História The Stripper. - Capítulo Seis: Evitar.

Você ainda está aí? Ainda bem que achei um amigo que pudesse compartilhar esse momento pois estou bastante nervosa.

Polado simplesmente me chamou pro supermercado e eu entrei no carro sem saber o que fazer direito. Ele estava arrumado como sempre, com uma camisa de estampa do universo, uma calça jeans e sandálias. Eu não sei se estava apropriada, mas vestia uma calça justa e uma blusa soltinha de listras que a Marina tinha me dado.

- Você fica bonita de calça. - ele comenta.

Ok, não é um comentário pra lá de bom, mas isso me animou. Mesmo que tenha sido sem sentido.

- O-obrigado. - gaguejei nervosa.

Droga. Eu sempre tenho que ficar nervosa perto dele?

- O corte ta doendo muito? - ele pergunta.

- Vou sobreviver.

- Claro que vai. Onde você acha que eu vou encontrar uma salada como aquela de hoje?

- Então eu só sirvo pra salada? - falo rindo.

- Não. Você serve pra muita coisa.

Servir. Foi pra isso que eu fui criada. Pra servir, e não pra ser servida. Isso é um fato que eu tento mudar, mas por muito tempo eu não consigo. Eu sempre vou ser tratada como um objeto?

Polado não dirige tanto, então ele tem que ir devagar pois não está acostumado e eu não quero parar no hospital com um Youtubers super famoso. Provavelmente a equipe médica iria atender ele primeiro.

Eu ainda tento entender o que sinto diante do pessoal da casa. Admiração? Medo? Angústia?

O que será que eles pensam de mim? Será que me acham uma coitadinha? Será que tem pena de mim? Será que eles realmente vão me tratar bem todos os dias? Afinal, eu sou só uma cozinheira.

- Fiquei sabendo que você vai ter companhia na cozinha. - Polado fala me acordando do transe.

- Sério?

- Sim. É uma senhora, ela vai manter a casa em ordem. Muito difícil gravar e deixar tudo arrumado ao mesmo tempo.

- Entendo.

- Sério que entende? Você nunca gravou. Haha

Por que ele me trata assim? Sim. Ele tem pena de mim. Nada além de pena.
Sim, Poladoful, eu já gravei. Filmes pornôs ilegais.

- Verdade. Pode ser que eu não entenda mesmo. - digo encerrando o assunto.

Ele percebe que fiquei um pouco chateada, mas mesmo assim prefere ficar calado. E eu também prefiro.

Não demorou demais pra chegar no supermercado, pois o trânsito estava calma e Polado pegou um atalho.

Chegamos no Carrefour e saio do carro antes dele, entrando logo no supermercado e deixando-o pra trás.

O setor de comida é bem rico em diversidade. Eu nunca tinha vindo em um supermercado tão grande de uma multinacional, então basicamente fiquei encantada com tudo.

Fui para o setor de massas e peguei um carrinho, depois percebi que o Polado me encontrou e se ofereceu pra levá-lo. Aceitei a sua oferta e comecei a colocar os produtos dentro do carrinho. Polado não puxou muito assunto a não ser quando ele perguntava pra que os molhos serviam e se isso iria deixar ele gordo.

- Só vai te deixar gordo se comer em excesso. Não seja exagerado. - disse.

- Impossível, eu sempre exagero em uma coisa ou outra, se é que você me entende.

Olho pra ele, dou um daquele sorrisos forçados e digo:

- Talvez eu entenda.

Ele ri, dizendo:

- Você é bem esperta, senhorita Trindade.

- O mundo não serve pros fracos, senhor Poladoful.

Ele se cala, e eu me viro, voltando a colocar os produtos no carrinho.

Tive que esperar Polado pegar suas guloseimas pra podermos enfim, pagar as compras.

Polado passou o cartão e carregamos as sacolas até o carro. Ele me ofereceu ajudam, porém desta vez, eu tive que recusar.

A viagem de volta pra casa foi absolutamente silenciosa, exceto pelo rádio que tocava música cuja eu escutava atenciosamente. Polado não puxou assunto, e o tempo todo eu resolvi observar a paisagem que se passava pelo vidro do carro.

Estava tudo tão estranho. Era como se Polado me evitasse e tentasse interagir comigo ao mesmo tempo. Eu não o julgo caso ele não goste de mim, mas ele não tem motivos pra ficar assim comigo.

Chegar em casa foi fácil e ele me ajudou com as compras, o que foi no máximo, gratificante. Ele continuou me evitando pelo resto do dia.

Ao cair da tarde, Marina veio conversar um pouco comigo e disse:

- Como foi as compras com o Polado?

- Tudo tranquilo. Ele é... gente boa.

Marina sorri e continua:

- Eu te entendo. Bem, ele tem estado bem estranho esses meses por causa da Laura e dos trabalhos.

- Laura? - pergunto tentando não parecer curiosa.

- Sim. Ela é meio que a namorada dele. Eles ainda não oficializaram, mas em breve vão fazer isso. Ela vai estar aqui hoje pra visitar ele, talvez vocês conversem.

Não respondo. Ao invés disso finjo estar muito ocupada cortando os legumes para o gratinado do jantar. Marina comentou que amava gratinada e várias outras coisas que eu não entendi direito.

Minha mente não estava mais presente naquele local.

Eu havia ficado um pouco pra baixo pelo Polado ter me subestimado. Eu não queria que ele sentisse pena de mim, mesmo eu trabalhando na sua casa. Eu não queria ser tratada como um animal indefeso.

Amigo? Você ainda está ai?

O que você faria se estivesse no meu lugar? Você iria embora? Provavelmente não. Você deve ser mais forte emocionalmente que eu, talvez tenha um caráter melhor. Talvez você faça tudo absolutamente certo ou absolutamente errado, mas mesmo assim sempre será você.

Eu sou Isabel e Luna ao mesmo tempo. Duas pessoas tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais.

Eu quero ser mais próxima dele. Aquele olhar me salvou e me deu uma razão para continuar nessa casa. Espero que eu esteja certa, pois eu não quero me decepcionar. Eu preciso de alguém que me entenda. Não alguém que já passou pelas mesmas coisas que eu. Eu sou só uma ex-prostituta.

O que você faria? Você fugiria, ou você ficaria? Isso é só apenas uma paranoia minha?

Eu queria poder te ouvir e te sentir, amigo.

Eu preciso de você.