabeça.  –  Não realmente chama aquilo de se machucar, chama?Poxa, não é de nada.

 – O script apelou para você, Murd.Foi realmente bem bruto, mas confesso...amei os animatrônicos todos, uma coisa que nunca vi em outro clipe.  –  Comentava Russ se recostando no papel de parede entupida de detalhes delicados. 

 – Cansada.  – Afirmou Noodle se espreguiçando e rolando em outra direção.

 Del inrrompeu a pele de Russel, sem machucá-lo, se acocorou e abraçou as pernas azuis.Olhou para cada um, piscando lentamente como isso fosse guardar screenshots em sua memória eternamente, talvez aqueles recortes de papel desbotassem mas não havia problema, iria mapear o melhor que pudesse os traços de todos.

 – D-Del?!Já está aqui?Pensei que preferisse repousar um pouco.  – Reparou o baterista se apoiando nos cotovelos e o fitando mais intensamente.  – Tudo bem com você? 

 – "Por obséquio", Russ, para.  – O pediu o fantasma, rindo um pouco de sua pseudo-formalidade, aquilo o divertia muito.Ele tinha os lábios interrompidos pelos bastonetes brancos, que eram seus dentes, mas possuía uma dicção perfeita e de boa imissão, poderia pedir socorro de Missouri até ali, que seria ouvido.

 – ...Não estou entendendo, mano.  – Ele suava, as gotículas decididas a obnubilar o tom verde de sua blusa para uma cor pantanosa e cada vez mais fria.

 – Eu acredito em você, seu bobo, mas ao mesmo tempo não.

 – Que quer dizer com isso?  – Estava com um pé na defensiva, e estava a um passo de despencar para a indiferença total, a negação de qualquer coisa que fosse dita, simplesmente pelo desprazer do mistério da coisa toda.Os outros enxergavam meramente as silhuetas do que aquela conversa queria dizer, eles viam tudo através do vidro embaçado da impessoalidade.

 – Me ouve.Assim, eu queria que eu tivesse pensado em uma hora melhor, que eu tivesse escrito tudo pra ti, que eu não estivesse fazendo uma puta hipérbole fodida pra te explicar isso, e mais um monte de outras coisas, mas já é muito tarde.  – Se dobrou em vale e com a cabeça invertida constatou o horário, com o tilintar dos graus, e dos ponteiros, e das horas, e dos tempos.  – Por isso chegou a hora de conversar.

 – Você tá me zoando?Não tem graça. 

 – ...Estive preso em amizades enfadonhas e chatas esse tempo todo.Eu ouvia eles, e eles não me ouviam, e... nada era real.Era como se me contassem todo o tempo que estávamos vivendo e sendo felizes sendo vazios e nunca falando seriamente.Agora apenas nada dessas coisas inúteis importa, coisas levianas que o vento levou.Acabou.Eu sei o quanto você fez para me manter aqui, para me manter perto, me manter próximo e não enlouquecer mesmo quando seu corpo estava exausto desse abuso.Com você foi diferente, nós pudemos compor, pudemos conversar sobre as coisas da vida e rir, e olha só, hoje fizemos uma coisa linda...

 – Talvez nem tão linda assim!  – Descontraiu Russel com a cabeça apoiada na mão, de um jeito lastimável.

 – Hahahaha, é, exatamente, mas você me entendeu.Encerramos aqui um trabalho duro no nosso disco, e cá entre nós: meus solos continuam melhores!  – Fingiu uma arrogância e um cochicho no ouvido do amigo.  – Parabenize esses rapazes todos, poxa, que coisa transcendente! Fodista mesmo.

 – Obrigado, Del, mas não. 

 – Como assim?

 – Não pode ir agora, não agora!Começamos só agora, temos tantas melodias...não sei se vou me situar.  – Insistia Russel, o segurando nos ombros musculosos.

 – Ah, Russ, convenhamos!Eu sei como se sente, mas não adianta adiar mais.Meu prazo é tão curto, que, estou arfando.Eu sou solúvel, eu sempre fui.Obrigado pela estadia...  –  Este se distanciava incontrolavelmente através de uma correnteza dispersiva e má, para o nada.Não, talvez não má.Talvez libertadora, talvez necessária.

 – Espera! Obrigado! Obrigado, obrigado!  

 – Não há nada.Até.  – E se virou por completo, desfalecendo em cinzas inodoras, que foram carregadas por uma ventania comum das varandas primaveris.

 – Del.